Bernardo Guimarães
O Garimpeiro
Publicado
originalmente em 1872.
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825 — 1884) “Projeto Livro Livre”
Livro 68
Poeteiro Editor Digital São Paulo - 2014 www.poeteiro.com
Projeto Livro Livre O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõe o compartilhamento, de forma livre e gratuita, de obras literárias já em domnio p!blico ou que tenham a sua divulga"#o devidamente autori$ada, especialmente o livro em seu formato %igital& 'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos %ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a morte do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgada postumamente& O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol da divulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhum direito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por alguma ra$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe, a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo& :speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejam repensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectual uma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidor ao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos; 3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento da educa"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obras sob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro (ernardo
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BIOGRAFIA
Bernardo Guimarães (B. Joaquim da Silva G.), magistrado, jornalista, professor, romancista e poeta, nasceu em Ouro Preto, G, em !" de agosto de !#$", e faleceu na mesma cidade, em !% de mar&o de !##'. o patrono da adeira n. " da *cademia Brasileira de +etras, por escola e scola de -aimundo orreia. ra filo de Joaquim da Silva Guimarães e onstan&a Beatri/ de Oliveira. 0os ' aos !1 anos viveu em 23era3a e ampo Belo, impregnando4se das paisagens que mais tarde descreveria em seus romances e em alguns poemas. *ntes dos !5 estava de volta a Ouro Preto, onde terminou os preparat6rios. 7em4se como certa a sua participa&ão, em !#'$, na revolu&ão li3eral. (Seu 3i6grafo Bas8lio de agalães dedu/iu, de informa&9es que o3teve da vi:va Bernardo Guimarães, que ele não servira aos re3eldes e sim aos legalistas.) atriculou4se, em '5, na ;aculdade de 0ireito de São Paulo, onde se tornou amigo 8ntimo e insepar
s liras. ;undaram os tr>s, com outros estudantes, a ?Sociedade picur@iaA, a que se atri3u8ram ?coisas fants em uelu/, atual +afaHette, G. 7am3@m esta cadeira foi eCtinta. Bas8lio de agalães sugere que o motivo deve ter sido, em am3os os casos, inefic
o3rasI * escrava Dsaura. 0edicando4se inteiramente literatura, escreveu ainda quatro romances e mais duas coletKneas de versos. * visita de 0om Pedro DD a inas Gerais, em !##!, deu motivo a que o Dmperador prestasse eCpressiva omenagem a Bernardo Guimarães, a quem admirava. m3ora tena come&ado a escrever fic&ão nos fins do dec>nio de "%, e tena feito poesias at@ os :ltimos anos, a sua melor produ&ão po@tica vai at@ o dec>nio de 1%L a partir da8, reali/ou4se de prefer>ncia na fic&ão. streando com os antos da solidão em !#"$, reuniu4se com outros, em !#1", nas Poesias. a fic&ão, distinguem4seI O ermitão de uqu@m (escrito em !#"# e pu3licado em 1E)L +endas e romances (!#5!)L O seminarista e Mist6rias e tradi&9es de inas Gerais (!#5$)L O 8ndio *fonso (!#5F)L * escrava Dsaura (!#5")L aur8cio (!#55)L -osaura, a enjeitada (!##F). Pu3licou mais duas coletKneas de versosI ovas poesias (!#51) e ;olas de outono (!##F). Postumamente apareceram O 3andido do -io das ortes (!E%") e o drama * vo/ do Paj@. 0eve4se registrar, al@m disso, a sua produ&ão de poesias o3scenas. * sua produ&ão po@tica conecida foi reunida em Poesias completas de Bernardo Guimarães. Organi/a&ão, introdu&ão, cronologia e notas de *lponsus de Guimaraens ;ilo, edi&ão do inist@rio da duca&ão e ulturaNDnstituto acional do +ivro (!E"E).
Academia Brasileira de Letras
ÍNDICE CAPÍTULO 1 - A FAZENDA.............................................................................. CAPÍTULO 2 - A CAVALHADA........................................................................ CAPÍTULO 3 - NA ROÇA................................................................................. CAPÍTULO 4 - O GARIMPO............................................................................ CAPÍTULO 5 - O BAIANO ............................................................................... ............................................................................... CAPÍTULO 6 - A RECUSA................................................................................ CAPÍTULO 7 - O SACRIFÍCIO.......................................................................... CAPÍTULO 8 - ELIAS....................................................................................... CAPÍTULO 9 - ALÉM DE QUEDA, COICE......................................................... CAPÍTULO 10 - A AFRONTA.......................................................................... CAPÍTULO 11 - DE MAL A PIOR..................................................................... CAPÍTULO 12 - MOEDEIRO FALSO................................................................. CAPÍTULO 13 - OS VIZINHOS......................................................................... CAPÍTULO 14 - A LAVADEIRA........................................................................ CAPÍTULO 15 - ABNEGAÇÃO......................................................................... CAPÍTULO 16 - O MORIBUNDO..................................................................... CAPÍTULO 17 - A GRINALDA E O TÚMULO...................................................
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CAPÍTULO 1 - A FAZENDA As regiões que formam os municípios de Araxá,Parocínio e !agagem, na pro"íncia de #inas, encerram paisagens as mais rison$as e encanadoras que se podem imaginar, e quem uma "e% em percorrido esses f&reis e piorescos serões nunca mais os perde da 'em(ran)a* + impossí"e' dar uma id&ia do aspeco gera' desse país* A cada eminncia que se ranspõe, uma no"a perspeci"a nos surpreende, um no"o panorama se desenro'a aos o'$os do "iandane* Aqui o so'o ondu'a graciosamene em co'inas de sua"e dec'i"e, separadas uma das ouras por crisa'inos crregos, or'ados de capões, cu.o ope escuro se desaca "i"amene em meio do (ri'$ane e "erdec'aro mai% das campinas* A'&m se ac$aa em "asos c$apadões, que cansam a "isa e impacienam o "iandane que os percorre* Aco'á os espigões se a(a/'am, como 'ei"as giganescas di"ididas pe'os (urii%ais que se esendem como fi'as de guerreiros ao 'ongo dos (re.ais* Aqui o $ori%one & 'imiado ao 'onge por uma 'in$a de serras, cu.os opes, 'onge de serem coroados de ásperos a'canis, s0o 'isos e rison$os a(u'eiros co(eros de "i)osas e sucu'enas pasagens* Aco'á uma 'in$a escura forma o fundo do paine' & a se'"a profunda e imensa, que 'á se "ai perder pe'o cora)0o dos deseros sem fim* 2e odas essas encosas, por odos esses "a'es, 3 som(ra de odos esses se'"áicos "erg&is, .orram e murmuram perenemene com pasmosa a(und4ncia as mais 'ímpidas e frescas águas* O $umi'de regao que aqui ranspondes de um sa'o, a'gumas '&guas a'&m ainda ao a'cance de "ossas "isas .á & 'argo e cauda'oso rio* Tudo & (e'o e grandioso, & rison$o e en'e"ador por aque'as imensas so'idões* 5n/meras manadas de gado e de &guas, mugindo e re'inc$ando pe'os "argedos de "i)o perena', (andos de emas e siriemas "agando pe'os camegais, a'egram a so'id0o daque'es serões a(en)oados* 2e rs em rs, de quaro em quaro '&guas 'á a'"e.a no fundo do "a'ado, enre moias de 'aran.ais, coqueiros e (ananeiras, a casa do a(asado 'a"rador, que o "iandane faigado sa/da sempre com indi%í"e' pra%er, pois sa(e que 3 sua pora o espera a mais franca e cordia' $ospia'idade* Poso que a'i ainda n0o en$am penerado os (enefícios do progresso maeria', oda"ia a condi)0o mora' e ine'ecua' da popu'a)0o & e sempre foi exce'ene* Os $a(ianes dessas regiões s0o noá"eis pe'a amenidade dos cosumes e pe'a ama(i'idade do rao* 6essas paragens os $omens s0o ro(usos, ai"os e ine'igenes, as mo)as s0o (em-feias, meigas e formosas*
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Todas essas "anagens s0o de"idas a'"e% em grande pare 3 doce e sempre igua' emperaura do c'ima, 3 inexcedí"e' u(erdade do so'o, 3 (e'e%a e magnificncia de seus $ori%ones incompará"eis* 7nre a !agagem e a "i'a do Parocínio, no meio de espigões separados por um pequeno crrego siuado num "a'e de'icioso, que ia morrer nas fa'das de um serroe "i%in$o, era a fa%enda do #a.or* 6o ser0o n0o $á fa%endeiro a'gum ano a(asado que n0o en$a um poso e'e"ado na guarda nacional. Porano, para n0o dec'inar o nome de nosso personagem, o designaremos sempre pe'o do seu poso* A casa do #a.or era (aixa mas espa)osa, circundada pe'as suas faces, que o'$a"am para o 'an)ane do espig0o, de uma 'arga "aranda a(era, e pe'os fundos reunida enre moias de 'aran.eiras, coqueiros, .am(eiros e ouras ár"ores fruíferas, que em pioresca desordem a som(rea"am em orno* 6a frene $a"ia um "aso curra' em um cano do qua' erguia-se uma "e'$a e rucu'ena game'eira, dessas que esendem seus ga'$os giganescos de% (ra)os em derredor, e que ser"ia de som(ra e aprisco para o gado, para os carros e ouros uensí'ios de ro)a* 6o fundo do quina' que era um "aso "erge' de ár"ores fruíferas p'anadas promiscuamene e sem simeria a'guma, corria o crrego, que descia das a'uras "i%in$as sempre fresco e crisa'ino, 3 som(ra de espessos e "i)osos capões* 2o ouro 'ado, pe'a (eira do crrego, corria uma or'a de capoeira incu'a e emaran$ada* 7m cero 'ugar o riac$o, como que faigado de correr e reou)ar por enre as pedras, "in$a espregui)ar-se e adormecer em um 'argo e crisa'ino anque, em cu.as (ordas $a"ia uma 'inda "argen%in$a oda a'caifada de raseiro e mimoso capim* 7ra a'i a fone e o coradouro em que as escra"as da casa cosuma"am 'a"ar a roupa* A'i am(&m a fi'$a do #a.or, a formosa e ineressane L/cia, cosuma"a ra%er, nas $oras de sesa, a sua cesin$a de cosura, e .uno com 8/'ia, sua irm0%in$a de no"e anos, assenada no grama' 3 som(ra de uma moia de ar(usos, ra(a'$a"a canaro'ando a'guma singe'a cop'a, ou con"ersando com as escra"as* - 8oana, u n0o queres ir 3 "i'a agora pe'as fesas do dia 9 de seem(ro: - ;in$a%in$a "ai: - 7u $ei de ir por for)a $á parada, papai & #a.or, n0o pode deixar de ir, e (em "s que n0o pode deixar-nos aqui so%in$as*
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- 7 en0o: como & que sin$a%in$a $á de ir sem sua negra: quem & que $á de '$e 'a"ar e engomar os "esidos, penear seu ca(e'o, e fa%er o mais preciso: ;in$a%in$a cuida que $á de me deixar aqui: n0o "*** n0o $ei de ser eu que $ei de perder fesa s se me amarrarem*** .á esou "e'$a< & preciso apro"eiar o meu empo* - =ás de ir, 8oana, n0o en$as cuidado, n0o posso passar sem i*** A fesa di%em que "ai ser muio arro.ada emos de 'á ficar uns oio dias* =á ca"a'$adas, 8oana* - Ca"a'$adas> ainda mais isso> que (om> e eu que sou doida por ca"a'$adas> n0o pode $a"er (rinquedo mais (onio* =á quano empo n0o $á disso por aqui> 7sa erra .á n0o & o que era danes* 6o meu empo, a$> sin$a%in$a> se Vmcê. "isse> que (onias ca"a'$adas n0o se corriam aqui e no Araxá> era um goso> $o.e iso .á n0o presa para nada* ?ue & dos corredores de fama que en0o $a"ia: .á morreu udo* Agora isso $á de ser a'guma coisa 3-oa* - 7sás enganada, 8oana, esas "0o ser muio (oas* Aque'e mo)o que aqui passou ouro dia, n0o e 'em(ras: aque'e mo)o a'o, de ca(e'o preo e ane'ado*** - A$> .á sei*** o ;r* ;r * 7'ias, aque'e mo)o de Uberaba... - 5sso mesmo, 8oana e'e am(&m "ai "a i correr, e pediu a meu pai o ca"a'o rosi'$o* - O$> aque'e sim, que (onio ca"a'eiro n0o $á de ser> & um moce0o sacudido e muio (em parecido* - 60o ac$as, 8oana, que & um mo)o (em (onio: eu am(&m gosei muio de'e* - + um figur0o, e parece ser muio (oa pessoa* + pena ser 0o po(re* - ?uem e disse que e'e & po(re: "oc o con$ece: - 7u n0o mas esá se "endo, sin$a%in$a nem um pajem, nem um camarada*** e'e s com seu cac$orro, sua espingarda e sua ma'a na garupa*** en0o gene rica anda assim: - Ora, isso n0o quer di%er nada $á muia gene rica que anda assim por goso* - 60o creia nisso, min$a sin$á esá-se "endo que e'e & mesmo po(re* ?uem sa(e se mesmo o ca"a'o em que anda n0o & empresado> - Arre 'á> 8oana - rep'icou a mo)a com um sorriso que n0o disfar)a"a o seu enfado* - Tam(&m que nos impora que e'e se.a po(re ou rico enreano eu
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du"ido que nessas ca"a'$adas apare)a um ca"a'$eiro mais (em-feio e mais (onio* - A$> sin$a%in$a> esá me parecendo que @mc* ficou*** n0o quero fa'ar*** n0o 2eus me defenda* - icou o qu:*** 8oana fa'a*** - ;in$a%in$a, n0o fica %angada com sua negra: - 60o, podes fa'ar sem suso* - icou mordida*** - #ordida> 60o enendo* - Pois se n0o enende, me'$or e ca'o min$a (oca> A escra"a com quem L/cia enrein$a esa con"ersa)0o era uma criou'a a'gum ano idosa, mas espera, "i"a e pa'radeira< (oa e fie' escra"a, muio esimada de seus sen$ores e especia'mene de L/cia, a quem na inf4ncia in$a amamenado* As /'imas pa'a"ras que dirigiu 3 mo)a foram proferidas com cera inen)0o, ao mesmo empo que fia"a ne'a um o'$ar ma'icioso* A mo)a compreendeu, corou e sorriu 'e"emene, e raou de des"iar a con"ersa daque'e assuno* - #as, 8oana, eu en$o muia cosura que fa%er de aman$0 em diane, u e a Pau'a $0o de me a.udar, se & que querem ir 3 fesa* A esas pa'a"ras, as quaro ou cinco raparigas que a'i se ac$a"am am(&m ocupadas na 'a"agem de roupa, acudiram a um empo, a garru'ar como uma c$usma de periquios* - 7 eu am(&m esou aí, sin$a%in$a* Pau'a n0o & capa% de engomar me'$or do que eu sin$a%in$a $á de me 'e"ar, n0o & assim: - 7 a mim am(&m, sin$a%in$a, $á que empos que eu n0o "ou 3 "i'a* - Ca'a-e "oc ainda ouro dia foi 3 desobriga, e eu fiquei agora & que eu de"o ir, sin$a%in$a* - 7 eu en0o: "ocs odas m ido 3 "i'a ese ano, e eu, po(re de mim, ainda nem para ou"ir uma missa*
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L/cia "ia-se %on%a no meio daque'a a'ga%arra de pedidos imporunos que c$o"iam so(re e'a a um empo a aordoar-'$e os ou"idos, como um (ando de mariacacas* - Pe'o que "e.o, "ai a n0o ficar ningu&m em casa> =0o de ir aque'as que for possí"e'* =a"emos de "er isso depois* Por agora raem de seu ser"i)o e n0o ese.am a me a(orrecer* 7sas pa'a"ras, a que L/cia en0o procura"a dar um om se"ero, n0o produ%iram sen0o um efeio passageiro* A agare'agem e as imporuna)ões coninuaram na mesma, daí a pouco, e n0o eriam fim, se o so' que se ia escondendo arás das co'inas n0o "iesse a"isar que era empo de se reco'$erem* As negras raaram de arrumar a roupa em game'as e (a'aios, que puseram na ca(e)a L/cia omou em um dos (ra)os seu (a'ain$o de cosura, deu a m0o 3 sua irm0%in$a, e odo aque'e a'egre e ineressane grupo a um de fundo foi desaparecendo por enre o 'aran.a'* 2aí a pouco ou"ia-se a sinea da casa c$amando a famí'ia e os escra"os para a reza da ave-maria, e ao som dessa re%a, dos /'imos canos do ga'o e dos gor.eios do sa(iá, en"iando 3 arde um derradeiro adeus, a pa% e a (n)0o do c&u desciam nas asas cin%enas do crep/scu'o so(re aque'as ranqBi'as so'idões* L/cia in$a de%oio anos seus ca(e'os eram da cor do .acarandá (runido, seus o'$os am(&m eram assim, casan$os (em escuros* 7se ipo, que n0o & muio comum, dá uma gra)a e sua"idade indefiní"e' 3 fisionomia* ;ua e% era o meio-ermo enre o a'"o e o moreno, que &, a meu "er, a mais amá"e' de odas as cores* ;uas fei)ões, ainda que n0o eram de irrepreensí"e' regu'aridade, eram indicadas por 'in$as sua"es e $armoniosas* 7ra (em-feia, e de a'a e gar(osa esaura* eirada na so'id0o da fa%enda paerna, desde que saíra da esco'a, L/cia crescera como o ar(uso do desero, desen"o'"endo em p'ena 'i(erdade odas as suas gra)as naurais, e conser"ando ao 'ado dos encanos da pu(erdade oda a singe'e%a e inocncia da inf4ncia* L/cia n0o in$a uma dessas cinuras 0o esreias que se possam a(ranger enre os dedos das m0os mas era fina e f'exí"e'* ;uas m0os e p&s n0o eram dessa pequene% e de'icade%a $iper('ica, de que os romancisas fa%em um dos principais m&rios das suas $eroínas mas eram (em-feios e proporcionados* propor cionados* L/cia n0o era uma dessas fadas de formas a&reas e "aporosas, uma sí'fide ou uma (aiadera, dessas que fa%em o encano dos sa'ões de 'uxo* Tomá-'a-íeis 5
anes por uma das compan$eiras de Diana, a ca)adora de formas es(e'as, mas "igorosas, de singe'o mas gracioso geso* Toda"ia era doada de cera e'eg4ncia naura', e de uma de'icade%a de senimenos que n0o se esperaria enconrar em uma roceira* 7sses does e'a os de"ia em pare ao c&u, que ano a fa"orecera, e em pare 3 sua m0e, mu'$er espiriuosa e sensí"e', e que se esmera"a em dar-'$e uma exce'ene educa)0o, que L/cia procura"a ransmiir 3 sua pequena irm0, desde o (er)o* ?uano ao #a.or, $omem de espírio acan$ado, frio e posii"isa, mas (oa a'ma, o me'$or doe que .u'ga"a poder dar 3s suas fi'$as era din$eiro e s din$eiro* A geni' serane.a (em raras "e%es ia 3 "i'a do Parocínio sua "ida des'i%a"a-se naque'e ermo ranqBi'a e uniforme, como o murm/rio monono de uma fone, e sua a'ma era pura e a'egre como man$0 de a(ri', p'ácida e serena como uma noie de 'uar* #as a "ida n0o '$e corria inai"a, e nem seu cora)0o esa"a "a%io* A'&m de sua irm0%in$a, em que concenra"a as suas mais ernas afei)ões, e a quem ser"ia de mesra e de m0e na fa'a da "erdadeira, que $á muio $a"iam perdido, eram seus cuidados uma 'inda e mansa "aquin$a fa"oria, da qua' odos os dias com suas prprias m0os ira"a o a'"o e espumane 'eie eram suas pom(as, seu pequeno .ardim, e seu 'indo orario, que sempre ra%ia enfeiado de frescas e fragranes f'ores, e em que odas as noies, com sua irm0%in$a ao 'ado, re%a"a por a'ma de sua m0e* L/cia in$a pra%er odas as "e%es que se oferecia ocasi0o de ir 3 "i'a a qua'quer fesa, ou simp'esmene para ou"ir missa* 7ra uma agradá"e' inerrup)0o 3 sua "ida monona de roceira ia espairecer um pouco seu espírio na sociedade, ia "er e go%ar da compan$ia de suas amigas de esco'a* #as, passados a'guns dias, come)a"a a senir saudades de sua "aquin$a, de suas pom(as, de suas f'ores e de seu orario* 6aque'a ocasi0o, em que $a"ia fesas esp'ndidas e arro.adas, como $á muios anos n0o se fa%iam naque'e 'ugar por ocasi0o do ani"ersário da independncia, $a"ia ainda mais um inceni"o, e pode-se fa%er id&ia da a'egria infani' com que L/cia e 8/'ia fa%iam os preparai"os da pequena "iagem, e da impacincia com que espera"am o dia da parida* Para L/cia $a"ia ainda mais um poderoso moi"o de emo)0o e a'egria* O geni' mance(o, que pousara em sua casa, e que ia correr nas ca"a'$adas, n0o '$e saía
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da 'em(ran)a* Ao pensar ne'e L/cia senia no cora)0o um a'"oro)o esran$o, como nunca senira em dia de sua "ida* CAPÍTULO D - A CAVALHADA A "i'a do Parocínio Par ocínio esá em uma das mais 'indas e apra%í"eis a pra%í"eis siua)ões* Ocupa o a'o e os 'an)anes de uma co'ina de pendor sua"e, encosada de um 'ado ao opo de uma serra, e go%ando pe'os ouros 'ados da mais rison$a e exrema perspeci"a de 'argos e formosos $ori%ones* 6as "&speras da fesa, a que nos reporamos E$á de $a"er mais de "ine anosF, a a'egre e faceira "i'a esa"a mesmo 'ou)0 e garrida, como menina da ro)a, que se enfeia com a'egre sofreguid0o para ir 3 fesa na po"oa)0o "i%in$a* As fa%endas e arraia'ees, num raio de de% '&guas em redor, in$am ficado despo"oados* As casas da pequena "i'a .á n0o eram suficienes para acomodar ana gene os ranc$os impro"isados e co(eros de capim as (arracas e os carros de (ois, ouras (arracas am(u'anes, com seu o'do de couro, agrupados em desordem pe'as campinas e "argedos "i%in$os, a(riga"am uma mu'id0o de famí'ias serane.as, que ao so' sempre (ri'$ane daque'as paragens, onde se descon$ecem as ne('inas e aguaceiros, a'ardea"am seus "esidos de cores "i"as e "ariegadas, seus grossos rosários e rance'ins de ouro com pesados re'icários e meda'$as pendenes do pesco)o, derramando-se pe'o seio com incrí"e' profus0o* Os rapa%es monados em 'indos po'dros ou em possanes mu'as a.ae%adas de praaria, as esporea"am pe'as ruas, procurando fa%er admirar as exce'enes qua'idades de suas ca"a'gaduras, e o seu desempen$o e ga'$ardia em dirigi-'as* As "io'as, "io'ões e guiarras ressoa"am por odos os canos daque'a "i'a que sempre foi noá"e' por seu goso pe'as sinfonias e serenaas* A arena ou circo, em que se de"iam correr as ca"a'$adas, era no meio do 'argo da #ari%, em uma esp'anada que fica na pare mais eminene do oueiro em que esá siuada a "i'a* 7ra um arco circu'ar de ceno e "ine passos, mais ou menos, de di4mero, em orno do qua' os paricu'ares iam consruindo em desordem e sem simeria a'guma seus pa'anques o'dados e guarnecidos em roda de co'c$as de damasco, de seda e de c$ia de "ariadas e (ri'$anes cores* 2ois dias anes da fesa, 3 arde, fa%ia sua enrada na "i'a pe'a esrada do ser0o uma famí'ia, que, enre ouras muias que iam c$egando, araiu paricu'armene a aen)0o do po"o que "aga"a pe'as ruas, e que se apin$a"a pe'as poras e .ane'as* 7ra um $omem idoso, endo a seu 'ado uma .o"em e geni' ca"a'eira, que ca"a'ga"a com suma gra)a um 'indo ginee (ranco, uma menina de no"e a de% anos, e a'guns pa.ens e mucamas a ca"a'o* - ?ue mo)a 0o (onia & aque'a: - perguna"am da'i*
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- + a L/cia> pois n0o con$ecem a L/cia: a$> cada "e% mais (e'a> - + a L/cia> aí "em a L/cia> - sussurra"a-se em ouro grupo e mo)os, "e'$os e meninos a correrem 3s .ane'as para "erem aque'a peregrina formosura, cu.a fama $á muio .á se in$a espa'$ado por oda aque'a redonde%a* - + um so' de formosura> exc'ama"am simpaicamene os "e'$os* + o rerao de sua m0e, que eu con$eci muio no meu empo, e mpo, mas rerao fa"orecido*** - + na "erdade (onia - di%iam as mo)as mas, coiada, por "i"er sempre na ro)a, esá com um ar 0o acan$ado* - Ora, prima, se a sen$ora n0o fosse 0o (onia, eu diria que isso & in"e.a* @e.a com que gra)a e desem(ara)o e'a go"erna o ca"a'o*** queria que e'a esi"esse a o'$ar sempre para odos os 'ados: ?uando uma mo)a & (onia, airosa e (em-feia, se ca"a'ga um 'indo ginee e sa(e (em dirigi-'o, seus encanos gan$am no"o rea'ce* Com o mo"imeno as faces se incendem de cores mais "i"as, os o'$os despedem mais fu'gor, e o pore como que se orna mais gar(oso e sen$ori'* L/cia, que reunia odas aque'as condi)ões em grau eminene, esa"a fascinadora* ;ua enrada na "i'a produ%iu uma "erdadeira expeca)0o* - ?ue (onia mo)a> e como go"erna (em o seu 'indo ca"a'in$o> - di%ia-se ainda em um grupo de mo)os, que se afasara a um cano para "-'a* 7u prefiro ese espeácu'o a quana ca"a'$ada $á nese mundo* - Tens ra%0o* 7nre as coisas 'indas, que $á nese mundo, uma das mais 'indas & "er uma 'inda mo)a monada em um 'indo ca"a'o* - O$> se as mu'$eres am(&m corressem ca"a'$adas, e pi'$ássemos um erno de ca"a'eiras como aque'a>*** que di%es, 7'ias: - 5sso & impossí"e' - respondeu ese - como aque'a n0o pode $a"er oura no mundo* #as nesse caso eu quisera correr ca"a'$adas oda a min$a "ida> - A$> meu 2eus> a primeira argo'in$a, que eu correr, e que $ei de irar por for)a, $á de ser oferecida 3que'a incompará"e' formosura* - A'o 'á, eu corro primeiro que u, e serei eu que primeiro erei a $onra de oferar-'$e o ane'*** que "enura, .á esou son$ando com o gracioso sorriso com que e'a em de agradecer-me* - ?ue esperan)a> na primeira corrida "ocs odos $0o de errar, eu aposo e eu, que serei um dos /'imos a correr serei o primeiro a 'e"ar a argo'in$a 3 geni'
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dama, e o que "ocs ainda n0o sa(em, o pai de'a com quem muio me dou, me $á de con"idar a .anar em sua casa* O'$em, n0o "0o morrer de in"e.a* O grupo, como se ", era de corredores de ca"a'$adas, e enre e'es ac$a"a-se 7'ias* L/cia o in$a a"isado, e in$am-se saudado com os o'$os* 7'ias ao ou"ir as pa'a"ras de seus compan$eiros remoia-se por denro, e come)a"a a senir as primeiras inquiea)ões do amor* ?uando passara pe'a fa%enda do #a.or senira irresisí"e' ara)0o pe'a mo)a mas, aendendo 3 sua posi)0o de mo)o po(re e sem posi)0o, n0o ousara afagar muio aque'e senimeno, que espera"a em (re"e se des"aneceria* ?uando por&m a "iu enrar na "i'a radiane de (e'e%a, e como que rodeada de uma aur&o'a de presigio, quando a "iu ornar-se o a'"o da admira)0o de anos ricos e ga'$ardos mo)os, que pareciam porfiados em merecer de'a um o'$ar ou um sorriso, 7'ias seniu um n0o sei qu picar-'$e o cora)0o, e compreendeu que nunca poderia "er de (om grado aque'a (e'e%a passar ao poder de ourem* 2epois de dar o empo necessário para o descanso dos rec&m-c$egados, que se apearam em uma das me'$ores casas do 'argo, 7'ias foi um dos primeiros a "isiá-'os, no que n0o s cumpria um de"er como am(&m saisfa%ia o mais ansioso ane'o do seu cora)0o* A recep)0o foi cordia' e afeuosa* 7 escusado di%er que L/cia, ao "er o mo)o, corou de um modo muio expressi"o* =a"ia .á 'á, na sa'a do #a.or, um .o"em ra.ado com e'eg4ncia e cero requine de mau goso, por&m, 3 /'ima moda* ;o(re o co'ee (ri'$a"am-'$e a grossa cadeia do re'gio, guarnecida g uarnecida de uma infinidade de pendurica'$os, a 'unea com seu compeene rance'im, e no peio da camisa um formidá"e' a'finee de diamane* O co'ee in$a am(&m uma cini'ane a(ooadura meá'ica* 7ra em udo o ipo aca(ado do pera'"i'$o da core, odo frisado e a'miscarado* 7ra um negociane f'uminense $á pouco esa(e'ecido no 'ugar* ora a principio mascae am(u'ane, mas $a"ia um ano que se insa'ara no Parocínio com 'o.a e (a'c0o, e segundo di%ia esa"a (em principiado, e em "ias de enriquecer-se* Gosa"a muio de L/cia, e fa%ia a core ao #a.or que o n0o o'$a"a com maus o'$os pois "ia ne'e um rica)o em esperan)a, e por conseguine um exce'ene genro* 7'ias "iu com desespero que por oda a pare n0o enconra"a sen0o ri"ais* 7ssa circuns4ncia, por&m, 'onge de desa'ená-'o, mais esimu'a"a e incendia"a a sua nascene paix0o* O .o"em negociane era de con"ersa)0o .o"ia' e %om(eeira* Para se incu'car de fina e po'ida educa)0o escarnecia de udo quano era do ser0o, e naque'a ocasi0o, para dar mosras de seu espírio, come)ou pe'as ca"a'$adas*
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- 6a core ningu&m iria "er ca"a'$adas sen0o para rir-se* + um divertimento do tempo de El-Rei nosso sen$or* ?ue pape' ridícu'o n0o fa%em esses papa'"os que
a'i "0o ga'opar enfeiados de c$ap&us armados, (andas, fias e ourop&is como figuras de entremez!... 7 a embaixada, ;ano 2eus> $á nada mais es/pido> admira que ainda $a.a $omens s&rios, que assim se are"am a presar-se ao de(ique em p/('ico so(re um ca"a'o dan)ador, repeindo de (oca c$eia umas asneiras que ningu&m enende> + espeácu'o prprio s para (o(os ou crian)as* - Ora deixe-se disso, sen$or A%e"edo - rep'icou o #a.or - o sen$or & (em difíci' de conenar* O nosso po"o gosa de ca"a'$adas, & doido por e'as* 60o podemos er circos nem earos, como nas grandes cidades que rem&dio se n0o nos ser"irmos com a 'ou)a de casa> casa > - Ora> fa)am (anquees, fa)am (ai'es, fa)am corridas de ouros n0o fa'am meios de di"erir-se o po"o mas deixem-se dessa rise (o(ice das ca"a'$adas* - #as a'"e% @* ;*H gose de "er esas* Os ca"a'eiros s0o exce'enes emos so(er(os ca"a'os, e es0o muio (em dourinados* - ?ua'> nesas coisas, quano me'$or, pior> ?uano mais perfeio anda o negcio, mais ridícu'o* Anes fosse uma "erdadeira mascarada carna"a'esca e doide.ane mas aque'a cImica gra"idade, aque'a insípida regu'aridade, & coisa risemene ridícu'a* - + para @* ;*H, acosumado aos (ri'$anes e "ariados espeácu'os da core mas para ns, po(res roceiros, n0o $á nada mais di"erido do que "er um guapo ca"a'eiro dirigindo um (om e (em dourinado ginee, irar uma argo'in$a, e, encamin$ando-se a um pa'anque, oferá-'a a uma formosa dama*** - ;im e depois com cara dJasno "ir "o'eando o círcu'o com um mo'$o de fias na pona da 'an)a, ao som de m/sicas e foguearias, e ir co'ocar-se de no"o muio conc$o no seu poso* =á nada mais insípido> ;0o coisas que se de"em deixar para os arisas do circo eqBesre, que as fa%em muio me'$ores, e disso gan$am a "ida* 7'ias, que ou"ia com impacincia as pa'a"ras do negociane, que $umi'$a"am e o feriam em seu amor-prprio, .u'gou que n0o de"ia deixar sem resposa os moe.os daque'e pe'inra, com quem, sem sa(er por qu, em(irrara desde princípio, e assenou de confundi-'o e esmagá-'o* 7'ias, que a'&m de er feio os esudos prepararios, por seu amor 3 'eiura in$a adquirido "ariada insru)0o, era de feio muio superior ao seu ad"ersário* - Perd0o - rep'icou 7'ias com po'ide% - n0o '$e ac$o ra%0o, meu sen$or, e enendo que a ca"a'$ada & um di"erimeno muio no(re, muio agradá"e', e muio /i'* 10
- 2e"eras> e n0o me fará o fa"or de di%er em qu:*** - 7m qu: em muia coisa* O sen$or (em sa(e que as ca"a'$adas n0o s0o mais do que uma imagem, um simu'acro das anigas .usas e orneios* #as esses di"erimenos (ár(aros, em que se derrama"a sangue, e que muias "e%es cusa"am a "ida aos .usadores, n0o podem compadecer-se com as 'u%es e cosumes da ci"i'i%a)0o aua', e admira que, mesmo nos sanguinários empos da m&dia idade, fossem o'erados enre po"os cris0os* A ca"a'$ada, por&m, ficou como uma imia)0o daque'as 'uas ca"a'$eirescas, que, n0o cusando o sangue nem a "ida a ningu&m, oferece um (ri'$ane e no(re espeácu'o aos o'$os do po"o* A equia)0o & uma are /i', necessária mesmo ningu&m o pode conesar* A ca"a'$ada produ% esímu'o e emu'a)0o enre os mo)os para se exercerem nesa "ana.osa e no(re are, dando-'$es ocasi0o de a'ardear o seu gar(o e desre%a em dirigir um possane e fogoso ginee aos o'$os do p/('ico, e 3s "e%es am(&m de uma amane querida, que do fundo do seu pa'anque o anima com um o'$ar, ou com um sorriso* 2i%endo esas /'imas pa'a"ras, 7'ias 'an)ou furi"amene so(re L/cia um o'$ar rápido* - Trise meio de agradar 3s (e'as, fa%endo pape' de ru0o> exc'amou com uma garga'$ada o .o"em negociane* - 7 mais no(re e ca"a'$eiresco - reorquiu 7'ias - do que o namoro nos (ai'es e nas igre.as, que & 0o comum $o.e* 7 ainda niso a ca"a'$ada & uma seme'$an)a dos anigos orneios, nos quais os campeões in$am sempre uma dama dos seus pensamenos, pe'a qua' iam romper 'an)as na sanguinosa 'i)a* - O$> meu sen$or> .á 'á se foi o empo dos D. uixotes e das Dulcinias - disse o
