Boletim OPSA | n.4, out./dez. 2014 |
Observatório Político Sul-Americano
Boletim OPSA O Observatório Político Sul-Americano - OPSA é é um núcleo de referência destinado ao monitoramento e registro de eventos políticos nos planos interno e externo dos países sul-americanos. Suas atividades principais envol-vem a coleta e sistematização de informações relativas aos processos políticos dos países da região, bem como a elaboração de análises pontuais sobre aspectos e problemas das con-junturas doméstica e internacional da área. Coordenadora Acadêmica
O Boletim OPSA reúne análises sobre acontecimentos de destaque na conjuntura política da América do Sul e tem periodicidade trimestral. A publicação é composta por editorial e textos dirigidos a leitores que querem ter acesso rápido a informações de qualidade sobre temas contemporâneos. As fontes utilizadas para sua confecção são resumos elaborados pelos pesquisadores do OPSA com base nos jornais de maior circulação em cada um dos países e documentos de autoria de pesquisadores ou agências independentes que complementam as informações divulgadas pela imprensa.
Maria Regina Soares de Lima Ph.D. em Ciência Política pela Vanderbilt University Este Boletim foi elaborado principalmente com base nas informações referentes aos meses de julho a setembro de 2014. Assistentes de Coordenação Regina Kfuri Tatiana Oliveira
Assistentes de Pesquisa Clayton Cunha (Bolívia) Ana Carolina Vieira de de Oliveira (Argentina) (Argentina) Gabrieli Gaio (Paraguai) Paula Gomes Moreira (Peru) Alessandro Amorim (Equador) (Equador) Fidel Flores (Venezuela) Talita Tanscheit (Chile) Tiago Sales (Colômbia) Francisco Josué Medeiros de Feitas (Brasil) Marianna Albuquerque (Uruguai)
O Boletim OPSA é publicado na segunda sema-na do mês seguinte aos três meses a que se refere.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são terminan-temente proibidas.
ISSN 1809-8827
Instituto de Estudos Sociais e Políticos Universidade do Estado do Rio de Janeiro IESP/UERJ
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Editorial
com um evento distinto da dissolução da
Cuba e as eleições presidenciais na América do Sul
União Soviética. No seu depoimento, Jack Matlock Jr. afirma que o fim da Guerra Fria foi um processo negociado entre os EUA e a União Soviética em uma série de decisões finalmente acordadas no encontro em Malta em dezembro de 1989, entre os presidentes
“O capitalismo precisa de adversários fortes
o suficiente para civilizá-lo.”
Gorbachev e George H.W. Bush.2 Como a dissolução da União Soviética, que o Embaixador faz questão de frisar, é um
– Wolfgang Streeck 1
evento distinto e posterior ao fim da Guerra Fria, induzido por lideranças russas, ocorreu logo em seguida, a narrativa dominante,
A data de 17 de dezembro de 2014 entrou para a história. Neste dia Cuba e EUA reestabeleceram relações diplomáticas
inclusive reforçada por sucessivos presidentes norte-americanos, foi de que os
rompidas há mais de 50 anos. Mesmo que
EUA haviam ganho a Guerra Fria. Esta interpretação e o tratamento da Rússia como
muitos outros passos ainda precisem ser dados, inclusive a suspenção das sanções que depende de uma decisão congressual, é claro que o processo não tem mais volta. Já se tornou lugar comum associar este evento
o país perdedor pautou a política norteamericana e de todos os países ocidentais desde então, com as graves consequências que assistimos há pouco na crise da Criméia
ao fim da Guerra Fria e das esferas de influência rígidas que praticamente dividiam o planeta em dois. Ainda que a
e na alegação de Putin de que se trata do resgate da humilhação a que foi submetida a Rússia desde o fim da Guerra Fria.
carga simbólica do gesto tenha o seu valor, esta associação pode induzir a erros de
A narrativa da vitória do Ocidente se tornou
interpretação.
hegemônica e se manifestou para a periferia na forma das condicionalidades políticas e econômicas de imposição ou socialização
Em primeiro lugar, o fim da Guerra Fria no final dos 80, se deu em um momento de
coercitiva das reformas orientadas para o mercado e da adoção generalizada de modelos políticos de democracia de
absoluto enfraquecimento do campo socialista, mas não foi o resultado de uma vitória norte-americana. Em artigo recente
mercado. A narrativa da vitória do Ocidente não resistiria à emergência da China no cenário político e econômico global, ao 11 de
do embaixador norte-americano na União Soviética/Rússia entre 1987 e 1991, fica claro que o fim da Guerra Fria deve ser entendido
setembro e muito menos à crescente
Entrevista Especial, “Capitalismo do pós -guerra está no fim, diz Streeck”, Valor, 26 de dezembro de 2014,p. 1
2
Jack F. Matlock Jr, “Who is the Bully? The U.S. has
treated Russia like a loser since the end of the Cold
A12.
War”, 14 de março, 2014.
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contestação das forças jihadistas à hegemonia política e cultural do Ocidente.
relações incestuosas e fraudulentas entre aquela empresa e as principais construtoras do país, aquela decisão estratégica não tenha
Mais que tudo, o fim da Guerra Fria
sido mais enfatizada pelo governo de Dilma
significou o fim de um adversário forte para contestar o capitalismo e de um modelo
Rousseff. Tudo o que está ocorrendo sinaliza que no regime capitalista reservas de mercado tendem a induzir a formação de
alternativo ao mesmo e assim do incentivo de sua configuração como um modelo de capitalismo democrático de bem estar do
cartéis os mais variados. A abertura do mercado brasileiro às empresas estrangeiras de construção pesada e o estímulo à
pós-guerra. Ademais, as guerras e os conflitos não foram abolidos como se pregava na década de 90, muito pelo
concorrência podem ajudar no encaminhamento futuro de soluções para
contrario, os anos 2000 assistem ao retorno do uso da força e da coerção na competição
fazer face às necessidades de investimento em infraestrutura no país.
geopolítica em campos mais diversos da energia às mudanças climáticas. Neste contexto de grande incerteza dos possíveis
Numa analogia com o jogo da galinha, quem piscou primeiro Cuba ou os EUA? Talvez
contornos da ordem pós-Guerra Fria, os especialistas se dedicam a desenhar os
tenham piscado juntos porque ambos têm muito a perder com a manutenção do status
caminhos de uma suposta transição que não se sabe bem para onde vai chegar.
quo. Cuba, pelo temor de um estrangulamento econômico com a provável diminuição do fornecimento subsidiado de
Neste quadro, é menos relevante enquadrar o reatamento Cuba-EUA como o fim
petróleo da Venezuela em função da queda pronunciada dos preços do petróleo e seus
simbólico da Guerra Fria no “Hemisfério
efeitos deletérios sobre o país. Os EUA, por
Ocidental” e mais como o fim de uma
verem sua influência diminuir sensivelmente na América Latina, excetuando-se alguns dos países com os
situação excepcional que tanto dano trouxe a Cuba e à América Latina e o reconhecimento tardio do presidente Obama que a exclusão não é a política mais adequada quando se quer operar mudanças em terceiros países.
