MANEJO NA MATERNIDADE DE SUÍNOS Hudson Fernandes Castro* Luís David Solis Murgas**
1. INTRODUÇÃO Por meio dos procedimentos que compõem o manejo sanitário, busca-se evitar, eliminar ou reduzir ao máximo a incidência de doenças no rebanho e, associado a isso deve-se ter um cuidado especial com a nutrição das porcas e dos leitões, para que se obtenha um maior proveito do melhoramento genético. Nas criações confinadas e intensivas de suínos, a eficiência da criação, na fase de aleitamento, pode ser avaliada pela ocorrência de diarréia, pela taxa de mortalidade e pelo ganho de peso dos leitões. A importância econômica dessas diarréias se deve não só pela morte dos leitões, mas principalmente
pelas
conseqüências
negativas
sobre
o
desenvolvimento, com surgimento de refugos e pelos excessivos gastos com medicamentos para seu controle. Dentre as principais causas de mortalidade, com uma taxa média de 15 a 20%, destacam-se o esmagamento, a inanição e as diarréias. *Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da UFLA ** Professor do Departamento de Medicina Veterinária da UFLA
O maior número de mortes ocorre entre os 3 e 7 dias de vida. Nesse período, encontram-se as mais sérias preocupações, porque um resultado econômico bom ou ruim de uma exploração suína depende quase completamente do número e vitalidade de leitões nascidos e que chegam a desmamar por cada porca. As causas desses problemas são muitas, geralmente complexas, e exigem avaliações aprofundadas em cada sistema de criação, para identificá-las e tomar medidas corretivas. Os problemas das porcas e os dos leitões, que contribuem para a mortalidade, devem ser considerados separadamente, não perdendo de vista, entretanto, a interação entre eles. Para se fazer uma avaliação da eficiência de uma maternidade, é importante conhecer quais as variáveis e seus valores a serem utilizados. O CNPSA (Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves) tem definido as variáveis e os objetivos que os produtores devem procurar atingir com os leitões na fase de aleitamento. São eles: 1. Diminuição da ocorrência de diarréia; 2. Ganho de peso diário dos leitões acima de 200 g para um desmame médio de 30 dias; 3. Taxa de mortalidade abaixo de 6%; 4. Leitões homogêneos ao desmame (variação de peso menor que 1 kg da média da leitegada).
Em países como a Dinamarca, onde a suinocultura possui altos índices tecnológicos, a mortalidade até a desmama chega a alcançar cifras de 13,9%. Entretanto, taxas de mortalidade baixas como 6% podem ser obtidas, o que demonstra que existem formas de minimizar esse tipo de perda. De acordo com o levantamento de vários autores, 5 a 10% de todos os leitões são natimortos. A viabilidade dos leitões está vinculada ao grau de normalidade e vigor ao nascimento, às condições que lhes são fornecidas, à
habilidade materna e à
disponibilidade de tetos produtivos. A maternidade mais funcional é a do tipo gaiola, que restringe os movimentos da porca, evitando o esmagamento dos leitões. Este boletim tem por objetivo levar as informações aos técnicos e produtores sobre o manejo nutricional e sanitário na maternidade de suínos, na tentativa de aumentar os índices de produtividade e, conseqüentemente, ter maior lucratividade com a atividade. 2. PREPARO DA FÊMEA GESTANTE PARA A MATERNIDADE A duração do período de gestação varia de rebanho para rebanho e de raça para raça, e sua duração média pode ser
considerada de 114 dias (3 meses, 3 semanas, 3 dias), ocorrendo o maior número de gestações nos limites de 113 e 115 dias. Durante o período de gestação, deve-se manter a fêmea num ambiente
calmo e tranqüilo, evitando toda e qualquer
situação estressante. A mistura de lotes de fêmeas gestantes deve ser evitada, principalmente durante o primeiro e o último mês da gestação. 2.1 - NUTRICIONAL A alimentação das porcas gestantes deve ser limitada de acordo com as suas condições orgânicas, fornecendo às mesmas entre 1,5 a 2 kg de ração/dia até o parto. Essa quantidade poderá ser ligeiramente aumentada no terço final da gestação, de acordo com a orientação do técnico responsável. Essas rações não devem conter excesso de energia, para não aumentar as perdas embrionárias. As marrãs devem ganhar mais peso na gestação em relação às porcas, pois estão em fase de crescimento. Para que ocorra um bom desenvolvimento do leitão durante a gestação, deve-se suprir a porca com quantidades suficientes de vitaminas A, D3 e E, do complexo B e de vitamina C. Pode-se recomendar a aplicação IM (intramuscular) de
vitaminas A, D3 e E após a cobrição, e repeti-la 3 semanas antes do parto, por serem estas as que mais vantagens econômicas trazem ao produtor. A ração da porca na baia de parição deverá ser laxativa para evitar constipação intestinal ou
congestão do aparelho
mamário, pois a redução da motilidade intestinal é um dos fatores predisponentes para a absorção de endotoxinas que pode levar à instalação da síndrome MMA (mastite - metrite - agalactia). Na falta de uma ração laxativa (que poderá ser obtida com adição de 10% de farelo de trigo), usar-se-á sulfato de magnésio (sal amargo) na dose de 10g/animal; essa ração é dada aos 2 dias antes do parto, continuando até o 3º dia após. 2.2 - SANITÁRIO O uso de vacinas recomendadas em nosso meio varia de uma criação para outra, abrangendo desde a utilização de uma vacina específica, a programas de vacinação em que se utilizam quase todas as vacinas disponíveis para a indústria suinícola. As vacinas representam um dos importantes recursos disponíveis para prevenir a ocorrência de determinadas doenças. Às vezes, elas são administradas durante o curso de uma infecção, com a finalidade de proteger aqueles animais do
rebanho que permanecem expostos ao risco da infecção, e para fins terapêuticos, para aqueles já infectados. No mercado brasileiro, existem hoje vacinas contra uma série de doenças, tais como: peste suína clássica, salmonelose (paratifo),
rinite
atrófica,
erisipela
(ruiva),
colibacilose,
leptospirose, febre aftosa, doença de Aujeszsky, gastroenterite transmissível,
parvovirose,
pleuropneumonia,
enterotoxemia
causada pelo C. perfringens tipo C e outras. Em alguns Estados brasileiros, incluindo o Estado de Minas Gerais, a vacina contra a peste suína clássica é proibida, pois a situação sanitária com relação a essa doença é de erradicação, promovendo o abate dos animais soropositivos. Alguns aspectos devem ser observados quando da utilização de vacinas, tais como: 1. Na ausência de sintomas clínicos e especialmente nos casos de granjas isoladas ou fechadas, o uso de algumas das vacinas listadas anteriormente, torna-se desnecessário; 2. A relação entre o custo da vacina, os gastos em mãode-obra e os problemas associados à vacinação que podem surgir, e o possível benefício obtido com o seu uso, devem ser cuidadosamente avaliados;
3. Criações de suínos isoladas de outros rebanhos e que têm um trânsito mínimo de visitantes, de veículos e de outros animais, possuem instalações de quarentena e que seguem um programa de limpeza e desinfecção, não necessitam de um programa de vacinação tão abrangente; 4. Existe uma tendência, entre aqueles criadores que não têm assistência técnica direta de médicos veterinários, de implantar programas de vacinação seguindo a orientação de vendedores de produtos biológicos ou mesmo de outros criadores. Essa atitude pode, em algumas situações, aumentar desnecessariamente o custo de produção; 5. A utilização de uma vacina somente se justifica se a eficiência
da
mesma
tenha
sido
comprovada
experimentalmente; 6. A
utilização
da
vacinação
preventiva
tem
sido
recomendada como uma valiosa ajuda no combate a algumas doenças infecto-contagiosas, de tal forma que, em alguns países, os órgãos governamentais obrigam os criadores a efetuarem uma vacinação sistemática.