negociane* - + "erdade $o.e esamos no empo dos me'carefes e dos (onecos a'miscarados du"ido que me'$orássemos nesse pono* O uso de correr ca"a'$adas am(&m produ%iria ainda uma oura "anagem, e seria inspirar aos nossos fa%endeiros o goso pe'a cria)0o de (ons e (onios animais, endo mais capric$o na esco'$a e apura)0o das ra)as ca"a'ares, coisas de máxima impor4ncia, e que em nosso país se raa com o maior des'eixo* A ca"a'aria & uma das armas mais poderosas, principa'mene nas guerras da Am&rica, onde e'a & indispensá"e', e sem (ons ca"a'os e (ons ca"a'eiros n0o pode $a"er (oa ca"a'aria* ?uando a are for uma are in/i', quando a carreira mi'iar for uma profiss0o ign(i' e despre%í"e', en0o a ca"a'$ada será um espeácu'o s prprio para (o(os e crian)as* - 60o creia que $0o de ser as ca"a'$adas, que se correm de anos em anos, quando se correm, que nos $0o de dar (ons ca"a'eiros, nem (ons ca"a'os*
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5nfe'i%es de ns, se n0o $ou"esse ouros meios de o(-'os, como as esco'as de equia)0o, as corridas de pare'$as*** - #as onde esá nada disso enre ns: As esco'as de equia)0o seriam /eis, sem d/"ida mas as ca"a'$adas e odos os espeácu'os eqBesres seriam um comp'emeno de'as, porque esimu'ariam os mo)os a se exercerem nessa are oferecendo-'$es ocasi0o de exi(irem em p/('ico sua agi'idade e ga'$ardia* 6ingu&m freqBenaria as esco'as de m/sica ou de qua'quer oura are agradá"e', se n0o $ou"esse ocasi0o de apresenar em p/('ico, em ocasiões so'enes como nas igre.as e nos earos, seu a'eno e maesria* Para ns, por&m, que desde a inf4ncia andamos a ca"a'o, essas esco'as s0o muio dispensá"eis, e mesmo sem e'as sa(emos, n0o s go"ernar, como domar e dourinar os mais fogosos animais, e quando & ocasi0o de nos apresenarmos em p/('ico em (re"e o sen$or poderá poder á .u'gar se somos ou n0o (ons ca"a'eiros* - A$> pe'o que "e.o, o sen$or am(&m & um dos corredores da ca"a'$ada: nesse caso pe)o-'$e mi' perdões pe'o que en$o dio mas, meu amigo, a fa'ar-'$e com franque%a, n0o '$e in"e.o o goso* - 7m(ora>*** O sen$or ac$a ridícu'a a ca"a'$ada mas, perguno eu, qua' será mais ridícu'o, uma ca"a'$ada ou um (ai'e: ?uem se presa mais ao de(ique p/('ico< aque'e que dirige e sopeia um generoso corce' no meio da 'i)a, sopesando uma 'an)a ou (randindo uma espada, ou aque'e que ao 'ado de uma dama arrasa os p&s em um sa'0o, fa%endo mesuras, re.eios e reque(ros: ?ua' será a prenda mais /i' e mais no(re, a dan)a ou a equia)0o: qua' será mais pro"eioso ao país, um (om dan)arino ou um (om ca"a'eiro: O negociane seniu-se a'gum ano desconcerado com as ca'orosas iradas do .o"em serane.o em defesa das ca"a'$adas, e que eram inerrompidas coninuamene pe'os ap'ausos e animadores apares do #a.or* L/cia, que n0o supun$a 7'ias 0o insruído e (em-fa'ane, o escua"a com ínima saisfa)0o e ap'audia, ora com um geso, ora com um sorriso* - ;e.a como quiser, meu caro sen$or - disse o negociane* - 60o sa(ia que era ca"a'eiro e 0o enusiasa agora que o sei, n0o me animo mais a conrariá-'o* ique cada um com sua opini0o que n0o "a'e a pena quesionar so(re seme'$ane coisa* 7, dirigindo-se ao #a.or, mudou (ruscamene de con"ersa)0o* 6o enano, 7'ias e"e ocasi0o de dirigir imidamene a L/cia a'gumas pa'a"ras sem impor4ncia, s pe'o pra%er de fa'ar com e'a e de '$e ou"ir a "o%* Por fim sempre se animou a pedir permiss0o para oferecer-'$e a primeira argo'in$a que irasse nas corridas do primeiro dia*
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6o dia 9 $ou"e pe'a man$0 a missa canada, o te-dum e a parada de cosume* Tudo era farda< no meio daque'a mu'id0o de uniformes, os $omens "esidos 3 paisana forma"am uma minoria impercepí"e'* As famí'ias que queriam ir 3 igre.a eram condu%idas pe'as crian)as e escra"as, pois os pais e os irm0os adu'os por "ia de regra esa"am de(aixo de forma* Assisindo-se aos fese.os de ga'a nas "i'as do inerior, dir-se-ia que n0o $á po"o mais mi'iari%ado que o nosso* 7nreano, n0o $á po"o mais essencia'mene pacífico, menos propenso 3 carreira das armas* A 'ei '$e impõe o de"er de en"ergar uma farda e enrar em forma em ceros dias do ano, e eis em que consise o mi'iarismo e a miss0o /nica da guarda naciona'* K arde i"eram 'ugar as ca"a'$adas* Ks rs $oras, .á os pa'anques o'dados de co'c$as de cores (ri'$anes esa"am au'$ados de famí'ias* Por (aixo e em orno de'es formiga"a remoin$ando uma mu'id0o inquiea, esperando com impacincia o come)o do espeácu'o* Por fim o esouro das gir4ndo'as e o repique dos sinos deram sina' da "inda dos ca"a'eiros* 2ai a um insane eses, di"ididos em duas urmas de de% cada uma, enraram na arena a ga'ope por 'ados oposos, monados em 'indos ginees ricamene a.ae%ados e enfeiados de fias e ourop&is, penac$os e ressoanes gui%os, e meneando as 'an)as ornadas de compridas fias* 60o ra%iam máscara, nem esa"am ra.ados a caráer, como & cosume em a'gumas pares mas, segundo o uso do ser0o, ra%iam uniforme mi'iar 3 moda do empo, cada um a seu a'ane e com primor e rique%a que podia* Uma das urmas, por&m, ra%ia farda a%u', e oura escar'ae, figurando aque'a a que'a os cris0os, e esa os mouros* 2epois de fa%erem di"ersas e"o'u)ões, posaram-se as duas urmas em fi'a defrone uma da oura nas exremidades do circo* Cada ca"a'eiro in$a o seu pa.em da 'an)a a p&, condu%indo pe'a r&dea mais um ca"a'o 3 desra* + escusado descre"er odas as e"o'u)ões das corridas, porque supon$o que os 'eiores pe'a maior pare m assisido a ese di"erimeno, se (em que ese $o.e "á caindo em comp'eo desuso e esquecimeno* 7'ias era o segundo da fi'a dos mouros, e 'ogo na primeira corrida ia sendo "íima de um infe'i% conraempo* ;eu ca"a'o nimiamene fogoso e pouco acosumado ao esrondo da m/sica e da foguearia, desgo"ernou-se, e era quase impossí"e' ao ca"a'eiro fa%-'o ri'$ar a 'in$a marcada* Corria ou anes corco"ea"a 3 direia e 3 esquerda, como um po'dro (ra"io* 7'ias exasperado o casiga"a rigorosamene* O ca"a'o fa'seou de uma das m0os, e caiu de peio em 13
erra* 7'ias sa'ou fora dos arreios o ca"a'o 'e"anou-se imediaamene mas uma rosea da espora endo se em(ara)ado no se'im, 7'ias caiu e foi arrasado pe'o circo umas de% (ra)as no maior perigo per igo do mundo* - 8esus> #aria> #isericrdia> - foi o grio de a'arme, que ressoou por odos os pa'anques* #as 7'ias se des"enci'$ara, e esa"a preses a monar de no"o mas seus compan$eiros n0o queriam consenir e'e por&m insisiu "i"amene a& que um pa.em, "indo a oda pressa do pa'anque do #a.or, "eio pedir-'$e por pare dese e de sua fi'$a L/cia que n0o corresse mais naque'e ca"a'o* - ;in$a%in$a e"e aman$o suso, que ficou fora de si, e quase caiu - disse o pa.em* Ao sa(er que L/cia in$a desmaiado, 7'ias e"e ímpeos de maar a'i mesmo o ca"a'o a 'an)adas e correr aos (ra)os de'a mas ao mesmo empo n0o podia deixar de a(en)oar do ínimo dJa'ma aque'e incidene, que "iera re"e'ar de modo 0o posii"o o grau de ineresse que inspira"a 3 .o"em e geni' roceira* O .o"em f'uminense, que nunca 'arga"a a compan$ia do #a.or, esa"a em seu pa'anque* - O$> min$a sen$ora - exc'amou e'e com cero despeio ao "er o suso e inquiea)0o de L/cia - n0o "a'e a pena omar ano cuidado pe'o po(re rapa%* 2eixa-o esá no seu orneio e, se aqui n0o se que(ram que(r am 'an)as, nem rompem-se coura)as em $onra das amanes, ao menos que(ram-se as cose'as no c$0o* 7 resu'ado do enusiasmo ca"a'$eiresco* L/cia apenas respondeu com um o'$ar de despre%o* 7'ias mudara os arreios para ouro ca"a'o e as corridas coninuaram* 7'e osenou-se sempre o mais gar(oso e mais $á(i' ca"a'eiro* ca" a'eiro* C$egou a $ora da corrida de ca(e)as* ;0o ca(e)as de pape'0o co'ocadas so(re quaro poses nos canos, e uma quina no meio da arena* Os ca"a'eiros, "o'eando a arena a ga'ope, cada um por sua "e% em de enfiá-'as na pona da espada & ese /'imo passo o mais difíci', e em que poucos s0o fe'i%es* 7'ias, quando 'argou a 'an)a, in$a ne'a enfiadas odas as quaro ca(e)as* 2epois em "e% de desem(ain$ar a espada como os ouros, "iram-no a(rir a'guns (oões da farda, irar do seio um curo pun$a', e dependurando-se dos arreios com a prese%a e agi'idade de um ga/c$o, quase sumir-se de(aixo do 14
ca"a'o, e depois reaparecer com a ca(e)a cra"ada na pona do pun$a'* Os ap'ausos e os foguees reum(aram por odos os 'ados* - A$> #eu 2eus> - exc'amou L/cia in"o'unariamene e co(rindo os o'$os com o 'en)o ao "er o mo)o naque'a arriscada posi)0o* - 60o se assuse, min$a sen$ora - acudiu o f'uminense - o rapa% esá em seu e'emeno & um exce'ene arisa* 6o circo eqBesre do !aro'omeu ese rapa% podia fa%er foruna* C$egou por fim o momeno de correr 3 argo'in$a, que & de odos os exercícios da ca"a'$ada o mais difíci'* Os ca"a'eiros de am(as as urmas se re/nem de um s 'ado* 7m frene de'es, na oura exremidade, esá pendurada a um cord0o, preso a dois a'os poses, uma argo'a de mea' de uma po'egada de di4mero* Os ca"a'eiros, cada um por sua "e% saindo a ga'ope da fi'eira, m de enar enfiá-'a na pona da 'an)a* ?uando c$egou a sua "e%, 7'ias in$a monado de no"o o fogoso rosi'$o quando deram f&, .á era arde para esor"á-'o* O ca"a'o saiu aos rancos, num ga'ope áspero e descompassado mas a despeio disso, quando 7'ias passou enre os poses, a argo'in$a in$a desaparecido do cord0o* Como & de esi'o, dois ca"a'eiros "ieram esco'á-'o, e e'e, ao som de ap'ausos, m/sicas e foguees, dirigiu-se ao pa'anque de L/cia* 7sa, com o mais amá"e' dos sorrisos nos 'á(ios e com m0o rmu'a de emo)0o, na forma do cosume, aou-'$e na pona da 'an)a um mo'$o de 'argas e compridas fias, e e'e "o'eou de no"o a arena a oque de m/sica e esouros de foguearia* 7ra o $eri da fesa* ;eguiu-se a em(aixada* Um par'amenar, monado em um formoso e (em dourinado ginee, saiu caraco'ando, dan)ando, pinoeando para o meio da arena, e em um discurso (om(ásico no esi'o do "arlos #agno, inimou por pare do rei dos cris0os ao c$efe dos infi&is que se rendesse 3 discri)0o, ec* #as o urco descrido n0o esá por isso, e com a mais despe.ada arrog4ncia .ura por #a$oma que se n0o renderá e desafia a c'era do cris0o "encedor* 7n0o $á a corrida desordenada* Os ca"a'eiros cris0os em massa in"esem so(re os urcos, os quais n0o podendo susenar o c$oque, correm arope'adamene pe'o circo, uns para aqui, ouros para aco'á, sempre perseguidos pe'os cris0os* 7nfim os mouros, "endo-se apan$ados, põem rapidamene o p& em erra e, 'argando seus ca"a'os, correm a procurar ref/gio e padrin$o cada qua' em um pa'anque de sua esco'$a, e assim aque'es perros infi&is, a(rigados cada um aos p&s de uma (e'e%a cris0, de cu.as m0os querem rece(er o (aismo, ficam ineiramene a sa'"o da san$a dos perseguidores*
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7'ias, que era mouro, aracou-se 'ogo ao pa'anque do #a.or, e foi apadrin$ar-se com L/cia* 7sa com a'egre a'"oro)o e quase pensando, em sua imagina)0o infani', que aqui'o era uma rea'idade, adianou-se sorrindo a dar a m0o ao ca"a'eiro como & cosume nessas ocasiões, ese foi con"idado a .anar em casa de sua madrin$a* Assim passou-se a'egremene o primeiro dia de fesa* Os ouros dois, que se seguiram, correram igua'mene animados e fo'garam sem incidene a'gum, ca(endo sempre a 7'ias as $onras do dia nas ca"a'$adas*
CAPÍTULO - NA ROÇA esas aca(adas, m/sicos a p&* Por "ir muio a p'o, cai-me agora do (ico da pena ese anexim popu'ar* Aca(ada a fesa, udo caiu na rise%a e monoonia, n0o direi ordinária, por&m muio pior ainda, pois conrasa"a $orri"e'mene com a a'egria e fesi"o a'"oro)o dos dias que aca(a"am de escoar-se, e dos quais somene resa"am as saudades* 7'ias, de gar(oso e (ri'$ane ca"a'eiro que era, passou a n0o ser mais que mero pe0o, iso &, "o'ou 3 sua condi)0o de mo)o po(re e sem posi)0o* O #a.or e"e de demorar-se a'guns dias ainda na "i'a* 7'ias durane esse empo n0o deixou passar um dia sem ir 3 sua casa era, por&m, muio maior a freqBncia de seu ri"a', cu.a imporuna assiduidade .á escanda'i%a"a os o'$os do p/('ico* L/cia raras "e%es '$e aparecia, e s quando era c$amada por seu pai* Ouro ano n0o praica"a com 7'ias, a quem "in$a sempre cumprimenar com ar modeso, mas com as faces incendiadas em cero ru(or, que significa"a muio* 7se procedimeno enc$ia de despeio e feria do'orosamene o amorprprio do negociane< - ;empre & da ro)a> - di%ia e'e com seus (oões para desa(afar seu desgoso* 7sas mauas s0o assim mesmo parece que m medo dos $omens de cera c'asse e de cera educa)0o mais e'e"ada, e s se 'igam com os da sua ra'&* ?uando '$es aparece em casa a'guma pessoa mais (em ra.ada e de maneiras mais po'idas apenas animam-se a espiar por rás das poras*** #as esa mo)a*** .u'guei que i"esse um (ocadio mais de espírio*** qua'> 7 como as ouras, ou pior* Lá se a"en$a e'a com o pa'erma do seu ca"a'eiro andane* L& com '&, cr& com cr&* Admira que o (o(o do #a.or n0o perce(a ceras coisas e n0o "e.a que aque'e 'orpa '$e anda fa%endo core 3 fi'$a* ?ueira 2eus que da'i n0o saia a'guma a'$ada> #uio me $ei de di"erir di"er ir com isso*
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a'ando assim, por&m, o nosso negociane nem por isso esa"a desanimado, nem a(andona"a o campo* ;a(ia que o rapa% n0o era do 'ugar, e in$a de ir-se em(ora* #esmo que n0o fosse, esa"a firmemene con"encido de que o #a.or, $omem de foruna, .amais se reso'"eria a dar sua fi'$a a um po(re-dia(o, que n0o in$a onde cair moro, s porque sa(ia correr ca"a'$adas* Assim pensa"a, e guarda"a-se para me'$ores empos* 7'ias, que "iera de U(era(a expressamene para omar pare nas ca"a'$adas, pois in$a (em merecida nomeada de (om ca"a'eiro por odos aque'es serões - 7'ias "iera recomendado ao #a.or por pessoas imporanes daque'a 'oca'idade, e porano a sua assiduidade em casa dese in$a exp'ica)0o muio naura', e o #a.or esa"a 'onge de presumir que o mo)o i"esse a "e'eidade de pIr o'$os apaixonados em sua fi'$a* 7su'o e cego, que pensa"a que o amor ca'cu'a as dificu'dades e mede as dis4ncias das posi)ões, e que n0o "ia que aque'as duas criauras eram prprias para se inspirarem m/uo e ardene amor> #as, ai de'es> aproxima"a-se o empo de se separarem, e esa 'em(ran)a os enc$ia de ang/sia e me'anco'ia* @iram-se, amaram-se e sa(iam que eram amados mas nunca, por uma pa'a"ra que fosse, in$am confessado um ao ouro aque'e senimeno, e agora iam separar-se sem um adeus, um apero de m0o, um proeso, que os conforasse naque'a 'onga, e quem sa(e se eerna separa)0o* 7'ias anda"a excogiando um meio de despedir-se de L/cia e proesar-'$e seu eerno amor, quando o #a.or o "eio irar desse em(ara)o e enc$er da mais "i"a a'egria* O #a.or omara simpaia e afei)0o pe'o .o"em u(era(ense, e, como '$e era recomendado por pessoas a quem n0o podia deixar de ser"ir, o con"idou para sua fa%enda, onde, di%ia o #a.or, eria muio em que empregá'o, a& que pudesse procurar me'$or arran.o* a)a-se id&ia do pra%er e ufania com que 7'ias pariu, ara"essando a "i'a ao 'ado da sua amada, monado no prprio rosi'$o em que anas (ri'$auras fi%era nas ca"a'$adas* 5nsa'ado na fa%enda do #a.or, 7'ias foi a'i raado com afeuosa (ondade, como se fora um mem(ro da famí'ia* 7ra o escriurário, ou anes secreário paricu'ar do #a.or, e poso que a escriura)0o de um fa%endeiro do ser0o se.a quase que nen$uma, oda"ia o pai de L/cia, na sua qua'idade de #a.or de esado-maior e ocupando um cargo de po'ícia, que raras "e%es exercia, in$a "ários ofícios a fa%er e a responder, e n0o deixa"a de irar pro"eio da (oa 'era e das 'u%es de 7'ias*
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7'ias era am(&m exce'ene m/sico< oca"a di"ersos insrumenos, in$a uma (oa "o%, e odas as noies di"eria os serões da famí'ia canando modin$as e can)oneas, acompan$ando-se com uma "io'a, /nico insrumeno que $a"ia em casa* Porano, a'&m de geni' ca"a'eiro, 7'ias era am(&m insigne ro"ador* Tudo iso reunido a a'guma insru)0o e a uma con"ersa)0o agradá"e', orna"a a sua compan$ia sempre amá"e' e dese.ada* Assim, quando aconecia ausenarse por a'guns dias em a'gumas comissões, de que 3s "e%es o #a.or o encarrega"a, sua fa'a era muio senida no seio daque'a pequena e respeiá"e' famí'ia* L/cia e sua irm0 mosra"am muia "onade de aprender um pouco de m/sica* Tendo um 0o (om mesre em casa, o pai n0o pIde deixar de condescender com os dese.os de suas fi'$as, e encarregou a 7'ias de, nas $oras "agas, dar-'$es a'gumas 'i)ões* Todos os dias, pois, em $oras indeerminadas, "ia-se 7'ias, na espa)osa "aranda, assenado em um comprido e anigo (anco de cedro enre as duas meninas, de(aixo das "isas do #a.or, (em enendido, ocupado em ensinar'$es os rudimenos de m/sica e a dar-'$es 'i)ões de so'fe.o* A perspeci"a que in$am em frene era magnífica< a "isa se perdia por "asas e rison$as campinas e remoos $ori%ones, (an$ados pe'a 'u% de um so' esp'ndido* 7 por enre a a'ga%arra dos me'ros, pinassi'gos e paai"as, que c$i'ra"am em orno da casa, e os gor.eios cadenciados do sa(iá que cana"a ao 'onge, ou"iam-se os ensaios ímidos daque'as duas "o%es infanis* 7ra de so(e.o para encanar e exa'ar a imagina)0o impressioná"e' do mance(o, que nessas $oras de doce ocupa)0o esquecia-se de si, de sua po(re%a, do seu fuuro, para se enregar ao en'e"o do mais puro e do mais idea' dos amores* As duas a'unas am(&m, por sua pare, e principa'mene L/cia, in$am aque'as $oras pe'as mais (em empregadas da sua "ida* #as 7'ias .á in$a 'ido a %&lia de 8o0o 8acques ousseau, e no meio de suas doces emo)ões 3s "e%es esremecia ao 'em(rar-se da sore dos dois amanes no romance do imora' fi'sofo de Gene(ra* O conao ínimo daque'es dois cora)ões, que pareciam criados um para o ouro, aca(ou de a(rasá-'os em uma paix0o en&rgica e profunda, dessas que n0o se exinguem sen0o com a "ida* 6o seio da so'id0o as paixões omam maior "u'o e se enraí%am enra í%am mais na a'ma, do que no meio do (u'ício e das disra)ões do mundo* A a'ma so'iária & como a fone do desero, resguardada dos "enos, que no rega)o 'ímpido e im"e' guarda fie'mene a imagem do ar"oredo que a som(reia* L/cia e 7'ias ama"am-se oda"ia nem uma s pa'a"ra de amor '$es $a"ia ainda escapado dos 'á(ios os o'$ares e os sorrisos di%iam udo e'es sa(iam muio (em que se ama"am, e era quano (asa"a para sua fe'icidade* Como dois cisnes, deixa"am-se 'e"ar descuidosamene pe'a orrene p'ácida e "o'upuosa
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das emo)ões presenes, sem se 'em(rarem que mais a'&m podiam ser arrasados e despeda)ados por furiosas cac$oeiras, ou engo'idos em re"os sor"edouros* 7'ias suspira"a por uma ocasi0o de poder esar a ss com L/cia, e de dec'arar'$e de "i"a "o% o seu amor mas essa ocasi0o por si mesma n0o podia oferecerse* Todos os dias oma"a a firme reso'u)0o de pedir furi"amene 3 mo)a uma enre"isa, cu.o 'ugar e $ora .á in$a premediado* #as, quando era ocasi0o de fa'ar-'$e, um in"encí"e' acan$ameno como que '$e para'isa"a a 'íngua recea"a profanar com aque'e pedido a pure%a ang&'ica daque'a criaura* Um dia enfim re"esiu-se de 4nimo a superar os seus escr/pu'os* - A$> ;e eu um dia pudesse fa'ar sem esemun$as, e re"e'ar-'$e udo quano sino> - disse e'e (aixin$o a L/cia numa ocasi0o em que o pai se ausenara por um momeno* - #as*** isso*** n0o pode ser, - murmurou L/cia com "o% (re"e e decisi"a, mas co(rindo-se de a' "erme'$id0o, que se eria raído comp'eamene, se a'i $ou"esse o'$os perspica%es e perscruadores* - Ta'"e% possa - coninuou 7'ias sorrindo* - ;ei que a sen$ora passa 3s "e%es $oras ineiras so%in$a na fone do quina'* icará muio assusada, se eu um dia 'á aparecer: - ;em d/"ida>*** n0o n0o "á sen0o, nunca mais 'á "o'arei* - 6ada receie eu a respeiarei ano ou mais do que se esi"&ssemos aqui, em presen)a de seu pai* - 60o "á, n0o*** en$o medo* Agora nunca mais irei 'á so%in$a* - Perd0o, min$a sen$ora> n0o '$e eria feio ese pedido, se sou(esse que me in$a ana a"ers0o* - A"ers0o>*** Os amancos do #a.or, ressoando no soa'$o, anuncia"am a sua "o'a, e impuseram si'ncio aos dois amanes* 6o primeiro dia que se seguiu a ese co'quio, L/cia cumpriu resriamene a amea)a que fi%era de n0o "o'ar mais 3 fone mas s 2eus sa(e quano iso '$e cusou* 6o segundo dia foi, por&m acompan$ada de sua irm0 e de 8oana pensa"a seriamene nas conseqBncias daque'e passo, e in$a medo mas o cora)0o a arrasa"a para 'á* 7'ias, que udo o(ser"a"a com a "isa perspica% do
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amane, que ou"ia a "o% de'a, senia-'$e os passos, e quase adi"in$a"a quando esa"a em casa, e que, a'&m disso, su(indo um pouco pe'a encosa do espig0o podia de"assar o esreio ri'$o que em(ren$ando-se pe'o pomar ia er 3 fone, n0o pIde deixar de manifesar seu desconenameno n0o por pa'a"ras mas por seu ar rise e aciurno* Ao erceiro dia L/cia n0o pIde coner-se, omou sua cesin$a de cosura e 'á desceu a senar-se 3 som(ra no grama' da fone* 7'ias (em o presseniu mas era .á muio arde para er empo e dar as "o'as necessárias a fim de ocu'ar seus passos e porano 'á n0o apareceu* - Cumpriu a sua promessa de n0o ir mais 3 fone: - pergunou-'$e e'e no ouro dia 3 $ora da 'i)0o* - Cumpri sim, sen$or so%in$a n0o "ou 'á mais* - 7nreano se me n0o engano parece-me que a "i onem descer so%in$a para 'á* - ?uem: a mim: o sen$or "iu:*** - ;im, sen$ora, "i e creio que era mesmo a sen$ora* - Pode ser*** 3 arde fa% ano ca'or aqui em casa e demais esou cera que o sen$or 'á n0o $á de aparecer, n0o & assim: 7'ias sorriu-se, e L/cia seniu o ru(or afoguear-'$e afog uear-'$e as faces* 7'ias cosuma"a ca)ar pe'os campos do arredor, mui a(undanes em perdi%es, codorni%es e ouras ca)as* 6o dia seguine, 'ogo aps o .anar, arreou seu ca"a'o, pegou na espingarda, c$amou seu c0o, e saiu* 2eu 'ongas "o'as para poder, sem ser o(ser"ado, enrar pe'o cap0o que desde as ca(eceiras (orde.a"a o crrego a& os fundos do quina'* Apenas se em(ren$ou no mao, apeou-se, aou o anima' a uma ár"ore, e desceu coseando o crrego por esreios ri'$os feios pe'os p&s do gado e de animais si'"esres* 7'ias cona"a quase com cere%a enconrar L/cia na fone, e n0o se enganou* 7'a .á esa"a com efeio, n0o naque'e doce descuido dJa'ma, em que a emos "iso ouras "e%es, mas inquiea, ane'ane, como a cor)a espa"orida, que cuida ou"ir a cada insane o 'air dos c0es e as "o%es do ca)ador* A enre"isa durou apenas a'guns minuos* 7'ias, que in$a esudado mi' frases apaixonadas, apenas disse, omando-'$e a m0o e (ei.ando-a<
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- 7is-me aqui, 2* L/cia perdoe-me esa audácia*** se sou(esse quano a amo>*** - O sen$or & (em animoso - disse e'a enre rison$a e enfadada* - 60o '$e in$a pedido que n0o "iesse aqui:*** - !em '$e queria o(edecer mas o amor foi mais fore que eu* @im para ou"ir de seus 'á(ios uma s pa'a"ra de que depende a min$a fe'icidade, a min$a "ida* 2iga-me, a sen$ora me em amor:*** L/cia $esiou um insane, fiou os o'$os no c$0o, e murmurou imidamene< - #uio>*** - An.o> - exc'amou 7'ias caindo a seus p&s e procurando derramar em pa'a"ras de ernura o pra%er que '$e ranspora"a a a'ma mas n0o pIde di%er mais nada* ?uando o cora)0o esá c$eio de fe'icidade, a "ida oda se concenra a'i, a ca(e)a fica erma de id&ias, e a 'íngua fica para'isada* #as L/cia imediaamene o irou daque'e em(ara)o, di%endo-'$e com ar inquieo* - 7sá saisfeio o seu dese.o* Agora reire-se, reire-se quano anes* A cada momeno pode aqui c$egar a'gu&m*** 7, irando uma f'or que in$a no ca(e'o, a enregou a 7'ias* 7se en'a)ando-'$e o (ra)o em orno ao co'o, omou-'$e a m0o e (ei.ou-a com ardor* oi udo quano ousou fa%er* - Adeus> - Adeus> ?uando L/cia, endo dado a'guns passos, "o'ou o roso para "er ainda uma "e% seu amane, a"isou-o de .oe'$os, (ei.ando a re'"a em que e'a esi"era rec'inada* e%-'$e "i"amene aceno com a m0o, para que se reirasse, e sumiuse enre o 'aran.a'* 7is em que consisiu aque'a enre"isa 0o ardenemene dese.ada* Parece que n0o "a'ia a pena omarem ano ra(a'$o, su.eiarem-se a anos susos e inquiea)ões, para rocar duas pa'a"ras, dar um (ei.o na m0o e rece(er uma f'or* #esmo de(aixo dos eos do #a.or n0o fa'aria ocasi0o a%ada para fa%erem ouro ano muio a seu sa'"o* #as era sempre uma enre"isa, e uma enre"isa em grande impor4ncia aos o'$os dos amanes, principa'mene se em 'ugar ao ar 'i"re, endo por esemun$as o c&u, o (osque, a fone* + mais
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uma pro"a de confian)a m/ua, uma garania mais so'ene da 'ea'dade e pure%a do amor* O (ei.o da enre"isa & o se'o imposo ao conrao que 'iga para sempre duas a'mas* Os amanes s0o de ordinário mui fáceis em capaciar-se de que ningu&m adi"in$a o senimeno que '$es ocupa o cora)0o cegos, n0o se aperce(em que em cada pa'a"ra, em cada geso, em cada o'$ar es0o raindo a odo o momeno a paix0o que .u'gam escondida nos mais ínimos seios dJa'ma e que enreano '$es "ai ransparecendo em odo o seu ser* O #a.or n0o era doado de grande perspicácia, nem in$a muio con$ecimeno do cora)0o $umano, coisa que nem em si mesmo i"era ocasi0o de esudar, pois nunca "i"era a "ida do cora)0o* Toda"ia c$egou a desconfiar, e em (re"e se con"enceu da exisncia de uma m/ua afei)0o enre L/cia e o seu 'ogo o ma', anes que omasse maior "u'o* 2esde 'ogo raou de suprimir as 'i)ões de m/sica* 60o o fe%, por&m, a(eramene mas odas as "e%es que era ocasi0o de omar 'i)0o, ac$a"a preexo para arapa'$á-'os, in"enando a'gum ser"i)o urgene, ora para o mesre, ora para as discípu'as* A'&m disso, ocupa"a mais que de cosume a 7'ias em comissões e "iagens, de modo que ese pouco empo para"a em casa* Assim .u'ga"a e'e impedir o progresso do ma', enquano procura"a a.eiar um meio sua"e e naura' de se "er 'i"re de a' $spede* L/cia e 7'ias, porano, .á raras "e%es se "iam* 7sa"a mais que c'aro que udo aqui'o era mano(ra do #a.or, que por cero .á suspeia"a a exisncia de sua recíproca afei)0o* 7'ias compreendeu que era empo*** de qu: de pedir L/cia em casameno*** n0o por cero* 6a posi)0o precária e quase des"a'ida em que se ac$a"a, n0o se a(a'an)aria a dar seme'$ane passo s podia esperar um n0o redondo, caegrico e $umi'$ane* 7ra empo de di%er adeus a L/cia, ao amor, 3 fe'icidade, e am(&m 3 /'ima esperan)a que '$e resa"a nJa'ma* A persuas0o de 7'ias ainda* mais se confirmou, quando um dia o #a.or, com o om o mais (en&"o'o e paerna' do mundo, '$e disse< - #eu amigo, creia que '$e quero (em, e sinceramene dese.o o seu adianameno* Um mo)o como o sen$or, que e"e esudos, e em anas $a(i'ia)ões, n0o de"e esar-se perdendo em uma ro)a, onde as suas prendas e $a(i'idades de nada '$e podem ser"ir* 7m qua'quer po"oa)0o que se esa(e'e)a, pode com faci'idade gan$ar din$eiro e posi)0o, ao passo que aqui, na ro)a, fa'o com franque%a de amigo, esá perdendo comp'eamene o seu empo* 2e min$a pare, qua'quer que se.a o 'ugar para onde dese.e ir, pode conar sempre com o meu pequeno pr&simo naqui'o em que '$e puder ser /i'*** e***
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- Tem ra%0o, ;r* #a.or - inerrompeu "i"amene 7'ias @* ;*H pre"eniu-me em um propsio que eu .á $á muio in$a formado* - @e.o que aqui em sua casa sou um ene in/i' e que n0o & 3 som(ra de seu e'$ado que poderia enconrar foruna, nem fe'icidade* - Agasou-se comigo:*** n0o o esou mandando em(ora*** & apenas um conse'$o de amigo* - 60o me agasei, ;r* #a.or .á '$e disse que era o meu propsio, s recea"a que @* ;*H o n0o apro"asse agora, que sei o conrário, d-me as suas ordens, que preendo parir o mais (re"e possí"e'* 7'ias (em sa(ia o moi"o daque'e procedimeno do #a.or, e nada in$a que '$e rep'icar* 7ra um modo po'ido de despedi-'o* 2e feio n0o era possí"e' de modo mais (en&"o'o e 'ison.eiro cra"ar-se o pun$a' no cora)0o de uma "íima* As pa'a"ras do #a.or caíram-'$e como roc$edos so(re o cora)0o com peso esmagador* or)oso '$e era deixar L/cia, a'"e% para sempre> - A$> po(re%a> po(re%a> ma'dia po(re%a> - exc'ama"a 7'ias em ranspores de frenesi, enrando para o seu aposeno* - Po(re%a> u &s o pior dos ma'es que af'igem a $umanidade, pior que a fome, pior que a 'epra, pior que a more mesmo* 2e oda pare &s repe'ida, como se foras um ma' conagioso* A'&m de fa'arem ao po(re odas as comodidades maeriais da exisncia, s0o-'$e "edados odos os pra%eres do cora)0o* O po(re n0o pode, n0o de"e amar*** A$> se eu fosse rico>*** por que n0o quis a sore, que eu possuísse um pouco de din$eiro: mas quem me impede de o er: os ouros, que o gan$am, s0o por"enura me'$ores do que eu:*** ;ou mo)o, e, gra)as ao c&u, en$o sa/de, ro(use% e a ine'igncia necessária para sa(er gan$ar din$eiro*** A !agagem esá a'i pero*** & um garimpo riquíssimo*** pouco cusa ca"ar a erra, e 'a"ar o casca'$o* #a.or> #a.or>*** u me expe'es de ua casa por ser po(re*** mas, a$> #a.or> queira 2eus que (em cedo n0o e arrependas do pouco-caso que $o.e fa%es de mim, e n0o "en$as $umi'$ado imp'orar o perd0o a meus p&s* #a.or> por i s, u nada "a'es e esse eu "i' procedimeno eu o 'an)aria ao despre%o, sem que me cusasse um s momeno de sono* #as ua fi'$a "a'e um esouro e & por amor de'a que eu sofro, e & por e'a e para e'a que eu .uro e proeso*** serei rico, ou do conrário nem u, nem e'a, nem mais ningu&m nese mundo me "erá a face* As re'a)ões enre L/cia e 7'ias esa"am, pois, comp'eamene inercepadas* =á muio empo n0o se "iam sen0o 3 $ora do .anar com a famí'ia* 7se era para e'es o pior dos marírios* 5am-se separar sem poderem di%er-se um adeus*** Um medianeiro seria para e'es naque'a ocasi0o um presene do c&u, para se comunicarem suas ang/sias, receios, e esperan)as, se esperan)as podiam er* ; L/cia poderia ac$ar um meio de comunica)0o enre e'es* L/cia 'em(rou-se