quais tem aliança econômica militar como México e Colômbia, enquanto se fortalecem os laços econômicos e geopolíticos da China
Também é reconfortante constatar que os conservadores brasileiros perderam um de seus principais alvos de crítica à política
na região não apenas como parceira comercial, emprestadora em última instância nos moldes do FMI, mas como
externa dos governos PT e que terão de
investidora em obras estratégicas de largo
engolir que a construção e financiamento do porto de Mariel foi uma antecipação
porte destinadas a garantir um fluxo seguro e continuado das exportações de commodities agrícolas e minerais da região. Entre elas, releva a concessão, ganha por
estratégica das mudanças por vir, podendo colocar o Brasil em um patamar especial em um cenário de maior abertura econômica do
empresa chinesa com sede em Hong Kong, para construir um canal interoceânico na
país. Talvez por estarmos no meio do furacão da crise da Petrobrás e a descoberta das 3
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Nicarágua, entre os oceanos Pacífico e Atlântico, num empreendimento orçado em US$ 40 bilhões.
Comunidades de Estados Latino Americanos e Caribenhos, CELAC, como a única e principal instância de concertação a incluir todos os países latino-americanos e
A crescente presença chinesa na região constitui uma alternativa, sem
tem efeitos positivos na política dentro da região na medida em que sua condição de ícone de um projeto de autonomia e de
condicionalidades explícitas, à cooperação dos EUA, e mais uma opção de negócios para equilibrar a tradicional dependência da
rejeição de hegemonismos regionais lhe dá uma dimensão maior que seu tamanho efetivo. O fato de que tenha resistido por
região aos EUA. Mas também constitui uma ameaça de que depois do término nos anos 30 do modelo de inserção internacional com
todos estes mais de cinquenta anos à hegemonia norte-americana sugere que sua
base na exportação de matérias primas minerais e agrícolas se esteja reconstruindo
reintegração ao hemisfério não repetirá o
em um novo formato os vínculos centroperiferia desta feita com o gigante asiático.
padrão de conversão absoluta e imediata observado na Europa do Leste nos anos 90. Tanto quanto possível, Cuba buscará pautar
Ademais, a ascensão da China como ator
a velocidade deste processo tendo em vista a preservação de seus interesses e valores.
global não representa a emergência de um adversário forte ao capitalismo globalizado como foi a alternativa socialista nos tempos
Desta perspectiva, os resultados das eleições presidenciais na América do Sul em 2014 são um alento. Na Bolívia, no Brasil e no
da Guerra Fria o que poderia gerar alguns dos efeitos benéficos na constituição de uma ordem capitalista democrática, com base na
Uruguai, os resultados eleitorais, analisados a seguir neste Boletim, consagraram a
recriação de um estado de bem estar no século XXI. A China é uma competidora dos
hegemonia do Movimento ao Socialismo, MAS, na Bolívia, e da Frente Ampla, no Uruguai num contexto de disputa com forças conservadoras. No caso brasileiro, a vitória
EUA numa ordem capitalista que ela tem pouco incentivo para mudar já que dela se beneficia bastante. Até agora seus objetivos tem por base seus interesses próprios em termos de recursos energéticos e agrícolas e
de Dilma Rousseff foi bem mais apertada o que coloca uma interrogante para 2018 a depender da capacidade do novo governo de
tecnologia de última geração. Como competidora dos EUA sua presença cria mais opções, em especial na semiperiferia e
enfrentar a deterioração das condições econômicas num contexto de ajuste fiscal e maior articulação da oposição no âmbito
periferia, mas não configura um adversário
político e congressual.
forte como foi um dia a União Soviética na ordem da Guerra Fria.
eleições presidenciais reconduziram Juan Manuel Santos com 50,9% dos votos e devem contribuir para um encaminhamento exitoso das complexas negociações com as
A reintegração de Cuba à América Latina sem qualquer impedimento legal ou ideológico reforça o pluralismo político e econômico
na
região,
fortalece
Na Colômbia, as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbias, FARCs, na medida em que, ao
a
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contrário de seu oponente, Santos fez da continuidade do processo de paz um dos pontos chaves de sua campanha. A
a economia pode ser importante, mas talvez a política importe mais.
reintegração de Cuba à região é um vetor
Esperamos que 2015 não nos traga muitos
poderoso para que este processo chegue a bom termo.
sobressaltos e que a região, a despeito de estar entrando num ciclo econômico
Cabe observar que a região muito se beneficiou da demanda crescente da China
descendente, consiga preservar os ganhos de estabilidade política e inclusão social tão arduamente obtidos na última década.
desde os anos 2000 e parte desta prosperidade acompanhou o ciclo ascendente daquele país na economia global.
Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2015.
Apesar de estarmos presenciando o fim deste ciclo, todos os incumbentes foram
Maria Regina Soares de Lima.
reeleitos na América do Sul. Um sinal de que
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aumento do desemprego e da pobreza pelo mundo. O Brasil seguiu melhorando seus indicadores sociais mesmo com o baixo
Retrospectiva 2014
2014
crescimento.
Uma retrospectiva política em 4 atos As jornadas de junho de 2013 contribuíram para apimentar o cenário. Milhões de jovens nas ruas das grandes e médias cidades brasileiras protestando contra o sistema
Josué Medeiros Pesquisador OPSA
político em geral a partir de questões municipais e estaduais (transporte público) e que inevitavelmente se nacionalizaram
O fim do ano político no Brasil ocorreu em
diante do magnetismo do nosso super presidencialismo.
18 de dezembro, quando a Justiça Eleitoral diplomou a presidenta reeleita Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT)
As ruas inundadas de gente produziram
e o seu vice-presidente Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático
dinâmicas de direitos há muito não vistas no país. Os temas da saúde e educação logo
Brasileiro (PMDB). 2014 já pode, portanto, receber sua retrospectiva política, feita em quatro atos, em que pese a patética iniciativa
tomaram o centro do debate. A qualidade da nossa democracia também veio à tona, recuperando dimensões participativas que
do candidato derrotado Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira
permearam o processo político dos anos 1980, culminando na Constituição de 1988 e que depois foram derrotadas pelo
(PSDB), de exigir na Justiça aquilo que não conquistou nas urnas.
neoliberalismo do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ato 1 – A mulher do ano
Mas não somente isso. Os conflitos sociais
2014 foi o ano de Dilma Rousseff de um modo que não havia ocorrido em 2010, quando se elegeu presidenta pela primeira
geraram polarizações novas. O novo lugar que o PT ocupa produziu um inédito afastamento do petismo com relação às dinâmicas das ruas. Novas redes, novos movimentos, nova geração política foram
vez. Naquele momento o protagonismo era todo do presidente Lula, “o cara” segundo
Barack Obama, dono de uma popularidade
contrapostas às instituições criadas pela esquerda brasileira no processo de derrota da ditadura militar. “Velhos e tradicionais”,
ultrapassava os 90%. Se Dilma foi “o poste” de 2010, em 2014 virou o jogo. Seu “coração valente” superou os muitos percalços da
o PT e seu campo se depararam então com os mesmos adjetivos que outrora direcionavam
eleição mais disputada da história democrática brasileira. Governando o país em um cenário de crise econômica
à esquerda comunista e trabalhista que havia sido derrotada com o golpe de 1964. Ao mesmo tempo, das ruas de junho emergiu
internacional ela foi capaz de evitar as receitas neoliberais que espalharam
uma nova direita no Brasil, composta por
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uma minoria violenta e disposta a tudo para impedir a continuidade do lulismo.
violência policial contra os jovens negros da periferia.