TABELA1- Esquema de vacinação para prevenção de algumas das principais doenças no meio suinícola**: Doenças Colibacilose
Erisipela
Febre aftosa Leptospirose PSC
PSC
Salmonelose
Reprodutores Leitões Marrãs – 1ª dose entre 70 e 80 dias de gestação e 2ª dose entre 90 e 100 dias de gestação Porcas – entre 90 e 100 dias de gestação Porcas – preferencialmente após a Rebanhos sem a doença – 3 desmama meses e revacinar de 6 em 6 meses Rebanhos com a doença – 2 a 3 dias após o tratamento dos animais doentes, vacinar todos os animais com mais de 40 dias de idade e revaciná-los 2 a 4 semanas após, e depois, vacinálos de 6 em 6 meses. Vacinar a cada 4 meses, não vacinar Aos 2 meses de idade e porcas no final do período de gestação revacinar a cada 4 meses Porcas antes da cobertura Após o desmame Machos adultos, em áreas de risco, a cada 7 meses Porcas em gestação – entre 70 e 90 Filhos de porcas não vacinadas – dias de gestação 14 a 28 dias de vida Porcas paridas – vacinar 1 vez ao ano, Filhos de porcas vacinadas com no mínimo 2 a 4 semanas antes da cristal-violeta – 50 a 60 dias de cobertura idade Cachaços – 1 dose de manutenção Filhos de porcas vacinadas com quando tiverem mais ou menos 1 ano, vírus vivo modificado – a partir e revacinar anualmente dos 60 dias de idade Animais a serem introduzidos no Porcas nulíparas – revacinar 30 a plantel devem ser revacinados durante 45 dias antes da primeira o período de quarentena cobrição Porca – vacinar no último mês de Filhos de porcas vacinadas – gestação entre 15 a 30 dias de idade Cachaços – 1 vacinação anual Filhos de porcas não vacinadas – aos 20 e 60 dias*
*Pode-se fazer junto com a vacinação de PSC, mas deve-se aplicar em locais diferentes e usar seringas separadas. não devendo coincidir com a data de desmame. ** As vacinas não devem coincidir com a data de desmame.
Em granjas que possuam problemas confirmados de colibacilose, utilizar a vacina nas porcas, para proteger suas leitegadas contra a doença, pois caso a porca não tenha tido contato com agentes patogênicos, não haverá produção de imunoglobulinas
específicas.
Esse
é
um
fato
comum
principalmente em marrãs, o que contribui para que seus leitões apresentem com maior freqüência a diarréia. Por isto, deve-se vacinar as porcas antes do parto, para induzi-las a produzir ou aumentar a quantidade de imunoglobulinas específicas no soro e, conseqüentemente, no colostro, o qual será transmitido aos leitões, protegendo-os. Em várias granjas na região de Ponte Nova – MG, diarréias de leitões já não são problemas há muito tempo. Os pilares para a solução do problema fundamentaram-se em temperatura
(fonte
de
aquecimento),
rigorosa
limpeza
e
desinfecção, ausência de umidade nas gaiolas, sistema “all in all out”, porcas bem nutridas e com boa produção de leite, funcionários treinados, responsáveis, interessados e estimulados,
assistência veterinária permanente, baias de parição funcionais, descanso das instalações (vazio sanitário) e água potável. O
vazio
sanitário
consiste
em
não
se
utilizar
continuamente a maternidade e sempre cumprir um período de pelo menos 5 dias entre lotes; isso é feito para evitar a difusão de organismos patogênicos de leitões mais velhos para os mais novos. Deve-se vermifugar as porcas e tratá-las contra piolhos e sarnas, segundo as recomendações do médico veterinário. 2.3 - MANEJO Dos 3 aos 7 dias antes da data provável do parto, as porcas devem ser transferidas para a maternidade. Essa transferência deve ser feita nas horas mais frescas do dia e as porcas devem ser conduzidas calmamente. É indispensável que antes de serem introduzidas na cela parideira, as porcas sejam lavadas com escova, sabão e água, para eliminar a sujeira e as larvas de parasitos que possam estar aderidos à pele. A lavagem deve ser numa cela parideira especialmente preparada, localizada o mais perto possível de sua baia, de modo que possa ser conduzida diretamente a ela, evitando, dessa forma, que se suje novamente. A lavagem deve
ser feita da frente para traz e de cima para baixo, dando especial atenção à área ao redor da vulva, região do aparelho mamário e dos cascos. A superfície da baia para receber a porca e sua leitegada não deve ser inferior a 3,6 m2, com a primeira barra tendo uma altura de pelo menos 28cm do piso, com isso, diminuirá a quantidade de esmagamentos. No dia do parto, a porca deverá receber apenas
água
fresca e de boa qualidade. Assistir ao parto para realizar práticas rotineiras, como: amarração,
corte
e
desinfecção
do
cordão
umbilical
e,
principalmente, a orientação nas primeiras mamadas; com isso, os leitões vão ingerir o máximo de colostro possível para protegêlos das infeções; essas medidas ajudam na prevenção das diarréias e mortes de leitões. O número de primíparas não deve ser superior a 30% das matrizes do plantel, pois aumentam a incidência de diarréia devido à redução da imunidade do rebanho. 3. CUIDADOS DURANTE O PARTO A proximidade do parto poderá ser
verificada pela
secreção de leite dos tetos, com leve pressão. A maternidade
deverá ser provida de fontes de calor, que deverão ser testadas por ocasião do parto (escamoteadores). O parto deve ser sempre acompanhado pelo tratador, podendo-se reduzir a mortalidade de leitões em até 17%. Parto é a expulsão dos fetos do útero, após o seu completo desenvolvimento. O intervalo médio entre a expulsão de um e outro leitão é de aproximadamente 16 a 20 minutos. Na porca, a apresentação dos leitões, tanto com os membros posteriores como com o focinho, por ocasião do nascimento, é considerada normal e comum. A fase do parto compreendida entre a expulsão do último feto até a eliminação das placentas, é considerada normal quando dura até 1 hora. A duração do parto varia de 2 a 6 horas, sendo que partos com uma duração de mais de 6 horas devem ser considerados patológicos. A duração do parto pode ser influenciada negativamente por inúmeros fatores ligados principalmente ao ambiente e ao manejo.