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de 8oana era a /nica pessoa a quem podia incum(ir de 0o me'indrosa arefa* 7'a sa(ia muio (em que a "e'$a e mareira criou'a .á esa"a ao fao de seus amores com 7'ias, e porano nada arrisca"a encarregando-a de um recado ou de um (i'$ee* - 8oana, u $ás de me fa%er uma coisa>*** - Por que n0o, sin$a%in$a:*** qua' & essa coisa: - 7nregar-me ese (i'$ee a*** meu mesre* - Para que isso, min$a sin$á:*** esque)a-se desse mo)o> aman$0 e'e "ai-se em(ora*** - + por isso mesmo quero di%er-'$e adeus* 7nregas: - 7u sei>*** 6$on$I sa(endo n0o $á de gosar e'e .á anda ressa(iado, e me recomendou que n0o deixasse sin$a%in$a andar so%in$a* - 7 que necessidade $á de que e'e sai(a:*** isso n0o fa% ma' o mo)o em de reirar-se e a'"e% nunca mais nos enconremos - disse a mo)a suspirando* - A$> sin$á> eu*** n0o*** sei*** - @ai 'e"a isso e ca'a-e* ;e e'e e der a'guma coisa para ra%er-me, enrega-me fie'mene, ou"ise: - ;in$á mandou*** que rem&dio en$o eu*** 6essa noie 7'ias rece(ia o seguine (i'$ee< M#eu pai .á em con$ecimeno de nosso amor, e, como (em esá se "endo, n0o o apro"a* @e.o que nossa separa)0o & ine"iá"e'* 60o posso exp'icar quano en$o sofrido* 60o sei o que será de mim, e nem "e.o rem&dio para nossa desgra)a* Tudo poder0o fa%er de mim menos arrancar-me do cora)0o ese amor que '$e consagro* Adeus, n0o se esque)a desa infe'i%, que, acone)a o que aconecer, $á de amá-'o sempre, sempre*M 6a man$0 seguine 7'ias mandou-'$e a seguine resposa< MTeu pai em dado a enender c'aramene que n0o me quer mais em sua casa* 2e"o deixar-e e aman$0 mesmo esarei 'onge de i ese go'pe feriu-me crue'mene, mas n0o me desa'ena* ;ou po(re, e & essa a ra%0o por que eu pai me despre%a* #as de"ia 'em(rar-se que sou mo)o, e, 'ou"ado 2eus> en$o ro(use% e ine'igncia, sei ra(a'$ar, e aman$0 posso ser rico* Adeus, L/cia
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n0o percas a esperan)a, e ama-me sempre, que para udo $á rem&dio* 7u "ou ra(a'$ar para me ornar digno de i aos o'$os de eu pai* O eu amor me a'ena e me enc$e de coragem e de confian)a em min$a esre'a* A$> possas u nunca fa'ar-me com e'e> 7u paro com o cora)0o ra'ado de ang/sia e de saudade* Terás noícias min$as*** denro em dois anos esarei de "o'a ou*** Adeus*M 6o dia seguine 7'ias seguindo camin$o de !agagem "ia sumir-se no $ori%one 'ongínquo a fa%enda do #a.or, e senia como que um "&u de 'uo a(afar-'$e o cora)0o, ao passo que aque'a apra%í"e' morada, que anes formara as de'ícias de L/cia, ia dora em diane ornar-se para e'a um desero $orrendo, um exí'io insuporá"e'*
CAPÍTULO N - O GARIMPO Tin$am-se passado cerca de seis meses, depois que 7'ias se reirara da fa%enda do #a.or* As "asas e profundas se'"as, no seio das quais corre ruidoso e ur(u'eno o ri(eir0o da !agagem, in$am om(ado aos go'pes do mac$ado, deixando descorinada uma 'arga %ona em uma e oura margem* 6o meio dos desro)os da f'oresa "iam-se dispersas em desordem as frágeis e pro"isrias $a(ia)ões dos garimpeiros, co(eras das compridas pa'mas do coqueiro (agua)u* Por aque'e erreno (ranco e se'"áico, onde s se esperaria enconrar o osco serane.o, ou o africano seminu, gira"a uma popu'a)0o po'ida e (em ra.ada, composa de pessoas de odas as procedncias, que de remoas paragens acudiam a exp'orar o no"o desco(ero, cu.a fama se espa'$a"a muio ao 'onge, e a'i reina"a mo"imena)0o e anima)0o como em uma grande pra)a comercia'* 7nquano a a'a"anca e o a'mocafre reiniam pe'as grupiaras exraindo o casca'$o precioso, os go'pes do mac$ado re(oa"am pe'as f'oresas e de espa)o a espa)o um (aque, esrugindo ao 'ongo das cosas, anuncia"a a queda de mais um ronco ro(uso e secu'ar* O ronco das caadupas ser"ia como de acompan$ameno 3s canigas e a'ga%arras dos garimpeiros, que ao 'ongo da (eira do rio 'a"a"am a'egremene o esperan)oso casca'$o* 7ra uma arde de no"em(ro, pura, ca'ma e c$eia de esp'endores* 8á odos a(andona"am o ra(a'$o, parões e ra(a'$adores, e se reco'$iam a seus ranc$os* Come)a"a a aca'mar-se o rumor e agia)0o do dia, e ou"ia-se .á a "o% do serane.o, que assenado 3 pora do ranc$o enoa"a ao som da "io'a seus oscos canares, cu.as noas pro'ongadas e me'anc'icas iam escoando ao 'onge pe'as ri(anceiras*
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Um mo)o de a'a esaura, de o'$os e (ar(as negras, com os (ra)os cru%ados, e o c$ap&u de 'e(re enerrado nos o'$os, esa"a em p& .uno 3 margem do rio, encosado a um roc$edo, inspecionando com ar som(rio e preocupado o ser"i)o de rs ou quaro ra(a'$adores, que 'a"a"am as /'imas (aeadas* - 7n0o, ;im0o: nada ainda: - disse e'e a um "e'$o camarada, que aca(a"a de deiar fora o casca'$o de uma (aeada* (aea da* - 6ada por ora, meu par0o - respondeu o camarada - iso aqui n0o pina aman$0 $a"emos de a(rir oura guapiara a'i mais em(aixo*** - 7nreano, u (em "s< $á aqui as me'$ores forma)ões< ferragem, o'$o-depom(a, pa'$a-de-arro%, cai"o, nada fa'a e enreano $á mais de dois meses que aqui esamos ra(a'$ando e nos de"emos dar por fe'i%es se o ser"i)o em dado para sa'"ar a meade das despesas* O dia(o que as 'e"e as ais forma)ões ou informa)ões n0o as enendo iso & uma (ur'a* Ac$o que se fIssemos p'anar (aaas faríamos me'$or negcio* Anda, ;im0o que(ra essas (aeias, aira ao rio esses a'mocafres, e "amo-nos em(ora para o nosso país* + escusado andar procurando no seio da erra o que 'á n0o guardamos* - Ten$a pacincia, meu par0o - respondeu o camarada* - 2-nos ainda um pequeno ser"i)o aman$0*** a'i, a'i mais em(aixo, par0o, e eu que n0o me c$ame ;im0o, se a coisa a'i n0o pinar* Ten$a f& e re%e a 6ossa ;en$ora, e "erá se aman$0 ou depois o diamane gra/do n0o "em a'uminar no fundo da (aeia* - =isrias> meu ;im0o odos os dias me di%es isso e o resu'ado sempre o que esamos "endo* - #ais dois dias s, par0o e eu que se.a enforcado, se n0o ac$armos coisa que sir"a* - 60o creias nisso, ;im0o a sore me persegue en$o de ser po(re e desgra)ado oda a min$a "ida - murmurou o mo)o no om do mais profundo desa'eno* - 60o desanime assim, par0o n0o se 'em(ra mais da cigana, que 'eu a sua sina, e disse que a sua esre'a & de pedra*** - ;im, e & de pedra mesmo, ou mais dura do que pedra* O dia(o 'e"e quana cigana $á nese mundo, e odas as suas predi)ões* 6iso os ra(a'$adores puseram risemene os seus a'mocafres ao om(ro, pegaram em suas (aeias, e se reiraram* r eiraram* 7'ias e ;im0o ficaram ainda*
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;im0o era um "e'$o magro, mas ro(uso e (em consiuído, de cor (ron%eada, e que parecia ser de ra)a misa de índio e africano* 2esde menino fora camarada do pai de 7'ias, ao qua' sempre ser"ira com a maior dedica)0o e 'ea'dade* O pai de 7'ias am(&m o esima"a e queria como a Um "erdadeiro amigo, e endo fa'ecido $á quaro ou cinco anos sem poder deixar 3que'e seu /nico fi'$o oura $eran)a mais do que uma exce'ene educa)0o, que infe'i%mene n0o pIde conc'uir, em seus /'imos momenos rogou ao "e'$o ca(oc'o, que acompan$asse sempre, que nunca a(andonasse a seu fi'$o, que fica"a com 19 a 1 anos de idade* 60o era preciso que o "e'$o o rogasse ;im0o nunca a(andonaria o .o"em par0o, a quem na inf4ncia carregara nos (ra)os e a quem "oa"a afei)0o de pai* ;im0o era garimpeiro mesre, muio con$ecedor de errenos diamaninos, de que in$a adquirido grande práica na Diamantina, de onde seu defuno par0o e e'e mesmo eram naurais, e onde in$am residido nos primeiros empos de sua "ida* ;im0o era "erdadeiramene um $a(i'íssimo garimpeiro, e parecia que fare.a"a o diamane mas, infe'i%mene para o seu .o"em amo, para quem somene ra(a'$a"a, e para quem dese.aria desco(rir um esouro, a sua grande $a(i'idade in$a ficado sempre em fa'a, o que sumamene o af'igia mas nem assim desespera"a* - + aqui mesmo na !agagem, meu amo, di%ia-'$e e'e 3s "e%es, & nese c$0o mesmo que esá enerrada a sua esre'a de pedra* ?uando 7'ias foi para o Parocínio correr ca"a'$adas, ;im0o, que "in$a com e'e, quis ficar na !agagem* - 8á que esou aqui, par0o, "ou "er se ac$o a sua esre'a de pedra* Tam(&m o par0o n0o "ai 'onge se precisar de mim, & um pu'o* Compre um pedacin$o de grupiara, e deixe-me ra(a'$ar* - A$> meu "e'$o ;im0o - exc'amou o mo)o, 'ogo que os ouros se reiraram esou perdido> esou desesperado> n0o sei o que fa)a* - Garimpar, par0o, garimpar> n0o desanime 0o depressa .oguemos a /'ima carada* - #as, ;im0o, se iso coninuar assim, e coninua, esou cero, em (re"e n0o erei mais com que pagar as poucas pra)as que en$o no ser"i)o*
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- 60o impora, par0o pode mandá-'os em(ora eu so%in$o ra(a'$arei* ?uando se em de ser fe'i%, ano "a'e er uma como de% ou cem pra)as e n0o sei por que &, en$o mais f& quando ra(a'$o so%in$o* - Tra(a'$a para i, meu po(re ;im0o esás "e'$o, precisas guardar a'guma coisa para quando n0o puderes mais ra(a'$ar* 7u mesmo, infe'i% de mim> n0o sei se e poderei "a'er em empo a'gum* 2eixa-me enregue a min$a má "enura & 'oucura 'uar conra o desino*** a$> L/cia*** L/cia*** L /cia*** nunca mais e "erei> 7 o mo)o pendeu a ca(e)a e apou os o'$os com as m0os, mergu'$ado em profunda rise%a* - Po(re de meu par0o>*** o que & isso>*** en$a 4nimo> quem porfia maa ca)a*** o par0o $á de ser rico, e $á de se casar com essa L/cia, em que esá sempre a fa'ar* =á uma "o% que sempre me di% cá denro que o par0o $á de ser rico, e $á mesmo* 8á fi% uma promessa a 6ossa ;en$ora do Parocínio, e e'a nos $á de "a'er* - Assim e ou)a e'a, ;im0o* 7 eu n0o queria 'á grandes rique%as* !asa"a ac$ar nese c$0o uma soma qua'quer para me ser"ir de princípio cinco conos, quaro, dois mesmo .á me c$ega"am para ser"ir de (ase a exce'enes especu'a)ões* Com ai"idade e o pouco de ine'igncia que 2eus me deu, eu os faria mu'ip'icarem-se em min$as m0os em pouco empo* A n0o me cair do c&u, s do seio da erra eu poderia arrancar esse come)o os $omens n0o mo dariam, e nem eu .amais '$o iria pedir* #as ese c$0o ingrao & como o c&u, surdo a meus rogos* - 7 eu, par0o, en$o f& que dese c$0o mesmo & que $a"emos de arrancar, com o fa"or de 2eus e #aria ;aníssima, n0o digo um princípio de rique%a, mas uma rique%a ineira* - 7 enreano $á seis meses que ra(a'$o sem descanso, e em "e% de principio, aqui "im enconrar o meu fim, a more de odas as min$as esperan)as aqui aca(ei, comp'eei a min$a mis&ria e min$a desgra)a* - #eu amo $o.e esá muio a(aido>*** "á passear, "á girar o com&rcio* @amos er uma (onia noie* @á di"erir-se* - 60o, ;im0o esou muio a(orrecido, n0o en$o dese.os de "er a cara de ningu&m* ;e queres, podes reirar-e* - 7 o par0o o que fica fa%endo aqui so%in$o: - ico a omar fresco por um insane, esou com a ca(e)a a arder-me*
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8á era quase noie* 7'ias assenou-se numa pedra, e com a ca(e)a enre as m0os e os coo"e'os so(re os .oe'$os, apenas se ac$ou s, come)ou a desafogar suas mágoas, fa'ando consigo mesmo e quase c$orando de desespero* - 8á 'á "0o seis meses, e a& $o.e nada> nada a(so'uamene* 7u eria feio me'$or, sem d/"ida, se i"esse a"enurado o pouco que possuía em uma mesa de lans'uenê* Ao menos eria gan$ado ou perdido depressa e sem ra(a'$o esse pouco que in$a, e eu seria o /nico ra(a'$ador*** 7 que me imporariam diamanes e odas as rique%as do mundo, se n0o fosses u, L/cia, que me acendese no peio uma sede de rique%as, que eu nunca seniria se n0o e con$ecesse> #as u n0o ens a cu'pa, u, a mais (e'a, a mais ingnua e a mais no(re das criauras* A cu'pa & de eu a"aro e ign(i' pai, que põe a pre)o de ouro a posse de ua m0o* 7 assim se profana "i'mene, assim se "i'ipendia a sore de um an.o so(re a erra* 7sás ca'cu'ada em ouro, e eu, desgra)ado de mim> por mais que rogue ao c&u, por mais que ca"e a erra, n0o posso ac$ar esse ouro> 7u em "e% de ac$á-'o, en$o ca"ado mais fundo ainda o a(ismo de min$a mis&ria* 60o impora> prosseguirei ainda* 8á agora consome-se a& 3s /'imas a min$a má sina* 8á (em pouco me resa* @enderei meu ca"a'o, meus arreios, min$a faca de praa, e darei udo ainda a de"orar a ese ma'dio garimpo, que a& 0o desapiedadamene me em raado* 7 quando e"aporarse a /'ima esperan)a*** as cac$oeiras dese ri(eir0o s0o fundas e esca(rosas, e min$as piso'as n0o negam fogo*** 7'ias ia a'"e% coninuar aque'e rise mon'ogo, inspirado pe'o desespero, quando um som de passadas que se a"i%in$a"am o fi%eram 'e"anar su(iamene o roso* 7ra um $omem a'gum ano idoso e (em ra.ado e de agradá"e' presen)a, que a passos "agarosos se encamin$a"a para e'e* - Perd0o - disse o descon$ecido cumprimenando-o* - Perd0o, se o "im indiscreamene perur(ar em suas rises ref'exões, e se, sem o querer, enrei no segredo de sua desgra)a*** - A$> o sen$or ou"ia-me:*** - ;im, sen$or mas sem o querer querer espero que me descu'pará*** - ;em d/"ida nem posso 'e"ar a ma' o acaso que aqui o rouxe a pono de ou"ir as min$as 'oucuras* 2emais a min$a infe'icidade, ainda que eu o queira, daqui em diane n0o poderá ser um segredo* - Toda"ia n0o deixei de ser por demais curioso, eu o confesso* 7u esa"a a'i enre aque'as burras apan$ando a'gumas forma)ões do casca'$o e examinandoas, e ou"i udo* 2e"ia-me reirar, & "erdade, mas o que ia ou"indo come)ou a ineressar-me por a' sore, que como a pesar meu a'i fiquei pregado a escuá-
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'o* #as pode ficar cero que o ineresse que me inspirou, e n0o uma "0 curiosidade, aqui me ra% para .uno do sen$or, e que suas pa'a"ras caíram em ou"idos de quem sa(e respeiar segredos e as a s mágoas a'$eias* - 60o en$o disso a menor d/"ida, e muio fo'go de er esa ocasi0o de ra"ar con$ecimeno com um $omem que, segundo odas as aparncias, & digno de oda a esima e respeio* ; '$e pe)o que n0o d impor4ncia a'guma 3s 'oucuras que eu esa"a di%endo< esa"a desa(afando min$as mágoas com eses roc$edos s0o de'írios da imagina)0o de um $omem a quem a foruna persegue* - Perd0o< eu sou mais "e'$o, en$o am(&m sofrido muio, e porano me descu'pará se '$e fa'o com uma franque%a a'gum ano rude* + uma "ergon$a para um mo)o, como o sen$or, ainda na f'or dos anos, e que, ao que parece, em (asane ine'igncia e ai"idade, deixar-se assim a(aer co"ardemene ao primeiro go'pe da ad"ersidade*** - #as a$> se o sen$or sou(esse as circuns4ncias faais em que me ac$o> 60o & a fa'a de foruna que eu 'ameno*** - 8á sei descu'pe-me inerromp-'o eu ou"i udo, e nem assim ac$o .usifica)0o ao seu desa'eno* O sen$or ama uma rapariga, n0o & assim: e & por amor de'a que dese.a adquirir a'guma foruna* 7 mais um moi"o para querer "i"er e prosseguir em no"os e perse"eranes esfor)os para adquirir uma posi)0o (ri'$ane em que possa fa%er a fe'icidade sua e de'a* 2e"e ser (em fraco esse amor que sucum(e 'ogo diane da primeira dificu'dade, que n0o sa(e 'uar conra a ad"ersidade e ao primeiro conraempo, .u'gando udo perdido, s ac$a ref/gio no suicídio, sem se 'em(rar que com esse procedimeno pusi'4nime "ai enc$er de 'uo e desespera)0o o cora)0o de sua amane* ;e odos assim procedessem, recuando, 'ogo desde as primeiras enai"as, quase ningu&m no mundo 'ograria seus inenos, quase ningu&m a'can)aria as rique%as, as $onras e a fe'icidade* - #as que posso eu fa%er:*** airei-me num a(ismo sem saída, e no qua' de"o ficar para sempre sepu'ado* - Pois a sua ine'igncia, ser"ida por dois (ra)os .u"enis e "igorosos, n0o '$e poderá a(rir um camin$o para sair desse a(ismo, que eu creio que s exise na sua imagina)0o: Admira que um $omem, na sua idade e com 0o (oas disposi)ões, en$a 0o pouca f& no seu fuuro, e 0o pouca confian)a nos $omens> 7'ias nada in$a que rep'icar 3s .usas e se"eras ref'exões daque'e descon$ecido, cu.o exerior e cu.as pa'a"ras sisudas 'ogo 3 primeira "isa
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inspira"am a um empo respeio e simpaia, e espera"a com ansiosa curiosidade o resu'ado daque'a singu'ar enre"isa, que o acaso '$e prepara"a em a' ocasi0o com um $omem que nunca in$a "iso* - ;ai(a, por&m - coninuou o descon$ecido - que n0o "im aqui s no inuio de animá-'o e dar-'$e conse'$os* ?uero a(rir-'$e, se puder o camin$o para des"iá'o desse a(ismo em que ainda n0o caiu, como supõe, mas em que o desespero o ia precipiar* @en$o fa%er-'$e uma proposa esará disposo a aceiá-'a: - a'e, sen$or qua' & e'a: esou (em cero que n0o me proporá nada que n0o se.a para meu (enefício* - 7 & sem d/"ida a'guma* 7m primeiro 'ugar enendo que ese desco(ero da !agagem n0o pode oferecer "anagem nen$uma a quem com pequenos capiais quer enar um come)o de foruna* + um garimpo fa'a% e rai)oeiro* ;ou da !a$ia, e garimpeiro am(&m "im aqui examinar ese no"o desco(ero, de que se me cona"am mara"i'$as "e.o o conrário, e posso fa'ar com p'eno con$ecimeno de causa* =á aqui, na "erdade, e m-se exraído grandes e magníficos diamanes, como n0o os $á em ouros garimpos* #as esses n0o c$egam a odos e o seu aparecimeno mesmo & um engodo perigoso, que s ser"e para arruinar mi'$ares de garimpeiros, e somene fe'icia a um ou ouro fi'$o predi'eo da foruna* Pode-se di%er que desa erra, e o sen$or & um exemp'o, "inga-se crue'mene daque'es que '$e rasgam o seio* 60o aconece o mesmo no ;incorá a'i o diamane & negcio que pode c$egar a odos, e qua'quer mo)o ai"o e ine'igene ac$a a'i meios seguros de fa%er em pouco empo a'guma foruna* - Tudo isso pode ser, o(ser"ou 7'ias mas para su(ir a grandes a'uras & preciso pIr o p& nos primeiros degraus degr aus e esses me fa'am* - 5so 'á & "erdade mas en$a pacincia escue-me ainda um insane* Ten$o 'á no ;incorá muias 'a"ras que comprei por (aixo pre)o, mas que informam muio (em es0o em a(andono por me fa'ar uma pessoa de confian)a que possa pIr 3 esa do ser"i)o, e meus negcios n0o me deixam empo para ficar a'i preso 3 co'a dos (aeeiros, como & indispensá"e'* O sen$or inspirou-me confian)a e simpaia desde a primeira "e% que o "i pois sai(a que n0o & esa a primeira, e en$o ou"ido fa%erem-'$e por oda pare ausncias as mais $onrosas* A sua infe'icidade, de cu.o segredo por um singu'ar acaso agora esou de posse, aca(ou de inspirar-me um decidido ineresse pe'a sua sore* ;e quiser, pois, ir adminisrar o ser"i)o dessas 'a"ras, '$e darei sociedade com 'ucro ra%oá"e' no produo de'as, e fora disso am(&m sempre me ac$ará prono a "a'er-'$e com o meu pequeno pr&simo* Creia que n0o en$o ineresse nen$um em enganá-'o posso ser-'$e /i' e dese.o sinceramene dar-'$e a m0o*
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Por eses dias en$o de "o'ar para o ;incorá* Agora reso'"a-se* Aceia os meus oferecimenos: quer ir comigo:*** O parido & exce'ene, pensou consigo 7'ias* #as para o ;incorá>*** para 0o 'onge de min$a L/cia>*** n0o sei se erei 4nimo* - A sua proposa & a mais "ana.osa possí"e' - respondeu 7'ias depois de um (re"e si'ncio - e n0o en$o pa'a"ras para exprimir a min$a graid0o por esse seu generoso procedimeno para com um esran$o, que ma' con$ece, fundado apenas em uma "aga simpaia e em uma repua)0o, que (em podia n0o ser merecida* Toda"ia o acaso merece que se ref'ia um pouco, e n0o posso .á e de prono reso'"er-me* Aman$0, se '$e aprou"er, '$e darei a resposa* Onde e a que $oras o poderei enconrar: - Aman$0 ao meio-dia, naque'e ranc$o de e'$a, que 'á se a"isa do ouro 'ado do rio enre dois (agua)us*** esá "endo:*** - 7sou*** .á sei aman$0 ao meio-dia 'á esarei* - Pois (em>*** "á dormir so(re o caso (oa noie* - !oa noie* 8á ia escurecendo* 7'ias encamin$ou-se "agarosamene para o seu ranc$o, onde foi, n0o dormir, mas "e'ar so(re o caso* 7'ias n0o e"e muio que pensar para omar reso'u)0o definii"a* O inesperado da proposa e a id&ia da dis4ncia que o ia separar de sua querida L/cia o espanaram a princípio* #as enre a possi(i'idade de uma foruna e a siua)0o desesperada em que se "ia na !agagem, n0o $a"ia que $esiar* ?uano 3 dis4ncia, por"enura a'i mesmo a a'gumas '&guas apenas da fa%enda do #a.or, n0o esa"a e'e 0o separado de'a, como se esi"esse no fim do mundo: e por"enura n0o o separa"a de'a am(&m um a(ismo pior do que odas as dis4ncias, a po(re%a: e n0o era esse a(ismo, que ia procurar enc$er e superar, indo para (em 'onge: amá-'o-ia mais, ser-'$e-ia e'a e 'a mais fie', esando e'e pero: Tendo-se, pois, reso'"ido definii"amene, comunicou sua inen)0o e conou a "enura da arde a seu "e'$o camarada, que, assenado ao p& do fogo aceso no meio do ranc$o, fuma"a ranqBi'amene o seu cac$im(o* - 7n0o @mc* "ai-me deixar, par0o: - disse o "e'$o, fiando em 7'ias o'$os 'asimosos* - Como assim: pois u n0o me acompan$as:
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- 7u>*** para 0o 'onge:*** a$> meu par0o> pudesse eu*** mas .á esou "e'$o e mofino essas "iagens .á n0o s0o para mim*** que necessidade en$o eu de ir 'argar os ossos 'á 0o 'onge: - #as nesse caso, meu (om ;im0o, am(&m a m(&m n0o "ou* - 7 por que n0o, meu par0o: - Como $ei de deixar-e aqui so%in$o e desamparado> - 60o '$e d isso cuidado* Ainda sei ra(a'$ar* 2eus & de misericrdia, e nunca $á de fa'ar a ese po(re "e'$o um prao de fei.0o e um ranc$in$o em que durma* 8á que & para seu (em, "á, meu par0o @mc* n0o de"e perder um 'ance de foruna, que "em mesmo agora a a'$o de foice, por amor de um "e'$o camarada, que .á para pouco presa* Tam(&m o par0o .á n0o & 0o crian)a que n0o possa sair so%in$o pe'o mundo, e eu, a di%er a "erdade, mais '$e iria ser"ir de peso que de oura coisa* - Conudo, ;im0o, n0o en$o 4nimo de deixar-e assim* a ssim* ;e adoeceres*** - 60o (an%e com isso* Ten$o por aqui muio con$ecimeno, e muio par0o (om, que $á de er d de mim* @á, par0o, e 6* ;* do Parocínio permia que se.a para (em* 6o enano, cá para mim, a min$a f& & mesmo com ese garimpo daqui* 7 dese c$0o que ns $a"emos de um dia arrancar a sua esre'a de pedra* - 60o creias a', ;im0o, dese c$0o s podem (roar para mim espin$os e urigas, 'ágrimas e mis&rias* - 7sá (em>*** um dia @mc* se $á de desenganar (oe senido no que esou di%endo* @á para o seu ;incorá, e 6* ;* da Guia que '$e acompan$e* @á procurar sua esre'a de pedra 'á por esse mundo de meu 2eus, e deixe-me cá ficar procurando e'a por aqui mesmo* =a"emos de "er quem ac$a primeiro* 7'ias nen$uma impor4ncia 'iga"a 3que'es pressenimenos do po(re ;im0o* 7ra simp'icidade ou caduquice de seu "e'$o camarada* 2epois de con"ersarem mais a'gum empo so(re sua prxima separa)0o, am(os adormeceram< o camarada so(re um couro ao p& do fogo, e o par0o so(re sua po(re cama esendida so(re um .irau a um cano do ranc$o* 2aí a a'guns dias 7'ias a(ra)ou c$orando seu "e'$o camarada, era o /nico amigo que deixa"a na !agagem> deu-'$e odo o din$eiro que inda '$e resa"a, e, irando uma cara da a'gi(eira, enregou-'$e di%endo<
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- 7sa cara & para L/cia, ;im0o u mesmo a irás 'e"ar em sua na fa%enda do #a.or QQQ & um /'imo fa"or que quero e merecer* 6ingu&m 'á e con$ece, pedirás pousada, e & impossí"e' que desperes a menor suspeia* Lá procurarás enregá-'a ocu'amene a uma "e'$a escra"a por nome 8oana, que a 'e"ará fie'mene 3s m0os de L/cia* - @á sossegado, par0o a cara $á de ser enregue* A cara de 7'ias era assim< M8á 'á "0o seis meses que nos separamos e que me ac$o aqui na !agagem, onde a foruna me n0o sorriu* #anda-me agora o desino que eu "á ená-'a (em 'onge daqui, por&m com muio me'$ores esperan)as* Paro $o.e para o ;incorá* 60o e assuses, min$a querida, com a dis4ncia que "ai separar-nos* 7m qua'quer pare que eu "á, e amarei sempre com o mesmo ardor e 'ea'dade* a'a-me ainda ano e meio para cumprir o meu fadário* #as n0o esmore)amos conser"a-me fie' e puro o eu amor, ua confian)a no fuuro e na Pro"idncia, e o c&u nos proegerá* Adeus, a& o pra%o marcado*M 2aí a um insane 7'ias, em compan$ia de seu proeor, paria para o ;incorá*
CAPÍTULO R - O BAIANO 8á pero de dois anos eram passados, depois que 7'ias descoro)oado de enconrar no so'o da !agagem ao menos os e'emenos de uma rique%a, que se ornara condi)0o indispensá"e' para sua fe'icidade, ra'ado de saudades e com o espírio osci'ando enre as mais sinisras apreensões e as mais 'ison.eiras esperan)as, parira para 'onges erras em (usca de foruna, fiado na proe)0o de um $omem que '$e era ineiramene descon$ecido, a(andonando seu desino 3 merc da faa'idade* A !agagem .á en0o apresena"a o aspeco de uma po"oa)0o nascene, c$eia de com&rcio, "ida e anima)0o, como s0o em seu come)o odos os desco(eros diamaninos* 8á n0o eram simp'esmene os oscos ranc$os co(eros de (agua)u espa'$ados em desordem ao 'ongo das margens do rio* Por enre e'es a'"e.a"am .á n0o raras a'gumas casas caiadas e en"idra)adas, como gar)as pousadas enre um (ando de pardacenas pom(as si'"esres* A'gumas ruas menos irregu'ares se iam formando, e ne'as "iam-se .á (onias e (em soridas 'o.as e casas de negcio de oda a esp&cie*
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A !agagem cona"a em seu seio a'"e% "ine mi' a'mas 3 cusa dos municípios "i%in$os, que ficaram despo"oados* ?uase odo o Parocínio, o Araxá, grande pare do (iracatu e U(era(a in$am-se mudado para as maas da !agagem* O #a.or QQQ am(&m n0o ficara iseno da mania gera', e, enado pe'o demInio do garimpo, deixou quase em comp'eo a(andono sua 'a"oura, e "eio esa(e'ecer-se na !agagem com sua famí'ia e quase oda a escra"aura* Ouro moi"o am(&m inf'uiu no 4nimo do #a.or para dar esse passo* L/cia, depois da parida de 7'ias, in$a caído em profunda rise%a e a(aimeno sua sa/de se a'era"a e e'a defin$a"a, como a p'ana mimosa a quem fa'a a sei"a da erra e o or"a'$o do c&u* O #a.or (em con$ecia o "erdadeiro moi"o daque'a indisposi)0o de sua fi'$a mas, ou para afear que nem a possi(i'idade conce(ia de uma paix0o amorosa, ou mesmo porque respeia"a a de'icada suscei(i'idade dos senimenos de L/cia, fingia ignorá-'o* Porano, .u'gou con"eniene arrancá-'a 3 so'id0o daque'a fa%enda, e, no meio da agia)0o e dos passaempos da sociedade, procurar a'guma disra)0o 3 consane e profunda me'anco'ia da mo)a* O #a.or in$a consruído uma (onia e asseada casin$a no 'an)ane de uma co'ina 3 margem direia do ri(eir0o, a'gum ano iso'ada do reso da po"oa)0o* 7ra um emp'o%in$o, de que L/cia era a deusa ue'ar, e onde af'uíam uma mu'id0o de de"oos a render-'$e cu'os e adora)ões* #as e'a, rise como a .urii, a quem exi'aram da som(ra si'enciosa de seus (osques, senia indi%í"e' saudade dos 'aran.ais da fa%enda paerna, de seu .ardim, de sua fone, e mais ainda de um ene, cu.a imagem em seu espírio anda"a sempre 'igada 3 daque'a saudosa so'id0o* A cara que 7'ias escre"era ao sair da !agagem fora-'$e fie'mene enregue a id&ia da dis4ncia enorme que se ia inerpor enre e'a e seu amane ainda mais agra"ou o seu esado de prosra)0o, aumenando-'$e os susos e inquiea)ões* A imagem de 7'ias esa"a sempre presene ao seu espírio, rise como a 'ua me'anc'ica a mirar-se no seio im"e' de um 'ago so'iário* 2e seus 'á(ios nunca escapa"a um sorriso que exprimisse "erdadeiro pra%er* ;e a'gumas "e%es sorria, seu sorriso era como um c'ar0o frouxo a cuso escapado da a'ma por enre nu"ens de rise%a* Toda"ia, mais por efeio do empo do que das disra)ões que seu pai '$e procura"a, a fe'i% e "igorosa organi%a)0o de L/cia conseguiu riunfar e impor um ermo aos progressos e esragos do sofrimeno mora'* 60o '$e "o'ou aque'a ina'erá"e' e serena a'egria dos primeiros anos, nem se '$e des"aneceram as mágoas e inquiea)ões do cora)0o* #as, ao pungir da dor "io'ena que a 'acera"a, su(siuiu-se uma me'anco'ia ca'ma e resignada, como noie de 'uar sucedendo si'enciosa e rise aos $orrores da ormena* A gra)a e geni'e%a de L/cia, seu adorá"e' recao e aque'e oque simpáico de me'anco'ia que a en"o'"ia como um "&u, n0o podiam deixar de arair a aen)0o
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e produ%ir impress0o so(re a popu'a)0o da !agagem, comem grande pare de fa%endeiros a(asados dos arredores, que despre%ando a enxada e o mac$ado, puseram nas m0os de seus escra"os o a(ri0o e a (aeia, e de .o"ens negocianes de odas as procedncias, que "in$am de remoas paragens enar negcio com os garimpeiros* O #a.or por seu 'ado, para dar uma di"ers0o 3s id&ias me'anc'icas de sua fi'$a, procura"a enre-'a e disraí-'a por odos os meios, e para esse fim cosuma"a dar em sua casa freqBenes reuniões, a que con"ida"a a me'$or sociedade da !agagem* #uios desses negocianes, muios fi'$os de fa%endeiros a(asados, su(.ugados pe'os encanos da geni' roceira, oferaram a L/cia suas $omenagens mas para 'ogo desisiam, n0o ac$ando (rec$a por onde pudessem enrar nos arcanos daque'e cora)0o miserioso* Ouros, mais auda%es ou inerpreando ma' a fria ama(i'idade com que e'a os raara, a(a'an)aram-se a re"e'ar sua paix0o, e mesmo a pedi-'a em casameno* - #in$a fi'$a, .á ens "ine anos ac$o que .á & empo de pensar no casameno, e en$o para i um noi"o que decero n0o re.eiarás* + o sen$or * pediu-me $o.e a ua m0o* Ac$o-o muio capa% de fa%er a ua fe'icidade* 7sa pequena a'ocu)0o L/cia ou"ia sempre ao menos uma "e% por semana, e odas as "e%es com imperur(á"e' e g'acia' frie%a '$e respondia< - Pe)o-'$e, meu pai, que n0o me fa'e ora em casameno n0o me sino com inc'ina)0o para esse esado* Ta'"e% mais arde*** #eu pai (em " que min$a irm0 & ainda muio crian)a* 7nquano e'a n0o crescer mais e n0o puder '$e ser"ir de compan$ia, eu n0o posso nem de"o casar-me* 8u'go-me necessária para am(os* O pai parecia aceder a esas ra%ões e respeia"a as repugn4ncias da fi'$a* + "erdade am(&m que, dos preendenes que a& a'i in$am aspirado 3 m0o de L/cia, poso que fossem odos dignos e (e'os mo)os, oda"ia nen$um esa"a em condi)ões de assegurar-'$e uma posi)0o muio (ri'$ane pe'o 'ado pecuniário e o #a.or, que como (om pai dese.a"a a fe'icidade da sua fi'$a, mas que n0o conce(ia a fe'icidade sem a rique%a, espera"a que L/cia enconraria ainda um marido mi'ionário, e porano faci'mene condescendia com sua recusa* Assim passaram-se mais a'guns meses, sem que nada a'erasse a monona rise%a do "i"er de L/cia, sem que uma esperan)a "iesse a'ená-'a, e nem no"o go'pe da sore rea"i"ar a c$aga de seus anigos sofrimenos* Por esse empo c$egara 3 !agagem um rico "ia.ane, e'eganemene ra.ado, com numeroso s&quio de pa.ens e camaradas e aparaosa (agagem* 7ra um