Dilma enfrentou essa tempestade e venceu.
Venceu as eleições por muito pouco. Venceu
Sua popularidade despencou. Sua reeleição correu riscos. A presidenta, emparedada,
com os votos da esquerda, com a reativação de uma sociedade civil petista em sentido
respondeu às ruas com diálogo e não com repressão, como ocorreu mundo afora na atual dinâmica de lutas (primavera árabe,
amplo, que foi pra rua virar os votos e impedir o retrocesso que seria a vitória do PSDB. É nesse contexto que seu segundo
Occupy Wall Street, Indignados, Praça Taksin, na Turquia) com as quais o Brasil se conectou em junho de 2013. Ela recebeu
governo vai se dar. As contradições já saltam os olhos com a montagem do ministério. Antes de analisar esses dilemas passemos ao
representantes dos movimentos e lideranças que estiveram presentes nas ruas, e aprovou
segundo ato.
três novas legislações que ampliaram os direitos e a cidadania no Brasil: o programa Mais Médicos levou, com ajuda dos médicos
Ato 2 – Descanse em Paz As eleições de 2014 marcaram o enterro político
cubanos, saúde de qualidade para 50 milhões de brasileiros nas periferias,
serem gerados pela exploração do petróleo do pré-sal em investimentos na saúde e da educação.
Dessa a revista Veja antecipou sua edição semanal acusando, sem provas, a presidente Dilma se fazer parte de um esquema de corrupção que atinge a Petrobrás. O
A mesma toada se manteve nas eleições. Dilma protagonizou a vitória mais à
candidato de oposição Aécio Neves repercutiu a denúncia no último debate televisivo, e também os grandes jornais e
esquerda do PT desde 2002. Afirmou a recusa do neoliberalismo diante da primeira candidatura da direita que assumiu esse
redes de televisão divulgarão a matéria da Veja sem qualquer questionamento. Os partidos de oposição distribuíram a edição
programa desde 1994. Afirmou direitos, contra
as
mídia
este último.
mundo; por fim, direcionou os recursos a
ruas
grande
ocorrera em 1989 com a célebre edição que a rede Globo fez do debate presidencial entre Lula e Collor, forjando uma vitória para o
corporações e foi elogiada pela ONU como a mais avançada legislação das redes no
as
da
brasileira. Os grandes meios de comunicação não são mais capazes de mudar o rumo de uma eleição no país, como
interiores e regiões isoladas; o novo Marco Civil da Internet protege a privacidade e a cidadania, limita os poderes das grandes
afirmou
definitivo
“medidas
da revista nas praças e ruas das principais cidades brasileiras.
impopulares” defendidas por Aécio e seus
aliados na mídia e no mercado. Assumiu pautas que incomodam setores mais conservadores, entre eles a defesa da
Novamente a presidente Dilma enfrentou o desafio e venceu. Tratou abertamente do tema em seu último programa eleitoral.
criminalização da homofobia e o combate à
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Acusou a revista de golpe e a processou. A deslegitimação da matéria da Veja tomou conta das redes sociais na internet, nova
derrotado Aécio Neves que publicou uma foto em um balneário catarinense no dia da manifestação.
arena pública que vem se constituindo no Enfim o Brasil parece apresentar o mesmo padrão de polarização social verificado em
Brasil da ascensão social do lulismo. Os milhões que saem da miséria e entram no mercado de consumo também passam a
outros processos políticos sul-americanos, tais como Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Venezuela, Uruguai. A diferença é
acessar novas formas de informação, buscando forjar suas próprias versões dos fatos, questionando os antigos formadores de opinião.
que o caso brasileiro é o único no qual a esquerda é minoritária no parlamento. Mais do que isso, os partidos de esquerda e os
Um novo sistema de comunicação, democrático, oligopolizado, ainda não
representantes dos movimentos sociais encolheram no Congresso vis a vis a
nasceu para substituir o velho. Esta inclusive é uma das agendas assumidas pela mandatária brasileira. Contudo foi possível
legislatura anterior. Como então sustentar a polarização em um ambiente institucional adverso? A resposta será intuída no quarto
constatar um outro nascimento, do qual fala o terceiro ato.
ato. Ato 4 – O troféu Mujica vai para...
Ato 3 – Nasce a polarização No dia 26 de outubro, dia derradeiro do segundo turno, as ruas foram tomadas de
Nessa retrospectiva o título de homem do ano recebe o nome de troféu Mujica, presidente do Uruguai que se despede do
militantes e pessoas engajadas nos processos eleitorais com suas bandeiras e adesivos. A novidade é que pela primeira vez o voto de
cargo, figura icônica da esquerda sulamericana, portador de uma cultura política socialista exemplar, organizador de uma
direita estava identificado. Nas três vitórias
agenda de avanços e direitos que causa
do PT em 2002, 2006 e 2010 só se via o eleitor petista nas ruas. O voto de direita,
inveja aos setores progressistas de todo o mundo.
antes silencioso, saiu do armário. A confirmação da vitória de Dilma manteve
No Brasil o impulsionador de uma cultura de direitos e de uma prática socialista tem sido
a polarização em temperatura elevada. Pela primeira vez desde 1964 a direita voltava a organizar manifestações públicas por todo
o prefeito de São Paulo Fernando Haddad do PT. Sua trajetória é parecida com a de Dilma. Foi eleito em 2012 como “poste” de Lula. Seu
Brasil, apresentando em São Paulo relativo sucesso, com 5 mil pessoas na Avenida
protagonismo emerge das jornadas de junho. Conseguiu extrair das mobilizações
Paulista a gritar pela saída da presidente
uma nova dinâmica de governo na qual a
reeleita. O PSDB parece gostar do que vê. Suas principais lideranças convocam e participam dos atos, com exceção do
participação e mobilização da cidadania ativa permitem que ele leve a cabo os necessários enfrentamentos com o capital
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para transformar São Paulo em uma cidade democrática.