Assim,
ambientes
barulhentos,
aumentos
de
temperaturas ou, então, a intervenção do criador através do toque vaginal no momento não apropriado ou mesmo aplicações de oxitocina em doses muito elevadas, tornam o parto mais prolongado.
O parto é uma das etapas mais críticas no processo global da produção de suínos, tanto em relação ao bem-estar da porca como dos leitões. Diversos problemas podem surgir, os quais podem resultar na morte ou, pelo menos, na redução da eficiência tanto da porca como do leitão. 3.1 - COM A MATRIZ Aproximadamente uma semana antes do parto, as fêmeas apresentam sinais mais evidentes da aproximação do mesmo. Dentre esses os mais freqüentes são a congestão e o aumento da sensibilidade das glândulas mamárias e do edema da vulva, os quais aumentam de uma forma leve, porém gradativa, até o dia da parição. Em torno de 3 dias antes do parto, pode-se observar ainda uma mudança no comportamento das fêmeas, caracterizada principalmente por inquietações. O melhor sintoma de aproximação do parto é atribuído à atividade secretora do epitélio alveolar da glândulas mamárias, que é acompanhada de um aumento evidente do tamanho do complexo glandular e dos tetos.
TABELA 2 - Características e volume de secreção láctea obtida através da ordenha de fêmeas em gestação, a partir de 72 horas antes do parto. Horas antes do parto 72 48 12 6
Características e volume de secreção láctea obtida através da ordenha - Não se observa secreção láctea. - Uma ou outra gota de secreção serosa de algumas glândulas mamárias. - Em 70% dos casos, diversas gotas de uma secreção leitosa. - Em 94% dos casos, jatos de uma secreção leitosa.
FONTE: Sobestiansky, et al. (1987).
Após atingir 110 dias de gestação, recomenda-se observar periodicamente seu comportamento e examinar o complexo mamário para verificar a ocorrência ou não de secreção láctea. Quando as mudanças de comportamento forem aparentes e/ou se obtiver secreção láctea leitosa e em jato, a vigilância deve ser intensificada até o momento do início do parto que, então, será acompanhado integralmente. O parto em si geralmente decorre sem complicações. Porém, quando o intervalo de nascimentos dos leitões é grande (parto demorado), ou quando já nasceram diversos leitões e a porca continua apresentando contrações, sem, no entanto, nascerem leitões, o tratador pode interferir no curso do parto.
Tanto num como no outro caso, a primeira medida a ser adotada é o toque vaginal para verificar a presença ou o posicionamento do leitão no útero, e mesmo retirá-lo quando possível. O toque vaginal deve ser realizado dentro das mais estritas normas de higiene, para evitar uma infecção no aparelho reprodutor da fêmea. No caso de um parto demorado e quando não existe obstáculo à saída dos leitões, recomenda-se aplicar oxitocina na dosagem e via recomendadas pelo médico veterinário. Em dias quentes ou quando a porca estiver muito cansada, deve-se dar um banho na porca durante 10 a 15 minutos antes de aplicar oxitocina, para reanimá-la. Minutos após a aplicação, colocam-se os leitões nascidos para mamarem. A oxitocina não deve ser aplicada antes do toque vaginal e do nascimento do primeiro leitão, pois pode estar ocorrendo um estreitamento da via fetal óssea ou mole (principalmente em fêmeas de primeira cria), uma torção de útero, a presença de fetos gigantes ou enfisematosos, entre outros, contra os quais o medicamento não tem efeito e seu uso pode ser prejudicial. Após o término do parto, devemos recolher os restos de placenta e colocá-los numa fossa asséptica. Porcas com 8 leitões ou mais devem receber 2,0 kg de ração no segundo dia pós-parto e ir aumentando gradativamente até receberem ração à vontade.
Porcas com menos de 8 leitões devem receber, no mínimo, 2,5 kg mais 400 g de ração por leitão. Quando houver falha na lactação, a causa deverá ser determinada para o aconselhamento das medidas terapêuticas efetivas. A produção de leite pode ser deficiente devido a defeitos dos tetos ou da glândula mamária. Nesses casos, o número de tetos insuficientes ou invertidos é a principal causa. Quando isso ocorre, deveria ser feita a seleção de novos varrões e marrãs. Fêmeas com desenvolvimento irregular do sistema mamário terão uma produção insuficiente de
leite. Nestes casos, a
solução é transferir os leitões para porcas de boa capacidade de aleitamento. Outras situações, como retenção de placenta ou de leitões, poderão resultar em diminuição da produção de leite. A agalactia também pode ser fisiológica. Nessa situação, a porca produz leite, mas tem dificuldade de liberá-lo para os leitões. Esse tipo de problema freqüentemente aparece em marrãs e possivelmente é devido à falta de experiência materna. Durante 1 a 3 dias após o parto, observa-se na porca, a eliminação dos lóquios (também chamados corrimento loquial), que são restos de líquidos, detritos placentários e células sangüíneas existentes no útero. A quantidade de líquido loquial é escassa, sua consistência é aquosa e mucilaginosa, com coloração esbranquiçada e sem odor característico. Uma
alteração nessas características indica uma alteração patológica no aparelho reprodutor. O estado nutricional inadequado das porcas no final da gestação é um dos fatores de risco à ocorrência de diarréia nos leitões. Fêmeas magras, além de alimentarem mal sua leitegada, podem apresentar problemas reprodutivos futuros, como anestro, aumento no intervalo desmama-cio e diminuição do número de leitões no próximo parto. Uma
porca
doente
produzirá
menos
leite
e,
conseqüentemente, afetará a saúde de sua leitegada. Para verificar a saúde da porca nesse período, o produtor deverá ter cuidados especiais, observando o apetite, a produção de leite, realizar a palpação do seu aparelho mamário (2 vezes ao dia), a presença de corrimento vulvar purulento e a temperatura retal, como auxílio para identificar porcas que poderão apresentar MMA. Considera-se uma porca com febre, nesse período, quando a temperatura retal for superior a 39,3 sinal
indicativo
que
a
porca
não
está
o
C. No primeiro
bem,
deve-se,
imediatamente, tomar medidas sob orientação do médico veterinário. A demora na tomada de medidas corretivas poderá acarretar na perda parcial ou total da leitegada.