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.o"em (aiano, (em-feio, (onio, e de maneiras agradá"eis e insinuanes* 2o ;incorá, onde se enriquecera com a compra de diamanes, "iera 3 !agagem coninuar na mesma especu'a)0o, e examinar e exp'orar ese no"o desco(ero* A c$egada de um $spede deses a uma de nossas po"oa)ões do inerior produ% ana ou maior expeca)0o do que a "isia de um so(erano a qua'quer grande capia' do mundo ci"i'i%ado* Leone', assim se c$ama"a o rec&m-c$egado, ornou-se 'ogo exremamene popu'ar* A'&m de seu agradá"e' exerior e da afa(i'idade de suas maneiras, era doado de prendas e qua'idades que o orna"am apreciado e dese.ado em odas as compan$ias, oca"a admira"e'mene "io'0o e cana"a com muia gra)a as modin$as e 'undus da sua erra* A'&m de udo era sumamene 'i(era', e raa"a-se com 'uxo que, re'ai"amene ao 'ugar, podia-se c$amar sunuoso* 60o ardou muio que Leone' fosse am(&m apresenado em casa do #a.or QQQ* Como sa(emos, ese cosuma"a dar em sua casa a'gumas paridas ou pequenos saraus para dar a'guma di"ers0o 3 me'anc'ica disposi)0o do espírio de sua fi'$a* Com o aparecimeno de Leone', essas paridas, que .á iam esmorecendo pe'o nen$um resu'ado que produ%iam no espírio de L/cia, recome)aram com no"a anima)0o* O #a.or era ca'cu'isa, e prepara"a as caras para um grande .ogo* Cona"a que a (e'a figura, as de'icadas maneiras do .o"em (aiano n0o deixariam de produ%ir impress0o no cora)0o cora )0o de sua fi'$a, e a curariam para sempre de sua aniga e 'ouca paix0o* Por ouro 'ado esa"a con"encido, e n0o sem ra%0o, que ningu&m que i"esse cora)0o de mo)o, podia c$egar-se a L/cia sem senir a irresisí"e' inf'uncia de seus 'indos o'$os a experincia de odos os dias o esa"a confirmando* Leone', que por sua con"ersa)0o "i"a e a'egre, por suas prendas e (e'as maneiras era a a'ma daque'as pequenas reuniões, n0o ardou com efeio em senir o mágico inf'uxo do (ri'$o daque'es grandes o'$os a"e'udados, daque'e meigo e me'anc'ico sorrir* Conce(eu 'ogo por e'a uma paix0o ardene que n0o podia mais dissimu'ar* Cerca de quin%e dias depois que Leone' aparecera pe'a primeira "e% em casa do #a.or, os dois, de(ru)ados a uma .ane'a em casa dese, ra"aram enre si a meia "o% a seguine con"ersa)0o< - ;en$or #a.or, n0o de"o ocu'ar-"os por mais empo que conce(i por sua fi'$a o mais ardene e exremoso amor, se & que .á o n0o em adi"in$ado* ;eria para mim a suprema fe'icidade, se eu pudesse gan$ar am(&m o cora)0o de'a, como e'a sou(e conquisar o meu* 2ese.aria sa(er se o sen$or aco'$e (em ese meu senimeno, que '$e afian)o & puro e sincero, para sa(er se de"o ou n0o coninuar min$as "isias 3 sua casa*
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- 7u sempre o rece(erei com os (ra)os a(eros - reorquiu o #a.or com "i"acidade - e de odo o cora)0o fo'go que min$a fi'$a inspirasse esses senimenos a um mo)o 0o disino e de 0o (e'as qua'idades* #as e'a:*** sa(e se '$e corresponde: o sen$or n0o '$e fe% ainda dec'ara)0o a'guma:*** - 7'a*** & sempre afá"e' e (oa para comigo mas ac$o-a sempre 0o fria, 0o reser"ada, que n0o sei o que de"a pensar* - 60o '$e d isso cuidado, sen$or Leone', & efeio do acan$ameno criada na ro)a, e ainda n0o sa(e desen"o'"er-se em uma con"ersa)0o* s n0o desanime por isso quando se fami'iari%ar mais um pouco com o sen$or, $á de perder esse acan$ameno, eu '$e afian)o* 2á-me muio goso em coninuar a freqBenar esa sua casa, e posso assegurar-'$e que L/cia será sua*** - Assegura: mas, meu 2eus> por que modo: se quer pre"a'ecer-se da auoridade paerna para impor uma a'ian)a, que a'"e% '$e desagrada, o$> nisso nunca consenirei* - 7u, sen$or Leone', impor:*** nunca> Pre%o muio a min$a fi'$a para o(rigá-'a a casar com quem quer que se.a, conra sua "onade, mas n0o creio possí"e' que e'a re.eie*** 6esse momeno ocou a m/sica, e uma menina, c$egando-se aos con"ersadores, c$amou-os para dan)arem ou "erem dan)ar*** - @á dan)ar com e'a, disse o #a.or 4nimo e perse"eran)a> sem isso nada se arran.a nese mundo*
CAPÍTULO S - A RECUSA 6o dia seguine ao desa con"ersa, o #a.or foi (em cedo er ao quaro de sua fi'$a* - 7n0o, min$a L/cia - foi 'ogo di%endo sem mais pre4m(u'o - que a' parece esse (e'o mo)o (aiano, que u'imamene em freqBenado a nossa casa:*** - ?ue a' me parece:*** - disse L/cia com em(ara)o - 0o cedo, uma a' perguna: - acrescenou sorrindo* - Pa'a"ra, que n0o sei '$e responder, meu pai* - 2eixa-e de "isagens responde-me* r esponde-me* ?ue a' e parece o sen$or Leone':***
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- O que parecem par ecem odos, um mo)o (em-parecido, de muio (oas maneiras, e que a'"e% se.a muio (oa pessoa* - Ta'"e%, n0o & mesmo um exce'ene mo)o e, a'&m de udo, muio rico* ri co* - #as, a que "em udo isso, meu pai: - A que "em: ainda me pergunas: pois sa(e que esse exce'ene mo)o, esse (e'o e rico (aiano, foi a ua (oa foruna que o rouxe aqui para eu marido* - 8á espera"a por isso - murmurou L/cia denro dJa'ma & mais um preendene> ?ue praga que nunca se exingue> Para meu marido> - exc'amou e'a - a$> meu pai, por piedade, n0o me fa'e nisso* - ;im, para eu marido - rep'icou o #a.or com enfado - re.eiarás ainda ese: - #eu pai, n0o '$e en$o dio anas "e%es que n0o quero, que n0o de"o me casar por ora: - #as com ese, min$a fi'$a>*** o'$a (em o que fa%es* e.eiá-'o & um coice na foruna* - 7 aceiar ese ou ouro qua'quer, meu pai, & cra"ar-me um pun$a' no cora)0o* Ten$o pressenimenos de que, se me casar, serei muio desgra)ada* - Crian)a>*** deixa-e dessas 'oucas apreensões essa repugn4ncia $á de passar com o empo* - 6unca, meu pai, nunca passará* - 7sá (em, L/cia, &s uma crian)a sem .uí%o* @ai pensar (em no que e propon$o e deixa-e de $esia)ões* Os anos "oam e a (e'e%a foge-'$e nas asas* #ais arde quando quiseres e casar, n0o ac$arás mais marido que e queira* Anda, "ai ref'eir um pouco so(re o caso, e, se &s uma menina de .uí%o, ceramene mudarás de acordo* orunas desas n0o se enconram duas "e%es na "ida* Pensa (em no que e digo, e aman$0 espero ac$ar-e con"erida* O #a.or saiu, e L/cia ficou so%in$a por muio empo encerrada em seu quaro a ref'eir de"eras, n0o so(re as "anagens do casameno, que seu pai '$e propun$a, mas so(re as dificu'dades de sua penosa siua)0o, e so(re a 'ua que se ia ra"ar enre e'a e o #a.or, "iso o modo por que ese se mosra"a empen$ado na rea'i%a)0o dese /'imo en'ace pro.eado* A respeio dos ouros preendenes o #a.or cedera quase sem insisncia a'guma 3s primeiras pa'a"ras de L/cia* #as, a respeio dese /'imo, n0o parecia reso'"ido a desisir, reirar-se sem se dar por "encido* 7 o pior era que parecia esar co(ero de
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ra%0o, pois Leone' era em "erdade um mance(o que parecia prprio, a odos os respeios, para fa%er a fe'icidade de uma mo)a, e as mais ricas e formosas don%e'as da !agagem eriam ido in"e.a da sore de L/cia* 7ncerrada em seu quaro L/cia ref'eiu muio e amargamene so(re a crue' siua)0o em que se ac$a"a, e, depois de er c$orado e re%ado muio, pedindo auxí'io ao c&u, saiu do quaro reso'"ida a 'uar a& o /'imo ranse, e disposa a aceiar anes o "&u de freira do que a grina'da de noi"a* Leone', odo confiado em sua (e'a presen)a e seus does pessoais apesar da fria reser"a de L/cia, n0o $esia"a um momeno que por fim e'a aca(aria por se '$e render* O #a.or nessa mesma arde foi sondar de no"o o cora)0o de sua fi'$a* edo(rou de ins4ncias, mu'ip'icou os argumenos, enre os quais en"o'"eu amea)as ma' disfar)adas< nada a a(a'ou* Por fim desceu a& a s/p'ica L/cia respondeu mergu'$ando a ca(e)a enre as co'c$as do 'eio, em que esa"a assenada, e desaou em pranos e so'u)os* O "e'$o como"ido por momeno nada ousou responder a esa exp'os0o de 'ágrimas e so'u)os, e reirou-se rise e desconcerado, mas n0o desanimado* Como de cosume, o .o"em (aiano apareceu 3 noie em casa do #a.or* L/cia, que a& a'i s senira por Leone' a mesma indiferen)a que para com os aneriores preendenes, agora experimena"a am(&m um cero afasameno, uma repugn4ncia que ma' podia dissimu'ar* 8á n0o "ia nesse $omem um simp'es preendene< era um amea)o "i"o da sua fe'icidade, era a more de suas esperan)as, porque no fundo da a'ma L/cia ainda nuria uma esperan)a, ímida, "aci'ane sim, mas era sempre uma esperan)a, e era e'a que ainda '$e a'imena"a o cora)0o, e da"a-'$e coragem para "i"er* 7 a'"e%, quem sa(e: com esse insino admirá"e' de que s0o doadas ceras mu'$eres, ara"&s das mais (ri'$anes exerioridades e'a sa(ia penerar no fundo dos cora)ões, e ac$a"a em Leone' a'guma coisa que '$e repugna"a* ?uando Leone' enrou na sa'a, L/cia descorou e esremeceu de modo que eria araído a aen)0o de odos, se n0o fosse a fraca c'aridade que reina"a na sa'a, i'uminada en0o por uma s "e'a* 60o escapou, por&m, a Leone' aque'e esremecimeno de L/cia mas gra)as 3 sua "aidade o inerpreou como efeio do a'"oro)o que '$e causa"a a sua presen)a, e o omou como (om presságio* ;e pudesse "er me'$or o sem('ane da mo)a, eria noado ne'e a exrema pa'ide% e uma express0o de ang/sia e de $orror que o iraria de seu engano* Passados a'guns minuos da con"ersa)0o (ana', L/cia reirou-se para aca'mar, ou anes para ocu'ar a agia)0o de seu espírio* ;ua agia)0o era das mais penosas* Criada na singe'e%a da ro)a, $a(iuada apenas 3 con"i"ncia de uma sociedade de cosumes c$0os e sem eiqueas, n0o esa"a acosumada a
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dissimu'ar seus pesares e inquiea)ões* #as o insino de'icado de seu espírio ad"eria-'$e que era miser mascarar sua dor com as exerioridades do conenameno e da ranqBi'idade* A compan$ia ainda era pouco numerosa< com um geso o #a.or con"idou Leone' para a mesma .ane'a em que os "imos con"ersar pe'a primeira "e%* O #a.or come)ou o diá'ogo* - ;en$or Leone', en$o esperan)as de que L/cia aceiará com pra%er a m0o de esposo que o sen$or '$e oferece* #as, quando onem con"ersamos, esquecime de ocar em um pono que enreano n0o de"o '$e ocu'ar* O pra%er que seni ao ou"ir sua proposa pro"a"e'mene me fe% passar pe'a id&ia esse o(.eo* 7nfim, para encurar ra%ões, a'"e% o sen$or Leone', como ouros muios, ese.a em engano a respeio de min$a posi)0o pecuniária, e*** - !asa, sen$or #a.or pe)o-'$e que n0o oque em a' assuno, se n0o quer ofender-me* 7u nunca indaguei, e nem indago quais s0o os seus $a"eres* #erc de 2eus, possuo a'guma coisa para n0o precisar*** - 60o se enfade, sen$or Leone' n0o & nesse senido que fa'o (em con$e)o o seu desineresse* #as oda"ia ficaria com um escr/pu'o nJa'ma, se n0o '$e fi%esse essa re"e'a)0o e n0o '$e dec'arasse que esou arruinado* - 2e"eras, sen$or #a.or:*** - + a pura "erdade comp'eamene arruinado* 7se ma'dio garimpo, que sedu% e cega o $omem mais do que a mesa do .ogo ou a mereri% arificiosa, em-me de"orado em pouco empo odos os meus $a"eres, uma sofrí"e' foruna adquirida 3 cusa de 'ongos anos de ra(a'$o na 'a"oura e no com&rcio, sem a mínima compensa)0o* #in$a fa%enda, meus escra"os es0o $ipoecados quase a& o /'imo, e em (re"e a mis&ria "irá (aer-me 3 pora* 2escu'pe-me esa franque%a eu n0o de"ia ocu'ar-'$e as min$as circuns4ncias, porque n0o me ficaria airoso dar-'$e a min$a fi'$a em casameno, sem que o sen$or sou(esse que casa"a-se com a fi'$a de um miserá"e'* - #iserá"e'*** n0o diga a', sen$or #a.or> isso nunca> mas, ainda que fosse um mendicane, mesmo assim eu eria orgu'$o de ser esposo de sua fi'$a* - #as a desonra*** (em sa(e que o p/('ico & imp'acá"e' para com o negociane ou especu'ador infe'i%* - ?ua' desonra, sen$or #a.or> o mau sucesso de uma especu'a)0o, conano que se.a 'ícia, n0o desonra a ningu&m* 60o se aco"arde por essa forma*** n0o fa'ar0o meios de rea(i'iar-se* TranqBi'i%e-se o p/('ico e o com&rcio n0o ser0o 0o desapiedados como pensa* Pode-se fa%er com seus credores um con"nio 41
que sa'"ará udo* 7u me enenderei com e'es, e, gra)as a 2eus, esou em circuns4ncias de '$e poder ser /i' sem sacrifício meu* 2ir-se-ia que o #a.or mui de propsio fa%ia aque'a confidncia a seu fuuro genro para sondar sua generosidade e pro"ocar o seu oferecimeno* #as n0o era assim o #a.or fa%ia-'$e aque'a re"e'a)0o porque enendia que era de seu de"er, e procedia por um impu'so de franque%a que '$e era naura'* A princípio, porano, o generoso oferecimeno do .o"em (aiano o perur(ou e desconcerou a'gum ano mas depois penerou-'$e na a'ma como o raiar de uma dup'a esperan)a* 6esse en'ace esa"a a fe'icidade da fi'$a e a sa'"a)0o de sua foruna* - 60o, sen$or> Perd0o> nem fa'emos nisso - rep'icou o #a.or a'gum ano enfiado 'onge de mim a id&ia de '$e ser pesado e o que diria o po"o:*** - 7 que em o po"o com os nossos negcios, e ns com o que e'e dirá: - 2irá, e com aparncias de "erdade, que conraando ese casameno especu'ei com a sua generosidade* - 60o em direio a di%er a'* ;a(ia eu por acaso do esado dos ;eus negcios quando '$e pedi a fi'$a em casameno: e enreano, desde que aqui c$eguei, aspirei a ser seu genro* 7 $á nada mais naura' do que O genro socorrer ao sogro, ou o sogro ao genro: ;ois demasiadamene escrupu'oso, sen$or #a.or* - Pode ser mas*** - #as*** nem fa'emos mais nisso, caro #a.or s0o $oras de nos di"erirmos* A'gumas pessoas, que c$egaram e "ieram cumprimenar o #a.or, aca(aram de pIr ermo 3que'a con"ersa)0o* Leone' foi senar-se ao p& de L/cia, que .á in$a "o'ado 3 sa'a* A coiada parecia que esa"a assenada em uma cadeira de ferro em (rasa* ;eu o'$ar era incero, muda"a de cor a cada momeno, ma' respondia 3s pergunas que Leone' '$e dirigia, e 3s "e%es parecia querer 'e"anar-se (ruscamene, e deiarse a correr pe'a casa adenro* #as aos o'$os de Leone' udo iso in$a uma exp'ica)0o, a'iás p'ausí"e' para quem n0o con$ecia o esado do cora)0o de L/cia* 7ra o acan$ameno que resu'a da emo)0o que sene oda a mo)a ao "er pero de si um $omem apenas con$ecido, e que q ue em de ser seu marido* O #a.or por sua pare, pouco con"ersa"a, e anda"a pensai"o, ocupado em ref'eir nos meios que empregaria em um no"o assa'o que pro.ea"a dirigir conra o cora)0o da fi'$a, para redu%i-'a a dar o sim* Agora, que nesse
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casameno "ia am(&m a rea(i'ia)0o de sua foruna, & fáci' conce(er com que no"o ardor e encarni)ameno esa"a disposo a aacá-'a* L/cia, por sua pare, s espera"a com a maior impacincia pe'o momeno de reco'$er-se para dar 'i"re curso a seus pensamenos e a suas 'ágrimas*
CAPÍTULO 9 - O SACRIFÍCIO 6o ouro dia L/cia acordou, ou anes 'e"anou-se, pois (em pouco dormira, c$eia de susos e de rises pressenimenos mas procurou ocu'ar do me'$or modo que pIde suas inquiea)ões, e premunir-se de for)a e reso'u)0o para afronar os no"os em(aes que a amea)a"am* Por um 'ado a aormena"a a posi)0o exrema em que se "ia co'ocada pe'as ins4ncias do pai, posi)0o de que n0o "ia ouro meio de escapar-se, sen0o rendendo-se 3 discri)0o ou por meio de uma confiss0o, que, em "e% de ap'acá-'o, arairia so(re e'a a c'era de seu pai* Por ouro 'ado a orura"a a crue' incere%a em que se ac$a"a a respeio da sore de 7'ias, do qua' nem noícias in$a, poso que .á i"esse findado o pra%o de dois anos, denro do qua' promeera "o'ar ou dar noícias suas* Pensa"a na dis4ncia imensa que os separa"a, nos imensos perigos que o rodea"am por aque'es serões infesados de assassinos e sa'eadores e infeccionados de epidemias moríferas, e a esperan)a a a(andona"a, e sua a'ma se enrega"a a um desa'eno mora'* 7sa"a exremamene pá'ida e rise 'iam-se no sem('ane os "esígios de uma noie "e'ada no sofrimeno, mas em sua fisionomia como que rans'u%ia a a'i"e% de uma reso'u)0o ina(a'á"e'* O #a.or, que espia"a com impacincia o momeno em que L/cia desperasse, dirigiu-se a seu quaro, 'ogo que a seniu 'e"anada* - #in$a fi'$a*** mas esás 0o pá'ida e desfeia>>*** esás sofrendo a'guma coisa: - 6ada, meu pai*** & um incImodo passageiro* ;empre que me deio arde, passo ma'* - A$> n0o admira n0o esás acosumada a esas pa'esras e fo'guedos a& a'a noie* - + "erdade, meu pai e quana saudade n0o en$o da nossa (oa "ida da ro)a>*** quando "o'aremos para 'á: - 60o sei di%er-e* Ta'"e% (re"e, a'"e% nunca*
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- 6unca>*** como assim, meu pai: - Para fa'ar-e com franque%a, iso depende de i esá em uas m0os* - 7m min$as m0os:*** exp'ique-se meu pai cada "e% o enendo menos* - ;im de i e s de i depende isso* - 60o posso sa(er como: - ;ena-e aí e escua-me en$o coisas imporanes a di%er-e* A esas pa'a"ras L/cia seniu um ca'afrio percorrer-'$e o corpo, e fec$ar-se-'$e o cora)0o como a um sopro ge'ado* Trmu'a e pá'ida assenou-se na cama, enquano seu pai puxa"a uma cadeira e sena"a-se .uno de'a* - #in$a fi'$a - come)ou o #a.or, a(aixando caue'osamene a "o%, e quase ao ou"ido de L/cia - o que "ou di%er-e, quisera poder ocu'ar-e para sempre n0o quereria por nada dese mundo ornar-e mais af'ia e rise do que e "e.o $á cero empo* - Pode fa'ar, meu pai 2eus me dará coragem e resigna)0o para udo, se.a qua' for a no"a desgra)a que "em anunciar-me* - ;im, & uma desgra)a, mas que u, com uma s pa'a"ra, podes con"erer em fe'icidade para odos ns* - 2e"eras, meu pai:*** pois exp'ique-se, que da min$a pare esou prona a odo e qua'quer sacrifício* - 7m poucas pa'a"ras "ou di%er-e udo* 2epois que deixamos nossa fa%enda para "ir especu'ar nese garimpo, os meus negcios m ido de ma' a pior* Ten$o-me "iso for)ado a fa%er despesas que n0o posso comporar, e o rendimeno, como erás podido o(ser"ar, em sido nen$um* U'imamene uma sociedade em que omei pare, n0o endo dado resu'ado a'gum depois de enormes despesas, aca(ou de arruinar-me comp'eamene, (em como a quase odos os ouros scios* #in$a fa%enda e meus escra"os c$egam apenas para saisfa%er aos imensos encargos que conraí nessa ma'fadada empresa, e ficaremos por poras, se e n0o reso'"eres*** - A qu, meu pai:*** - A casar com o sen$or Leone'*
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- A$> isso nunca>*** 7sas pa'a"ras escaparam ao peio da mo)a com espon4nea e rápida exp'os0o* O #a.or 'an)ou-'$e um o'$ar se"ero e expro(rador* L/cia reporou-se* - #as - coninuou e'a mudando de om que em meu casameno com a sua que(ra, meu pai: - #uio, min$a fi'$a* Leone', sa(endo que eu me ac$a"a nesses ranses aperados, ofereceu-me espon4nea e generosamene seus ser"i)os e, o que & mais ainda, sua (o'sa* #as se recusas dar-'$e a m0o de esposa como poderei aceiá-'os: - A$> meu pai, n0o me o(rigue a seme'$ane sacrifício por piedade> a mis&ria> a mis&ria mi' "e%es>*** mas .á n0o sei o que penso, nem o que digo*** meu pai, en$a piedade de sua fi'$a* - A$> L/cia, min$a querida L/cia>*** pondera que n0o se raa somene de i* 8á n0o fa'o de mim, que esou "e'$o, e que pouco me impora o modo por que passarei o reso de meus dias* #as ua irm0%in$a, 0o 'inda, 0o inocene, coiada> n0o erei a 'egar-'$e sen0o a mis&ria* O$> e a mis&ria & 0o rise para quem .á "i"eu na a(asan)a> Tendo dio esas pa'a"ras o #a.or enxugou duas grossas 'ágrimas, que '$e ro'a"am pe'as faces maci'enas* - #eu pai>*** - exc'amou L/cia, pondo-se rapidamene em p&, e aperando con"u'si"amene as m0os uma na oura* 2epois deixou pender a frone, a(aixou os o'$os e uma c$u"a de 'ágrimas, que '$e (roa"am das pá'pe(ras ardenes, circunda"am-'$e as faces, e caíram no pa"imeno aos p&s do "e'$o* 7se am(&m 'e"anou-se profundamene como"ido, e, susendo-a nos (ra)os, .á ia quase desisir de suas preensões* #as a (e'a e no(re a'ma de L/cia .á in$a aceiado o sacrifício* - TranqBi'i%e-se, meu pai - disse e'a com om firme e reso'uo, enxugando a /'ima 'ágrima que '$e (roa"a dos o'$os aceio o marido que me quer dar, .á que assim & preciso para fe'icidade sua e de min$a irm0* - O c&u e a(en)oe, querida fi'$a nem eu espera"a oura coisa da (ondade de eu cora)0o e da no(re%a de eus senimenos* 60o e arrependerás, eu e asseguro< Leone' & um exce'ene mo)o, que sa(erá fa%er-e fe'i%, e 2eus a(en)oará eu casameno, porque o mereces*
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- ;erei fe'i%>*** por cero>*** - murmurou L/cia consigo ao menos a(re"iarei o meu marírio* - Posso, porano, L/cia - coninuou o #a.or - assegurar desde $o.e ao sen$or Leone' que dás o eu consenimeno:*** - #eu pai em a min$a pa'a"ra, e de $o.e em diane pode dispor de mim, como '$e aprou"er* O pai saiu saisfeiíssimo com o resu'ado desa /'ima enai"a, por que n0o sa(ia medir o a'cance e a impor4ncia do crue' e do'oroso sacrifício que aca(a"a de impor a sua fi'$a* =omem de a'ma fria, poso que (oa, .u'ga"a que as paixões sinceras e profundas n0o exisem sen0o nas no"e'as, e que os senimenos da mu'$er n0o s0o mais do que capric$os da imagina)0o, que com o empo se des"anecem* L/cia, aca(run$ada so( o peso do sacrifício a que aca(a"a de dedicar-se para a fe'icidade de seu pai e de sua irm0, foi senar-se .uno a uma mesa, e escondendo a ca(e)a enre os dois 'indos (ra)os nus, aí ficou por muio empo a(andonando o cora)0o aos go'pes da dor que o orura"a* A "o% de 8oana "eio desperá-'a* - ;in$a%in$a, aqui esá iso, que '$e mandaram enregar* enreg ar* L/cia 'e"anou a ca(e)a e fiou em 8oana os o'$os /midos de 'ágrimas* 8oana enregou-'$e uma cara L/cia omou-a, reparou no so(rescrio e um rápido esremecimeno con"u'si"o '$e percorreu o corpo* asgou com a m0o rmu'a a cara e 'eu o seguine< M#in$a L/cia* Cá de 'onge, a mais de du%enas '&guas de dis4ncia, paricipo do pra%er que senirás ao 'er esa cara, pois nem um momeno ainda du"idei da sinceridade e cons4ncia do eu amor* A foruna, que ai sempre se me mosrou esqui"a, sorriu-me aqui no ;incorá* Gra)as a 2eus, en$o feio exce'enes negcios* 7nfim, L/cia, .á sou rico, ao menos para nossa erra* 60o me & possí"e' esar 'á no pra%o que e marquei, mas fa)o-e esa para ranqBi'i%ar-e* 7m (re"e 'á esarei* 7u quisera er asas e "oar para .uno de i*** ;ou fe'i%, s as saudades me aormenam* Adeus, L/cia a& (re"e* (r e"e* Teu 7'iasM* 2escre"er o que se passa"a na a'ma de L/cia, enquano com m0o rmu'a e o'$ar des"airado percorria esa cara, & coisa que n0o ca(e no possí"e'* Uma "erigem se apoderou de'a apenas e"e empo para amarroar depressa aque'a cara faa' e escond-'a no seio* 2e pá'ida que esa"a, ornou-se 'í"ida, os o'$os se '$e escureceram, e eria caído da cadeira em que esa"a, se 8oana, que ficara ao p& de'a, n0o a i"esse amparado* 46
- ;ana @irgem> exc'amou assusada a rapariga, sacudindo-a* ?ue em> que em, sin$a%in$a:*** #as L/cia ainda n0o in$a perdido o "igor de sua (e'a organi%a)0o, e em poucos insanes "o'ou daque'e (re"e de'íquio* - O que & iso, menina:*** o que & que esá sofrendo:*** fa'e, n0o ocu'e nada 3 sua negra, exc'amou a so'ícia escra"a* 7u "ou fa'ar com n$on$I para mandar c$amar m&dico* - 60o, 8oana, n0o & preciso n0o digas nada a meu pai, eu e pe)o* 5so passa .á foi uma "erigem, porque passei ma' a noie mas .á esou me'$or* A$> por que n0o c$egou uma $ora mais cedo aque'a cara faa': eria sido reden)0o daque'a po(re a'ma que pena"a enre $orrorosos marírios eria a(ero para e'a um $ori%one de esperan)as e "enuras* #as naque'a ocasi0o era como nu"em negra que aca(a"a de escurecer para sempre o $ori%one de seu por"ir*
CAPÍTULO - ELIAS O infor/nio de L/cia in$a c$egado a seu c/mu'o* O seu casameno com Leone' esa"a definii"amene conraado, e era o aconecimeno de que se fa'a"a mais na !agagem em odos os círcu'os* 7ra um 'indo par, dois noi"os em odos os senidos dignos um do ouro, e odos forma"am a mais 'ison.eira id&ia do rison$o fuuro de amor e de "enura, cu.as poras o $imeneu ia a(rir de par em par 3que'e par aforunado* Os preendenes de L/cia, por&m, que $a"iam sido preeridos - e n0o eram poucos - "ingaram-se em apodos e ma'iciosas aprecia)ões a respeio do noi"o* - Po(re mo)a> 2eus sa(e o que será de'a com aque'e (oneco enfeiado> 2eus queira que a'i n0o ese.a enco(ero um formidá"e' ca"a'$eiro de ind/sria> - A fa%enda de conra(ando & quase sempre a mais (em enfardada* Aque'e #a.or & (em simp'rio* 60o seria eu que daria min$a fi'$a a um $omem s porque anda com grandes equipagens e paacoadas, incu'cando-se rico, sem '$e "er a careira* - Ks "e%es um (i're, desses que aí andam com ares de gr0o-sen$or, n0o passa de um mero co(rador, que nada em de seu, e anda a imposurar com o din$eiro do par0o*
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- Lá di% o diado< quem "ai casar 'onge, ou quer enganar, ou "ai enganado* 7se me'ro, por&m, que n0o cai no 'a)o, & capa% de enfiar o #a.or e oda a sua gera)0o pe'o fundo de uma agu'$a* Lá se a"en$am* 7nre os preendenes despre%ados cona"a-se am(&m A%e"edo, o .o"em negociane f'uminense que .á "imos .uno de L/cia, no Parocínio, e que era um dos seus mais assíduos e perina%es adoradores* Como muios ouros negocianes da'i in$a mudado a sua 'o.a para a !agagem, deixando quase em apera aque'a "i'a, por cu.as deseras ruas crescia a(undane capoeira, e "aguea"am 'i"remene as emas, "eados e siriemas* - 60o '$e agouro (em, di%ia A%e"edo referindo-se ao casameno de Leone'* 7sas mo)oi'as da ro)a na sa'a s0o umas sanin$as nem sa(em fa'ar s0o odas mod&sia e pudor* #as por derás das poras e pe'os quinais, ai> ai> $á que se '$e diga* O noi"o que rogue a 2eus que n0o "o'e 'á desses serões do ;incorá cero rapa%o'a que eu con$e)o* #as odos esses di&rios eram fi'$os do despeio de ceros desconenes* A maioria da popu'a)0o (agagense, de que o (aiano por suas 'i(era'idades e suas maneiras seduoras in$a adquirido a esima e simpaia, apro"a"a e ap'audia sinceramene e de odo cora)0o aque'e fe'i% consrcio* Leone' coninuou a freqBenar ainda com mais assiduidade a casa do #a.or, onde quase odas as noies $a"ia (e'as reuniões, ocaas e saraus* 7ram essas $oras as mais cru&is para L/cia, como (em se pode a"a'iar, que em sua no(re e su('ime dedica)0o fa%ia esfor)os $ericos para dissimu'ar a ang/sia que '$e ra'a"a o cora)0o* 60o queria que por modo a'gum seu pai suspeiasse quano era duro e do'oroso o sacrifício que '$e in$a imposo, e procura"a fingir que de (oa mene se conforma"a com a sua no"a sore* A for)a de "onade conseguia dar a seu sem('ane e a suas pa'a"ras um ar, se n0o de conenameno, ao menos da serenidade me'anc'ica, que da"a no"o rea'ce 3 sua no(re e graciosa fisionomia* Corria en0o a quaresma, e como nesse empo s0o proi(idas as (n)0os marimoniais, for)oso foi adiar para mais arde o casameno, que pe'o "oo de Leone' e do #a.or eria ido 'ugar imediaamene* 8á uns quin%e dias se in$am passado, depois que L/cia espera"a resignada o dia remendo, em que ia irre"oga"e'mene imo'ar a fe'icidade de seu cora)0o aos ineresses de seu pai e de sua irm0* O a'ar do $imeneu ia ser o paí(u'o, e o 'eio nupcia' o /mu'o de sua fe'icidade* K pora da 'o.a de um dos mais a(asados negocianes da !agagem apea"a-se um .o"em "ia.ane que, pe'o primor de seu ra.o e pe'a 'u%ida (agagem que
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ra%ia, mosra"a ser $omem de foruna* O om fami'iar e o a'egre a'"oro)o com que foi rece(ido indica"am ser e'e um anigo a nigo con$ecido do negociane* - O$> (ons o'$os o "e.am, meu caro sen$or 7'ias, exc'amou o negociane a(ra)ando-o com ranspore* 60o sa(e que pra%er me dá em orná-'o a "er* @eio mais (onio, mais sacudido, e pe'o que "e.o, fe% foruna 'á por onde andou:> - 60o perdi meu empo, 'ou"ado se.a 2eus>*** respondeu o mo)o* - 7nre, enre "en$a descansar depois con"ersaremos* #ande desarrear seus animais n0o consino que "á pousar em oura our a pare* - O(rigado aceio o seu o(s&quio* Tendo saído da !agagem, 'e"ando na a'gi(eira a mis&ria, e o desespero no cora)0o, depois de dois anos de ausncia, 7'ias "o'a"a com a careira rec$eada de (oas de%enas de conos de r&is, s respirando amor, esperan)a e fe'icidade* Com o cora)0o a'"oro)ado e a rans(ordar de a'egria, durane oda a sua 'onga "iagem n0o pensa"a em oura coisa sen0o no momeno fe'i% de ornar a "er a sua querida L/cia, e c$egara com a ca(e)a rec$eada dos mais (ri'$anes p'anos de "enura e de amor, p'anos que para e'e .á eram uma rea'idade, pois .á esa"a "encida a (arreira que os separa"a - a po(re%a* #eia $ora depois, endo .á 7'ias acomodado sua (agagem, e dado as necessárias pro"idencias para o arran.o de seus animais, o negociane con"idou-o para uma sa'a "i%in$a* - @en$a para cá omar a'gum refresco "en$a con"ersar um pouco, e conar-nos que a' & isso por 'á conam-se mara"i'$as* - Temos empo, meu amigo en$o muio que conar-'$e, mas isso será com mais "agar* @en$o de 'onge, e sou daqui porano .u'go que en$o direio de pergunar primeiro por noícias da min$a erra, que no"idades $á, se o com&rcio "ai (em, se aparece muio diamane, ec*, ec* - ?ua'> meu amigo iso por aqui "ai sempre na mesma pasmaceira, e n0o promee grande coisa* @ai-se apenas eneando o negcio* =á mais garimpeiros arruinados do que (agua)us por esses maos* 7se garimpo n0o anima & como uma 'oeria, em que s $á sores grandes, e essas muio poucas* Aparecem de empos a empos grandes diamanes mas n0o $á ser"i)o .orna'eiro gan$a um por cem que perdem*