superando os limites institucionais e estruturais colocados? A hipótese é que tal resposta será afirmativa se ambos se
Mesmo sendo minoritário no legislativo e
apoiarem nessa nova polarização social
tendo que recorrer às mesmas alianças que o PT faz no plano federal Haddad tem
nascente, mobilizando as bases sociais da esquerda em uma agenda de transformações. As dificuldades para isso
conseguido sucesso em organizar uma agenda de futuro à esquerda. Aprovou um plano diretor que impede o capital
serão muitas. O cenário de crise econômica permanece. O ministério contraditório de Dilma é um fator de decepção e
imobiliário de fazer o que quer com a cidade. Aprovou uma política tributária progressiva: os mais ricos pagam mais, ou mais pobres
desmobilização. A direita organizada segue contando com a força dos grandes
pagam menos. Criou uma dinâmica nova para os transportes públicos que possibilitou
monopólios de comunicação para pautar a agenda política do país.
ao trabalhador diminuir em 30% o tempo de deslocamento casa-trabalho. Está inaugurando uma rede de ciclovias que
O resultado sairá da luta. O que 2014 mostrou é que a esquerda quando vai para
altera a própria relação da cidade de São Paulo com os carros. Suas políticas sociais
disputa tem mais chances de vitória do que quando foge dela. No mesmo ano em que a
para os mais pobres, para os emigrantes, para os movimentos sociais organizados chamam atenção da esquerda em todo o
Comissão da Verdade apresenta seu relatório sobre os crimes da ditadura militar de 1964 o Brasil começou a espiar o
país.
fantasma de que o golpe teria sido resultado de uma excessiva mobilização popular, tese
O resultado começa a ser sentido no crescimento da sua popularidade, ainda
essa que orientou a redemocratização brasileira desde cima, e também em grande medida o lulismo e seus processos de composição.
baixa, porém nada que impeça uma futura reeleição em 2016. Não obstante todos os avanços, Haddad enfrentará novamente em 2015 o desafio do tema do valor das passagens. Há o risco de uma nova explosão
Enfim, da polarização pode nascer uma sociedade mais democrática, mais
social, e também o risco de jogar a conta nos lucros dos empresários e com isso comprometer os avanços que beneficiaram a
igualitária, com mais direitos.
população trabalhadora. Conclusão 2015 será o ano em que esses quatro atos se fundem em uma nova conjuntura política. Conseguirão Dilma e Haddad avançar em sua agenda de direitos e democracia,
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Integração Sul Americano
americana de Defesa, assim como temas de saúde, combate às drogas e processos eleitorais. Foi ainda aprovada a execução de
A união da América do Sul
projetos de infraestrutura em nível regional.
Regina Kfuri
Todos esses são avanços importantes no
Assistente de Coordenação OPSA
caminho de uma região mais integrada. A história da integração na América Latina não é nova, ela remonta aos anos 1960, com as
Na primeira semana de dezembro, chefes de Estado da América do Sul reuniram-se em
ideias cepalinas que levaram ao modelo conhecido como regionalismo fechado, pois buscava a industrialização e o
Quito, no Equador, para inaugurar a sede da União Sul-americana de Nações (Unasul). O prédio foi batizado em homenagem ao ex-
desenvolvimento dos países através da proteção do mercado interno. Já o segundo
presidente argentino Nestor Kirchner, que foi secretário-geral da organização e faleceu em outubro de 2010.
modelo, adotado nos anos 1990 como resposta à ordem internacional que se instaurou a partir do fim da Guerra Fria, é
A inauguração da sede da Unasul representa um importante marco simbólico de um
conhecido como regionalismo aberto, pois é voltado para a inserção dessas economias no
ponto de retomada e avanço do processo de integração na América do Sul. Depois de um período de relativa inércia, a organização
ambiente externo globalizado, responsável por uma nova dinâmica à economia mundial, com a predominância do
tomou novo fôlego com a chegada à secretaria-geral do ex-presidente colombiano Ernesto Samper. Na cúpula de
paradigma neoliberal no campo econômico. Países com pouco poder de negociação, os
Quito estiveram presentes os presidentes da
insumos e investimentos, assim como enfrentar as pressões resultantes dessa nova ordem econômica. Os arranjos regionais
latino-americanos precisavam competir por
Argentina, Cristina Kirchner; da Colômbia, Juan Manuel Santos; da Bolívia, Evo Morales; do Brasil, Dilma Rouseff; do Paraguai, Horacio Cartes; do
buscaram, portanto, aumentar a capacidade de competição desses países diante dessa nova realidade internacional. A criação do
Suriname, Desiré Delano Bouterse; e da Venezuela, Nicolás Maduro.
Mercosul insere-se nesse contexto. O novo regionalismo se distinguiu do anterior por se inserir em um contexto político de revisão do
Na ocasião, os mandatários concordaram em trabalhar para a criação de uma cidadania
modelo de desenvolvimento apoiado na
sul-americana, nos moldes do acordo
industrialização protecionista e por se
europeu de Schengen, que criaria não apenas um passaporte comum, mas também
traduzir na adoção de políticas comerciais liberalizantes, agregando à agenda regional novos temas, como comércio de serviços e
a livre circulação de 400 milhões de habitantes na região. Além disso, foi
investimentos. (Veiga e Rios, 2007, p.9).
aprovado o documento “Da visão à ação”,
que contempla a criação da Escola Sul-
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Boa parte da literatura sobre América do Sul afirma o surgimento de um novo tipo de regionalismo a partir dos anos 2000, trazido
endogenamente benefícios para o desenvolvimento e pode ser prejudicial à adoção de uma agenda de integração
pela chegada ao poder de governos
preocupada com temas de equidade (Motta
progressistas em diversos países da região.
Veiga e Rios, 2007)
As denominações para o fenômeno variam e ele pode ser chamado de integração
Nesse contexto, a Unasul é fruto de uma iniciativa brasileira que levou à criação, em dezembro de 2004, da Comunidade Sul-
multidimensional, regionalismo pós-liberal ou pós-hegemônico. Em comum, os termos trazem a constatação de que alguns
Americana de Nações (Casa), durante uma reunião de cúpula no Peru. A Declaração de Cuzco continha cinco páginas nas quais se
processos cooperativos e/ou integrativos entre determinados países da América do
estabelecia a implementação progressiva de um novo âmbito de ação coletiva. Dois anos
Sul passaram a operar sob uma lógica diferente daquela que havia predominado em estágios anteriores. Ou seja, identifica-se o fim de um ciclo e o começo de outro, que
mais tarde, na cúpula de dezembro de 2006, na Bolívia, o presidente Lula enfatizou a importância do comprometimento com a
traz como novidade a superação da idéia de que o comércio e a ideologia neoliberal devem ser os motores que fazem andar a
consolidação da integração energética e do fortalecimento das políticas sociais na
integração e a cooperação entre os vizinhos. (Sanahuja, 2010)
região, e já ali foram abordados pontos referentes à livre circulação de pessoas, assim como à proteção do meio ambiente. A
Por um lado, esses novos arranjos regionais propõem uma ruptura com o discurso
mudança do nome, de Casa para Unasul se deu em 2007 e, em maio de 2008, a
hegemônico da década de 90 e a criação de
instituição ganhou personalidade jurídica.