3.2 - COM OS LEITÕES Logo após o nascimento dos leitões, deve-se proceder à toalete, que consiste em: limpar e enxugar os leitões com papeltoalha, desobstruindo as narinas e a boca; amarrar o cordão umbilical cerca de 2 cm abaixo da barriga com barbante mantido em álcool iodado e cortar o cordão logo abaixo do amarrio; mergulhar o cordão em um vidro de boca larga com álcool iodado, para desinfetar totalmente a área do umbigo; auxiliar, se necessário, o leitão a mamar o colostro (animais muito fracos, com menos de 800 g e debilitados deverão ser descartados); cortar os dentes, evitando machucar a gengiva; cortar o terço final da cauda; colocar os leitões no escamoteador, o qual deve conter cama seca e fonte de calor com temperatura controlada entre 28º C e 30º C, antes mesmo do começo do parto. Os leitões devem ser limpos e secos à medida que vão nascendo. Os líquidos fetais, bem como os restos de membranas que envolvem exteriormente o recém-nascido, devem ser removidos com toalhas de papel. Primeiro limpa-se a cabeça do recém-nascido, ao redor da cavidade bucal e das narinas. A seguir, limpa-se o restante do corpo do leitão. O leitão deve ser seco imediatamente após nascer, para evitar perda de calor.
Alguns leitões podem nascer parcialmente ou totalmente envolvidos em membranas fetais e podem morrer sufocados, se estas não forem removidas imediatamente. Após sua remoção, recomenda-se fazer uma massagem enérgica no leitão, sobre o dorso e a região pulmonar, para reanimá-lo. A alta incidência (mais de 10%) de infecção do cordão umbilical nos leitões entre 10 e 15 dias de idade, provoca o surgimento de leitões refugos, pois, na maioria das vezes, a infecção se alastra por órgãos internos. A inflamação do cordão umbilical geralmente ocorre devido à excessiva contaminação da baia no momento do parto (baia suja), falta de cama limpa para o leitão nos primeiros dias de vida e falta de desinfecção do cordão umbilical, logo que os leitões nascem. A tesoura a ser usada deve ser limpa
e desinfectada. O corte e a desinfecção do
umbigo não terão valor se não forem realizados nos primeiros minutos após o parto. O processo de queda do umbigo é rápido, mas, mesmo assim, ele pode servir de porta de entrada a germes causadores de infeções ou dar origem a hemorragias, as quais podem conduzir à perda de leitões. O leitão nasce com oito dentes e estes podem lesar os tetos da porca, ou dar origem a ferimentos nos arredores da boca
dos leitões, que podem servir de porta de entrada a uma infecção secundária, com conseqüente perda de leitões. O corte dos dentes é realizado com auxílio de um alicate próprio, e consiste num golpe firme e rápido. O corte deve ser praticado rente à gengiva, e com cuidado, para evitar lesões nesta ou na língua do leitão. Deve-se evitar deixar pedaços de dentes, uma vez que estes ferem o aparelho mamário com maior severidade do que os próprios dentes, podendo provocar ferimentos na língua, dificultando o ato de mamar. O alicate utilizado para o corte dos dentes deve ser limpo e desinfectado, entre uma e outra leitegada. O corte do último terço da cauda é adotado como medida preventiva contra o canibalismo e, apesar de serem conhecidos hoje vários fatores desencadeantes do canibalismo, observa-se com freqüência que ele se manifesta mesmo em criações adequadamente orientadas. A prática desse corte deve ser realizada nos primeiros três dias de vida do leitão, e é realizada da seguinte maneira: corta-se o último terço de uma só vez, com uma tesoura e, a seguir, aplica-se uma solução de iodo, para desinfectar o local e cauterizar a ferida. O corte da cauda pode ser realizado por ocasião do tratamento preventivo contra anemia ferropriva dos leitões, com a finalidade de identificar a leitegada já tratada, ou então por
ocasião do corte dos dentes ao nascimento, para causar um menor estresse. O corte do último terço da cauda poderá diminuir a freqüência do canibalismo. O leitão nasce praticamente sem nenhuma proteção contra organismos patogênicos existentes no seu novo ambiente, com os quais nunca antes esteve em contato. O leitão recebe passivamente os anticorpos da mãe através da ingestão do colostro (“primeiro leite”), e sua saúde e sobrevivência dependem em parte de sua ingestão. Os anticorpos são absorvidos pelas células do trato gastrointestinal, e transferidos imediatamente à corrente sangüínea. A capacidade de absorção de anticorpos pelo leitão começa a diminuir logo após o nascimento, e 24 - 36h após, praticamente não mais ocorre. Para assegurar uma ingestão adequada de colostro pelos leitões, é essencial que estes sejam colocados a mamar já na primeira hora após o nascimento. Nas glândulas peitorais, o leite é mais abundante, mais açucarado e mais gorduroso. A diferença de produtividade entre as glândulas mamarias peitorais, intermediárias e inguinais, é uma causa de desigualdade no desenvolvimento dos leitões. Pode-se evitar uma desigualdade no desenvolvimento do leitão, orientando as primeiras mamadas, colocando os leitões mais fracos a mamarem antes, sozinhos, nos tetos anteriores. Após
estes terem mamado, solta-se os demais. Esse procedimento deve ser seguido nas mamadas seguintes, durante os primeiros 3 - 5 dias. 4. CUIDADOS COM OS LEITÕES NA MATERNIDADE Atualmente, é prática comum fornecer um microambiente adequado aos leitões através de uma fonte de calor, sem alterar ou prejudicar o bem-estar da porca lactante, por meio da utilização utilização de escamoteadores como fonte de calor suplementar, que devem ser limpos e secos. Nos primeiros 4 a 5 dias pós parto, deve ser considerada a colocação de uma cama, a qual deve ser trocada diariamente. A remoção de leitões de uma porca a outra é praticada em diferentes intensidades na maioria das criações, principalmente naquelas em que predomina o sistema de parições múltiplas; normalmente quando uma porca apresenta agalactia, ou mesmo quando pare um grande número de leitões. Essa transferência deve ser realizada, o mais tardar, nos primeiros 3 dias após o parto da porca adotiva, uma vez que as glândulas mamárias excedentes e não utilizadas tendem a involuir. Não se pode nunca dizer com certeza se uma porca vai ou não aceitar os animais transferidos. Deve-se reunir os leitões