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- 7u .á assim o pensa"a nunca i"e grande f& nese desco(ero* 60o aconece assim na 2iamanina, e nem ampouco no ;incorá* ?uem dá a'i um ser"i)o pode er a cere%a de que $á de irar ao menos para sa'"ar as despesas* - Pois aqui & o conrário quem garimpa em no"ena e no"e pro(a(i'idades de perder e uma de gan$ar* Os fa%endeiros pensaram que garimpar & o mesmo que p'anar mi'$o, quiseram co'$er o que n0o in$am p'anado, e quase odos "0o dando com suas forunas em "a%a-(arris* - 7nreano, disse 7'ias c$egando-se a uma .ane'a, noo que a po"oa)0o apesar disso n0o deixa de ir crescendo* 7sou "endo muias casas no"as, que n0o deixei quando daqui saí, e udo "ai a me'$or* - O 'ugar "ai em aumeno n0o $á d/"ida mas isso n0o pode ir 'onge* - A propsio* 2e quem & aque'a casin$a, que 'á esá no a'o daque'e 'an)ane: como esá (em siuada>*** da'i de"e-se go%ar a "isa de oda a po"oa)0o* -, O$> aque'a & de uma das principais "íimas da exp'ora)0o desas 'a"ras* 7 do #a.or QQQ n0o o con$ece:*** - #uio> #uio>*** mas que me di%: pois o #a.or QQQ am(&m se arruinou:> arr uinou:> A con"ersa)0o caía enfim casua'mene no pono a que queria 'e"á-'a 7'ias, que ardia por er no"as do #a.or e de sua fi'$a, os quais .á sa(ia que se ac$a"am na !agagem* Pode-se pois faci'mene imaginar com que a"ide% curiosa, com que ma' disfar)ada sofreguid0o dirigiu ao negociane a /'ima perguna* - Consa, respondeu ese com oda f'euma, que odos os seus (ens es0o empen$ados e que, se forem 'iquidar os seus negcios, n0o '$e ficará um rea', e a propsio, por fa'armos no #a.or, perguna"a o sen$or $á pouco por no"idades* Pois sai(a que a mais imporane que emos, e que agora anda por aí pe'a (oca de odos, & o casameno de sua fi'$a*** - 2e L/cia:*** aa'$ou "i"amene o mo)o* - Pois de quem mais $á de ser:*** en0o con$ece-a: 7'ias n0o respondeu senia como uma esp&cie de "erigem, que o aordoa"a, como se um raio i"esse esa'ado .uno de'e* Agarrou-se ao peiori' da .ane'a para n0o cair* Assim ese"e por a'guns insanes, depois dos quais coninuou force.ando de(a'de para dar 3 sua "o% o om da mais comp'ea indiferen)a* - Con$e)o-a muio & uma 'inda menina mas*** di%iam-me que era muio esqui"a admira-me que se reso'"esse a casar-se, e quem sa(e**
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- ?uem sa(e o qu: - ?uem sa(e se n0o "ai de muio (oa "onade:*** - 7 por que n0o: o noi"o & um guapo moce0o, de (onia figura e fino rao, e, o que mais &, muio rico* 7'a, como @mc* (em sa(e, & a mo)a mais 'inda deses arredores digo-'$e com "eras que nunca "i casameno mais (em a.usado* O #a.or esá um pouco arruinado, & "erdade mas o genro & riquíssimo, e, ao que di%em por aí, "ai escorar o sogro, o que n0o '$e cusará pouco* Com aque'e casameno a fe'icidade enrou-'$e pe'a casa denro* - 7nrou:>*** pois .á: exc'amou o mo)o com "isí"e' perur(a)0o* - Ou "ai enrar, & o mesmo, pois o negcio & decidido, e esá por poucos dias* + mais um par de ro'in$as amorosas, como di%ia um amigo meu meio meido a poea, que "eio fa%er seu nin$o aqui nas maas da !agagem* 7'ias n0o e"e 4nimo de di%er mais nem uma pa'a"ra o cora)0o '$e (aia desenconrado in$a as faces secas e a 'íngua se '$e pega"a ao c&u da (oca* Trmu'o e co(ero de $orrí"e' amare'id0o, ma' se podia suser agarrado ao peiori' da .ane'a* Poso que .á o so' i"esse enrado, e .á fosse escasseando a 'u% do dia, o negociane n0o deixou de perce(er a exrema perur(a)0o e o ransorno das fei)ões do rapa%*** - O que em, meu amigo:*** ainda agora parecia "ender sa/de, e agora o "e.o 0o pá'ido e desfigurado: esá sofrendo decero a'gum incImodo: - 6ada*** quase nada* ;0o acessos de inermienes, que apan$ei no io ;* rancisco, e que 3s "e%es ainda se repeem mas passam 'ogo* - A$>*** ningu&m 'á "ai que as n0o apan$e* 2eie-se nese canap&, enquano "ou '$e mandar ra%er um copo de "in$o quene com a)/car di%em que & (om* 2epois, se quiser, c$amarei m&dico*** - Aceio o "in$o mas n0o n0 o será preciso omar maior incImodo iso passa 'ogo* 'ogo * 7'ias aceiou o oferecimeno mais para se "er a ss com o seu desespero, do que por necessidade que i"esse de auxí'io a'gum* ;eu cora)0o, que a& a'i se enc$ia a rans(ordar de esperan)as e "enuras, seniu-se su(iamene aracado enre as garras da mais crue' decep)0o* #i' pro.eos desenconrados '$e umu'ua"am na ca(e)a* Ora queria ir imediaamene "er L/cia, expro(rar-'$e sua perfídia, e apun$a'ar-se 3 sua "isa* #as isso seria uma rise "ingan)a< n0o con"in$a deixá-'os "i"os e fe'i%es so(re a erra* 5ria procurar primeiro o fe'i% 51
seduor, es(ofeeá-'o, cuspir-'$e no roso e depois arrancar-'$e as enran$as, e com o mesmo pun$a', ainda fumegane do sangue do "i', imo'ar-se aos o'$os da p&rfida*** #as*** e'e era inocene a'"e% ignora"a que aque'a em(useira .á in$a pen$orado a ourem por um .urameno sagrado o seu amor e a sua m0o* A "íima de"ia ser e'a, somene e'a* #as como "ingar-se de'a:*** maá-'a:*** seme'$ane id&ia '$e repugna"a*** derramar o sangue de uma fraca mu'$er & a mais infame das co(ardias, o mais monsruoso dos aenados* 2espre%á-'a:*** mas o despre%o s & um casigo, quando recai so(re pessoa que nos ama, e L/cia> exc'ama"a o infe'i% esorcendo-se em 4nsias de desespero, L/cia n0o me ama L/cia nunca me amou sen0o, .amais se eria 0o faci'mene esquecido de mim para se enregar a ourem* 7 assim n0o $á rem&dio> nem o conso'o da "ingan)a me & dado> e a "íima de odos eses em(uses e perfídias serei eu, somene eu> 7'ias foi inerrompido em suas fe(ris maquina)ões por seu )*spede, que '$e ra%ia o "in$o quene, enquano uma escra"a '$e prepara"a a cama em uma a'co"a imediaa 3 sa'a* 2epois de rocarem a'gumas pa'a"ras (anais, o negociane .u'gou con"eniene deixá-'o s, "iso o seu incImodo de sa/de, e depois de -'o cuidadosamene deiado em seu 'eio despediu-se recomendando-'$e que se a(afasse (em* Apenas por&m o mo)o ac$ou-se s, arro.ou para 'onge de si co(eruras e 'en)is, sa'ou fora da cama, e come)ou a passear a passos precipiados ao comprido da sa'a* Assim passou grande pare da noie com a id&ia de sua desgra)a a de"orar-'$e o c&re(ro, e a fusigar-'$e o cora)0o* Por fim, 3 for)a de pensar, ou anes, 3 for)a de de'irar, come)ou a du"idar da rea'idade de seu infor/nio ac$ou que in$a sido demasiado 'e"iano em dar 0o depressa ineiro cr&dio 3s pa'a"ras do negociane, e ape'ou para o dia seguine* 7m(a'ado nessa d/"ida conso'adora, que o c&u como que '$e en"iara para dar a'gum repouso 3 sua imagina)0o res"airada, adormeceu quando os ga'os .á come)a"am a amiudar seus canos*
CAPÍTULO - ALÉM DE QUEDA, COICE O dia aman$ecera esp'ndido* Os "u'os das grandes ár"ores iso'adas, resos da f'oresa, que o mac$ado in$a poupado, de(uxa"am-se em um c&u puro e rico de fu'gores, e (a'ancea"am os opes "erde-negros, como "e'$os caciques sacudindo os cocares nas dan)as sagradas* 52
As (risas, que sopra"am frescas, ra%iam mi' perfumes de f'ores se'"áicas, e rumore.a"am pe'a encosa, mesc'ando seu sussurro ao maru'$o das cac$oeiras e 3 "o%eria a'egre dos garimpeiros, cu.os a'mocafres e a'a"ancas reiniam no casca'$o das grupiaras* Toda a po"oa)0o despera"a a'egre e c$eia de "ida, como gar)a que 3 (eira do 'ago se espane.a aos raios do so', sacudindo das (rancas asas as p&ro'as mauinas* ?uando 7'ias desperou, o so' .á (aia em c$eio por am(as as margens do ri(eir0o* A(riu a .ane'a, e deu com os o'$os naque'e magnífico e rison$o espeácu'o, que 0o crue' e pungene conrase forma"a com o esado reamargurado de seu cora)0o* O go'pe que rece(era na "&spera repercuia-se agora em sua a'ma, ainda mais rude e do'oroso* A'i ese"e por mais de uma $ora pensai"o, perp'exo e mergu'$ado no mais profundo a(aimeno* 60o aina"a com o que de"eria fa%er, e dese.aria a'i ficar para sempre mudo, im"e', perificado como uma esáua* Por fim reso'"eu-se a procurar na agia)0o do corpo a'guma di"ers0o aos pensamenos que '$e esca'da"am o c&re(ro* Pegou no c$ap&u, e saiu 3 oa e sem desino pe'as ruas da po"oa)0o* 7nconrou muios amigos e con$ecidos, que o cumprimena"am, e da (oca dos quais, sem que o pergunasse, ou"ia a confirma)0o da faa' noícia do casameno de L/cia* 7sse casameno anda"a de (oca em (oca, e era o aconecimeno que en0o mais preocupa"a a imagina)0o do p/('ico* 7'ias anda"a como que aordoado aque'e mo"imeno e (ur(urin$o da popu'a)0o como que '$e causa"a "erigens* Os cumprimenos e fe'icia)ões de seus amigos o perur(a"am, e pareciam-'$e um sarcasmo crue'* Assim "agou maquina'mene pe'as ruas* ?uando se reco'$eu a casa, era .á meio-dia* Logo ao c$egar 3 casa do negociane, "eio-'$e ao enconro o seu arrieiro a pedir-'$e din$eiro para pagameno do mi'$o e mais despesa da ropa* Tirou da careira uma noa de DV e apresenou-a ao caixeiro da casa, pedindo-'$e que a rocasse por mi/dos* O caixeiro, depois de examinar a noa por um insane, de"o'"eu-a a 7'ias* - Perd0o, meu amo, disse-'$e o caixeiro, n0o '$e posso ser"ir< esa noa & fa'sa* 7'ias enfiou* 60o podendo ficar mais pá'ido do que esa"a, ornou-se "erde* - a'sa> repeiu com uma "o% que '$e saía do cora)0o, e ma' passa"a pe'os 'á(ios* - a'sa, sim, sen$or se du"ida c$amemos o par0o* pa r0o* 60o foi preciso c$amá-'o e'e "in$a enrando enr ando nesse momeno pe'a 'o.a*
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- O$> (om dia, amigo como passou: Le"anou-se cedo> en0o, por onde andou: andou maando saudades: decero ainda n0o a'mo)ou: passou me'$or do seu incImodo de onem: O po(re mo)o naque'e momeno in$a a'"e% mais "onade de enforcar-se do que de responder 3que'a c$usma de pergunas com que seu $spede 3 queimaroupa o o(sequia"a* - 8á nada sofro esou (om, respondeu 7'ias em om (re"e* Apresenei esa noa a seu caixeiro para ma rocar, e disse-me ser fa'sa* @e.a* - a'síssima> exc'amou o negociane, depois de examinar a noa um momeno* ;0o noas fa'sas procedenes da !a$ia* =á muio empo o com&rcio esá a"isado, e o go"erno .á em expedido as mais erminanes ordens e omado medidas en&rgicas para desco(rir os moedeiros fa'sos, e consa que as pesquisas feias "0o o(endo resu'ado* - !em> "ou "er oura, inerrompeu (ruscamene 7'ias e irou da careira uma noa de RV* 7 esa: am(&m será fa'sa: - Ainda mais fa'sa do que a oura, se & possí"e', exc'amou o negociane, apenas o'$ou para a noa* A$> meu caro sen$or 7'ias, como & que foi deixar-se em(a)ar por essa maneira:*** - a'sa> fa'sa>*** de"eras:>*** murmura"a o mo)o com "o% rouca e a(afada* - + o que '$e digo, meu amigo ningu&m aqui na !agagem dará cinco r&is por qua'quer dessas noas* - 7m que mundo andei eu, pois, meu 2eus>> meu 2eus> esou perdido> perdido para sempre* 7, airando-se so(re um am(oree, que esa"a pero do mosrador, apera"a con"u'si"amene a ca(e)a enre as m0os* - Perdido por 0o pouca coisa: por uns 9V> o caso n0o & para ano, meu amigo* - Prou"era ao c&u fosse s isso>*** so'u)ou 7'ias com "o% apenas ine'igí"e'* - Como di%:*** en0o n0o & s isso:*** 7'ias .á n0o ou"ia mais esa"a aniqui'ado de(aixo da no"a e $orrí"e' caásrofe que aca(a"a de fu'miná-'o*
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Traído em seu amor, "ira na "&spera derrocado em um momeno o formoso case'o de suas esperan)as, consruído com ano en'e"o nos son$os de dois anos de inquiea)ões e ra(a'$os* ?uando ia co'ocar a pedra do remae na c/pu'a do edifício, ei-'o que de s/(io se desmorona a& os fundamenos* esa"a-'$e ainda a foruna, consisene em a'gumas de%enas de conos, que 3 for)a de "onade, ine'igncia e ai"idade adquirira no ;incorá* - 2e que me ser"e ese din$eiro: di%ia e'e na "&spera* K for)a de muio querer e muio ra(a'$ar eu o gan$ei por amor de L/cia e para L/cia* Agora, que L/cia me a(andona, eu o "eria queimar-se com a mesma impassi(i'idade com que "e.o arder ese cigarro* #as pensa"a o mance(o que de feio no ouro dia, a uma s pa'a"ra, oda aque'a rique%a ia es"aecer-se como o fumo> mas a$> no momeno da caásrofe, essa impassi(i'idade com que cona"a am(&m se es"aeceu em presen)a da crue' rea'idade* ?uase odo o din$eiro que ra%ia do ;incorá era fa'so consisia em noas do mesmo padr0o e "a'or daque'as que aca(a"a de apresenar* 7sa"a po(re como danes* O roc$edo, que aca(a"a de condu%ir a& o cimo da monan$a em dois 'ongos anos de fadigas e perse"eranes esfor)os, aca(a"a de ro'ar no fundo dos a(ismos* 7ra preciso er na a'ma uma ríp'ice coura)a de esoicismo para poder suporar impassí"e' aque'es dois rudes go'pes, desfec$ados um aps ouro pe'a m0o da faa'idade* 7'ias, poso que n0o fosse das a'mas mais fracas, seniu-se $umi'$ado, aca(run$ado e reca'cado nesse anro de desespera)0o, para sair do qua' s $á uma pora - o suicídio* 7'ias senia "i"a necessidade de desa(afar-se, de conar a a'gu&m seus infor/nios parecia-'$e que, se n0o o fi%esse, se '$e re(enaria o cora)0o* #as na !agagem n0o in$a um s amigo de confian)a a quem a(risse sua a'ma, a n0o ser o "e'$o ;im0o* 7sse, 7'ias n0o sa(ia por onde anda"a, e ningu&m '$e poderia dar noícias de'e* Tin$a, pois, de concenrar em si mesmo a empesade, que amea)a"a romper-'$e o cora)0o* Toda"ia n0o '$e era possí"e' dissimu'ar a seu $spede o $orrí"e' re"&s por que aca(a"a de passar, "endo em um insane redu%ida a fumo a foruna que 3 for)a de ano ra(a'$o e perse"eran)a in$a sa(ido adquirir, no espa)o de pouco mais de ano* 2epois de er reunido por a'gum empo o fe' de seu infor/nio, 7'ias c$amou de pare o negociane, e conou-'$e como depois de er enado foruna na !agagem sem resu'ado a'gum, e "endo-se quase redu%ido 3 mis&ria, parira para o ;incorá em compan$ia de um $omem descon$ecido, que o con"idara* C$egando a'i, esse $omem com oda a franque%a e generosidade o proegeu e
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auxi'iou, co'ocando-o 3 esa do ra(a'$o de suas 'a"ras, em cu.os rendimenos '$e da"a considerá"eis ineresses* #as infe'i%mene esse $omem, poucos meses depois, morreu de fe(re inermiene, deixando a 7'ias quase no mesmo esado em que saíra da !agagem* 2eu sepu'ura decene 3que'e (om e generoso proeor, a cu.as cin%as sempre seria recon$ecido, e c$orou so(re sua sepu'ura 'ágrimas sinceras de dor e de saudade* Com os pequenos recursos que adquiriu durane aque'es poucos meses, coninuou a garimpar em umas daas que '$e eram prprias* #as essas 'a"ras eram po(res, e ma' '$e da"am para se ir manendo* 8á de no"o a mis&ria o amea)a"a de pero, quando um dia um mo)o de maneiras afá"eis e de geni' e agradá"e' presen)a apareceu no ser"i)o em que e'e ra(a'$a"a* 7ra um rico negociane, que anda"a comprando diamanes na m0o dos garimpeiros, e que os paga"a a (om pre)o* pr e)o* Todos os dias coninuou a aparecer no ser"i)o, compra"a os diamanes que iam aparecendo sem reparar muio na qua'idade nem no peso de'es, e da"a mosras manifesas de que queria proeg-'o e dar-'$e a m0o* Por fim esse mo)o, esreiando cada "e% mais suas re'a)ões com e'e, e como recon$ecesse ne'e (asane ine'igncia e fino ao no con$ecimeno dos diamanes, o indu%iu a 'argar o garimpo e ser seu agene no negcio dos diamanes, dando-'$e a"u'ados ineresses* Gra)as a esse no"o e opu'eno proeor, que negocia"a em grande esca'a, e que odos os meses en"ia"a para a capia' da !a$ia paridas considerá"eis de diamanes, 7'ias, que o ser"ia com %e'o e ine'igncia, adquiriu em pouco empo um a"u'ado pec/'io* 6esse empo o pre)o do diamane e"e grande a'a nos mercados europeus, de modo que puderam rea'i%ar os mais "ana.osos negcios e 7'ias "ia o seu pequeno pec/'io dup'icar-se, rip'icar-se, de ms a ms, e em (re"e pIde fa%er a"u'adas ransa)ões por sua prpria cona* 7nfim, em menos de um ano, ac$ou-se possuidor de uma soma de R conos, o que, no ser0o, .á se pode c$amar uma foruna* #as o seu (om proeor, que era ao mesmo empo seu comissário oficioso para a "enda das pedras na !a$ia, era am(&m o seu (anqueiro e o deposiário de seus "a'ores* Tana generosidade o confundia, o enc$ia de graid0o e n0o '$e permiia du"idar um s insane da (oa-f& e pro(idade de a' $omem* #anifesando-'$e u'imamene o desígnio que formara de "o'ar ao seu país naa', noou, n0o sem esran$e%a, que nen$uma o(.e)0o '$e opIs, conenando-se apenas em manifesar o pesar que senia pe'a fa'a que '$e ia fa%er, di%ia e'e, um 0o (om e presimoso amigo* A 7'ias pouco impora"a que e'e apro"asse ou n0o o seu desígnio sua reso'u)0o era ina(a'á"e'* #as n0o podendo deixar sem pesar o generoso proeor a quem udo de"ia, espera"a enconrar am(&m da sua pare a'guma re'u4ncia em deixá-'o parir, e a'guma 'ua de senimenos* Agora infe'i%mene caiu o "&u ao mis&rio, e compreendia o moi"o infame daque'e procedimeno* Toda aque'a 'i(era'idade e generosa proe)0o que '$e dispensa"a, era o 'a)o execrando, que '$e esa"a armando* Tendo de reirar-se, o seu amigo e proeor conou-'$e odo o din$eiro seu, que in$a em seu poder, pero de R conos, udo em noas daque'e "a'or e padr0o, que seu $spede aca(a"a de "er> 7 assim aca(a"a e'e de ara"essar c$eio de conena meno e de esperan)a du%enas 56
'&guas de ser0o, cuidando ra%er na a'gi(eira a foruna e a fe'icidade, quando n0o ra%ia mais do que um ma)o de pape' su.o* - Agora, conc'uiu risemene o mo)o, "e.a 'á se & ou n0o para desesperar esa min$a siua)0o> - + rise na "erdade, mas n0o ainda para desesperar* O sen$or & ainda muio mo)o e com a ai"idade e ine'igncia de que dispõe, assim como em menos de dois anos adquiriu esses quarena ou cinqBena conos fa'sos, agora com mais con$ecimeno do mundo e o escarmeno dessa do'orosa experincia, pode am(&m adquiri-'os "erdadeiros* O fuuro & seu, amigo, e & "aso o campo das especu'a)ões* - O fuuro> o$> o fuuro & s de 2eus* Aman$0 s 2eus sa(e o que será feio de mim> 7sa exc'ama)0o sussurrou apenas pe'os 'á(ios do mo)o, que, por assim di%er, a so'u)ara denro do cora)0o* A$> decero pouco '$e imporaria a perda de mi'$ares de conos, que sem, se esses conos n0o fossem o pre)o da fe'icidade de seu cora)0o* #as agora, que a fe'icidade '$e fugia para sempre, a perda desse din$eiro, que como um son$o se escoara de suas m0os, n0o era mais do que um ponap& com que o desino aira"a desden$osamene no a(ismo a "íima sangrada no cora)0o* Assim, pois, seu amor, suas esperan)as, sua rique%a, sua fe'icidade, udo isso fora uma i'us0o, uma quimera* eais s foram seus ra(a'$os e fadigas, suas ang/sias e inquiea)ões rea' era a perfídia de L/cia rea' s era a sua po(re%a e a sua aua' desespera)0o* A id&ia do suicídio fixou-se no espírio do mance(o* 5ria apun$a'ar-se aos o'$os da p&rfida, deixando '$e por 'egado a sua ma'di)0o* A ma'di)0o de quem morre & errí"e', pensa"a e'e, e paira eernamene so(re a ca(e)a do ma'dio*
CAPÍTULO 1 - A AFRONTA 7sse dia, em que 7'ias se "ia ca'cado pe'a pesada m0o da faa'idade mais fundo da mis&ria e do infor/nio, era sá(ado de a'e'uia* + esse .usamene o dia de mais fesan)as e fo'ias nas po"oa)ões do inerior* K ardin$a as guiarras e "io'ões ressoa"am por oda a pare, as serenaas se ensaia"am, e uma a'egre ce'euma rumore.a"a por odos os canos da nascene po"oa)0o* 57
7m casa do #a.or nesse dia am(&m a reuni0o era mais numerosa e animada do que de ordinário, n0o s por ser o dia que era, como am(&m por se darem a'i como umas fesas esponsais, em que se iam de uma "e% para sempre confirmar as so'enes e recíprocas promessas do casameno de L/cia e Leone', que in$a de ser ce'e(rado no domingo seguine, c$amado de Pascoe'a* 6esse dia o #a.or dirigira con"ies expressos a grande pare das pessoas mais imporanes do 'ugar* Ao oque de a"e-maria .á a'i se ac$a"a reunida uma esco'$ida sociedade, e na pequena sa'a do #a.or reina"a enre 'u%es e $armonias a maior anima)0o e conenameno* Conenameno>: o$> sim e'e se espe'$a"a na fisionomia de odos exceo na da infe'i% L/cia, que force.a"a em "0o para dar a seu sem('ane "isos, se n0o de pra%er, ao menos de sossego e serenidade* 6o propsio de disfar)ar aos o'$os dos ouros, principa'mene aos de seu pai e de seu noi"o, a ang/sia que por denro a pungia, "esira-se com odo o esmero, e a& com cera garridice* Tra%ia "esido de a'"a e ransparene gar)a, so(reposo a uma saia cor-de-rosa, segundo o cosume encanador que esa"a em moda naque'e empo* O cino era uma 'arga fia a%u', cu.as compridas ponas (rinca"am so(re as rseas ondu'a)ões da saia que a en"o'"iam* Ao "-'a assim ra.ada poder-se-ia di%er com exaid0o quase 'iera' que era a aurora de um formoso dia surgindo enre nu"ens de a%u' e rosas* As mangas do "esido nimiamene curas deixa"am-'$e "er quase comp'eamene nus os (ra)os c$eios, mas mimosamene orneados* 6a ca(e)a ra%ia por /nico enfeie uma rosa naura'* Por&m no meio de oda aque'a faceira, mas singe'a casqui'$ice, ou fosse por um singu'ar acaso, ou de propsio, "ia-se-'$e no peio uma saudade roxa< era er a o sím(o'o de seu cora)0o* Com o mesmo fim de disfar)ar seus ínimos pesares, L/cia procura"a a(afá-'os no meio do ur(i'$0o, con"ersando, dan)ando e (rincando* 2o(rado marírio para aque'a no(re a'ma> 7nquano na casa do #a.or udo era a'egria e fo'guedo, 'u% e $armonia, so%in$o e merencrio, com os coo"e'os fincados so(re o parapeio da pone que comunica"a as duas pares da po"oa)0o, ac$a"a-se um "u'o, que com a ca(e)a enre as m0os o'$a"a fixamene para o ri(eir0o, que 'ogo a(aixo da pone se despen$a em rugidoras caadupas* 6os cac$ões re"o'os da orrene "ia a imagem das id&ias que '$e ur(i'$ona"am no c&re(ro, dos senimenos empesuosos que '$e empuxa"am desenconrada e do'orosamene o cora)0o* O amor, a rai"a, o ci/me, a "ergon$a, a sede de "ingan)a, ora '$e ra%iam aos 'á(ios um sorriso inferna' de desespero, ora espremiam-'$e dos o'$os 'ágrimas de fe' e de fogo* 2e quando em quando erguia a ca(e)a, o'$a"a para o a'o da encosa, onde se a"isa"a a 'inda casin$a do #a.or difundindo em (or(oões, 'u%es e $armonias, risadas e fesi"as "o%erias* Torna"a a cur"ar-se so(re o parapeio, rangendo os denes e arrancando os ca(e'os como um possesso depois com os o'$os ur"os namora"a a orrene, que engrossada pe'as c$u"as 58
dos dias precedenes ronca"a de(aixo de seus p&s* 6um acesso de desespero ia precipiar-se mas*** - Ainda n0o> murmurou com "o% ca"ernosa* + preciso "-'a ainda uma "e%, uma s e morrer* ?uero "er udo por meus prprios o'$os quero assisir 3s ex&quias de min$a fe'icidade, que 'á se es0o ce'e(rando com ana pompa e rego%i.o* 2epois*** me imo'arei so(re e'as* @amos> coragem> apresenemo-nos 'á pouca gene reparará na min$a presen)a*** a$> a'"e% nem e'a>*** que impora: "amos> 7 saiu da pone precipiadamene, encamin$ou-se 3 casa, onde foi compor me'$or o seu "esuário, e dirigiu-se reso'uamene pe'o camin$o da casa do #a.or* 60o esran$em os 'eiores a sem-cerimInia com que 7'ias, sem moi"o a'gum p'ausí"e', "ai apresenar-se em casa do #a.or em uma noie de fesim, sem a e'e er sido con"idado* 6as po"oa)ões do ser0o de #inas, anes que a ma'fadada po'íica de a'deia i"esse penerado por e'as, degenerando ou esragando a singe'e%a dos cosumes primii"os, as famí'ias, pe'a cordia' inimidade que enre e'as reina"a, eram como grupos di"ersos de uma s famí'ia* As poras das sa'as de recep)0o nunca esa"am fec$adas* 6unca se sou(e o que & um criado, ou o cord0o de uma campain$a para anunciar uma "isia, e muio menos um poreiro* 6os dias de rego%i.o e fesa principa'mene, as poras e .ane'as esa"am francas para os passanes que quisessem "er ou omar pare no rego%i.o, sem que ningu&m '$es em(argasse o passo, porque odos eram amigos e con$ecidos ínimos* Os 'eiores podem fa%er id&ia das emo)ões que agia"am o espírio de 7'ias ao aproximar-se daque'a casa, e porano me dispensar0o da difíci', sen0o impossí"e', arefa de descre"-'as* 6o momeno em que 7'ias c$egou, um $omem cana"a, acompan$ando-se ao "io'0o* 7'ias esremeceu ao ou"ir aque'a "o% parecia-'$e .á a er ou"ido em a'guma pare* 2emorou-se um pouco no corredor a& que aca(asse o cano* A pora, que do corredor da"a enrada para a sa'a, esa"a a(era de par em par* Pora e corredor esa"am au'$ados de gene de oda a c'asse, que escua"a o canor* Apenas ese se ca'ou enre pa'mas e (ra"os, e o po"o come)ou a mo"er-se e agiar-se, apro"eiando-se do re(u'i)o gera', 7'ias, para n0o ser noado, en"o'"eu-se na ur(a e foi-se encamin$ando para a sa'a* Ao c$egar por&m ao 'imiar da pora, esacou de s/(io, como se um re'4mpago dando-'$e nos o'$os '$e i"esse ofuscado a "isa* O que "ira e'e:*** 6o fundo da sa'a, (em defrone da pora, "iu senada L/cia com os o'$os (aixos e as fei)ões um pouco a(aidas, mas des'um(rane de (e'e%a* O pudor e a como)0o in$am-'$e acendido nas faces des(oadas pe'o sofrimeno uma
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'igeira cor, como a 'e"e som(ra de rosa, que '$e ondea"a na a'"a gar)a do "esido* Ao seu 'ado e meio "o'ado para e'a, en"o'"endo-a de o'$ares ardenes e apaixonados, esa"a o fe'i% ro"ador, susendo ainda nas m0os seu a'a/de* Apenas 7'ias fiou-o por um momeno, recon$eceu no noi"o de L/cia, quem:*** o seu execrá"e' proeor da !a$ia, o moedeiro fa'so, o rou(ador de sua foruna> O 'adr0o de sua fe'icidade era o mesmo 'adr0o de sua (o'sa> 2epois de '$e furar o din$eiro no ;incorá, correra 3 !agagem para rou(ar-'$e o cora)0o de sua amane>*** ;im, era e'e e'e mesmo, que a'i esa"a rico 3 cusa de sua mis&ria, fe'i% 3 cusa de seu infor/nio* O primeiro impu'so do cora)0o do mo)o foi c$egar-se a Leone', arrancá-'o pe'o (ra)o de .uno da sua noi"a, puxá-'o para o meio da casa, e di%endo-'$e< 'adr0o, quero marcar-e na cara> imprimir-'$e nas faces uma (ofeada* #as e"e prudncia (asane ainda para sopear aque'e primeiro mo"imeno* 2es"iou os o'$os dos dois noi"os e procurou pe'a sa'a o #a.or* 2esco(riu-o 'ogo (em pero da pora senado .uno a uma mesa, e dirigiu-se a e'e* - #a.or, dá 'icen)a:*** - Pode c$egar quem &:*** - 60o me con$ece mais, sen$or #a.or:*** disse o mo)o a"i%in$ando-se* - A$> o sen$or 7'ias>*** por aqui>*** $á (em empo que n0o o "e.o, e nem en$o noícias suas* 7n0o, por onde andou: quando c$egou: cone-nos isso* - C$eguei onem, e n0o pude resisir ao dese.o de "ir "-'o e cumprimená-'o, apesar de que a $ora e a ocasi0o n0o se.am prprias*** pe)o-'$e descu'pa*** - O(rigado* e% muio (em esa casa esá sempre a(era para os amigos, em oda e qua'quer ocasi0o* - #uio '$e agrade)o ana (ondade, e por esar cero de'a & que me are"i a procurá-'o mesmo em a' ocasi0o* 7'ias fa%ia um esfor)o supremo para dominar e disfar)ar a empesade que '$e ia denro dJa'ma* Por seu 'ado o #a.or am(&m esa"a 'onge de senir no cora)0o o pra%er que procura"a aparenar, com o aparecimeno de 7'ias naque'a ocasi0o* !em con$ecia a m/ua afei)0o que, $á 'ongo empo, exisia enre sua fi'$a e o .o"em u(era(ense, e que era e'a a causa da rise%a e do a(aimeno em que L/cia $á ano empo "i"ia, e da repugn4ncia que sempre mosrara em aceiar um marido* Agora, por&m, que essa repugn4ncia esa"a "encida, segundo e'e pensa"a, e que o empo e um no"o afeo iam produ%indo 60
o dese.ado efeio, o aparecimeno inesperado daque'e rapa% n0o podia produ%ir em seu espírio agradá"e' impress0o, e n0o deixa"a de recear que a sua presen)a pudesse perur(ar o comp'emeno de seus pro.eos* 7se receio su(iu de pono ao noar os o'$ares des"airados e o aceno esran$o da "o% do mance(o, que de(a'de procura"a dar a odo o seu ser um ar da mais fria indiferen)a* - 6esa ocasi0o principa'mene, meu amigo, prosseguiu o #a.or coninuando a con"ersa, sino especia' pra%er em er mais uma esemun$a, e da qua'idade do sen$or, da fe'icidade de min$a fi'$a, pois en$o a saisfa)0o de paricipar-'$e que muio (re"emene "ai-se casar com o sen$or Leone', aque'e (e'o e disino ca"a'$eiro que 'á se ac$a .uno de'a* - 8á disso i"e noícia, e dou-'$e os meus sinceros para(&ns* - + um exce'ene mo)o* 60o $á quem o "e.a, que desde a primeira "isa n0o fique gosando de'e* ?uero er a $onra de desde .á o apresenar a e'e* O simp'es do #a.or pensa"a que com esa forma' dec'ara)0o da"a 'ogo in limine go'pe de more a oda e qua'quer esperan)a que ainda por"enura 7'ias a'imenasse a respeio de sua fi'$a* 60o in$a id&ia da "eemncia das paixões en&rgicas e profundas que, em "e% de cederem, mais se inf'amam diane dos o(sácu'os que se '$es opõem* - Com muio goso> "amos, sen$or #a.or* Tam(&m dese.o fe'iciar a noi"a, disse 7'ias com um om de amarga ironia que n0o escapou ao #a.or* 7se ra"ou-'$e do (ra)o, e o foi condu%indo para .uno dos noi"os* - ;en$or Leone', disse e'e ao c$egar defrone dos noi"os, en$o a saisfa)0o de '$e apresenar ese meu parício e amigo, que aca(a de c$egar de fora, o sen$or 7'ias* Leone' esremeceu, e o'$ou rapidamene para 7'ias* 2epois, reporando-se, fe% um (re"e aceno com a ca(e)a, e o cumprimenou friamene* 7sa recep)0o fe% fer"er o sangue a 7'ias, que, reso'"ido a desmascarar aque'e em(useiro, dirigiu-'$e reso'uamene a pa'a"ra< - O$> sen$or Leone'>*** .á n0o me con$ece:*** en$o infinio pra%er em orná-'o a "er* - Pois qu> exc'amou o #a.or, en0o .á se con$eciam:***
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Leone' 'e"anou-se pá'ido, e com "isí"e' perur(a)0o 'argou, ou, anes, deixou cair so(re a cadeira o "io'0o que in$a nas m0os, e (asanemene enfiado (a'(uciou< - O sen$or &*** quem:*** n0o me 'em(ro de odo* - Pois de"eras n0o se 'em(ra de mim, coninuou 7'ias em "o% a'a @e.a 'á*** o'$e (em para min$a cara* - 60o de odo n0o me 'em(ro en$o má memria, e 'ido com gene, rep'icou Leone' reco(rando aos poucos sua seguridade $a(iua'* - Pois n0o se 'em(ra de 7'ias, o seu amigo, o seu proegido do ;incorá: - 7'ias>*** resmungou o (aiano como que force.ando por 'em(rar-se, n0o sei*** a'"e% com um esfor)o de memria*** no ;incorá>*** con$eci e proegi 'á ana gene* Aque'a fauidade e arrog4ncia, aque'e desden$oso esquecimeno, fosse rea' ou fingido, fe% perder de odo a pacincia a 7'ias, que (radou com oda a for)a de seus pu'mões< - 2iga anes, sen$or Leone', enganei e rou(ei 'á ana gene> - 5nso'ene> griou Leone' sen$or #a.or, ese $omem ou & um doido, ou esá ((ado se o n0o fi%er desaparecer imediaamene daqui, reiro-me de sua casa para nunca mais "o'ar*** - Ca'a-e, 'adr0o, (radou 7'ias e, agarrando com m0o de ferro o (ra)o de Leone', anes que ningu&m pudesse esor"á-'o, em dois arrancos o arrasou para o meio da sa'a exc'amando< +s um 'adr0o, e $ei de marcar-e na cara>*** 5mediaamene se ou"iu o esa'o de uma (ofeada nas faces do (aiano* Um pun$a' re'u%iu na m0o dese mas .á am(os esa"am cercados e separados por uma ur(a imensa* - ?ue desaforo, sen$or #a.or> exc'ama"a um iso n0o se o'era> como admie em sua casa um doido deses> - Prendam> prendam esse (i're, (rada"a ouro* ;e n0o & a'gum ma'"ado, & a'gum doido, ou a'gum ((ado* - 7se rapa% nouro empo mosra"a er .uí%o, di%ia um erceiro, que con$ecia 7'ias* 60o sei como agora se '$e "irou o mio'o por esa maneira>*** mande aferro'$á-'o imediaamene & um $omem perigoso*