um espaço de resistência para enfrentar o neoliberalismo e a hegemonia norteamericana (Rigirozzi, 2010). Mais além, o
Dentre os avanços importantes do bloco estão a constituição de um Conselho Sulamericano de Defesa e do Banco do Sul.
regionalismo pós-hegemônico seria a manifestação de uma repolitização da região, na qual estados, líderes e
A Unasul nasce com a preocupação de temas infraestruturais e sociais, bem como o papel de facilitadora do diálogo político.
movimentos sociais interagem na construção do espaço regional (Riggirozzi e Tussie, 2012)
Agora, a inauguração de uma sede traz um novo dinamismo à construção de uma região mais integrada política e socialmente. Como
Por outro lado, este regionalismo pós-liberal substitui a agenda centrada na liberalização
destacou Lula, em seminário anterior à cúpu la, “a crise econômica mundial tem um
comercial por processos mais abrangentes do ponto de vista temático, com a inclusão de questões sociais, participativas, e
efeito inibidor sobre as iniciativas de integração. Como se tivéssemos que esperar para voltar a tratar da integração. Estou
objetivos políticos. A hipótese básica é que a liberalização dos fluxos comerciais não gera
convencido de que é exatamente o contrário. Quanto mais nos integrarmos, melhores 11
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serão as condições de enfrentar e superar a crise. Separados somos mais fracos e juntos somos uma potência 3”.
Referências Bibliográficas Motta Veiga, P.; Ríos, S.; O regionalismo pós-liberal, na América do Sul: origens, iniciativas e dilemas.; Cepal, División de Comercio Internacional e Integración, Série Comércio Internacional, Santiago de Chile, julho de 2007 Riggirozzi, P.; Region, regionness and regionalismo in latin america: Towards a new synthesis; LATN, Working Paper 130, Abril de 2010 Riggirozzi, P; Tussie, D.; The rise of post hegemonic regionalism in Latin America, in: Riggirozzi, P; Tussie, D.; The Rise of PostHegemonic Regionalism: The Case of Latin America, Springer, 2012 Silva, V.M.; Por que um evento que reúne chefes de Estado de toda a América do Sul não é notícia? Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/rodrigovi anna/geral/por-que-um-evento-que-reunechefes-de-estado-de-toda-america-sul-naoe-noticia/
3 ____ Lula defende mais integração na América Latina contra a crise econômica e o conservadorismo, Carta Maior, disponível em
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Luladefende-mais-integracao-na-America-Latina-contra-acrise-economica-e-o-conservadorismo/4/32358
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Samuel Dória Medina da Concertação de Unidade Democrática (UD) (ver Tabela 1).
Monitor Eleitoral: Bolívia
Os resultados totais de Morales ficaram Bolívia: as eleições de 2014 e a
apenas menos de três pontos percentuais abaixo do total obtido por ele cinco anos
consolidação do horizonte de época plurinacional
antes nas eleições de 2009 (ver Tabela 2) e marcou, pela primeira vez, a ascensão do MAS como primeira maioria no
Clayton Cunha M. Filho Pesquisador OPSA
departamento de Santa Cruz, antigo bastião opositor de onde demandas por autonomia departamental se irradiavam para os
Os resultados eleitorais do pleito geral de 12
departamentos de Beni, Pando e Tarija conformando a região que ficou conhecida
de outubro de 2014 na Bolívia não trouxeram maiores surpresas, na medida em
como “Meia Lua” e que mantiverem o
que apenas confirmaram aquilo que todas as
presidente em xeque até pelo menos 2008 e quase impediram a ratificação da atual
pesquisas e análises apontavam: o amplo favoritismo do Movimento Ao Socialismo (MAS) e seu candidato à reeleição
Constituição Política do Estado (CPE) (CUNHA FILHO, 2008). Nas últimas
presidencial Evo Morales, vitorioso do pleito em 1º turno com 61,36% dos votos válidos frente aos 24,23% do segundo colocado,
eleições, apenas o departamento do Beni continuou apoiando majoritariamente um candidato presidencial da oposição, com seus 51,44% dos sufrágios em favor de Dória
Tabela 1: Resultados Eleitorais 2014 % dos votos válidos
Evo Morales (MAS)
61,36
Samuel Dória Medina (UD)
24,23
Jorge “Tuto” Quiroga (PDC)
9,04
Juan del Granado (MSM)
2,71
Fernando Vargas (PVB)
2,65
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Órgano Electoral Plurinacional disponíveis em http://www.oep.org.bo/
13
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Medina (UD). As eleições de 2014 marcaram ainda o ocaso da liderança do ex-prefeito de La Paz, Juan del Granado, do Movimento
indígena Fernando Vargas, candidato à presidência pelo Partido Verde Boliviano (PVB) e que obteve 2,65% dos votos. O
Sem Medo (MSM), ex-aliado do governo
resultado de Vargas, entretanto, apesar de
central até 2010 (ver CUNHA FILHO, 2010)
também ficar pouco abaixo da cláusula de
e que obteve frustrantes 2,71% dos votos, ficando abaixo da cláusula de barreira
barreira que lhe valeria a continuidade da sigla e a eleição de um deputado, foi uma
Tabela 2: Votação de Evo Morales, Estado Plurinacional da Bolívia Nacional e Exterior
2009
2014
64,22
61,36
La Paz
80,28
68,92
Oruro
79,46
66,42
Potosí
78,32
69,49
Cochabamba
68,82
66,67
Chuquisaca
56,05
63,38
Tarija
51,09
51,68
Santa Cruz
40,91%
48,49%
Pando
44,51%
52,09%
Beni
37,66%
41,49%
Por departamentos
Negrito indica primeira maioria. Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Órgano Electoral Plurinacional disponíveis em http://www.oep.org.bo/
boliviana de 3% dos votos nacionais e perdendo assim o registro eleitoral da sigla e
surpresa positiva na medida em que todas as pesquisas pré-eleitorais lhe atribuíam
o direito ao deputado que elegeriam na lista proporcional com essa votação. A mesma
menos de 1% das intenções de voto (ver CUNHA FILHO, 2014).