da porca adotiva com aqueles que se pretende transferir, em um cesto, durante 10 - 25 minutos, e pulverizá-los com uma solução fraca de creolina para dificultar seu reconhecimento, pela porca, através do cheiro. Existem situações em que não é possível evitar a criação ou o aleitamento artificial de leitões. Por exemplo, quando há uma diminuição ou falta de leite ou mesmo quando a porca morre e não existe possibilidade de transferir os leitões para outra porca, há a necessidade de criá-los artificialmente. As perdas de leitões após o nascimento, na sua maioria cerca de 70%, ocorrem na primeira semana de vida. As causas são inúmeras e a grande maioria de natureza não infecciosa, como o esmagamento e a inanição. Esta última geralmente devido à agalactia, exposição ao frio ou sangramento do umbigo. Os leitões mais fracos são os mais atingidos,
representando
cerca de 65% do total de perdas nesta fase. O
leitão,
ao
nascer,
é
neurologicamente
bem
desenvolvido, mas fisiologicamente imaturo. Ele teria de estar bem preparado para enfrentar o meio ambiente, mas o que se registra é que, em termos de reservas, ele nasce com apenas 1 2% de gordura, sendo, na maioria, estrutural; contando nas primeiras hora de vida apenas com a glicose catabolizada de glicogênio hepático como sua principal fonte de energia. O nível
de glicogênio hepático ao nascimento é suficiente apenas para cobrir os requerimento de energia de 15 - 20 horas. Na falta de aquecimento artificial, os leitões, principalmente aqueles que não são
amamentados,
tornam-se
hipoglicêmicos
e
procuram
aquecimento junto da mãe; isso, não raras vezes, resulta no esmagamento deles. 4.1 - NUTRICIONAL Deve-se chamar a atenção para a qualidade da água servida na granja. Na maioria da vezes, a água está contaminada por Escherichia coli patogênica, salmonela, estreptococos ou outras bactérias. O exame bacteriológico da água deve ser realizado de 6 em 6 meses, adotando-se as medidas que se fizerem necessárias para a obtenção de água potável. A água deverá estar disponível para os leitões em amamentação, já que o leite da porca é bastante concentrado e não satisfaz as necessidades de água do leitão, o que o leva a procurar água em outros líquidos, tipo urina no piso ou no próprio bebedouro da porca. Para que o aparelho digestivo se desenvolva de tal forma que o número de animais com 7 a 8 semanas de idade possam digerir uma ração com um teor relativamente elevado de proteína
(17-18%), e retirem dela os nutrientes necessários para seu desenvolvimento, é indispensável que seja oferecida a primeira ração na primeira semana ou no início da segunda semana de vida dos leitões. Apesar de as rações para leitões serem relativamente caras, os leitões convertem tais rações em tecidos corporais com mais eficiência do que em qualquer outra fase de vida. Portanto, o custo da ração por quilo ganho nessa fase é relativamente baixo. Pode-se fazer o arraçoamento dos leitões em aleitamento com ração de lactação, contendo, no mínimo, 14% de PB (proteína bruta) e 3.300 kcal de energia/Kg, para leitões desmamados até 30 dias de idade; o que diminuirá o custo de produção do leitão, porque esta ração é mais barata que a citada no parágrafo acima e apresenta o mesmo resultado. A eficiência alimentar do leite diminui com o aumento da idade do leitão, de tal forma que a partir da quinta semana, praticamente não existe relação entre rapidez de crescimento e a quantidade de leite secretado pela porca. A finalidade do fornecimento da primeira ração é suprir as necessidades nutritivas da leitegada, favorecer o crescimento dos leitões mais fracos em leitegadas muito grandes e acostumar os leitões a
comerem um alimento seco, antes mesmo de
se realizar a
desmama. A mortalidade em conseqüência da anemia ferropriva em criações em que os leitões recebem ferro única e exclusivamente através do leite materno, varia entre 9 e 60%, dependendo da gravidade
da
anemia.
Além
disso,
os
leitões
anêmicos
desenvolvem-se mal, devido ao péssimo aproveitamento dos alimentos, apresentando uma predisposição maior a infecções secundárias. Pelo leite materno, são supridas somente 10 a 20% das necessidades reais dos leitões, sendo o restante retirado dos depósitos de ferro do organismo. O método de eleição para a prevenção da anemia dos leitões tem sido a aplicação de 100 a 200 mg IM (intramuscular) de um composto orgânico de ferro, geralmente o dextron, entre o primeiro e o sétimo dia de vida. 4.2 - SANITÁRIO Quando existem problemas de diarréia nos leitões, as perdas por morte se elevam. Cerca de 60% das criações com mais de 16% de morte de leitões na maternidade, possuem alta incidência de diarréia e porcas com sinais evidentes de sarna.
A higiene na sala de gestação trata-se de uma variável que leva em conta práticas sanitárias de limpeza, como eliminação de dejetos atrás das porcas e limpeza destas. A mortalidade de leitões é superior nas criações com nível higiênico medíocre. Em leitões lactentes, os problemas digestivos aparecem geralmente sob a forma de diarréias, com aspecto que vai de aquoso
a
pastoso,
com
coloração
branco-amarelada.