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O #a.or da"a aos dia(os o momeno em que se 'em(rara de apresenar a Leone' aque'e endia(rado rapa%, e, enendendo que o despeio e o ci/me '$e in$am ransornado o .uí%o, raou de dar pro"idncias pr o"idncias para segurá-'o (em* 7'ias rodeado e segurado por uma mu'id0o de es(irros oficiosos, que '$e dirigiam improp&rios e (a'dões, foi da'i arrasado para a casa da pris0o, enquano Leone', cercado por seus amigos, (randia em "0o o pun$a', "omiando amea)as, e (aforando "ingan)as* L/cia rmu'a e aInia assisira 3que'a escanda'osa cena sem de'a nada compreender* eirou-se como que assom(rada para seu quaro mas, naque'e incidene, em que odos "iam um dep'orá"e' e $orrí"e' desacao, e'a enre"ia como que um 'ampe.o de esperan)a* 7'a, e s e'a acrediara nas pa'a"ras de 7'ias, e o .u'ga"a c$eio de ra%0o* Leone' reirou-se para sua casa, respirando "ingan)a, mas aerrado denro dJa'ma com o aparecimeno faa' daque'e mo)o*
CAPÍTULO 11 - DE MAL A PIOR 7 'ias in$a gaso cerca de quaro meses em sua "iagem do ;incorá 3 !agagem* ?uando disse a seu $spede que apan$ara fe(res inermienes na margem do ;* rancisco, n0o in$a menido, se (em que naque'a ocasi0o nada senisse que de'as procedesse* 7ssas se%ões que apan$ou em camin$o foram que, com grande desespero seu, demoraram-'$e a "o'a por mais de dois meses* 2urane esse pení"e' ra.eo foi que o p/('ico e o go"erno (rasi'eiro deram f& da grande quanidade de noas fa'sas que in$am sido inrodu%idas na circu'a)0o, e que se come)aram a dar as mais en&rgicas pro"idncias para desco(rir e capurar os fa(ricanes e inroduores da moeda fa'sa* 7sa noícia, por&m, ainda n0o in$a penerado pe'os serões que 7'ias in$a de ara"essar do ;incorá a !agagem por isso ao c$egar a esa po"oa)0o pIde er con$ecimeno da a(ominá"e' fraude de que fora "íima* Leone' era um dos agenes mais auda%es e ai"os dessa sociedade de moedeiros fa'sos, cu.o cenro exisia na !a$ia e que se ramifica"a pe'o imp&rio ineiro* Por ai .á se pode a"a'iar de que mpera era a conscincia daque'e $omem, e de que per"ersidades n0o seria capa%* Tin$a por&m o dom de ocu'ar sua per"ersidade de(aixo das mais (ri'$anes e seduoras exerioridades, e a odos i'udia e fascina"a*
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2epois de er passado cenenas de conos de noas fa'sas no ;incorá e em ouros ponos de sua pro"íncia, assenou de percorrer ouros ponos do imp&rio, prosseguindo em suas criminosas especu'a)ões* Girando assim consanemene, mais faci'mene poderia escapar 3s in"esiga)ões da po'ícia, e no caso que e'a '$e quisesse deiar a garra, por-se-ia a sa'"o ara"essando o A'4nico* 6a !agagem, por&m, o are"ido ca"a'$eiro de ind/sria ac$ou nos o'$os de L/cia um engodo irresisí"e', que o dee"e nessa 'oca'idade por mais empo do que dese.a"a* Logo que a "iu, omou-se de uma paix0o cega pe'a mo)a, n0o inspirada por um caso e sincero amor, mas fi'$a desse dese.o maeria' e 'i(idinoso das a'mas 'i(erinas, e .urou possuí-'a cusasse o que cusasse* Para 'ogo con$eceu a impossi(i'idade de sedu%ir e 'an)ar no camin$o da desonra aque'a a'ma 0o no(re, aque'e cora)0o 0o caso* #as o casameno, para Leone', era um meio 0o simp'es como ouro qua'quer de ra%er-'$e aos (ra)os a mu'$er que co(i)asse* A(andoná-'a depois, onde e quando quisesse, era para e'e am(&m negcio de (em pouca pondera)0o* 7nregue 3 descuidosa cegueira que resu'a da prosperidade e da opu'ncia, nem pensa"a na possi(i'idade de enconrar naque'as paragens a'guma das "íimas de suas fraudes, e quase que .á nem se 'em(ra"a de 7'ias, e, ou ignora"a ou .á n0o se recorda"a de que país era e'e* 7sa"a a'&m disso persuadido que nos serões as 'eis e a .usi)a s0o impoenes conra quem quer que en$a na careira a'gumas cenenas de conos de r&is* O escanda'oso incidene, que in$a ido 'ugar em casa do #a.or, fi%era "i"a impress0o no espírio da popu'a)0o, que em peso esigmai%a"a o ao "io'eno de 7'ias* O #a.or, c$eio de indigna)0o e de suso ao mesmo empo, era o mais empen$ado em exigir a puni)0o de a' aenado, a despeio da oposi)0o de Leone', que c'ama"a em a'as "o%es que dispensa"a a "india das 'eis, e que a'i ou em qua'quer pare sa(eria desforrar-se ca(a' e caegoricamene* 7'ias, que na !agagem poucas re'a)ões in$a, passou aos o'$os de odos por um 'ouco, um desmio'ado* O $orrí"e' 'ogro de noas fa'sas, de que fora "íima no ;incorá, .á in$a sido di"u'gado, mas nem assim o p/('ico quis se con"encer que Leone' pudesse er a mínima pare naque'e aconecimeno, a' era a sa4nica $a(i'idade dese para em(air a odos e capar a gera' esima e confian)a* 7sse fao, 'onge de escusar a 7'ias, ser"iu para exp'icar e confirmar a con"ic)0o em que muios esa"am, de que o rapa% endoidecera* Ainda oura circuns4ncia conri(uiu para dar mais "u'o a essa con"ic)0o* O #a.or i"era a ingenuidade de re"e'ar em presen)a de muias pessoas a paix0o de 7'ias por sua fi'$a* - !em con$e)o o moi"o de udo iso, disse e'e, ese po(re rapa% $á muio empo gosa"a de L/cia, e parece que in$a a 'ouca preens0o de casar-se com
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e'a* A paix0o e o dese.o ransornaram-'$e a ca(e)a, coiado> en$o pena de'e mas n0o de"o o'erar que fique impune seme'$ane desacao* Assim o infe'i% 7'ias, para c/mu'o dos ma'es, era o(.eo da compaix0o desden$osa de uns, dos moe.os de ouros, e do dio de a'guns* ;omene o negociane, em cu.a casa se $ospedara, e a quem in$a conado sua rise a"enura, in$a moi"os para n0o acompan$ar a opini0o do "u'go mas, $omem de espírio f'eumáico, n0o querendo ir de enconro ao parecer de ningu&m, guarda"a para si sua con"ic)0o, esperando que o empo "iesse des'indar aque'e negcio, o que .u'ga"a que n0o poderia ardar muio* - Tanos conraempos "iraram-'$e a (o'a, di%ia um* - 7ra um rapa% pacífico e prudene, a.una"a ouro, n0o sei que dia(o '$e enrou na ca(e)a para fa%er aque'a esrada> - Coiado*** o(ser"a"a ouro, de um dia para ouro "iu-se rou(ado em udo que possuía, e arai)oado em seu amor*** o caso & mesmo para en'ouquecer* Assim, enquano Leone' campea"a inso'ene e orgu'$oso, proegido pe'a esima e simpaia gera', 7'ias .a%ia em uma pris0o, como um po(re ma'uco, que apenas merece um pouco de compaix0o* 2o seio de sua pris0o 7'ias formu'ou uma den/ncia conra Leone'* #as 7'ias era um maníaco as auoridades despre%aram a den/ncia, em(ora esi"esse conce(ida nos ermos mais sensaos e procedenes* Leone', para remo"er oda e qua'quer suspeia que a'gu&m pudesse nurir a seu respeio, quis que se desse rigorosa (usca em udo quano era seu, em odos os "a'ores que ra%ia consigo, e nada se enconrou que o pudesse compromeer* Toda"ia, como (em se pode .u'gar, Leone' esa"a 'onge de "i"er ranqBi'o depois daque'e desacao, e espera"a com a maior impacincia e inquiea)0o o domingo seguine para efeuar o seu casameno, e depois - com a noi"a ou sem e'a - e"aporar-se* Teria desaparecido inconineni, se esse passo n0o "iesse desperar conra e'e as mais (em fundadas suspeias, n0o fosse um errí"e' indício, uma confiss0o ácia de seu crime* @ia-se en'eado em um 'a(irino, cu.a saída se '$e ia ornando exremamene difíci'* #as como 7'ias nen$uma oura pro"a in$a conra e'e mais do que a sua pa'a"ra, e a'&m disso esa"a por poucos dias a "er-se 'i"re do compromisso que ainda o dein$a na !agagem, ainda n0o .u'ga"a 0o críica a sua siua)0o que de"esse omar 'ogo o parido exremo da fuga* Para maner-se na repua)0o que sou(era conquisar, de 'ea' e $onrado ca"a'$eiro, for)oso era 'e"ar a ca(o o odioso drama em que se en"o'"era* Uma "e% casado, ou a preexo de ir 65
arrecadar seus (ens, ou em "irude de uma cara que rece(esse de seu pai ou de sua m0e, que esa"a 3 more, c$amando-o .uno de si, se reiraria poucos dias depois muio $onesamene, e sem desperar suspeias eria empo de pIr-se a sa'"o* Para me'$or disfar)ar sua perfídia e mais arras dar de generosidade e ca"a'$eirismo, como o crime de 7'ias era paricu'ar, e por e'e n0o poderia ser acusado sem $a"er pare queixosa, Leone' desisiu da acusa)0o .udiciária, mas proesando sempre que apenas o "isse so'o, ou $a"ia de morrer 3s suas m0os, ou $a"ia de 'a"ar em seu sangue a afrona de que fora "íima* #as seus amigos i"eram o cuidado de dissuadi-'o, fa%endo-'$e "er que nen$um desdouro sofria em sua $onra em conseqBncia do desaino de um 'ouco remaado que e'e seria 0o 'ouco como o seu ofensor se fosse arriscar a sua exisncia nas garras de uma fera inraá"e', por moi"os de pundonor que se "inga"a do coice de um (urro, ou da cornada de um ouro (ra"io* Leone', que n0o prima"a pe'a coragem, e que sa(ia quano o seu ad"ersário era "igoroso e desro no mane.o de oda a esp&cie de armas, mosrou ceder com dificu'dade a eses conse'$os, reser"ando-se oda"ia ineriormene o direio de omar a'guma co(arde e rai)oeira "ingan)a, se por"enura i"esse ocasi0o* A rique%a, principa'mene quando & acompan$ada de um "erni% de coresia, generosidade e ca"a'$eirismo, & sempre core.ada e adu'ada* Leone' in$a pois uma numerosa roda de adu'adores, que s para n0o incorrerem em seu desagrado deixaram de cumprir um de"er de $umanidade para com o po(re mo)o, que .a%ia na pris0o so%in$o, a(andonado, sem ser "isiado por quase ningu&m* 7'ias passou essas amargas $oras, umas "e%es sepu'ado em profundo a(aimeno, numa 'eargia da a'ma e do corpo, ouras em acesso de rai"a e exaspera)0o, es(ra"e.ando, "ociferando, e dando com a ca(e)a pe'as paredes* 7ses ranspores de furor ainda mais confirmaram a cren)a em que esa"am, de er e'e caído em a'iena)0o mena' em ra%0o dos $orrí"eis conraempos que o in$am fu'minado naque'es /'imos dias* O infe'i% (em "ia e con$ecia os moi"os do a(andono em que o deixa"am seus conerr4neos por amor de um asuo a"enureiro que os sou(era engodar e os 'amena"a do fundo da a'ma mas n0o podia ref'eir, sem esremecer e enc$er-se de furor, na sore que espera"a a po(re L/cia, nas garras daque'e (andido sem f&, sem cosumes, sem conscincia e o que mais desespera"a ainda era o pensar que e'a a'i esa"a (em pero, e'a> que era a causa de odos os seus sofrimenos, ou"indo a'"e% ranqBi'a os seus (ramidos de dor, e repuando-o, como os demais, um 'ouco digno apenas de comisera)0o*
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7sas e infindas ouras considera)ões do'orosas da"am-'$e fe(re e de'írio senia arder-'$e o cr4nio e o cora)0o /mido de ang/sias como que '$e n0o ca(ia no peio* A id&ia do suicídio, que $á dois dias anes '$e apresenara como o /nico meio de 'i"rar-se daque'a siua)0o inferna', .á n0o '$e sorria* O dese.o de "er-se "ingado o prendia 3 "ida, e essa "ingan)a e'e a enre"ia pendene so(re a ca(e)a dos cu'pados, amea)adora e errí"e'* 7ra esa esperan)a que o a'ena"a e o fa%ia suporar com a'guma resigna)0o as inc'emncias da sore e as in.usi)as dos $omens*
CAPÍTULO 1D - MOEDEIRO FALSO L/cia, a(a'ada "io'enamene em odo o seu organismo pe'o inesperado aparecimeno de 7'ias e pe'a rise cena a que dera 'ugar na noie de sá(ado, caiu em uma prosra)0o fe(ri' e profunda, que nos primeiros dias c$egou a causar s&rios cuidados a respeio de sua exisncia* Aque'a a'ma fore, aque'a fe'i% e "igorosa organi%a)0o enfim sucum(iu 3 'ua aro% que $á ano empo ra%ia ra"ada com os senimenos do cora)0o* Ks "e%es de'ira"a, e en0o o nome de 7'ias '$e "aga"a sempre pe'os 'á(ios no meio do rope' de suas id&ias confusas e incoerenes* ; en0o seu pai recon$eceu que o amor de sua fi'$a n0o era uma simp'es "e'eidade de crian)a, um capric$o da imagina)0o, mas uma dessas paixões "eemenes e profundas, que com os o(sácu'os mais se exa'am, e que nunca mais se desa'i.am do cora)0o onde uma "e% enraram* #as era arde o ma' .á esa"a feio, e era irremediá"e'* Leone', como era seu de"er, foi "isiar sua fuura esposa com "i"as mosras da maior ang/sia e conserna)0o, mas di%endo denro de si< - O$> se e'a sucum(iu .á, que reden)0o para mim> Como noi"o foi sem escr/pu'o inrodu%ido no quaro da enferma em ocasi0o em que esa parecia esar mais ranqBi'a* L/cia em um esado de marasmo ma' se perce(eu da "isia que era apresenada, e respondeu 3 sua sauda)0o e a suas pergunas com a' indiferen)a, que (em mosra"a n0o sa(er e'a com quem esa"a fa'ando* Por fim Leone' para desperar sua aen)0o omou-'$e uma das m0os enre as suas, e de(ru)ando-se so(re o roso da enferma que se ac$a"a rec'inada so(re o ra"esseiro, dirigiu'$e em om afeuoso esas pa'a"ras< - 2* L/cia, o'$e-me n0o me con$ece:*** sou eu e u & o Leone'*** & o seu esposo*** - #eu esposo> meu esposo>*** quem &: & 7'ias: 7'ia s: 7 'e"anando um pouco o roso e a(rindo os o'$os, que a& a'i conser"ara quase fec$ados no orpor da fe(re, fiou-os em Leone'***
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- A$> griou e'a espa"orida, e recuando para o cano da cama* 60o> n0o & 7'ias> n0o & meu esposo> & o 'adr0o*** 'á esá a marca na cara>*** fu.a, sen$or> fu.a daqui>*** Leone' pá'ido e $orrori%ado 'e"anou-se (ruscamene, e saiu do quaro sem di%er pa'a"ra* Para qua'quer ouro $omem, que amasse "erdadeiramene, aque'a re"e'a)0o do de'írio - como o son$o da esposa do conde dJ7se - eria sido um raio fu'minador* #as naque'a ocasi0o Leone', dissipado o primeiro assom(ro e error que '$e causaram as pa'a"ras de'iranes de L/cia, "iu ne'as uma aurora de esperan)a, um sina' de reden)0o* 2epois do desacao que sofrera em casa do #a.or, in$a-se mi' "e%es arrependido do compromisso que omara pedindo em casameno sua fi'$a, compromisso que agora o en"o'"ia nas mais s&rias dificu'dades e poso que fosse grande o dese.o de Possuí-'a uma noie sequer, conudo maior era a necessidade que in$a de se pIr a sa'"o, e"iando a'gum fuuro incidene que o "iesse perder comp'eamene, e n0o sa(ia que meio excogiasse para conseguir esse fim sem compromeimeno seu* ?uando pediu a m0o de L/cia, n0o '$e ocorrera que corria en0o a quaresma e que for)oso '$e seria espa)ar por ano empo o seu casameno* ;e de a' se 'em(rasse, a'"e% n0o se arriscasse a ano* O aparecimeno de 7'ias e a cena da noie de sá(ado c$ama"am as aen)ões so(re e'e* As fo'$as da core come)a"am a fa'ar muio no aparecimeno de noas fa'sas, e nos esfor)os e di'igncias que o go"erno emprega"a por odo o imp&rio para desco(rir e prender os moedeiros fa'sos* 7sa"a-se na er)a-feira, e a& domingo prximo 2eus sa(e o que poderia aconecer* Porano, por mais 'ison.eiro que fosse o conceio de que ainda go%a"a na !agagem, por mais confian)a que ne'e deposiassem, a posi)0o do .o"em (aiano era das mais criicas e arriscadas* 8á pe'as ruas '$e in$am consado os anigos amores de L/cia e 7'ias, e poso que esse rumor "ago n0o fosse ainda um moi"o (asane s'ido para deerminar um rompimeno, oda"ia Leone' esa"a disposo a pre"a'ecer-se de'e, e agarrar-se a essa /nica á(ua de sa'"a)0o que a sore '$e deparara* Pode-se pois ca'cu'ar com que ínima e "i"a saisfa)0o saiu da casa do #a.or, poso que 'e"asse no roso a máscara da rise%a, depois que a re"e'a)0o de L/cia, poso que resu'ado do de'írio, "eio romper de um s go'pe odas as ma'$as da rede errí"e' em que 0o imprudenemene se in$a en'eado* A "isia de Leone' foi feia pe'a man$0 o pai de L/cia n0o esa"a em casa* 6essa mesma arde Leone' "o'aria para reirar sua pa'a"ra, desfa%er o conrao, e despedir-se, e nessa mesma noie desapareceria da !agagem a' foi o pro.eo, que imediaamene formu'ou em seu espírio*
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7'ias, ao sair da pris0o raou imediaamene de a(andonar aque'a erra, onde in$a "iso que(rarem-se um por um odos os e'os da cadeia dourada de seus son$os, erra de ma'di)0o, como di%ia e'e, coio de fariseus "is e desa'mados, que s rendem cu'o ao ouro e ao diamane, e que seriam capa%es de enregar a& o prprio Criso, se enre e'es aparecesse, 3 san$a de seus a'go%es por um pun$ado de ouro* 2espediu os camaradas que ainda '$e resa"am, "endeu animais e (agagens que '$e eram desnecessários, e, sem nada di%er, nem despedir-se de ningu&m, monou a ca"a'o so%in$o e su(iu pe'o camin$o que "ai para o Parocínio* 7ssa esrada passa"a pe'a frene da casa de L/cia a a'gumas (ra)as de dis4ncia* Ao a"isá-'a, 7'ias seniu um $orrí"e' apero de cora)0o* #as um irresisí"e' arai"o como que o dein$a a'i reardou o passo do anima', e perscruou com as "isas odos os 'ados da casa a "er se a"isa"a L/cia, ou a'gu&m da casa n0o "iu ningu&m* Ap'icou o ou"ido 3 escua de a'guma "o%, de a'gum rumor, que da'i parisse mas reina"a na casa o maior si'ncio e quiea)0o, como se ne'a ningu&m morasse* Ainda mais se '$e anu"iou o cora)0o cora)0 o de me'anco'ia* - Adeus, L/cia> adeus> murmurou o mo)o 'an)ando um rise e derradeiro o'$ar so(re a casa do #a.or* Perdoa o esou"ameno que comei n0o serei eu mais que irei perur(ar eu sossego e ua fe'icidade* #as a$> queira 2eus que em (re"e n0o experimenes o rigor do casigo do c&u* Adeus> 7 esporeando o ca"a'o desapareceu na maa pe'as "o'as do camin$o* 6a arde desse mesmo dia Leone', monado em um 'indo ginee, su(ia o camin$o da encosa que o condu%ia 3 casa de L/cia* 5a desfa%er o conrao de casameno, e despedir-se, e ia a'i"o e reso'uo, porque de feio o moi"o que in$a para assim proceder era o mais 'egíimo e no(re mas a' moi"o n0o (asaria para demo"er de seus per"ersos desígnios aque'a a'ma o(cecada e $a(iuada ao crime, se n0o fora o risco que corria sua pessoa demorando-se por mais empo na !agagem* ;ua inen)0o era desaparecer nessa mesma noie, para o que .á dera as necessárias pro"idncias* Para arredar de si qua'quer suspeia, deixaria uma cara para ser apresenada a odos os seus amigos, na qua' '$es faria "er que reira"a-se por que n0o '$e era possí"e', nem '$e fica"a airoso por modo nen$um demorar-se, nem mais um insane, em uma erra onde aca(a"a de ser "íima do mais escanda'oso desacao e do mais profundo dissa(or por que pode passar o cora)0o do $omem* Le"a"a conudo a mais graa 'em(ran)a daque'e país e de seus $a(ianes, e proesa"a seu recon$ecimeno a odos que o $onraram com sua ami%ade*
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7xu'ando com o aconecimeno que '$e da"a 0o p'ausí"e' moi"o de pIr-se a sa'"o sem desperar suspeias, o .o"em (aiano c$egou 3 pora da casa do #a.or* 6o momeno de apear-se ac$a"a-se (em .uno 3 pora um $omem de groesca figura, po(re e andra.osamene "esido, mas ca')ado e com uma gra"aa esfarrapada ao pesco)o, e da aparncia a mais (enigna e su(missa que se pode imaginar* 7se $omem, depois de irar respeiosamene o amarroado c$ap&u de p'o, fa%er uma profunda re"erncia e pegar no esri(o para apear-se, desdo(rou e apresenou a Leone' um pape' sem '$o enregar* - A$> .á sei> exc'amou com impacincia o mance(o, sem ao menos o'$ar para o pape'* + a'guma su(scri)0o*** & um c$u"eiro de'as odos os dias* 7m oura ocasi0o, meu amigo*** apare)a em min$a casa* - Perdoe-me @* ;*H n0o & isso de que se raa en$a a (ondade de 'er o pape'* Leone' omou o pape', passou por e'e um 'igeiro 'ance de "isa, empa'ideceu, e num insane desarmou-se-'$e odo aque'e ar de seguran)a e imponncia que o re"esia* 2epois, com ar espanadi)o o'$ou para odos os 'ados como quem queria correr* O $omem 'an)ou-'$e a m0o ao pun$o, e disse-'$e com so'enidade< - @* ;*H esá preso 3 ordem do sen$or de'egado de po'ícia* - 5nf4mia>*** eu>*** eu mesmo>: & impossí"e' $á engano da sua Pare, meu caro* 2i%endo iso, Leone' ia enrar para a casa do #a.or* O $omem o dee"e* - Perd0o @* ;*H $á de acompan$ar-me* - @ou s dar um recado, e "o'o nese insane* - 60o, sen$or en$o ordens aperadas* O mo)o mordeu os (ei)os de rai"a* rai"a * - Pois (em> disse, "amos 'á> onde quer me 'e"ar: 7 ia monar a ca"a'o* - Perd0o, meu sen$or en$a pacincia* @* ;*H $á de ir a p&* 7u "ou puxando seu ca"a'o*
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- !i're> (radou o mo)o enco'eri%ado e 'e"anando o c$icoe, o ca"a'o & meu en$o de ir 3 casa, e n0o quero ir a p&* 7 .á ia pondo o p& no esri(o* O meirin$o apiou, e s/(io dois so'dados, surgindo por derás de uma cerca "i%in$a, acudiram pronamene, e co'ocaramse aos 'ados de Leone'* 7se a(aixou os o'$os rmu'o e con"u'so de rai"a e de "ergon$a, e disse aos guardas em om rápido< - @amos>*** "amos depressa> quero sa(er que maroeira & esa* O que e'e queria por&m era e"iar a "ergon$a e $umi'$a)0o de ser "iso naque'as circuns4ncias pe'o #a.or e L/cia* L/cia esa"a doene em seu quaro mas o #a.or e a'gumas ouras pessoas da casa .á in$am acudido 3 .ane'a* - O que & iso, sen$or Leone'>: o que & que esou "endo> exc'amou o #a.or* Camaradas, que quer di%er iso: aqui $á decero a'gum engano* ?ue fe% ese $omem: - 7'e me'$or o sa(e do que ns, sen$or #a.or, disse um dos so'dados pergune a e'e* - 60o se inquiee, #a.or, disse Leone'* 7sou preso, & "erdade mas $á sem d/"ida a'gum equi"oco* 7u "ou .á des'indar udo iso, e (re"e esou de "o'a* 7 foi saindo a passos rápidos no meio dos dois guardas, e acompan$ado pe'o meirin$o* 6esse momeno "in$a descendo pe'a esrada que passa"a pe'a frene da casa a uns cem passos de dis4ncia, um ca"a'eiro odo em(u)ado em seu ponc$e e com o roso quase ineiramene enco(ero por seu 'argo c$ap&u desa(ado* Ao presenciar aque'a cena, parou, deixando que primeiro passassem a esco'a e o preso* ?uando iam passando por diane de'e, ergueu o c$ap&u e desco(rindo o roso, c'amou com aceno de "o% sa4nico< - Ainda (em, que a "ingan)a do c&u "eio mais cedo do que eu espera"a> A esa "o% Leone', que marc$a"a rapidamene e com os o'$os cra"ados no c$0o, 'e"anou so(ressa'ado a ca(e)a, esremeceu, cam(a'eou, e eria caído, se n0o se i"esse escorado ao (ra)o de um dos guardas* Tin$a recon$ecido 7'ias* 7'ias, que na man$0 daque'e mesmo dia in$a parido com o firme propsio de nunca mais "o'ar a !agagem, ao sair da maa e a"isar as "asas e formosas campinas que se esendiam diane de seus o'$os, seniu co(rir-'$e o cora)0o uma nu"em da mais som(ria rise%a, e a cuso se arranca"a daque'es síios 71
onde deixa"a para sempre sepu'adas suas esperan)as e sua fe'icidade* As r&deas (am(a'ea"am frouxas ao pesco)o do anima', que marc$a"a como '$e apra%ia, enquano o ca"a'eiro se esquecia no a(ismo de seus me'anc'icos pensamenos* A cada espig0o que ranspun$a, cada (urii%a' que "ia arás de si pe'os imensos c$apadões, senia-se-'$e desfa'ecer a a'ma, a fraquear a reso'u)0o* ;eu imenso amor, a'"e% am(&m uma r&sia de 'u% de esperan)a, que ainda '$e (ruxu'ea"a no fundo dJa'ma, ou mesmo a'gum ocu'o pressenimeno o arrasa"a para .uno de L/cia* 7nfim, ano ref'eiu, ca'cu'ou, de"aneou, que, depois de er cismado muio e andado (em pouco, esaria apenas a rs '&guas de dis4ncia, quando .á o so' descam(a"a, orceu (ruscamene as r&deas ao ca"a'o, e "o'ou a ga'ope* - @amos> exc'amou quero ir "er com meus prprios o'$os a consuma)0o de min$a desgra)a* ;im> quero "er, assisir a udo e se.a para e'a a min$a presen)a como imagem "i"a do remorso, e como pre'/dio da "ingan)a que n0o ardará a cair do c&u* ?uis o acaso que 7'ias c$egasse exaamene a pono de assisir ao ao da pris0o de Leone'* 2epois desa cena a que .á assisimos, 7'ias enerrou oura "e% o c$ap&u so(re os o'$os, esporeou o ca"a'o e seguiu seu desino, murmurando consigo< - A$> L/cia> L/cia> u me raíse, mas nem assim meu cora)0o pode odiar-e, e agora sino-me fe'i% por e "er 'i"re das garras daque'e ma'"ado, do que por me "er 0o ca(a' e so'enemene "ingado>
CAPÍTULO 1 - OS VIZINHOS 2epois da rise ocorrncia da noie de sá(ado, L/cia (em quisera mandar a 7'ias um (i'$ee, um simp'es recado mesmo, n0o para reaar re'a)ões cu'pá"eis com seu anigo amane seu $oneso cora)0o repe'ia seme'$ane id&ia, mas para exp'icar seu procedimeno, pedir-'$e perd0o, e di%er-'$e um derradeiro e eerno adeus* #as como: sempre rodeada de pessoas que a cerca"am de cuidados 3s "e%es imporunos, n0o '$e era possí"e' saisfa%er esse dese.o* ;eu pai mesmo, receando que de no"o se rea"i"asse um senimeno que .á supun$a quase exino, poso que i"esse oda a confian)a na $onesidade de sua fi'$a, conudo, 3 "isa do esado de exa'a)0o em que caíra sua imagina)0o enferma, .u'gou necessário o(ser"á-'a com odo o cuidado e "igi'4ncia* 7sa coninua o(sess0o ainda mais '$e irria"a o espírio, e aumena"a os marírios do cora)0o* ;er odiada, despre%ada a'"e% por 7'ias sem deparar um
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meio de .usificar-se para com e'e e pedir-'$e perd0o, era a mais pungene das oruras que a aormena"am* ?ueria s poder '$e di%er< - 7'ias, ens ra%0o de me odiar, de me ama'di)oar mesmo mas acredia-me, eu n0o sou cu'pada um dia sa(erás udo, e esou cera que me perdoarás* 7u e amo ainda, e e amarei sempre mas o c&u n0o quer que se.amos um do ouro* Cur"o-me 3 impiedade de meu desino, esperando que a more em (re"e "irá pIr ermo a meus marírios* Adeus>*** ;eriam esas as /'imas pa'a"ras, que '$e dirigiria, e depois se de"oaria ineira ao sacrifício que '$e era imposo* #as nem isso, nem esse exremo conso'o '$e era dado, e ainda mais pení"e' se orna"a sua siua)0o, quando se 'em(ra"a que naque'a faa' noie 7'ias apenas '$e re'anceara um o'$ar sinisro e expro(rador* 6o dia em que fora preso Leone', L/cia incu'cando-se resa(e'ecida, 'e"anouse da cama, em que $á dois dias .a%ia mas ac$a"a-se ainda muio a'que(rada para poder sair do quaro* Logo depois da cena da pris0o, o #a.or dirigiu-se ao quaro de sua fi'$a* - #in$a fi'$a, disse e'e, re"ese-e de pacincia e de coragem en$o mais um rise conraempo a anunciar-e* - ?ua' &, meu pai:*** fa'e> fa'e>*** - 60o e af'i.as, querida L/cia* O go'pe & (em sensí"e', mas creio que mais para mim, do que para i* O negcio $á de ser sa(ido imediaamene, e anes que ouro e cone, quero que o sai(as de min$a prpria (oca* - 7n0o o que &, meu pai:*** pode fa'ar sem suso* 7u .á esou acosumada a ou"ir más no"as* - Aca(o de assisir a uma cena (em rise* Leone', o eu noi"o, aca(a de ser preso aqui 3 pora de nossa casa>*** - ;im, meu pai:>*** exc'amou L/cia, 'e"anando-se com um (ri'$o esran$o nos o'$os, que o pai omou por um no"o acesso de de'írio, e que n0o era mais do que um 'ampe.o de uma a'egria que quase se parecia com a 'oucura* - ;im: coninuou e'a* O ;r* Leone' preso: e por qu, meu pai: - 60o sei ainda mas sem d/"ida pe'o crime de moeda fa'sa, de que o acusa"a o po(re 7'ias*** 7 ningu&m acredia"a>*** meu 2eus>*** como s0o as coisas dese mundo>***
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- 7 que sina a min$a, meu pai> a$> n0o $á nada cero nem seguro nese mundo> - TranqBi'i%a-e, min$a fi'$a e dá gra)as ao c&u que nos "eio 'i"rar a'"e% das garras de um em(useiro, de um monsro* oi para ns uma fe'icidade - oi mesmo, meu pai foi uma fe'icidade muio grande* Aque'e $omem, n0o sei por qu, fa%ia-me medo* Uma anipaia in"encí"e' me arreda"a de'e*** A$>*** foi como se me irassem um peso de cima do cora)0o> - 7 como e resigna"as a casar-e com e'e:*** - 7ra um sacrifício, meu pai* - ;acrifício> - ;im, meu pai, um sacrifício, mas um sacrifício necessário para sua fe'icidade e de min$a irm0 um sacrifício imposo pe'o de"er* 8á n0o se 'em(ra de assim mo er dec'arado: - Lem(ro-me, L/cia mas se sou(esse que in$as ana repugn4ncia*** - #uia> muia repugn4ncia> - ;e eu o sou(esse, anes queria sofrer oda a sore de mis&rias, do que ornar para sempre desgra)ada a min$a fi'$a*** - + "erdade> eu seria muio, muio desgra)ada* - 7 por que e n0o a(rias comigo com oda a franque%a: - A "isa do que meu pai me fa'ou, era meu de"er ca'ar-me e su(meer-me* - W (oa e querida fi'$a*** e como eu cora)0o adi"in$a"a> e eu, cego e crue' pai que eu era> e ia arrasando sem piedade para 0o duro sacrifício>*** perdoa-me, min$a L/cia* Louco e des"enurado pai que sou>*** - #eu pai, esque)amo-nos de udo isso agora s de"emos nos a'egrar e dar gra)as ao c&u que 0o a empo nos "eio 'i"rar das m0os daque'e $omem que s queria a nossa perdi)0o* - Tens ra%0o, min$a fi'$a demos gra)as ao c&u* Adeus "ai descansar* Ainda n0o esás (oa, e ens necessidade de repousar* Adeus* Apenas o #a.or saiu, L/cia foi 'an)ar-se de .oe'$os aos p&s de um crucifixo, que in$a pendurado 3 ca(eceira do care, e com odo o fer"or de seu cora)0o murmurou esa ora)0o de gra)as< 74
MW meu (om pai do c&u, eu "os rendo infinias gra)as pe'o imenso (eneficio que aca(ais de fa%er-me, 'i"rando-me das ci'adas de um ma'feior, que me queria arro.ar no a(ismo da perdi)0o e da desgra)a* 7u (em sei que n0o merecia 0o assina'ado fa"or, mas "s sois (om, e i"eses piedade de mim* #as 'em(rai-"os am(&m do infe'i% 7'ias>*** O po(re 7'ias>*** em direio de me querer ma'*** s me fa'a o seu perd0o* A$> 7'ias> quando sou(eres de udo, u me perdoaras***M #a' ia L/cia aca(ando aque'a prece, que do rono do Onipoene ia sensi"e'mene se des"iando para a pessoa de seu amane, quando enrou 8oana no quaro* - 7sa"a re%ando, sin$a%in$a: fa% (em o re%ar a'i"ia muio o cora)0o da gene, quando esá af'io* - 7sa"a, sim, 8oana o que me queres: - Aqui esá, disse a escra"a apresenando-'$e um (i'$ee* Pe'o so(rescrio L/cia 'ogo con$eceu que era de 7'ias* O cora)0o pu'ou-'$e de a'egria ainda uma "e% "o'ou a 2eus seu pensameno agradecido* ;em demora a(riu e 'eu o (i'$ee* #as 'ogo 3 primeira 'in$a sua frone se anu"iou, e o (ri'$o de seus o'$os se empanou de 'ágrimas* O (i'$ee di%ia assim< MAdeus, L/cia> adeus para sempre> fose (asanemene 'e"iana para me despre%ares por um a"enureiro descon$ecido, s porque em a'gum din$eiro e uma (e'a aparncia* Pra%a ao c&u que (em cedo n0o e arrependas, e que n0o "en$a a ser e'e mesmo o a'go% que me "ingará de ua ingraid0o> @ou para (em 'onge procurar esquecer-me de i n0o sei se o conseguirei* ?uando esa rece(eres, .á esarei mui 'onge daqui* Adeus> esquece-e am(&m de mim*M L/cia .á espera"a que naque'a cara n0o poderiam "ir sen0o queixas e expro(ra)ões* 7'ias ignora"a as circuns4ncias faais que a in$am for)ado a dar o - sim - a Leone' in$a pois so(e.a ra%0o para acusá-'a e queixar-se amargamene* #as aque'a parida repenina, aque'a amarga despedida para odo o sempre, '$e di'acera"am o cora)0o* A$> nunca mais "-'o, nunca mais poder-se .usificar para com e'e, e'a, inocene "íima, que ia imo'ar-se em um sacrifício, que a m0o de 2eus aca(a"a de afasar de cima de sua ca(e)a, ser condenada a "i"er odiada e despre%ada pe'o ene a quem mais ama"a no mundo> 7se pensameno coninuamene a aormena"a, e n0o podia perdoar a 7'ias a precipiada sofreguid0o com que a condena"a, e se anima"a a a(andoná-'a para sempre, sem er-'$e ou"ido uma pa'a"ra, agora que o desino parecia querer a(rir-'$e de no"o o camin$o da esperan)a*