perda de sigla eleitoral ocorreu ao líder
14
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Os resultados eleitorais do oficialismo lhe valeram ainda a manutenção de sua maioria de 2/3 nas duas câmaras do Órgão
Figura 1: Órgão Legislativo Plurinacional, Legislatura 2015-
Legislativo Plurinacional, onde o MAS contará com 86 deputados de um total de
2020
130 e 25 senadores de um total de 36 (ver Figura 1), o que confirma a consolidação do
Câmara de Deputados
MAS como partido predominante no sistema político boliviano atual. Mas mais do que essa confirmação dessa hegemonia que já vinha se manifestando
11
acentuadamente desde pelo menos a promulgação da atual CPE em 2009 e a
MAS 33 UD 86
conformação do atual Estado Plurinacional da Bolívia, os resultados das últimas eleições parecem ter trazido a consolidação dos
PDC
próprios marcos do fazer político boliviano conforme definidos em su a atual “versão”
Senado
plurinacional. Conforme apontam Errejón e Canelas (2012, p. 28), episódios de forte conflito social como o “gasolinaço” de 2010 4
ou as marchas em defesa do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro-Sécure
2
9
MAS
(TIPNIS) de 2011 e 2012 5 que muitos em seu
UD
tempo apontaram como o início do fim da hegemonia política do MAS parecem, na verdade, mostrar a consolidação de uma
PDC 25
espécie de novo “senso comum” de época
plurinacional que define o espaço político do legítimo em torno do retorno do Estado à
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Órgano Electoral Plurinacional disponíveis em
economia e suas funções de soberania, das autonomias departamentais e indígenas e da descolonização de suas instituições políticas.
http://www.oep.org.bo/
4
Em fins de 2010, o governo anunciou o fim dos subsídios aos combustíveis que provocou um aumento repentino que chegava a até 82% dependendo do tipo de combustível. A medida provocou amplos protestos sociais que obrigaram o governo a suspender os aumentos. À época, a oposição acusou o governo de adotar uma medida neoliberal, o que para além do cinismo ideológico indica uma aceitação implícita dos novos horizontes políticos nos quais a associação com
políticas neoliberais possui uma valência negativa amplamente predominante. 5 Lideranças da Confederação Indígena da Bolívia (Cidob) organizaram em 2011 uma marcha de Trinidad a La Paz em protesto contra a construção de uma estrada que atravessaria o TIPNIS sem que tivesse sido realizada a devida consulta prévia segundo estabelecido pela CPE e tratados internacionais assinados pelo país. O conturbado processo em torno do TIPNIS – do qual a candidatura de Fernando Vargas do PVB é um
15
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É significativo que dos quatro competidores, Democrata Cristão – PDC) tenha buscado se
de centro-esquerda ou de ecologismo indianista representados pelos seguidores e lideranças dos agora extintos MSM e PVB
colocar abertamente no campo conservador
(CUNHA FILHO, No prelo), embora muito
e
clareza
da consolidação ou reformulação desse
programática em torno de questões de políticas públicas concretas. E pela primeira
quadro partidário certamente dependerá dos arranjos para as próximas eleições
vez desde a irrupção de Morales ao primeiro plano da política nacional, esse candidato mais conservador não foi seu principal
departamentais e municipais a serem realizadas em 29 de março de 2015.
oponente (MOLINA, 2014), tendo Quiroga ficado em terceiro lugar com menos da
O atual e popular prefeito de La Paz, Luis Revilla, parece ter aproveitado a
apenas um (“Tuto” Quiroga, do Partido
ainda
assim
sem
maior
“oportunidade” da dissolução do MSM pelo
metade dos votos do segundo colocado,
qual ele se elegera à referia prefeitura para
Dória Medina (UD), que vinha buscando desde antes do pleito se associar a simbologias de centro-esquerda (CUNHA
marcar distâncias com seu antigo mentor Juan Del Granado e vem lutando contra o tempo para legalizar uma nova sigla eleitoral
FILHO, 2014) e se apresentou programaticamente como centrista durante a campanha. Os outros dois candidatos
com a qual concorrer à reeleição, embora venha recebendo forte assédio da UD que lhe
menores, por sua vez, representavam em certa medida frações dissidentes do próprio oficialismo tendo estado em algum
oferece um apoio por hora rejeitado. O próprio comportamento da UD, uma coalizão eleitoral entre os partidos Unidade
momento
Nacional (UN) de Dória Medina e Movimento Democrático Social (MDS) do
anterior
aliado
ou
mesmo
integrando o MAS e que competiram
governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e
buscando mostrar as supostas traições e promessas descumpridas do governo – dentro, portanto, da mesma órbita ideológico-programática.
outros grupos menores, poderá ser determinante para a consolidação desse quadro partidário ou sua posterior
Assim, os resultados eleitorais parecem apontar na direção da conformação de um
fragmentação dependendo do quanto consiga se apresentar novamente unida nas eleições regionais em vez de se fracionar
incipiente sistema partidário hegemonizado à esquerda pelo MAS, com uma oposição de centro-direita (UD) e direita (PDC) e espaços
entre suas unidades componentes. Por sua vez, o MAS agora terá que lidar com tensões internas aumentadas pela incorporação de
políticos passíveis de ocupação por projetos
outros grupos sociais e regionais e se coloca
desdobramento direto – levou o presidente a cancelar a construção da estrada, para em seguida voltar atrás após a realização de nova marcha, desta vez organizada pelo Conselho Indígena do Sul (Conisur) e que demandava a construção da referida estrada. O governo decidiu então realizar uma consulta no TIPNIS, a qual provocou nova marcha da Cidob em 2012 (desta vez ignorada pelo governo) e na qual 11 das 69 comunidades do TIPNIS se recusaram a participar e 54 das 58
comunidades consultadas aprovaram a construção da estrada, que no entanto segue paralisada. O episódio do TIPNIS marcou o momento de maior tensão política do governo, arranhou sua imagem indianista/ecologista internacional e também foi utilizado com afinco pela oposição, mesmo por lideranças que durante o processo constituinte tinham se oposto aos direitos de consulta prévia e autonomia territorial indígena.
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metas ambiciosas como tomar a prefeitura de La Paz, a governação de Santa Cruz ou mesmo a do Beni onde perdeu nas eleições
partir dos últimos resultados eleitorais. Observador On-line, v. 5, n. 6, p. 1–16, 2010.
nacionais ao contrário de todo o resto do
ERREJÓN, Iñigo; CANELAS, Manuel. Las
país. A própria indicação dos candidatos às
Autonomías en Bolivia y su Horizonte: un análisis político. In: MINISTERIO DE
governações, prefeituras das principais cidades e listas de deputados
AUTONOMÍAS (Org.). . Ensayos sobre la autonoma en Bolivia. Serie autonomas
departamentais e vereadores pelo MAS terá que ser um tenso exercício de busca de equilíbrios e consensos internos sem os
para la gente. La Paz: Ministerio de Autonomas, 2012. p. 21–32.
quais não apenas dificilmente poderá obter o êxito futuro atualmente almejado pelas
MOLINA, Fernando. Las implicaciones del tercer mandato de Evo Morales. Agencia de Noticias. Disponível em:
lideranças partidárias governistas, como também poderia mesmo – em cenários de divergência extrema – pôr em questão a coesão de sua bancada legislativa nacional.
s-implicaciones-del-tercer-mandato-deevo-morales/>. Acesso em: 13 out. 2014.