A
conseqüência dessas diarréias, além da mortalidade, geralmente abaixo de 10%, é a ocorrência de refugos. Isso justifica o esforço que se deve dedicar para sua prevenção. No Brasil, as doenças mais freqüentes que causam diarréias em leitões na fase de aleitamento são a colibacilose, a coccidiose (isosporose) e a rotavirose. O estabelecimento do diagnóstico correto é muito importante para a prescrição do tratamento e/ou de medidas preventivas. Para isto, recomenda-se o envio de 1 ou 2 leitões afetados (na fase inicial da diarréia e sem terem sido medicados) para a
realização de exames
laboratoriais. Estudos em criação de suínos têm demonstrado que esses microrganismos causadores de diarréia em leitões lactentes estão presentes, tanto em rebanhos com problemas, como em rebanhos sem problemas de diarréia. A identificação de fatores
de risco em um determinado rebanho permite estabelecer o controle das diarréias pela eliminação ou atenuação do impacto nocivo desses fatores na saúde dos animais. Este trabalho requer a colaboração e o empenho do produtor e dos funcionários. As medidas de controle das diarréias, após a primeira semana de idade, baseadas no uso de medicamentos, dão resultados irregulares e somente, temporariamente, satisfatórios. Isso justifica a adoção de medidas preventivas (de
manejo e
manutenção) que proporcionam boas condições de criação nesta fase dos leitões. É importante entender que os fatores de risco agem de maneira conjugada e possuem efeito cumulativo, não devendo, portanto, ser analisados isoladamente. Nas criações de suínos confinados e intensivas, existem pelo menos 14 fatores de risco, sendo eles: de ambiente, de instalações, de manejo, de higiene das instalações, da água de boa qualidade, da porca, do leitão, do grau de interesse e instrução do funcionário responsável pela maternidade, do nível sócioeconômico e cultural do proprietário, da situação econômica do setor, da qualidade da ração, do veterinário, da presença de laboratórios na região e, finalmente, do agente microbiológico. Esses estão regularmente associados à diarréia após a primeira
semana de vida, à mortalidade e ao baixo desempenho de leitões lactentes. Os agentes etiológicos das diarréias de suínos em amamentação têm períodos de incubação distintos, os quais permitem certa diferenciação, de acordo com a idade em que aparecem. Em alguns casos, a doença pode ocorrer em leitões não imunes, em uma forma alterada ou em combinação com outras infecções entéricas. Algumas condições, como baixa ingestão de colostro, frio, agalactia e pobre higienização, podem aumentar as taxas de morbidade e mortalidade, particularmente nessa faixa etária. Os agentes causadores de diarréia nos leitões em amamentação podem agir de forma mais rápida ou mais lenta, podendo ser identificados conforme a idade em que aparecem. No primeiro dia de vida dos leitões (6-24h), pode ocorrer a diarréia apenas aquosa, de cor amarelo-pálida, e que raramente afeta mais de 70% da leitegada (causada por Escherichia Coli, Clostridium perfringens, ou ainda por Campylobacter spp ou Streptococcus spp). Em leitões de 24-48h de idade, ocorre a diarréia vermelho-clara, afetando toda a leitegada quando causada por C. perfringens tipo C. Quando causada pelo tipo A, os sintomas são semelhantes e a mortalidade é baixa. As diarréias ocorridas acima de 48h de idade dos leitões pode ser
uma diarréia aquosa (diarréia epidêmica ou gastroenterite transmissível). As ocorrências de diarréias nos leitões a partir de 72h de idade podem provocar uma diarréia aquosa e, às vezes, amarronzada, sendo mais comum a ocorrência aos 10 dias de idade e durar de 3 – 5 dias. As últimas diarréias surgem acima de 96h (do 4º para o 5º dia de idade do leitão) provocando uma diarréia pastosa ou amarelada e aquosa, agravando-se com a sujeira. Controle e prevenção constituem, sem dúvida, as mais importantes medidas que o médico veterinário deverá empregar com relação à diarréia em suínos. Esses inúmeros fatores interagem, resultando em diarréia e deverão ser revisados na tentativa de identificar qual (ou quais deles) está agindo de forma a propiciar a ocorrência da diarréia. Após identificação, deve-se proceder à correção. 4.3 - AMBIENTE E MANEJO Algumas medidas, se adotadas com critério, contribuem de forma decisiva para minimizar ou controlar o problema das diarréias dos leitões. Todos os partos de um grupo de porcas devem ocorrer mais ou menos ao mesmo tempo, tipo “all in all out”. Com relação
à desinfecção, chama-se a atenção para a necessidade primordial de lavar toda a baia, incluindo gaiola, área de circulação dos leitões, piso atrás da porca, paredes etc. Desde a entrada das porcas na maternidade, as fezes devem ser retiradas diariamente. A gaiola deve estar bem ajustada à porca, para evitar que as fezes se espalhem dentro da baia. Deve-se chamar a atenção para a qualidade da água servida na granja, pois é comum a utilização de água imprópria do ponto de vista bacteriológico. É importante que a temperatura ambiente para os leitões esteja em torno de 35° C na primeira semana de vida, sendo, portanto, necessária a colocação de lâmpadas ou aquecedores, de preferência uma no escamoteador e outra na lateral menor da gaiola. A área de criação dos leitões na gaiola deverá ser seca para evitar a sobrevivência de agentes patológicos. Os suínos recém-nascidos necessitam de ingerir colostro no máximo até 36h após o parto, de preferência dentro das 6 primeiras horas de vida. A viabilidade dos leitões está vinculada ao grau de normalidade e vigor ao nascimento, às condições que lhe são fornecidas, à habilidade materna e à disponibilidade de tetos produtivos. A intensidade da manifestação dos efeitos prejudiciais
à viabilidade dos leitões varia consideravelmente conforme o rebanho, o meio ambiente e o manejo. Dentre os fatores que atuam diretamente sobre a mortalidade dos leitões recémnascidos, são citados: o esmagamento pela porca, distúrbios do trato gastrointestinal, pneumonia, anormalidades congênitas, tamanho da leitegada, peso dos leitões ao nascimento, idade da porca e estação do ano. O esmagamento dos leitões pela porca é considerado a causa direta mais importante na mortalidade dos leitões recémnascidos. Tudo indica que a morte de leitões por esmagamento acontece em conseqüência de fatores combinados. Existem evidências de que a idade da porca esteja associada à natimortalidade que ocorre em função do aumento da ordem de parição e também com o tamanho da leitegada que, via de regra, é maior em porcas mais velhas do que em primíparas. No que diz respeito ao tamanho da leitegada, não é suficiente que apenas o número de leitões nascidos vivos seja grande, mas convém igualmente que haja a vantagem de uma maior porcentagem de leitões criados (desmamados). A variação de peso dentro da leitegada e o baixo peso ao nascer estão diretamente correlacionadas com a taxa de mortalidade dos leitões. Uma substancial proporção de mortes pode ocorrer, como
conseqüência de anormalidade próprias da espécie suína, surgidas durante o parto e/ou nos primeiro dias de vida dos leitões. Uma supervisão regular das porcas, dos partos, dos leitões recém-nascidos, durante algumas horas após o parto, pode reduzir a mortalidade, especialmente em partos induzidos por sincronização, evitando-se que os mesmos ocorram em dias e/ou horário indesejáveis. Quando os partos são sincronizados, facilitando a supervisão e a composição de leitegadas ajustadas à capacidade materna, as grandes leitegadas crescem de importância ao nascimento. A exposição ao frio reduz a vitalidade dos leitões, com possibilidade de morte por hipoglicemia e ocorrência de diarréias. Também na tentativa de se aquecerem junto à porca, são facilmente vítimas de esmagamento. Leitões ao nascimento necessitam de temperatura ambiental de 32°C, reduzindo-se, após, cerca de 1°C por semana. Para que essas condições sejam mais facilmente obtidas na maternidade, devem ser construídas dentro de alguns padrões e possuem alguns equipamentos, como: 1. Maternidades excessivamente fechadas, com poucas aberturas laterais (menos de 20% das paredes
laterais), prejudicam o conforto, principalmente das porcas, com muitas conseqüências para a leitegada; 2. Maternidades sem forro no teto dificultam o controle térmico
interno.