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- O$> exc'ama"a e'a c$orando, & preciso er (em pouco amor para proceder assim* 7u n0o o condenaria 0o de 'e"e* #as decero que e'e n0o me ama como eu o amo* 7nreano ainda uma "aga esperan)a a a'ena"a* 7'ias a'"e% c$egasse a er con$ecimeno, se & que .á n0o in$a, do sucesso que rouxe ou $a"ia de ra%er ine"ia"e'mene o rompimeno de seu conrao de casameno com Leone'* ;e '$e in$a "erdadeiro amor, $a"ia por cero de arrepender-se da precipiada reso'u)0o que omara de nunca mais "-'a, e "o'aria* ;e n0o fosse o amor, a curiosidade mesmo o faria "o'ar, e, quem sa(e: am(&m dese.o a "ingan)a para er o pra%er de "-'a $umi'$ada em ra%0o do rise desfec$o da pro.eada uni0o* osse por&m qua' fosse o moi"o que o rouxesse, e'a s suspira"a por "-'o na !agagem n0o fa'aria ocasi0o de re"e'ar-'$e udo o que ocorrera, e o seu perd0o era cero* Como .á "imos, L/cia n0o se enganara< a reso'u)0o desesperada de 7'ias apenas in$a durado a'gumas $oras* #as anes que L/cia o sou(esse, e"e de passar ainda muios dias de crue' incere%a e inquiea)0o* 7'ias, em conseqBncia dos profundos pesares e "io'enas como)ões de espírio por que $a"ia passado durane aque'es dias, sofreu um no"o e gra"e aaque de fe(re inermiene que in$a apan$ado em sua "o'a do ;incorá, aaque que o prosrou na cama por muios dias* 60o querendo incomodar nen$um dos $a(ianes da !agagem, conra os quais esa"a possuído do mais "i"o e .uso ressenimeno, reco'$era-se a um osco e po(re ranc$in$o, separado cerca de um quaro de '&gua do rio acima do grosso da po"oa)0o, onde era raado por uma po(re parda "e'$a, sua con$ecida de U(era(a, que como anos ouros in$a mudado para a !agagem os seus penaes* 7'ias con$ecia e ra%ia consigo os medicamenos necessários para com(aer sua mo'&sia, e porano, dispensou o m&dico que a (oa "e'$a em "0o insa"a que se c$amasse* Gra)as a esse curai"o e aos cuidados da caridosa enfermeira, no fim de oio dias ac$a"a-se ineiramene fora de perigo* 2urane essa for)ada rec'us0o, as dores físicas o incomoda"am menos do que as inquiea)ões do espírio e as amarguras do cora)0o* L/cia n0o '$e saía do pensameno* 6os son$os de'irosos da fe(re e'a '$e aparecia, ora rison$a e fe'i% ao 'ado de um esposo, amá"e' e (ri'$ane ca"a'$eiro e en0o '$e escapa"am (ramidos roucos de rai"a e desespero, que pareciam despeda)ar-'$e o peio* Ora a "ia po(re e en"o'a nos andra.os da mis&ria, mas pura, sana e sempre fie' 3 'em(ran)a de seu amor e en0o 'ágrimas doridas '$e re(ena"am dos o'$os c$ora"a e so'u)a"a como uma crian)a* ;a(ia que com a pris0o de Leone' ac$a"a-se desfeio o casameno de
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L/cia, que o #a.or esa"a arruinado, e que a mis&ria em (re"e pra%o o espera"a a e'e e a oda a famí'ia* 7sa considera)0o o enc$ia de amargura en0o mais que nunca ma'di%ia o infame em(useiro que o i'udira, prague.a"a a sore e ('asfema"a conra o c&u* 6a sua po(re ca(ana ningu&m o "in$a "er, porque ningu&m o supun$a a'i, crendo odos, em ra%0o do seu desaparecimeno, que in$a saído da !agagem* Um dia disse-'$e a "e'$a caseira< - #eu mo)o, @mc* esá aqui 0o s, n0o em com quem con"ersar iso n0o esá (om n0o quer que eu c$ame a'gum de seus amigos para enreer o empo: - Amigos>*** o$> min$a "e'$a pe'o amor de 2eus> n0o me fa'e nos amigos da !agagem, quisera anes "er o roso do ;aanás* - Pois como:*** n0o $á por ai nem uma "i"a a'ma com quem n0o en$a omado caipora:> - 6en$uma, min$a "e'$a, nen$uma>*** mas n0o*** mino*** $a"ia um "e'$o e po(re camarada* 7m "0o en$o pergunado por e'e*** ningu&m me dá noícias nem sei se & "i"o ou moro* - 7 & s esse: - Ainda $á mais oura pessoa e essa eu daria a min$a "ida para "-'a, ainda que fosse um insane mas essa, ai de mim>*** essa n0o pode "ir aqui* - @á "endo, que & a'guma mo)a (onia* - + "erdade>*** muio (onia (onia como n0o $á nem pode $a"er nen$uma* - #as, meu mo)o, @mc* esá muio doene para pensar agora em mo)as (onias* Pense anes na @irgem ;aníssima, que & quem '$e $á de "a'er* - 7nreano se essa de quem fa'o, me aparecesse agora, aqui, esou cero que no mesmo insane eu sararia* - 7n0o & mágica: - + mais do que isso & um an.o* - An.o>*** nesse caso n0o me canso em ir procurá-'a, porque & coisa que n0o exise mais nese mundo*
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- 60o e canses mesmo, min$a "e'$a u n0o a enconrarás nem e'a "irá cá* 7'a & do c&u n0o pode descer a ese inferno em que esou penando*
CAPÍTULO 1N - A LAVADEIRA 6o dia seguine (em cedo a (oa "e'$a "eio pressurosa acordar 7'ias* - Le"ane-se, meu mo)o o dia aman$eceu (onio, e en$o uma (e'a noícia para '$e dar* - !oa noícia para mim>*** n0o & possí"e'> para mim>*** nese mundo .á n0o pode $a"er noícia nem (oa nem má* A /nica (oa noícia que me poderiam dar era que .á morri* - ?ua'> quem fa'a agora em morrer>*** dou-'$e pare que emos agora aqui pero uma (e'a "i%in$an)a< .á @mc* n0o ficará 0o so%in$o* - @i%in$an)a> o$> que (e'a no"a> omara que me deixem so%in$o, e que eu nunca '$es "e.a a cara* ;en0o me mudarei ainda para mais 'onge* - ;o%in$o se "e.a o dia(o>*** o'$e que uma "i%in$an)a como esa n0o & para despre%ar* + um "e'$o, uma menina muio 'inda, e uma mo)a (onia como um so'* 60o os con$e)o, nem me 'em(ro de er "iso essa gene em pare nen$uma* - #as n0o me recordo de er "iso casa nen$uma aqui por pero, e pensei que esa"a 'i"re de oda a "i%in$an)a* - Pois n0o "iu uma casin$a coisa de uns cem passos a'i mais adiane: - 2e odo n0o me 'em(ro am(&m eu esa"a 0o doene*** - Tam(&m a casa & 0o pequena, & como esa mais ou menos, e esá escondida no mao, que ma' se a"isa* a" isa* - 7n0o s0o 0o po(res como ns:*** - Assim parece, ou a'"e% mais ainda, coiados mas parece ser (oa gene* ?uando fui apan$ar água fresca numa fone que $á para a casa, pediram-me para enc$er o poe, e esi"e con"ersando um pouco com e'es* O $omem esa"a para denro mas a menina & muio dada e muio meiga%in$a a mo)a & am(&m muio (oa e (onia, meu mo)o, (onia a& a'i*** mas n0o sei que em,
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que anda 0o rise>*** comparando ma', parece uma imagem de 6ossa ;en$ora das 2ores* - Pois de odo n0o sa(es quem & essa gene: de onde &: de onde "eio: pergunou com sIfrega curiosidade 7'ias, a quem um s/(io pensameno in$a ara"essado o espírio* - 6ada sei de odo* - Um "e'$o, uma mo)a e uma menina, n0o & o que dissese: - Ta' e qua'* - Um "e'$o a'o e c$eio de corpo*** - 5sso mesmo* - A menina & morena e erá de% ou on%e anos* A mo)a & c'ara, (em-feia, o'$os grandes, ca(e'os casan$os*** - 8usamene>*** pe'o que "e.o, s0o seus con$ecidos:*** - Parece-me que sim* - Um "e'$o, uma mo)a, uma menina> ref'eiu consigo 7'ias, e com eses sinais> n0o podem ser ouros* O #a.or esa"a em "&speras de comp'ea ruína>*** infe'i% famí'ia>*** - 7 n0o i"ese ocasi0o, coninuou 7'ias, de ou"ir o nome de a'guma das pessoas da famí'ia* - Ac$o que sim*** espere*** A$> agora me 'em(ro*** ou"i o "e'$o c$amar 'á de denro a mo)a pe'o nome de*** de*** L/cia* - L/cia>*** que nome di"ino aca(as de pronunciar, min$a (oa "e'$a> s0o e'es mesmos> & e'a>*** a$> des"enurada L/cia> e mais des"enurado de mim, que n0o posso "a'er-e>*** - 7sou "endo que essa mo)a & o an.o de que @mc* $á pouco fa'a"a:*** fa'a" a:*** - +, min$a "e'$a, & e'a mesma* 7 dirás ainda que os an.os n0o andam cá pe'a erra:*** 7'ias n0o e"e mais sossego, e 'e"anou-se imediaamene* ; a id&ia de que a'i 0o pero de'e ac$a"a-se L/cia, da"a-'$e "igor e a'ma no"a* 7ra impeuoso, irresisí"e' o dese.o de "-'a mas ao mesmo empo a 'em(ran)a da po(re%a, 79
em que ia enconrá-'a, o conrisa"a e enc$ia-'$e de amargura o cora)0o* @ieram-'$e ao espírio odos os rises ranses de sua "ida passada, e ref'eiu amargamene so(re os cru&is e esran$os capric$os da sore* 7'e, que ourora fora quase que despedido da casa do #a.or, e considerado indigno de pIr os o'$os em sua fi'$a, e'e que $á poucos dias fora raado desa(rida e (rua'mene em casa do mesmo #a.or por amor de um infame a"enureiro, e'e o "ia esse mesmo #a.or, a seu 'ado, ano ou mais miserá"e' do que e'e prprio* ;e i"esse a'ma ma'dosa e "ingai"a, oferecia '$e en0o uma (e'a ocasi0o de espe%in$á-'o $umi'$ando-o com a sua "isia a sua presen)a por si s seria um sarcasmo "i"o que de"ia enc$er de confus0o e "ergon$a aque'e $omem ourora 0o fáuo e am(icioso* #as 7'ias nada in$a de "ingai"o e rancoroso* ;ua a'ma no(re era incapa% de desrespeiar o infor/nio de quem quer que fosse, quano mais do pai daque'a a quem ano a no adora"a* 7nreano crescia-'$e o dese.o cada "e% mais impaciene de "er L/cia* Passado o a(a'o e a como)0o "io'ena dos primeiros dias, e enfraquecido o corpo pe'a enfermidade, aca'mou-se a irria)0o do espírio do infe'i% mance(o, come)ou a ref'eir com mais frie%a, e uma "o% inerior como que o ad"eria de que L/cia era inocene, e o ama"a ainda como sempre, e que a'gum moi"o muio poderoso a for)ara a condescender com a "onade de seu pai* Poso que ainda (asane fraco, 7'ias parecia 'eso e disposo como em seus dias de perfeia sa/de uma for)a inerior o reanima"a como por encano* ;eu primeiro cuidado foi ir "er, ainda que a cera dis4ncia, a casin$a em que "iera $a(iar a famí'ia do infe'i% #a.or* 7ra uma osca c$oupana, a /'ima que se "ia 3 or'a do camin$o que seguia rio acima para o com&rcio de #undim* #as essa c$oupana aos o'$os de 7'ias in$a mais encanos que um pa'ácio< era o emp'o que encerra"a uma di"indade* ;enado so(re a re'"a que se esendia pe'a encosa acima em frene de sua casin$a, ese"e por 'argo empo conemp'ando-a e examinando-a minuciosamene mas n0o "iu ningu&m* Apenas a fuma)a que saía pe'o e'$ado, e a'gum rumor confuso de "o%es aesa"am que a c$oupana era $a(iada* 2epois de esar a'i mais de uma $ora a conemp'ar a casa, e em(e(ido em mi' pensamenos, ora rison$os e esperan)osos, ora amargos e som(rios, a pora se a(riu, o #a.or saiu, e imediaamene a pora se fec$ou* 7n"o'"ido num 'argo so(reudo, c$ap&u de p'o de 'e(re, carregado so(re os o'$os, a ca(e)a descaída so(re o peio, arrimando-se a uma grossa (enga'a, 'á ia o #a.or a camin$o da po"oa)0o* Ao "-'o, 7'ias e"e o mais profundo d e seniu aperar-'$e o cora)0o* Como esa"a a cera dis4ncia do camin$o, o #a.or passou sem "-'o*
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- Onde irá aque'e infe'i% pai:, pensa"a 7'ias que irá fa%er: 5rá a'"e% en"idar os /'imos esfor)os para ac$ar a'gum meio de maner com decncia sua pequena famí'ia, 0o digna de me'$or sore> irá a'"e% "ender a'guma .ia que ainda resa a suas fi'$as, para dar-'$es um peda)o de p0o>*** 7 a que poras "ais (aer, infe'i% #a.or>*** de uns monsros sem conscincia e sem enran$as, que fo'gam com a desdia a'$eia, como fo'ga o uru(u ao "er expirar o anima' em que "ai cra"ar o imundo (ico famino de carni)a* 7sses mesmos, que ainda onem rego%i.a"am-se em ua casa, e (e(endo 3 ua cusa, $o.e apenas se dignar0o esemun$ar-e um pouco de compaix0o* Cega-os a gana do din$eiro piores que os 'o(os, s0o capa%es de de"orarem-se uns aos ouros por um pun$ado de ouro* #a.or> #a.or> e'es "os arrancar0o a& a camisa do corpo, e omai (em cuidado so(re "ossas fi'$as> e'es s0o capa%es de rou(ar-e esse /nico esouro de eu cora)0o, esse /'imo conso'o de eu infor/nio>*** A "o% da "e'$a enfermeira o "eio desperar daque'as som(rias ref'exões* - O'á, sen$or 7'ias>*** o que esá aia (an%ar:*** fu.a desse so', que esá ficando muio quene "en$a omar seu ca'do* 7n0o: pergunou e'a depois que 7'ias se aproximou en0o, "iu os no"os "i%in$os: - @i somene o "e'$o< & muio meu con$ecido* - a'ou com e'e: - 60o e'e saiu de casa, e passou por mim sem "er-me coiado> "ai 0o ca(is(aixo> ainda onem era rico $o.e, min$a "e'$a, a'"e% '$e possamos dar esmo'as> - ore pena>*** mas 2eus & grande $á de compadecer-se de'es* 7u en$o mais d & das po(res meninas, coiadin$as> 0o mimosas, 0o (oniin$as> $á de cusar-'$es (asane acosumarem-se com a po(re%a* - Ta'"e% n0o foram criadas na ro)a, e es0o acosumadas com o ra(a'$o* O pai n0o in$a ouro defeio sen0o o de ser muio fanfarr0o e odo enfauado de rique%a e fida'guia* 6o mais era um $omem de (em, e sou(e dar exce'ene educa)0o a suas fi'$as* #as nem por isso s0o menos dignas de 'ásima* - 7 por que n0o "ai fa%er-'$e uma "isia, e oferecer-'$e o nosso pr&simo: coiados>*** 60o digo $o.e, mas aman$0 ou depois, quando me'$orar*** me'$orar *** - 7sse & o meu dese.o mas*** - #as o qu:*** $á de ir s0o nossos "i%in$os, e a'"e% '$es possamos presar na'guma coisa*
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7'ias (em ardia em dese.os de ir "er L/cia* #as, ofendido $á 0o pouco empo pe'o #a.or em seu amor-prprio, senia cera repugn4ncia em ir "isiá-'o, e demais recea"a que e'e pensasse que sua "isia naque'a ocasi0o in$a por fim $umi'$á-'o e morificá-'o* @isiar L/cia na ausncia do pai, am(&m sua naura' de'icade%a n0o permiia, principa'mene naque'a condi)0o em que e'a se ac$a"a era de"er dup'amene sagrado para e'e respeiar-'$e o recao e a repua)0o* 7'ias passou essa man$0 a excogiar um meio de "er L/cia sem enconrar-se com o #a.or mas seu c&re(ro a(rasado e de(i'iado pe'a mo'&sia n0o '$e sugeriu nen$um* A arde o acesso fe(ri' o prosrou na cama, e for)oso '$e foi renunciar por esse dia ao seu dese.o* 6o dia seguine aman$eceu muio me'$or* O #a.or saiu como na "&spera 3 mesma $ora* 7'ias que n0o ousa"a fa%er uma "isia forma' 3 casa de seus "i%in$os, come)ou a rondá-'a em orno, mas em cera dis4ncia respeiosa, a "er se por acaso enre"ia de 'onge a sua querida L/cia, e esperando que o acaso '$es proporcionaria ao menos um momeno de enre"isa* O síio era ineiramene ermo* A casa in$a um grande cercado ou quina' quase ineiramene incu'o, e coníguo ao quina' da casa de 7'ias, endo am(os nos fundos por 'imies o ri(eir0o* 7'ias rodeou primeiramene o cercado pe'o 'ado exerior, passou pe'a frene da casa e desceu a& 3 margem do ri(eir0o, enfiando á"idos e perscruadores o'$ares por odas as .ane'as, ara"&s das cercas e dos ar"oredos* ;e a'gu&m o "isse, nada poderia suspeiar ia em(u)ado em seu capoe, arrimado a um (as0o, era um po(re enfermo em con"a'escen)a, que da"a o seu passeio $iginico* 60o "iu ningu&m* 2e "o'a 3 casa 'em(rou-se de fa%er a mesma excurs0o pe'o 'ado inerior do quina' de sua casa, que fica"a coníguo ao dos "i%in$os* Aque'e am(&m esa"a co(ero de ar(usos si'"esres e capoeira incu'a, de maneira que, por enre as moias, podia 7'ias muio a seu sa(or e sem ser "iso o(ser"ar por enre paus ma' unidos da cerca odo o quina' "i%in$o, e mesmo di"isar a'gumas "e%es o erreiro* Teria dado como uns rina passos ao 'ongo da cerca que ia morrer 3 (eira do rio, quando ou"iu "o%es de mu'$er um pouco mais a(aixo* O cora)0o pu'ou-'$e c$eio de a'"oro)o cuidou ou"ir a "o% de L/cia> oi-se aproximando com precau)0o a& o pono donde pariam as "o%es, co'ocou-se 3 cerca, espreiou e "iu*** A pequena dis4ncia da cerca um .orro dJágua caía por uma (ica em um anque raso a'caifado de casca'$os, no qua' L/cia, com os p&s desca')os mergu'$ados nJágua, a saia do "esido, presa por um 'en)o, rega)ada quase a& os .oe'$os, o corpo do "esido descido, os rseos seios ma' co(eros pe'a fina e ransparene camisa e os compridos ca(e'os a.unados arás por uma fia, caindo-'$e pe'as espáduas, esa"a 'a"ando roupa*
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2e(ru)ada so(re o anque, cu.as águas (or(u'$ando-'$e em orno (ei.a"am amorosas as duas co'unas de a'a(asro ne'as mergu'$adas, dir-se-ia Vênus no momeno em que nascia da espuma do mar, ou (ranca a)ucena que a'i nascera 3 (eira da fone, e pendia o cá'ix a mirar-se em seu crisa'ino rega)o* 6unca 7'ias, nos dias em que e'a era rica e fe'i%, no meio das fesas e do esp'endor do 'uxo, nunca a "ira 0o 'inda, 0o fascinadora assim* O cora)0o (aia-'$e com a' "io'ncia, que in$a medo que fosse ou"ido e raísse a sua presen)a a'i* 7nreano quase se en"ergon$a"a de esar a'i espreiando 3s escondidas e profanando com suas "isas o inocene e descuidoso desa'in$o daque'a casa criaura* ?ueria fugir, mas seus p&s esa"am pregados 3 erra, e seus o'$os n0o podiam des"iar-se daque'a ang&'ica figura que os fascina"a, e se L/cia nunca da'i saísse, 7'ias am(&m a'i ficaria para sempre, ou en0o de um sa'o ranspondo a cerca, iria se arro.ar aos p&s de'a, se do 'ado de cima da (ica n0o esi"esse em p& uma escra"a que com e'a con"ersa"a* 7ra a (oa e fie' 8oana, que aca(a"a de co'$er nos caneiros desro)ados daque'a incu'a $ora um pun$ado de er"as para o parco .anar da famí'ia, enquano a sen$ora 'a"a"a a roupa* 60o & s a more que ni"e'a as condi)ões o desino 3s "e%es a anecipa, e se compra% em cur"ar a ca(e)a dos ricos e orgu'$osos a& (ei.arem o p da erra, e co'oca escra"os ao ní"e' do sen$or* #as o desino & cego, e o raio que fu'mina so(re a ca(e)a do cu'pado am(&m 3s "e%es de(ru)a so(re o 'odo o 'írio puro da inocncia e da "irude* ?uando 7'ias as a"isou, a con"ersa das duas esa"a ocando a seu fim* - Tem pacincia, sin$a%in$a, di%ia a escra"a* 6ossa ;en$ora do Parocínio $á de er piedade de ns* ?uerendo 2eus, udo se $á de arran.ar e ns ainda $a"emos de "o'ar para nossa ro)a* #as enquano isso se n0o arran.a, aqui esá sua negra "e'$a, que ainda pode ra(a'$ar para @mcs* odos*** - #as u $o.e &s forra, 8oana de"es ir cuidar na ua "ida*** - ?ue me impora 'á isso:*** por acaso eu pedi a'guma a'forria: enreguem-me cá a min$a cara, e $0o de "er como eu a fa)o em pedacin$os e airo udo no fogo* - 5sso n0o, 8oana>*** a' n0o farás* ui eu que pedi a meu pai e forrasse, e sa(es por qu:*** - 7u sei 'á>*** de cero foi porque sin$a%in$a n0o me quer mais quer ficar 'i"re de mim*** - Pe'o conrário, 8oana, foi para n0o ficar sem i* ;e n0o fosses forra, irias cair nas m0os dos credores de meu pai, como odos os ouros escra"os da casa* 83
- Credo> 6ossa ;en$ora me guarde>*** en0o, n0o quero a min$a cara quero ser 'i"re para poder ser escra"a de min$a sin$a%in$a* 7sses dia(os desses $omens> 2eus me perdoe>*** parece que n0o s0o (ai%ados* #eu sen$or .á "a'eu a e'es odos, e agora n0o em um s que en$a piedade de'e* #á pese que os persiga>*** Agora "ou cuidar na .ana*** sin$a%in$a fica aí: - ico, 8oana podes ir "ou aca(ar de enxaguar esa roupa* - 2eixa isso, sin$a%in$a* 7u 'ogo "en$o aca(ar de 'a"ar e esender oda essa roupa n0o ese.a se maando sem precis0o* - 60o goso de esar 3 oa, e (em sa(es que n0o & a primeira "e% que 'a"o roupa, e am(&m iso me ser"e de disra)0o* - 60o em medo de ficar aqui so%in$a: - #edo de qu:*** quem pode "ir me fa%er ma' aqui nese ermo: - 7sá (em, disse 8oana reirando-se* Assim mesmo eu "ou c$amar sin$á 8/'ia para ficar com @mc* - 60o & preciso, 8oana*** 8/'ia esá ocupada com uma cosura que & preciso aca(ar $o.e mesmo* 7u am(&m 'á "ou nese insane* 6en$um fa"or me'$or podia o c&u fa%er a 7'ias naque'e insane do que deixar L/cia a'i so%in$a e dir-se-ia que L/cia adi"in$a"a, e queria ficar s, como se i"esse a.usado uma enre"isa* A emo)0o de 7'ias su(iu de pono* 60o fosse uma excessi"a ousadia, uma profana)0o, eria de um sa'o ransposo a cerca e iria cair a seus p&s*** Logo que 8oana desapareceu por enre os ar(usos do quina', L/cia deixou a fone, e senou-se so(re a grama do coradouro, pousou a face em uma das m0os, e pIs-se a cismar* 7ra um mode'o perfeio para a esáua de uma náiade* 2epois irou do seio uma cara, e 'an)ou so(re e'a um o'$ar* ;eus o'$os arrasa"am-se de 'ágrimas* - ?ue crue'dade, meu 2eus, exc'amou e'a, deixar-me assim arre(aadamene, e a(andonar-me 0o so%in$a e desamparada nese ermo*** iso & de quem ama de"eras:*** e a'&m de udo, a po(re%a>*** #eu 2eus>*** n0o sei o que será de mim*** $ei de morrer de rise%a>*** se me dissesse ao menos onde foi>*** eu dera udo para sa(er onde e'e esá>*** Ou"indo esas pa'a"ras, 7'ias n0o pIde mais coner-se pu'ou a cerca, e em dois sa'os esa"a ao p& de L/cia*
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- 7is-me aqui, L/cia>*** eis-me aqui a eus p&s> exc'amou o mance(o* L/cia assusada deu um grio, e ergueu-se rapidamene* 6um re'ance desaou da cinura o 'en)o com que suspendia as saias, e com e'e compIs os om(ros e os seios que ra%ia quase nus* Lem(ra"a @nus, quando do ra.e de ninfa ca)adora, em que esa"a disfar)ada, ransfigurou-se su(iamene aos o'$os de Enias em "erdadeira deusa, deixando om(ar-'$e aos p&s as "eses ro)aganes* - Perdoa-me, min$a L/cia> perdoa a min$a ousadia e'a & fi'$a do muio amor que e consagro* 7u esa"a a'i*** eu e ou"ia, e eu e amo " se era possí"e' coner-me* ;e ainda me amas, u me perdoarás* O so(ressa'o de L/cia n0o ardou em ransformar-se na efus0o de uma ce'ese a'egria* - ;e ainda e amo>*** exc'amou, pois du"ida ainda:*** - ;ou 0o infe'i%, que cuso a acrediar em aman$a "enura* - Compreendo* Pensa que '$e fui infie' que rai o nosso amor* Tin$a ra%0o para pensar assim mas quando sou(er o que $ou"e, esou cera que me $á de perdoar* - 60o en$o nada que perdoar-e eu & que de"o pedir-e perd0o de meu esou"ameno e precipia)0o* #eu cora)0o .á adi"in$ou udo* #as enreano cona-me, min$a querida L/cia, cona-me como udo isso foi*** Aque'a enre"isa, que o acaso preparara, durou apenas meia $ora mas meia $ora de go%os e efusões dJa'ma, de de'icias inefá"eis, meia $ora 0o c$eia de amor e fe'icidade, que aos o'$os de 7'ias compensou 'argamene dois anos de agros sofrimenos e ásperos ra(a'$os, meia $ora que e'e rocaria de (om grado por um s&cu'o de "i"er ordinário* 7nreano L/cia conou-'$e rapidamene a $isria de seu pro.eado casameno com Leone', as so'icia)ões de seu pai, e as rises circuns4ncias que a arrasaram 3que'e sacrifício, que a'&m da fe'icidade '$e cusaria am(&m a "ida, mas que e'a .u'ga"a necessário e de seu de"er para fe'icidade de seu pai e de sua irm0* - 7 n0o e 'em(ra"as, disse 7'ias com um rise sorriso, que nesse sacrifício arrasa"as mais uma "íima:***
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- O$> se me 'em(ra"a>*** mas eu nem noícias in$a de i*** e, mesmo que as i"esse, a n0o esares em circuns4ncias de "a'er a meu pai, 'e"arias a ma' esse sacrifício, se infe'i%mene se consumasse:*** - 60o, min$a L/cia*** eu n0o eria rem&dio sen0o admirar-e, em(ora se me esa'asse de dor o cora)0o* #as a cara que e escre"i do ;incorá, acaso n0o c$egou-e 3s m0os: - C$egou, 7'ias mas em que momeno, meu 2eus: 7u aca(a"a de dar o meu consenimeno, de compromeer so'enemene a min$a pa'a"ra para com meu pai .á era arde* a% id&ia de quano era rise e desesperadora a min$a posi)0o* - Po(re L/cia> quano &s (oa*** quano &s adorá"e' e su('ime> ;e anes eu e ama"a, de $o.e em diane eu e admiro, eu e adoro, e n0o me .u'go digno do amor de uma criaura 0o superior, de um an.o, de que o mundo n0o & digno* - ;e n0o e .u'gasse digno, eu nunca e amaria, e n0o eria passado por anas af'i)ões e ang/sias s por amor de i* #as, $o.e sou fe'i%* 2eus e"e piedade de mim, arredou de meu camin$o aque'e ma'dio $omem, e resiuiu-me o meu 7'ias*** - O$> aque'e $omem parecia en"iado ao mundo por ;aanás para perur(ar a nossa fe'icidade> Tudo que podia fa%er meu pra%er, min$a g'ria nese mundo, e'e preendia arrancar-me parece que o perseguia uma in"e.a fero% de udo quano era meu queria para si o din$eiro de min$a (o'sa, o amor de meu cora)0o, o ar de meus pu'mões, o sangue de min$as "eias* #as o monsro apenas conseguiu rou(ar-me o fruo do meu suor, essa pequena foruna que eu in$a adquirido*** mas que impora isso, L/cia:>*** 2eus ainda me conser"a a mesma ine'igncia, a mesma ai"idade e disposi)0o, e eu sa(erei adquirir oura*** - #as por piedade>*** eu e pe)o, n0o me a(andones mais n0o "ás mais procurar foruna 'á 0o 'onge* 60o quero mais que saias de pero per o de mim*** - #as, L/cia, eu sou po(re*** u am(&m esás 0o po(re como eu* =o.e $á um moi"o ainda mais fore para que eu empregue odos os esfor)os para adquirir a'guma coisa e se por aqui n0o for possí"e', de"o*** - 2e"es amar-me, a mim s, e a mais ningu&m* ;omos am(os po(res o desino ni"e'ou nossas condi)ões e agora n0o $á mais em(ara)o a'gum para nossa uni0o>*** - #as a po(re%a, L/cia*** por mim s eu a suporaria como en$o suporado, de cora)0o a'egre mas doer-me-ia $orri"e'mene "er-e em min$a compan$ia 86
sofrendo as inc'emncias e pri"a)ões da indigncia sem poder erguer-e a uma condi)0o mais fe'i%* - Por"enura .á n0o sou 0o po(re, 7'ias: e deixarei de s-'o, se me a(andonares:*** en0o anes queres me "er sofrendo so%in$a os rigores da po(re%a, do que em ua compan$ia> - #as o'$a, L/cia u &s muio mo)a, formosa e (em-educada*** n0o e fa'ar0o maridos que, mais fe'i%es do que eu, possam dar-e no mundo a posi)0o de que &s 0o digna*** - Ca'a-e>*** n0o digas mais a' ('asfmia, eu e pe)o pe'o nosso amor* Anes miserá"e' conigo do que mi'ionária com um Leone', ou com quem quer que se.a* #as u n0o irás mais para 'onge fica por aqui mesmo na nossa erra eu e pe)o pe'o nosso amor, por udo quano mais queres nese mundo ou no ouro*** pe'a a'ma de eu pai e de ua m0e*** em oda a pare se gan$a com que passar a "ida, e que necessidade emos ns de rique%as: o nosso amor será a nossa rique%a, e por"enura n0o (asa e'e para nos ornar fe'i%es: - ;ossega, min$a querida L/cia n0o irei 'onge* O eu amor, assim como me enc$e o cora)0o de fe'icidade, dá-me am(&m oda a coragem e oda a confian)a no fuuro* + impossí"e' que 2eus n0o a(en)oe o ra(a'$o de quem se esfor)a para amparar e fa%er a fe'icidade de um an.o, como u &s* #as o'$a, L/cia, n0o quero, n0o de"o pedir-e a eu orgu'$oso pai, enquano desa desra que "ou oferecer-e, n0o puder escorregar um pouco de ouro* - A$*** mas se isso n0o for possí"e', me a(andonarás:*** - 6unca, min$a L/cia, nunca> serei eu, sempre eu* - !asa>*** adeus> .á esamos aqui $á muio empo a'gu&m pode nos "er*** - Um insane ainda< escua, L/cia* 2a min$a ma'fadada foruna do ;incorá resam-me ainda a'guns desro)os* @ou pI-'os em .ogo* 60o sairei deses arredores* ;a(erás noícias min$as, e eu "irei "er-e odas as "e%es que puder n0o sei que pressenimeno me di% que seremos fe'i%es, muio fe'i%es* Adeus* - Adeus*** n0o e esque)as de mim e n0o me fu.as mais* - 60o nunca mais eu e e .uro*** por ese (ei.o*** mais ese*** e mais ainda* a inda* Adeus> 7 di%endo iso 7'ias cingiu a mo)a a seu peio, e '$e deu um (ei.o em cada uma das faces e o /'imo na (oca* 7ra a primeira "e% que a' ousa"a*
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CAPÍTULO 1R - ABNEGAÇÃO O garimpeiro & como o .ogador sua esperan)a esá sempre no seio da grupiara, como a do .ogador nas caras do (ara'$o, nos dados ou no a(u'eiro "erde do (i'$ar iso &, sua fe'icidade dorme na urna do acaso, de onde as mais das "e%es nunca sai* Por mais que se.am os re"eses com que a foruna os ma'rae, por mais que repi'a e os ca'que aos p&s, esses cegos e perina%es amanes es0o sempre de ro.o a mendigar fa"ores aos p&s daque'a crue' e capric$osa amásia* 7'ias possuía ainda a'gum din$eiro e o(.eos de "a'or, resos que in$am escapado 3 depreda)0o de seu execrá"e' proeor do ;incorá, e que podiam ser"ir de princípio a no"as especu'a)ões* 7'ias, que .á in$a garimpado muio, in$a cero pendor naura' para ese gnero de "ida e apesar de er dissipado o me'$or de seu empo e de seu din$eiro em exp'orar minas de diamanes, sem ouro resu'ado mais do que conínuas perdas, nem assim perdera a f& em que esa"a de que do c$0o $a"ia de '$e (roar a rique%a e a fe'icidade* 7sa era a cren)a firme do seu "e'$o camarada, cren)a que por muio repeida n0o deixa"a de fa%er profunda impress0o na imagina)0o a'gum ano faa'isa e supersiciosa de seu .o"em amo* 7'ias cosuma"a am(&m er son$os mai%ados de ru(is e diamanes, e a'&m disso, como .á ou"imos da (oca do "e'$o ;im0o, uma cigana '$e predissera que sua esre'a era de pedra* O amor n0o conri(uía menos poderosamene para inspirar-'$e aque'a reso'u)0o suspira"a impaciene pe'o momeno em que pudesse "er-se para sempre unido a L/cia, e para esse fim s + que dese.a"a enriquecer, e enriquecer depressa* Ora, a n0o cair do c&u, s do seio da erra poderia "er surgir de um dia para ouro uma foruna* 2emais a ques0o era de pouco empo em poucos meses, em poucos dias, em a'gumas $oras mesmo poderia ficar reso'"ido o pro('ema de seu desino* 7'ias era auda% e reso'uo com o primeiro sorriso de L/cia "o'ara-'$e oda a sua coragem e seguridade, oda a sua confian)a no fuuro* Comprou daas, enga.ou pra)as, e come)ou a ra(a'$ar com ai"idade e ardor inconce(í"e'* #as a$> aque'a erra da !agagem para e'e parecia ser ama'di)oada parecia que o diamane sumia-se do 'ugar onde oca"am suas p'anas> Tin$a-se escoado um ms, e com e'e grande pare dos recursos de 7'ias sem o menor resu'ado* #onões de casca'$o (ruo ag'omerado em orno das grupiaras, eis o fruo /nico que se "ia do ra(a'$o do infe'i% mo)o* 2urane esse empo duas "e%es "iu L/cia, mas com o cora)0o pesaroso e c$eio de rises presságios n0o ousou comunicar-'$e o mau xio de suas exp'ora)ões, e em(a'ou-a com "agas esperan)as, que e'e mesmo n0o a'imena"a* #as nem