Referências CUNHA FILHO, Clayton M. 2008, o ano da virada de Evo Morales? Observador On-line, v. 3, n. 12, p. 2–17, dez. 2008.
Monitor Eleitoral: Uruguai
Pela terceira vez, Frente Ampla!
CUNHA FILHO, Clayton M. As eleições gerais bolivianas de 2014: perspectivas e
Marianna Albuquerque
prognósticos. Boletim OPSA, v. 10, n. 3, 2014.
Pesquisadora OPSA Introdução
CUNHA FILHO, Clayton M. Los dilemas de la representación política contemporánea en Estado en tiempos de “Proceso de Cambio”.
A Frente Ampla, coalizão de esquerda, conseguiu eleger um candidato pela primeira vez para o cargo de Presidente do
In: ALBALÁ, ADRIÁN (Org.). . Sociedad civil y representación política en América
Uruguai em 2005, após o mandato de Jorge Battle Ibañez, do tradicional Partido
Latina. Buenos Aires: Prometeo Libros, No prelo. .
Colorado. Correndo por fora na campanha, Tabaré Vásquez assumiu a presidência
CUNHA FILHO, Clayton M. O novo mapa político boliviano: uma interpretação a
prometendo cumprir o programa progressista que a Frente Ampla apresentou aos eleitores uruguaios. Após cumprir seus
Bolivia: movimientos sociales, partido y
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
cinco anos de mandato, em um país no qual a legislação eleitoral não contempla a possibilidade de reeleição, Vásquez deu
derrotar Constanza Moreira. No Partido Nacional, Luis Lacalle Pou consagrou-se vencedor, derrotando Jorge Larrañaga,
lugar a José “Pepe” Mujica, também da
enquanto Pedro Bordaberry foi eleito para
Frente Ampla, e alçado à categoria de grande
ser o candidato do Partido Colorado, ao
líder sul-americano.
vencer José Amorim Battle. Pelo Partido Independente, Pablo Mieres disputará as
O ano de 2014 foi marcado pelas eleições em diversos países da América do Sul, tanto
eleições.
legislativas quanto para cargos executivos. Além do Brasil, eleitores uruguaios também compareceram às urnas para escolher as
A Frente Ampla formou a chapa com Tabaré Vásquez, ex-presidente, e Raúl Sendic, Ministro de Indústria e Energia do governo
listas de candidatos para o Congresso Uruguaio e para definir o sucessor de
Mujica, com 156 votos favoráveis dos 158 integrantes do Plenário da Frente Ampla.
Mujica. Com alta popularidade mundial e com a provação de medidas ao mesmo tempo aclamadas e contraditórias, Mujica
Pela oposição, o Partido Nacional, o Partido Colorado e Partido Independente também se organizaram para tentar provocar
jogou a responsabilidade de manter seu programa para seu futuro sucessor. A
alternância de poder no que seria o terceiro mandato consecutivo da Frente Ampla.
própria votação de outubro traria consigo um exemplo do caminho aberto por Mujica para discutir temas antes intocáveis: em
Nesse sentido, Luis Lacalle Pou foi escolhido para representar os nacionalistas, Pedro Bordaberry para concorrer pelos colorados,
conjunto com as eleições, os cidadãos uruguaio votaram em um plebiscito sobre a
e Pablo Mieres para tentar levar os independentes pela primeira vez ao
redução da maioridade penal para 16 anos. A
Executivo.
Frente Ampla fez campanha pelo “não”.
Após a definição dos candidatos, institutos de pesquisa começaram a investigar os possíveis resultados das eleições
As eleições de 2014: o primeiro turno As eleições internas nos Partidos para a
presidenciais, como a pesquisa divulgada pelo Instituto Factum. A pesquisa, realizada
escolha dos candidatos que comporiam as chapas para o pleito de outubro movimentaram o primeiro semestre de
durante o mês de julho, contou com uma amostra de 968 eleitores, das áreas urbana e rural, de todas as regiões do país e com a
2014. Em junho, os Partidos definiram os candidatos para Presidente e VicePresidente. Com a apuração das eleições
pergunta “Quem prefere como Presidente da República?”. Os resultados apontam que
internas dos partidos no Uruguai, realizadas em 01/06, os candidatos para a eleição
Tabaré Vásquez, candidato da Frente Ampla, possuía em abril 59% da preferência do eleitorado, enquanto seu principal adversário, Lacalle Pou, do Partido
presidencial de outubro estão definidos. Confirmando o favoritismo apontado pelas pesquisas anteriores, Tabaré Vasquez foi
Nacional, contava com 34% das intenções de voto (em abril, as candidaturas ainda não
escolhido o candidato da Frente Ampla, ao
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
haviam sido oficializadas e as chapas não haviam sido formalmente institucionalizadas). No resultado da
O clima de indefinição nas eleições, com a possibilidade palpável de segundo turno e de não obtenção da maioria parlamentar, levou
pesquisa realizada em julho, já com as
a Frente Ampla a adotar uma nova
internas apontando para os candidatos
estratégia. O então presidente, José Mujica,
finais, a diferença entre os dois candidatos diminuiu, com 51% para Vásquez e 46% para
havia firmado que não concorreria a nenhum cargo nas eleições, já que a
Lacalle Pou. O Instituto Factum acrescentou uma pergunta sobre a firmeza da decisão dos eleitores e concluiu que, dos eleitores que
Constituição do país não prevê a reeleição. Após recusar o governo de Montevidéu, Mujica resolveu integrar a lista ao Senado do
declararam preferência à Vásquez, 12% ainda admitiam mudar de opinião, enquanto
Espaço 609, vertente da Frente Ampla. Como o sistema político do Uruguai opera
13% dos pretensos eleitores de Lacalle Pou
sob o regime de lista fechada, o objetivo de
também consideram a mesma possibilidade.