Variações
térmicas
diárias
com
amplitudes superiores a 6°C e fora dos limites de conforto
das
porcas
(16-27°C),
no
interior
da
maternidade, devem ser evitadas; 3. Área da cela parideira inferior a 3,6 m2 limita o espaço disponível para os leitões, o que dificulta mantê-la limpa; 4. Presença de escamoteador (caixote) para os leitões se abrigarem nos intervalos entre as mamadas. O tamanho e o manejo correto do escamoteador são importantes para que os leitões aprendam a usá-lo para dormir. Para isso, é essencial mantê-lo limpo, com cama e com temperatura na faixa de conforto dos leitões, isso é facilitado com o uso de uma fonte de aquecimento controlada por um termostato, além de diminuir o consumo de eletricidade; 5. Se possível, não deve haver salas de maternidade excessivamente grandes com capacidade para abrigar mais de 15 porcas e suas leitegadas, pois essas salas dificultam o atendimento correto às porcas e às suas
leitegadas, aumentando as possibilidades de infecções, devido a grande concentração de animais. 5 - DESMAMA Entende-se por desmama a separação completa de toda ou de parte de sua leitegada. Por ocasião da desmama, os leitões são privados dos cuidados e da alimentação láctea da porca. Este é o período mais delicado da vida dos leitões, e a rentabilidade de uma criação depende em grande parte da maneira como os leitões superam este período crítico. Várias mudanças nas práticas de manejo têm sido implementadas, no intuito de aumentar a produtividade suinícola. Dentre elas, pode-se destacar a da desmama precoce dos leitões. Desmamando-se leitões aos 21 dias, pode-se ter um potencial teórico de 2,5 partos/porca/ano, o que representaria um grande aumento de produtividade, além de possibilitar a redução da mortalidade, por meio do controle ambiental, e melhorar a taxa de crescimento do leitão, em virtude do fornecimento de mais nutrientes que aqueles fornecidos pela própria mãe. No entanto, as tentativas de desmama, aos 21 dias ou antes, têm esbarrado em 3 problemas básicos: as diarréias após
a desmama; o baixo índice de crescimento, em decorrência do estresse da desmama e da queda no consumo de ração; e também a diminuição gradativa no desempenho reprodutivo da porca com aumento no intervalo entre a desmama e o cio. A performance dos leitões, na 1ª e 2ª semanas pósdesmama, tem sido caracterizada por pouco ou nenhum ganho de peso, acompanhada freqüentemente por diarréias, e isso tem sido o maior problema para a desmama de leitões entre 3 e 4 semanas de idade. Fatores ambientais e de manejo contribuem sobremaneira para esta redução de ganho de peso neste período. 5.1 - Métodos de Desmama A seguir, descreveremos alguns métodos de desmama, a idade em que é realizada, e algumas vantagens e desvantagens de cada método. Desmama natural - Normalmente dar-se-á entre 10 e 12 semanas, ocorrendo em criações extensivas, caracterizando-se pelo fim da secreção láctea e desinteresse mútuo entre a porca e a leitegada.
Os métodos de desmama citados a seguir são chamados de desmama artificial, pois sofrem a interferência do criador para serem realizadas. Desmama convencional - É feita normalmente entre 7 e 8 semanas,
e
geralmente
em
criações
que não possuem
informações a respeito do manejo e alimentação dos leitões, quando desmamados antes de 8 semanas. É característica de criações sem orientação técnica e com mão-de-obra inadequada. Desmama antecipada - Ela é realizada de 4 a 8 semanas e apresenta uma série de vantagens: -
maior número de leitões produzidos por porca/ano;
-
maior número de leitões desmamados, uma vez que diminui
o
número
de
perdas
por
lesões
e
esmagamentos; -
economia na alimentação da porca, uma vez que a porca requer, em média, 4 Kg de ração para produzir 1 Kg de leitão, enquanto que os leitões necessitam somente de 2 Kg;
-
diminui a possibilidade de transmissão de doenças das porcas para as leitegadas;
-
neste período, as funções digestivas do leitão estão adaptadas à alimentação suplementar;
-
é fácil de ser realizada e não causa maiores problemas, tanto para a porca como para os leitões.
Para adotar este método, a criação deve possuir bom estado sanitário e mão-de-obra adequada. Desmama antecipada e por peso - Os leitões que atingirem um peso pré-determinado entre 4 e 5 semanas de idade, são desmamados, para dar a oportunidade aos leitões menos desenvolvidos de mamarem mais, e estes serão desmamados com 6 semanas, sem a concorrência de seus irmãos mais desenvolvidos. Em granjas onde a ocorrência de refugos é grande, este método pode ser adotado até ser identificada a causa. Ele exige muita mão-de-obra e um bom manejo alimentar e das instalações. Desmama precoce até os 15 dias - Através deste método, teoricamente se consegue um maior número de leitões por porca/ano. Como inconvenientes, ocorre um aumento do intervalo desmama-cio e é exigido que se forneça, o mais cedo possível,
uma
ração
à
base
de
leite-em-pó,
com
boa
palatabilidade e com alto grau de disponibilidade de nutrientes, para aumentar gradativamente o seu consumo, além de um meio ambiente adequado. A capacidade de desenvolvimento e do crescimento do leitão não é totalmente aproveitada; o método
não
é
recomendável,
uma
vez
que
exige
mão-de-obra
especializada, instalações específicas e não tem expressiva vantagem econômica, pois os efeitos negativos sobre a porca anulam as vantagens eventuais sobre a produtividade. Desmama precoce até os 21 dias - O método tem como vantagens: -
boa produtividade (número de leitões/porca/ano);
-
boa utilização do leite da porca durante o período de produção máxima;
E como desvantagens, citam-se: -
a necessidade de utilizar 2 tipos diferentes de rações (pré-inicial e inicial);
-
os leitões requerem um meio ambiente estritamente controlado;
-
a imunidade passiva recebida através do colostro e leite se encontra abaixo do nível de proteção, antes mesmo que seu mecanismo de imunidade ativa esteja completamente desenvolvido;
-
o leitão não está preparado fisiologicamente;
-
os leitões são altamente vulneráveis a certas doenças;
-
o desenvolvimento é mais lento após o desmame;
-
a taxa de mortalidade é maior em comparação com a desmama antecipada;
-
necessidade de instalações adequadas;
-
exigência de mão-de-obra especializada;
-
no caso de manejo em grupos, a idade dos leitões a serem desmamados varia de 14 a 24 dias.