Mujica é fortalecer a bancada frenteamplista, que lidera as pesquisas para a presidência com o candidato Tabaré
O plebiscito sobre a redução da maioridade penal também dividiu opiniões e ressaltou as
Vásquez. O anúncio do atual presidente ocorreu em um momento conturbado das eleições, nos quais a pesquisas já previam
clivagens entre os Partidos. Enquanto a Frente Ampla associou a coligação com a opção pelo “não”, os Partidos Nacional e
Colorado mostraram-se favoráveis ao “sim”. Em pesquisa realizada pela consultoria Cifra
segundo turno e ausência de maioria parlamentar por parte de qualquer um dos partidos. A proximidade entre as intenções
em agosto, a divisão de opiniões aparece claramente. Segundo pesquisa realizada
de voto entre Vásquez e Lacalle e o bom
durante os dias 8 e 18 de agosto, na capital
televisivo também tornaram a estratégia de Mujica de fortalecer a Frente Ampla uma alternativa que poderia influir efetivamente
desempenho de Bordaberry no debate
Montevidéu e em cidades do interior, 49% dos entrevistados mostraram-se a favor da diminuição, 40% contra e 11% não souberam
no resultado.
responder. Ao correlacionar a opinião com a preferência partidária dos entrevistados, a consultoria concluiu que os frenteamplistas
O dia marcado para a definição dos próximos cinco anos do país foi 26 de
são majoritariamente favoráveis à manutenção da idade de 18 anos, enquanto os colorados apóiam a redução. A
outubro. Após meses de intensa campanha, os resultados levaram as eleições para o segundo turno. Tabaré Vásquez obteve
Organização
das
Nações
Unidas,
a
47,9% dos votos, Lacalle Pou recebeu
Comunidade
dos
Bispos
e
diversas
30,97% dos votos, 12,93% dos eleitores
organizações de Direitos Humanos se posicionaram publicamente contra o projeto, que havia sido lançado pelo
optaram por Pedro Bordaberry e Pablo Meires, do Partido Independente, recebeu 3,07% dos votos. Desde a Reforma
candidato Pedro Bordaberry.
Constitucional de 1996, o sistema eleitoral uruguaio acena com a possibilidade de
19
Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
segundo turno se nenhum dos candidatos receber mais de 50% mais um dos votos. Pelos resultados, ficou definido que o
para dar seu veredicto. A distribuição das cadeiras no Senado foi de 15 para a Frente Ampla, 10 para o Partido Nacional, 4 para o
segundo turno seria disputado entre
Partido colorado e 1 para o Partido
Vásquez e Lacalle. A maioridade penal foi
Independente. Já na Câmara dos Deputados,
mantida em 18 anos após 53,01% dos
de 99 cadeiras, a Frente Ampla obteve 50 cadeiras, o Partido Nacional ficou com 32, o
eleitores optarem pelo “não” no plebiscito
sobre a redução para 16 anos, resultado coerente com as preferências frenteamplistas.
Partido Colorado com 13 e o Partido Independente com 4. O segundo turno
Uma análise da votação por departamentos Os resultados mostraram uma preferência pela Frente Ampla maior do que a apontada nas pesquisas eleitorais. Portanto, assim que
indica que a Frente Ampla foi a preferida dos eleitores em Montevidéu, Artigas, Salto, Paysandú, Rio Negro, Soriano, Colonia, San José, Canelones, Maldonado, Rocha, Florida, Cerro Largo e Rivera. Já o Partido
foi decretado o segundo turno, a oposição se uniu em apoio a Lacalle. Apesar da subestimação do desempenho de Vásquez
Nacional recebeu a maior parte dos votos em Lavalleja, Flores, Durazno, Treinta y Três e
no primeiro turno, todas as pesquisas eleitorais para o segundo turno apontaram vitória da Frente Ampla. A Consultoria Cifra
Tacuarembo. A análise pelas clivagens sociais também permite verificar que, entre jovens de 18 a 30 anos, 52% votaram na
entrevistou 1001 eleitores durante os dias 6 e 10 de novembro em Montevidéu e cidades do interior. Os resultados apontaram para
Frente Ampla, assim como em regiões compostas primordialmente por setores
uma preferência de 52% dos eleitores pela FA, 35% para o candidato Lacalle Pou, do
populares e classe média, a exemplo de Pocitos, Punta Carretas, El Prado. O desempenho de Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, esteve abaixo das
Partido Nacional; brancos nulos e indecisos somaram 13%. A consultoria Equipos publicou pesquisa com resultados
expectativas tanto das pesquisas eleitorais quanto de seu partido.
semelhantes: 52% para a FA, 39% para o Partido Nacional e 9% para brancos, nulos e
Nas eleições legislativas, a maioria parlamentar da Frente Ampla também ficou dependendo do resultado do segundo turno.
indecisos. A Equipos também pesquisou a nova preferência entre os eleitores que tiveram seus candidatos derrotados no
No Senado, a Frente Ampla conseguiu 15
primeiro turno: a maioria dos eleitores do
cadeiras, exatamente metade das 30 possíveis, com a oposição somando outras
Partido Colorado declarou votar em Lacalle Pou, enquanto entre os eleitores do Partido
15. Ocorre que a legislação prevê que, em caso de empate, o vice-presidente da República desempata, o que garantiria a
Independente as preferências se dividem entre Vásquez e votos em branco.
maioria da Frente Ampla caso Vásquez fosse eleito e Sendic fosse chamado ao Parlamento
O segundo turno das eleições presidenciais ocorreram dia 30/11, opondo o tradicional
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
Partido Nacional e a Frente Ampla. O resultado do pleito confirmou a vitória de Vásquez como sucessor do presidente
com a lei de legalização da maconha regulamentada, com as portas abertas para presos de Guantánamo e refugiados sírios e
Mujica, cujo mandato se encerra em março
com os olhos do mundo voltados para o país
de 2015. A apuração dos votos resultou em
que ganhou notoriedade com a liderança
uma vantagem de aproximadamente 13 pontos percentuais, maior do que o previsto.
global de Mujica. Entretanto, a personalidade de Vásquez difere
Essa diferença de votos foi a maior registrada entre dois candidatos desde a reforma eleitoral de 1996, que instituiu o
significativamente da de seu antecessor, o que indica que a continuidade não se dará sem percalços. O novo presidente já se
segundo turno nas eleições executivas. Mesmo com a união da oposição, o apoio do
posicionou publicamente contra algumas atitudes políticas de Mujica e se
Partido Colorado a Lacalle Pou não foi
comprometeu a rever algumas medidas
suficiente para melhorar o desempenho do candidato. Com a vitória, Vásquez confirmou a maioria parlamentar da Frente
adotadas. O desafio da Frente Ampla será se reinventar, sem perder sua essência de coligação de esquerda, com o desafio de
Ampla e o terceiro mandato consecutivo da coligação, que domina as eleições desde 2005.
substituir um presidente carismático e único por um político mais tradicional e de posições mais afinadas com as vertentes de centro.
Após a confirmação da vitória de Vásquez, Mujica compareceu ao Comitê de campanha para parabenizar Vásquez. Lacalle proferiu discurso admitindo a derrota e prometeu fazer o papel de oposição e fiscalizar o governo. Vásquez, por sua vez, prometeu diálogo construtivo com a oposição e já começou a negociar com a cúpula da Frente Ampla a configuração de sua equipe, que governará o Uruguai pelos próximos cinco anos. Considerações finais A vitória de Vásquez, com a maior vantagem obtida por um candidato no segundo turno na história do país, confirmou a recente e já consolidada hegemonia da Frente Ampla nas eleições nacionais do Uruguai. Em seu segundo mandato, Vásquez contará com um país diferente do que deixou: o Uruguai conta com indicadores sociais mais altos,
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