O melhoramento da produtividade do rebanho suíno tende, atualmente, à adoção de períodos de amamentação cada vez mais curtos, visando à obtenção de um maior número de leitões/porca/ano e aumentando, dessa forma, o rendimento e a economia do suinocultor. Uma das vantagens da desmama artificial entre 4 a 6 semanas é a produção de maior número de leitegadas/porca/ano. A decisão da idade ótima da desmama depende, em grande parte, do estado sanitário, do desenvolvimento dos animais, do manejo da ração e da água, da higiene da criação, de fatores ambientais, das instalações e dos cuidados que o criador dispensa a seus animais. A tendência atual é a favor da desmama após um período de aleitamento entre 4 a 6 semanas. A forma mais recomendada de se realizar a desmama, tanto entre 28 e 42 dias, como entre 42 e 56 dias, é a seguinte: -
no dia do desmame, não oferecer ração aos leitões, somente água limpa e fresca à vontade. A água deve ser de boa qualidade, e o sistema de distribuição deve
permitir aos leitões beberem com facilidade uma quantidade suficiente; -
um dia após a desmama, fornecer 50 g de ração/leitão duas vezes ao dia;
-
aumentar gradativamente a quantidade de ração, de tal forma que no 5° e 6° dias o leitão tenha em torno de 450 g de ração à disposição;
-
manter a baia limpa e seca, e ter uma fonte de aquecimento à disposição dos recém-desmamados.
Este manejo da ração é recomendado porque o estresse provocado pela desmama freqüentemente é acompanhado por perturbações da motricidade e, conseqüentemente, ocorre uma alteração do trânsito digestivo, o que pode provocar uma recusa mais ou menos prolongada da alimentação. Por outro lado, a falta do leite pode exercitar o apetite do leitão e levá-lo a ingerir quantidades de alimentos que excedam a sua capacidade digestiva. Esta irregularidade do nível de ingestão de ração, associada a uma alteração no funcionamento do aparelho digestivo, favorecem a fermentação, que pode culminar com transtornos gastrointestinais que, eventualmente, podem levar a perdas de leitões. Para diminuir a possibilidade de que o leitão desmamado apresente um quadro de subnutrição, conseqüência de uma
dificuldade de ingestão e digestão da ração, recomenda-se evitar,
nos dias que antecedem, bem como nos dias
subseqüentes à desmama, situações estressantes, tais como: mudanças de instalações, transportes, trocas de rações ou concentrado, castração, vermifugação, vacinação, entre outros. O metabolismo do leitão desmamado é dominado pela reação do seu organismo ao estresse. Por ocasião da desmama, deve-se deixar os leitões na baia por um período de mais ou menos 7 dias e não transferi-los imediatamente para outra instalação. Essa atitude evitaria que a desmama provocasse um verdadeiro estado de estresse com manifestações diferentes. Em nosso meio, alguns criadores que adotaram este método têm obtido bom resultado. Mesmo realizando a desmama corretamente, há o desencadeamento de estresse, cuja gravidade varia de acordo com
a
idade
e
com
os
cuidados
dispensados
pelo
criador/tratador aos leitões por ocasião da desmama. Esse estresse tem efeito sobre todas as condições corporais, afetando também a produção de alguns hormônios, que são capazes de reduzir a resistência dos animais a doenças.
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Esperamos que com este trabalho venhamos a contribuir para o aumento na eficiência da criação de suínos, pois aqui citamos as normas de manejo mais adequadas a uma fase delicada da suinocultura e que deve ser cercada, pelos maiores cuidados de todo o ciclo produtivo. Este trabalho procurou trazer normas mais restritas à criação intensiva, pois acreditamos que mesmo que o produtor use outras, estas devem estar associadas a uma maternidade nos moldes intensivos, para que, com isso, se consiga evitar que as variações ambientais tenham influências nocivas sobre o sucesso da criação. Aos produtores, aconselhamos que ao decidirem entrar na atividade suinícola, ou se especializarem, ou mesmo tecnificar a criação já existente, que procurem, além das informações aqui contidas, sempre a orientação de um técnico capacitado e habilitado na atividade. E aos técnicos do setor, oferecemos mais esta publicação para somar mais conhecimentos e trazer esclarecimentos a respeito desta atividade tão nobre e que deve ser cercada de cuidados para que se possa proporcionar lucratividade.
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREITAS, H.T.. Manejo para desmame de leitões aos 21 dias de idade. Viçosa: UFV, 1996. 43p. (Dissertação – Mestrado em Zootecnia). MARTINEZ, M.C. Principales causas de mortalidad en los cerditos. Mount Morris, 7, 1, p. 24 – 26, enero – febrero 1987. MORAES, N.. Fatores que limitam a produção de leitões na maternidade. Concórdia, 2, 9, p. 1 – 5, agosto de 1993. MORAES, N.; SOBESTIANSKY, J.; CIACCI, J.R. et all. Fatores de risco associados à diarréia, mortalidade e ao baixo desempenho dos leitões. Concórdia, 178, p. 1 – 5, junho de 1991. NETO, A.M.; BARBOSA, A.S. Perda de leitões: causas não infecciosas e controle. Belo Horizonte, 13, 156, p. 37 – 41, maio 1988.
SANTOS, J.L. Diarréia de suínos em nível de granja. Belo Horizonte, 13, 156, p. 18 – 25, maio 1988. SILVA, I.J. Agalactia em porcas: causas, manejo e prevenção. Belo Horizonte, 13, 156, p. 14 – 17, maio 1988. SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P.R.S. et all. Manejo em suinocultura: aspectos sanitários, reprodutivos e de meio ambiente. Concórdia: EMBRAPA – CNPSA,1987, 183p.
M A NEJO NA M A TERNIDA DE DE SUÍNOS