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assim desisiu ainda* Coragem>*** di%ia e'e consigo* #ais um pouco de pacincia>*** mais quin%e dias mais um ms> 3s "e%es a sore do .ogo esá na /'ima carada* 7 mais quin%e dias, mais um ms se foram de insano ra(a'$o, e de ansioso esperar, sem que a ingraa grupiara '$e enrea(risse nem mesmo um 'e"e sorriso de esperan)a* 7'ias .á in$a o cora)0o curido de decep)ões mas nem por isso ese /'imo insucesso deixou de '$e amargar crue'mene* 2epois de anas enai"as ma'ogradas, depois de anos e 0o cru&is re"eses, es(arra"a enfim na mura'$a impenerá"e' do impossí"e'* Cansou de 'uar, e o desa'eno ca'ou-'$e fundo pe'a a'ma adenro* - Po(re ainda, meu 2eus> exc'ama"a o infe'i% po(re sempre, e cada "e% mais po(re> e n0o poder dar a L/cia, po(re ainda mais do que eu, sen0o a mis&ria em roca de seu amor> A$> c&u de (ron%e, que deixas exposa aos mais duros rigores da sore a mais pura e a mais (e'a de uas criauras> a$> erra ma'dia, que escondes esouros em eu seio a"aro e deixas perecer 3 míngua o mais 'indo dos seres, a mais formosa f'or que e adorna a face>*** 7'ias por si s (em pouco se imporaria com a po(re%a esa"a afeio a suporá'a desde 'ongo empo* #as cora"a-'$e o cora)0o "er a sua querida L/cia, nascida e educada sempre no meio da a(asan)a, sofrendo pri"a)ões e quase redu%ida 3 mis&ria, e condenada a ra(a'$ar com suas prprias m0os para pro"er 3 sua su(sisncia, de seu pai e de sua irm0%in$a* !'asfema"a conra o c&u e ma'di%ia da Pro"idncia, que '$e nega"a sua proe)0o naque'a no(re e sana arefa em que se empen$a"a para arrancar 3 mis&ria aque'a criaura digna do c&u* 2ese.a"a morrer, e a id&ia do suicídio como um fanasma '/gu(re '$e es"oa)a"a de conínuo pe'a mene* #as 'em(ra"a-se de L/cia, de L/cia na mis&ria, e compreendia que era preciso "i"er para e'a* ?uem '$e poderia "a'er, se e'e fa'asse:*** arrancar-se a exisncia naque'a ocasi0o era a'"e% rou(ar a L/cia o /'imo, se (em que fraco arrimo, que '$e resa"a nese mundo* 6aque'as circuns4ncias .á n0o era somene o simp'es amane de L/cia considera"a-se um irm0o, um pai* 7'ias, comp'eamene desa'enado, a(andonou de odo os seus ser"i)os, e esa"a como que de (ra)os cru%ados em frene de seu desino inexorá"e' a conemp'ar-'$e a sinisra caadura, sem ousar 'uar conra e'e e esperando que o esmagasse*
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7'ias in$a-se esa(e'ecido no Com&rcio de (aixo, c$amado de 8oaquim AnInio, que fica rio a(aixo, a pero de uma '&gua da po"oa)0o principa'* =á dois dias, desamparado da esperan)a, in$a a(andonado o ra(a'$o, e n0o fa%ia mais do que cismar na sua rise sore, enregue 3s mais pungenes ang/sias e 3 mais crue' perp'exidade* 6a arde do segundo dia, esando 3 .ane'a da casin$a que $a(ia"a, en"o'o em suas cismas ordinárias, um rapa% enregou-'$e uma cara* A(riu-a imediaamene era de L/cia e di%ia assim< M#eu querido 7'ias* A sore come)a a conspirar de no"o conra ns* 7u pensa"a que, caindo em po(re%a, ningu&m mais poria os o'$os em mim, e que poderia amar-e ranqBi'a e 'i"remene, sem que a ur(a dos preendenes, que ourora me imporuna"a, "iesse mais perur(ar a nossa fe'icidade, por essa doce compensa)0o que me ra%ia* 7ngana"a-me, ai de mim>*** Um de meus anigos preendenes reaparece, e so'icia com mi' empen$os a min$a m0o* 7 um mo)o n0o muio rico, mas negociane (em principiado, e doado, segundo di%em odos, de exce'enes qua'idades* #eu pai insa comigo com odas as for)as para que me decida quano anes* Ten$o esgoado sem resu'ado a'gum odas as min$as escusas, e .á n0o sei de que meio 'an)ar m0o para me defender* 5nfe'i%mene ese n0o & um a"enureiro descon$ecido, um moedeiro fa'so, que de um insane para ouro pode desaparecer enre as grades de uma cadeia* + do país, e gera'mene con$ecido e esimado por suas (oas qua'idades, e promee mi' arran.os a meu pai* 60o preciso di%er-e mais, meu querido 7'ias, podes a.ui%ar em que cru&is apuros me "e.o de no"o en'eada* 6ossa po(re%a aumena de dia a dia, e eu quase en'ouque)o pensando nesas coisas* Aparece, 7'ias s a ua presen)a me poderá inspirar reso'u)0o e coragem para arredar de nossa ca(e)a mais esa desgra)a> @em eu e espero com ansiedade* Adeus>***M Aca(ada a 'eiura, 7'ias enrou em acessos de furor percorrendo a passos 'argos e precipiados a pequena sa'a em que esa"a, so'a"a (ramidos de desespero, e c$ora"a 'ágrimas de fogo, e (aendo com a ca(e)a pe'as paredes, arrancando os ca(e'os, "omia"a ('asfmias e impreca)ões $orrí"eis* - Pois (em> (rada"a e'e, .á que o c&u me n0o fa"orece, .á n0o recompensa o ra(a'$o $oneso, condena a "irude 3s oruras da mis&ria, e s enriquece os 'adrões, omarei duas piso'as, irei me posar aí em qua'quer pono da esrada, e omarei 3 for)a aos 'adrões o que o c&u desapiedado nega a um an.o* ?ue impora>*** esou cero que em cada negociane que maar mandarei para o inferno a a'ma de um 'adr0o, e & 'á o seu 'ugar* + um crime>: n0o*** pe'o menos a conscincia n0o me remorde*** 60o serei mais do que o agene da .usi)a do c&u so(re a erra, .á que ne'a n0o $á nem som(ra de .usi)a* 5nfames>*** n0o conenes de enriquecerem-se 3 cusa do suor e das 'ágrimas dos po(res, ainda querem '$es rou(ar a fe'icidade, e .u'gam-se com direio a isso, porque sa(em
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a(sor"er o fruo do ra(a'$o dos ouros> O$> por 2eus, ou pe'o dia(o, que n0o $á de ser assim>*** 7se mundo>*** ese mundo & o inferno dos (ons e o paraíso dos ma'"ados*** 7 porano o rem&dio & ou 'i"rar-me de'e para sempre, ou a'isar-me no n/mero dos ma'"ados*** #as*** que esou eu a di%er>*** eu endoide)o>*** L/cia> min$a L/cia> & pois "erdade que de"o perder-e>*** perdere para sempre:>*** 7se esado de exa'a)0o, que quase oca"a ao de'írio, durou por 'argo empo, a& que "eio a fadiga e a prosra)0o* Por fim airou-se na cama que in$a a'i mesmo na pequena sa'a .á a noie ia adianada, e gra)as ao orpor do cansa)o dormiu a'gumas $oras* Com esse repouso aca'mou-se um pouco a irria)0o de seu espírio* ?uando acordou, .á os ga'os cana"am* Le"anou-se, a(riu a .ane'a para refrescar a ca(e)a a(raseada ao sopro das (risas da madrugada* Ainda n0o era dia* 2e(ru)ou-se so(re o peiori' e depois de esar a cismar 'argo empo com a ca(e)a em(e(ida enre as m0os, murmurou consigo< - 7sá decidido>*** min$a "ida em de ser sempre uma s&rie de pro"a)ões e marírio* + essa a "onade do c&u, e & escusado 'uar conra o desino* Porano ou de"o me desfa%er de'a desde .á, ou resignar-me 3 min$a sore* O meu de"er de cris0o & cur"ar-me e aceiar c$eio de resigna)0o o cá'ix da amargura* L/cia, a su('ime L/cia, .á uma "e% me deu o exemp'o* 7'a ia reso'ua e cora.osa sacrificar a sua fe'icidade ao (em-esar de seu pai e de sua irm0* Agora o c&u me impõe igua' sacrifício sai(amos imiá-'a* 7squec-'a, deixar de amá-'a, a$> n0o isso n0o ca(e no possí"e'* #as fugirei irei morrer 'onge de'a, ra'ado de desgoso e de saudade* ;e o c&u n0o me permie possuí-'a, sai(a eu ao menos ser digno de'a* 7'ias in$a omado uma reso'u)0o sana e su('ime, digna de seu no(re cora)0o* 5a reirar odas as promessas, proesos e .uramenos que fi%era a L/cia, ia renunciar a odas as suas esperan)as e imo'ar seu amor e sua fe'icidade ao (emesar e ao fuuro da famí'ia de L/cia* O sacrifício era duro, mas a no(re%a e magnanimidade daque'a a)0o o exa'a"a aos o'$os da prpria conscincia, e da"a-'$e coragem (asane para 'e"á-'a a efeio* 5ria e'e mesmo em pessoa anunciar 3 sua amada a $erica reso'u)0o que omara:*** nos primeiros momenos foi esse o seu pensameno iria comunicar-'$e aque'e desígnio que, esa"a cero, '$e fora inspirado pe'o c&u, e que .u'ga"a de seu rigoroso de"er 'e"ar a efeio* ;e e'a fraqueasse, se recuasse diane da enormidade do sacrifício, em(ora> e'e n0o desisiria do seu propsio, '$e faria "er que seria uma a)0o indigna, um crime da pare de'e esar ser"indo de eerno em(ara)o ao sossego e fe'icidade de uma famí'ia a quem e'e, po(re e desproegido da foruna, n0o podia ser"ir de auxí'io a'gum* Lem(rar-'$e-ia que $á (em pouco empo e'a, de seu prprio moo, se $a"ia "oado a um sacrifício seme'$ane, porque o .u'ga"a de seu de"er, e que esse de"er reaparecia agora, a'"e% ainda com mais fore ra%0o enfim procuraria por odos os modos "igorar-'$e o cora)0o e com suas 91
pa'a"ras e seu exemp'o n0o '$e cusaria inspirar 3 no(re e "iruosa a'ma de sua amane a necessária coragem e resigna)0o* #as 7'ias, depois de ref'eir me'$or, e"e medo de dar ese passo e desconfiou da for)a de seu prprio cora)0o* 8u'gou que por meio de uma cara conseguiria o mesmo resu'ado, e"iando uma cena di'acerane, a que nem e'e nem a'"e% e'a pudessem resisir* Pegou na pena e escre"eu a L/cia a seguine cara< M?uerida L/cia< O desino me persegue, o c&u me a(andona, e eu nunca poderei ser mais que um esfor)o perene para a ua fe'icidade e de ua famí'ia* O c&u "oou-me a um perp&uo marírio for)oso me & aceiá-'o e resignar-me, porque & 'oucura querer 'uar conra a oniponcia do desino* O mesmo sacrifício, a que n0o $á muio empo e cur"ase em "irude de um de"er sano, $o.e de no"o nos & imposo a ns am(os pe'o nosso inexorá"e' desino* esignemo-nos, min$a querida, .á que & essa a "onade do c&u, e pede a 2eus que nos inspire a reso'u)0o e coragem necessária para n0o desfa'ecermos no cumprimeno dese do'oroso de"er* Cumpre-nos renunciar para sempre a ese amor 0o puro e 0o ardene que era o son$o dourado do nosso por"ir, e di%er eerno adeus 3 esperan)a e 3 fe'icidade* 7m(ora o cora)0o se nos rasgue enre as garras da ang/sia, a conscincia esará pura e serena e se nos n0o & possí"e' ser unidos nese mundo pe'o amor, ao menos procuraremos ser dignos um do ouro pe'a "irude* 60o creias que com esa rise separa)0o "0o que(rar-se os proesos e .uramenos sanos que proferimos nos nossos dias de esperan)a n0o, porque nossas a'mas nunca se separar0o e sempre se amar0o, porque o amor & uma c$ama que o sopro do desino n0o pode apagar* 7, se acaso es0o roos os .uramenos de nosso amor, foi a m0o de 2eus que os desaou, impondo-nos i mpondo-nos um de"er mais a'o e mais sano* Adeus, L/cia>*** 2eus me & esemun$o que, ao romper eses 0o sua"es 'a)os, rompem-se-me am(&m uma por uma odas as fi(ras do cora)0o* Adeus em coragem para enregar eu desino a quem pode amparar-e* ?uano a mim, "ou para (em 'onge amar-e ainda e sempre, a& que a dor e a saudade "en$am pIr ermo a meus rises dias*** 7'ias*M ?uando 7'ias erminou esa cara, escria com as 'ágrimas dos o'$os e o fe' do cora)0o, sua frone, co(era de pa'ide% cada"&rica, apesar do fresco da man$0 que gira"a pe'a sa'a, goe.a"a (agas de suor frio* 2ir-se-ia um condenado que 'a"ra"a com a prpria m0o sua senen)a de more* Li 7'ias mesmo quis ser o porador de sua cara a& 3 casa de sua "e'$a enfermeira, onde encarregaria a esa de fa%-'a c$egar 3s m0os de L/cia* O ;o' que surgia darde.a"a seus raios $ori%onais por enre as copas das ár"ores secu'ares, resos da aniga f'oresa, que aqui e aco'á pro.ea"am som(ras giganescas pe'as ri(anceiras do rio, quando 7'ias monou a ca"a'o, e dirigiu-se a seu desino, a(soro em seus rises pensamenos, e procurando fora'ecer-se
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na no(re e generosa reso'u)0o que aca(a"a de omar* 7saria pouco mais ou menos no meio do camin$o, 'adeado de dis4ncia em dis4ncia de pequenos ranc$os, que coseando a margem do ri(eir0o seguia para o Com&rcio da Cac$oeira, quando em cera a'ura ou"iu uns gemidos a(afados que pareciam sair de denro de uma miserá"e' c$oupana, quase escondida enre a capoeira, que se a"isa"a a uns cinqBena passos da esrada, quase 3 (eira do rio* Parou e escuou por a'guns insanes os gemidos coninuaram* 60o podia $a"er d/"ida era a'gum desgra)ado que sofria, e morria a'"e% 3 míngua e 3 fome naque'e miserá"e' case(re, ou am(&m quem sa(e: a'i gemia a "íima de a'gum $orroroso aenado, desses que 0o comumene se perpera"am na !agagem, naque'a &poca* 7'ias n0o era $omem de 4nimo a presenciar o sofrimeno de quem quer que fosse, sem procurar socorr-'o de qua'quer maneira* 2irigiu-se 3 c$oupana, apeou-se e (aeu 3 pora*
CAPÍTULO 1S - O MORIBUNDO Apareceu daí a um insane, na /nica .ane'in$a que $a"ia na casa, a cara encarqui'$ada de uma "e'$in$a de aspeco repu'si"o e sinisro< seus o'$os grandes e redondos, o o'$ar frouxo mas 'I(rego e carregado, o nari% adunco e 'argo so(reposo 3s faces enge'$adas, ca(e'o curo e eri)ado em forma de opee da"am-'$e a aparncia de uma "erdadeira coru.a, anin$ada naque'e pardieiro* 7'ias quase e"e medo, e se n0o fosse dia c'aro eria acrediado na exisncia de (ruxas* - O que quer, meu sen$or:*** (radou, ou anes guinc$ou a "e'$a com "o% esgani)ada* - 2ese.a"a "er a pessoa que esá aí denro a gemer* Parece que sofre (asane a'"e% eu '$e possa ser /i', e dar a'guns a'í"ios* - 60o se af'i.a, meu par0o< & um po(re "e'$o que esá enre"ado a'i no fundo de uma cama* =á muio empo que esá assim, sem que ningu&m possa '$e dar a'í"io, coiado>*** da'i s para a co"a* ;e quer dar a e'e a'guma esmo'a, pode me enregar, e 2eus 6osso ;en$or '$e dará o pago*** - #as eu mesmo dese.a"a "-'o am(&m enendo a'guma coisa de medicina, e a'"e% '$e possa ensinar a'gum curai"o com que se d (em*** - #as o m&dico que raa de'e n0o quer que rece(a "isia nen$uma, - nem fa'e com ningu&m por isso @mc* n0o repare, eu n0o '$e posso a(rir a pora*** p ora***
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- 60o en$a cuidado eu aa'$arei oda a con"ersa, e, se for necessário, n0o '$e darei mesmo uma s pa'a"ra* ?uero s "-'o um insane e saio imediaamene* - 60o, sen$or perd0o n0o pode ser* 7'e & muio pa'rador, e "endo gene come)a a agare'ar de modo que nunca mais em fim e fica cada "e% a pior, a pior e eu & que o esou agBenando, e isso n0o me fa% cona* - #as .á '$e disse que se e'e fa'ar, me reirarei 'ogo, rep'icou com "i"acidade 7'ias, a quem .á come)a"am a impacienar as negai"as da "e'$a, e que mesmo .á come)a"a a desconfiar que $a"ia a'i a'gum mis&rio que a ma'dia "e'$a esa"a com medo que e'e fosse desco(rir* - 7m nome do c&u, a(ra essa pora* - 60o, sen$or .á '$e disse n0o pode ser* - A$> sen$or> (radou de denro a "o% rouca e a'que(rada do enfermo* ?uem quer que esá aí, pe'o amor de 2eus, enre cá denro* - 7sá ou"indo: disse 7'ias, e'e me c$ama a(ra essa pora* - 60o, n0o pode ser quanas "e%es quer que '$e diga: 7 depois "o'ando-se para denro e a(rindo exraordinariamene os enormes o'$os, como r0 es(ordoada, (radou para o enfermo< - A$> "e'$oe de uma figa> n0o pode ca'ar essa (oca:*** & assim que preende sarar:*** parece uma criancin$a>*** pois o'$e< se coninuar assim, n0o sei se esarei mais para o aurar*** se quer con"ersar com odo o mundo que passa, mando pIr sua cama 'á no meio da esrada, e e'es que o agBenem* a gBenem* - ?uem esá aí na pora enre cá por caridade n0o fa)a caso do que e'a esá di%endo por caridade>*** pe'as cinco c$agas de 6osso ;en$or 8esus Criso> enre*** enre*** quano anes* - Ai> ai> ai>*** u'u'ou a "e'$a $arpia* !endio 2eus> ainda de mais a mais "ariado do .uí%o> - #u'$er inferna', (radou 7'ias com for)a, a(re-me .á, se n0o queres que arre(ene a pora* - Arre(enar> como esá (onio o mo)o> omara "er isso>*** por"enura a casa & sua:*** mo)o, "á andando seu camin$o, e n0o ese.a enando a 2eus> .á '$e disse que n0o a(ro* 7 di%endo iso (aeu com a .ane'a, e rancou-a*
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7'ias enendeu que n0o de"ia mais desperdi)ar pa'a"ras com aque'a megera* #eeu o om(ro 3 fran%ina pora que esa"a apenas rancada por uma fraca rame'a, e que cedeu 'ogo ao primeiro empurr0o* - #isericrdia> guinc$ou a "e'$a, ese $omem em o dia(o no corpo> misericrdia> a'ui-del-rei! 7'ias afasou com um empurr0o a "e'$a que se apresenara por diane querendo-'$e esor"ar a enrada e fa%endo uma (erraria dos dia(os e foi-se dirigindo rapidamene para a miserá"e' a'co"a, anes anro, em que .a%ia o desgra)ado "e'$o* 7m um .irau de pau ro'i)o, desses cu.os p&s s0o forqui'$as cra"adas no c$0o, naque'a espe'unca escura e /mida, so(re um imundo co'c$0o de pa'$a, esa"a esirado um "e'$o ca(oc'o, esquá'ido e maci'eno, arque.ando con"u'si"amene e enregue aos mais do'orosos sofrimenos* 7speada 3 parede, .uno 3 ca(eceira, uma negra candeia de ferro '$e da"a so(re o roso (ron%eado um '/gu(re c'ar0o amare'eno* - A$>*** &s u, meu po(re ;im0o> exc'amou o mo)o com um om de assom(ro e de ang/sia inexprimí"e', apenas fiou os o'$os na fisionomia do "e'$o* 7s u, meu (om ;im0o> coninuou senando-se 3 (eira do po(re 'eio, e omando enre as suas as m0os do "e'$o camarada* Perdoa-me, meu ;im0o sou eu o cu'pado de aqui .a%eres assim 3 míngua>*** - A$> meu par0o> meu par0o> (radou o "e'$o fa%endo um esfor)o supremo para 'e"anar-se e erguendo ao c&u os (ra)os descarnados (endio se.a 2eus>*** - A$> .á eram con$ecidos>*** rosnou com "o% rmu'a a "e'$a que se in$a posado 3 pora da a'co"a, e com os o'$os es(uga'$ados e or"os conemp'a"a c$eia de furor aque'a cena* Tano me'$or para mim>*** O'á, meu mo)o, .á que "eio omar cona da casa com ana sem-cerimInia, fique-se por aí, e arrume-se 'á com seu doene, que eu aqui n0o pon$o mais os meus p&s* - @ai-e com 2eus ou com o dia(o, mu'$er inferna' nem nunca mais me apare)as, que n0o fa%es fa'a nen$uma* - ?ue eu "ou, & sem d/"ida @mc* quando "eio aqui enar a gene, .á "eio de má en)0o*** mas o'$e, meu sen$or%in$o, que a'"e% n0o 'e"e o (ocado 3 (oca* As "e%es a gene "ai (uscar '0, e sai osquiado* 7'ias ma' ou"iu esas pa'a"ras, que a "e'$a ao reirar-se ia resmungando enre as queixadas* - oi 2eus, meu amo, disse o "e'$o com "o% arque.ane, e nos o'$os .á quase em(aciados pe'as som(ras da more di"isa"a-se um 'ampe.o de a'egria - foi 95
2eus, que o rouxe aqui agora*** 7u ia morrer com o cora)0o 0o rise*** a$> esa "e'$a>*** esa "e'$a & o dia(o que me enrou pe'a casa* 2eus me perdoe>*** - 60o e em(araces com e'a, ;im0o .á 'á se foi*** - 60o creia, par0o, $á de andar por aí rondando para nos escuar* @á "er primeiro, par0o, en$a pacincia e "o'e depressa* Ten$o muio que '$e conar, e n0o sei se a more me dará empo* 7'ias, c$eio de curiosidade e assom(ro, saiu sui'mene da a'co"a e foi rodear a ca(ana* A "e'$a esa"a de feio do 'ado de fora com o ou"ido co'ado 3 parede do quaro, onde se ac$a"a o mori(undo* Apenas por&m presseniu 7'ias, foi-se reirando e resmungando $orrí"eis pragas* - #au fim en$as u, "e'$o feiiceiro, e a eu 'ouco par0o, rosna"a a "e'$a* + esse o pago que me dás de e er agBenado a& aqui com oda a pacincia>*** - Ca'a-e, "e'$a (ruxa>*** se e enconrar aqui mais a espreiar e escuar, airo-e com um pau a "onade de "o'ar mais cá* A "e'$a amedronada com a amea)a de 7'ias que $á pouco i"era ra%0o para crer que n0o ficaria s em pa'a"ras, sem nunca deixar de resmungar pragas e ma'di)ões, foi reco'$er-se 3 sua casa que fica"a a* a * uma cenena de passos* 7'ias "o'ou pressuroso ao quaro do enfermo* - Agora podes fa'ar, ;im0o, disse senando-se 3 (eirada do .irau* 6ingu&m nos ou"e esamos comp'eamene ss*** mas n0o*** espera* @ou "er os meios de procurar-e a'gum socorro*** coiado do meu ;im0o>*** aqui 0o desamparado>*** e nas garras desa (ruxa ma'dia>*** "ou mandar "er um m&dico* - ?ua' m&dico, par0o>*** n0o ome esse ra(a'$o*** uma a duas $oras de "ida & o mais que me resa*** se ano*** - + o que pensas, meu po(re ;im0o quem sa(e:*** 7m odo o caso n0o posso deixar-e morrer assim 3 míngua de socorro*** 2i%e-me, n0o $a"erá por aqui a'gum "i%in$o que en$a pr&simo a n0o ser essa "e'$a ma'dia: - O$> par0o, por piedade> n0o cuide nisso*** o empo & pouco*** sino-me morrer*** - #orrer>*** n0o em 4nimo, meu ;im0o*** eu "ou*** - 7 quando "o'ar, me ac$ará moro, e o que & pior ainda, rou(ado>
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- ou(ado>*** 7xc'amou 7'ias com um rise sorriso, pensando que aqui'o era .á o de'írio da agonia* - ;im, par0o rou(ado>*** fique aí sossegado*** en$o muio que '$e conar, e $á de ser .á* 2epois fa)a o que quiser* A curiosidade de 7'ias era grande, ansiosa, e o esado do "e'$o camarada era com efeio exremo, e e'e podia expirar de um momeno para ouro* or)oso foi pois ceder 3 rogai"a do po(re camarada que, com a "o% sumida enrecorada de gemidos, a cuso pIde fa%er a seguine narra)0o< - ?uando @mc* foi-se em(ora para o ;incorá, meu /nico cuidado foi andar esgra"aando por odo esse rio a(aixo e acima a "er se 2eus me a.uda"a e se eu desco(ria a'guma 'a"ra (em rica para meu par0o* #eu par0o "e'$o, coiado, 2eus o en$a em sua g'ria>*** quando e'e morreu, deixou @mc* pequenino a meu cuidado* Como & que eu $a"ia de morrer sossegado se deixasse @mc* po(re e desamparado nese mundo:>*** Para mim, po(re "e'$o cansado e so%in$o no mundo, o que eu quero fa%er com diamane:*** era para @mc* Com o a'mocafre no om(ro e a (aeia na m0o andei pro"ando as forma)ões por oda essa (eira de rio* Perdi muio empo sem ac$ar*** mas, 2eus 'ou"ado, sempre fa%ia a'gum "in&m para ir passando o reso da "ida* A reso 6ossa ;en$ora do Parocínio me ou"iu*** sempre ac$ei o que eu e @mc* andá"amos procurando $á ano empo* ?ue 'a"ra, par0o>*** & uma 'a"ra de esrondo>*** eu ia morrer com aman$o pesar, se n0o '$e pudesse conar>*** mas 2eus foi de misericrdia*** agora morro sossegado*** 7'ias ou"ia aInio aque'as pa'a"ras do "e'$o camarada e n0o ousa"a dar-'$es cr&dio* 7ram seguramene de'írios da imagina)0o de um mori(undo, e em sua incredu'idade quase se en"ergon$a"a de omá-'as ao s&rio* - Po(re ;im0o>*** ref'eiu consigo, a ra%0o .á o "ai a(andonando com a "ida> 60o podia conce(er que 3 ca(eceira de um miserá"e' mori(undo a foruna e a fe'icidade o esperassem, como por "e%es o infor/nio cosuma"a-se ocu'ar enre as rosas de um fesim para nos desfec$ar um go'pe faa' e impre"iso* Toda"ia n0o pIde deixar de inerromper o "e'$o, e dirigir-'$e com á"ida curiosidade esa perguna< - Uma 'a"ra>*** u de'iras, meu po(re ;im0o>*** onde esá e'a:*** - 7u .á '$e cono*** a$> se @mc* n0o aparecesse 0o a empo>*** @mc* esá du"idando:*** aqui esá o que '$e $á de fa%er aca(ar de crer*** & o diamane, que eu .á in$a irado*** iso & seu*** se @mc* n0o aparecesse, udo iso ia parar nas m0os daque'a ma'"ada mu'$er, 2eus me perdoe per doe a mim e a e'a>
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2i%endo iso o "e'$o, com a m0o rmu'a e con"u'sa, ia irando do pesco)o um pequeno saquie' de couro preso a um cord0o, em forma de (enin$o, e o enregou nas m0os de 7'ias, di%endo-'$e< - Core e "e.a para aca(ar de crer, e n0o cuidar que .á esou res'endo*** 7'ias puxou a faca que ra%ia presa 3 casa do co'ee, e corou com cuidado o saquie'* Caiu-'$e na m0o um pun$ado de grossos e 'indos diamanes* Um 'ampe.o de a'egria raiou nos o'$os empanados do mori(undo que murmurou com "o% surda< - + seu & udo seu, par0o* - #as, ;im0o, disse 7'ias, n0o deixas no mundo fi'$o, irm0o, parene ou amigo, a quem queiras (eneficiar:*** posso eu aceiar iso sem pre.uí%o de ningu&m: - 2e ningu&m, par0o, de ningu&m* 7u sou so%in$o no mundo* ;e o par0o n0o aparece 0o a empo, min$a $erdeira era essa "e'$a desa'mada*** cru%>*** 2eus '$e perdoe*** - 7 quem & esa "e'$a:*** que preendia e'a - 7u .á '$e cono*** a$>*** meu 2eus>*** que dor>*** parece-me que "ou .á morrer> #eu 2eus>*** dai-me for)a por mais um insane para poder aca(ar*** 7'ias o'$ou para o c&u e repeiu do fundo dJa'ma a s/p'ica do mori(undo* O "e'$o aca'mou-se um pouco e coninuou< - =á mais de um ms que caí entrevado e sem poder mo"er-me, mei-me nese ranc$in$o onde sempre en$o morado* Ac$ei-me so%in$o e sem er quem me raasse, morreria aqui 3 fome e 3 míngua sem ningu&m sa(er, se n0o fosse esa "e'$a, /nica "i%in$a que $á aqui mais pero e que, dando f& de mim que aqui esa"a a(andonado, ofereceu-se para me raar* Aceiei agradecido a esmo'a que me fa%ia e .u'guei que "in$a mandada por 2eus* O po"o daqui, "endo-me assim andar arredado e so%in$o e sempre a garimpar pe'os maos, in$a omado cisma comigo e anda"a di%endo que eu era feiiceiro, in$a pare com o dia(o, e que nese meu ranc$in$o eu in$a arro(as de diamane enerrado* A "e'$a que da"a ou"ido a esas coisas, e enada pe'o demInio, "eio um dia dar (usca em meu pesco)o, enquano eu esa"a dormindo*** eu 'ogo acordei e (em o perce(i mas e'a .á in$a desco(ero o negcio*** oi a min$a perdi)0o*** 6ingu&m mais enrou aqui sen0o e'a e uma sua comadre, 0o (oa como e'a, 2eus a perdoe> que fa% as suas "e%es e me fica de senine'a, quando a oura em precis0o de sair* Assim $á mais de um ms esou aqui no fundo desa cama*** e'as n0o me deixam so%in$o um insane e n0o "e.o ouras caras sen0o as de'as*** O cero & que cada "e% "ou a pior e desconfio*** mas, a$> 98
par0o, por a'ma do defuno par0o "e'$o, n0o "á di%er a ningu&m nem fa)a ma' a essas desgra)adas* - #as desconfias o qu:*** fa'a, fa'a, ;im0o* - 2esconfio que es0o me preparando para ir mais depressa* 6eses dias, "endo que esa"a mesmo 3s poras da more, disse a e'as que in$a que fa%er ceras dec'ara)ões e pedi-'$es que me c$amassem um $omem para escre"er o que eu queria e a'gumas pessoas para esemun$as*** Tempo perdido>*** nunca mais ac$aram o a' $omem* Por fim pedi que me c$amassem um padre< o mesmo nunca ac$aram padre para me confessar* 7u ia morrer sem confiss0o nas garras daque'as duas (ruxas, 2eus me perdoe> que esa"am af'ias por me "erem moro para me rou(arem e deiarem meu corpo aos uru(us*** #as nesa $ora n0o de"o 'em(rar-me das ofensas, sen0o para perdoar* 2eus 'ou"ado> @mc* apareceu, e eu '$es perdIo de odo o cora)0o* - A$> em que m0os esa"as, meu po(re ;im0o>*** mas a 'a"ra, ;im0o: ainda n0o me dissese onde esá a 'a"ra:*** - A$>*** sim*** a 'a"ra &*** ai> meu 2eus>*** 2eu um grio, esre(uc$ou, seus o'$os se esa'aram, escapou-'$e do peio um so'u)o rouquen$o, e ficou im"e'* - ;im0o> ;im0o> griou 7'ias agiando-'$e o (ra)o* @endo por&m que n0o da"a indício a'gum de "ida< - #oro> moro> exc'amou com ang/sia, moro e 'e"ando consigo para a sepu'ura o segredo de min$a fe'icidade> 7'ias, endo-o .á por moro, .á se dispun$a a reirar-se e a ir dar ordens para o enerro de seu "e'$o camarada, quando um fraco gemido "eio anunciar-'$e que e'e ainda n0o esa"a moro* O mori(undo in$a feio apenas o primeiro ermo, que durou cerca de de% minuos* 7'ias foi examiná-'o, e "iu que respira"a, e come)a"a a mo"er os o'$os* - Par0o: par0o>*** que & de'e: foram as primeiras pa'a"ras que proferiu com "o% quase impercepí"e'* A$> esá ai*** quase que n0o enxergo nada*** A 'a"ra & 'á*** rio a(aixo*** quase uma '&gua a(aixo de 8oaquim AnInio*** passando rs crregos, o erceiro do 'ado de cá do rio*** =á 'á uma cru% de cedro que eu mesmo finquei*** e cinco pedras grandes em cru%*** e*** 60o pIde di%er mais*** 7sas /'imas pa'a"ras mesmo eram dias com "o% 0o sumida, que 7'ias precisa"a quase encosar o ou"ido 3 (oca do mori(undo para poder ou"i-'as* 2e no"o esa'ou os o'$os, ineiri)ou-se na cama, e exa'ou um suspiro con"u'si"o era o derradeiro*
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7'ias cerrou-'$e os o'$os, e, a.oe'$ando-se ao p& do mísero 'eio com piedoso reco'$imeno, re%ou pe'a a'ma do finado* 2epois deu ao c&u fer"orosas gra)as pe'o inesimá"e' e quase miracu'oso (enefício que aca(a"a de fa%er-'$e por inerm&dio de um "e'$o e miserá"e' camarada* ec$ou cuidadosamene as poras e .ane'as da casa, monou a ca"a'o e pariu a ga'ope para o Com&rcio da Cac$oeira a dar ordens para que se fi%esse um enerro decene a seu fie' e infe'i% camarada*
CAPÍTULO 19 - A GRINALDA E O TÚMULO 2esde pe'a man$0 L/cia espera"a com a mais ansiosa impacincia a "inda de seu amane* Ac$a"a-se cada "e% mais en'eada em cru&is apuros, e odos os dias seu pai a apera"a "i"amene para que se decidisse a aceiar por marido o negociane que $a"ia so'iciado sua m0o* !em "ia e'a que o $ori%one de no"o se anu"ia"a e que oura "e% o c&u ia '$e impor o crue' de"er de imo'ar, desa "e% irremissi"e'mene, o seu amor 3 fe'icidade de sua famí'ia* #as desa "e% sua a'ma, ou porque .á esi"esse cansada de anos em(aes e prosrada pe'o desa'eno, ou porque seu amor mais a"i"ado pe'a presen)a de 7'ias e fora'ecido pe'a esperan)a dominasse despoicamene em seu cora)0o, .á n0o senia aque'a coragem que a in$a susenado a primeira "e% em sua no(re dedica)0o* - #as, ref'eia e'a consigo, eu en0o era s* 60o in$a noícias de 7'ias, que anda"a por 'ongas erras n0o podia sa(er se ainda ama"a-me e nem mesmo se era "i"o ou moro podia dispor 'i"remene de meu desino* #as, agora que e'e se ac$a pero de mim, que sei que "i"e e "i"e s para amar-me, e ano direio em adquirido ao meu amor, posso eu, sem consu'á-'o, sem di%er-'$e uma pa'a"ra, sacrificar o meu fuuro, que & am(&m o de'e, a um pesar eerno:*** o$> n0o> cero que n0o>*** eu arai)oaria o amor que me consagra e a confian)a que em mim em, e mereceria (em que de no"o me despre%asse e ama'di)oasse* TranqBi'i%ada um pouco por ese su(erf/gio que '$e sugeria a sua conscincia de amane, L/cia se escusa"a para com seu pai com a'gumas e"asi"as, procurando gan$ar empo a& que i"esse ocasi0o de ac$ar-se com 7'ias para de acordo com e'e reso'"er o errí"e' di'ema em que esa"a empen$ado o fuuro de am(os* #as o so' .á descaía muio de meio-dia e 7'ias n0o se apresena"a* A posi)0o de L/cia orna"a-se cada "e% mais rise e af'ia e recresciam as ins4ncias, rogos e
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amea)as de seu pai, que nesse dia assenara de 'e"ar ao /'imo exremo a resignada pacincia e su(miss0o de sua fi'$a* Os $omens de a'ma fraca e espírio acan$ado, quando de ricos que eram caem em esado de po(re%a, ornam-se irriá"eis, ino'eranes, in.usos e a& 3s "e%es cru&is* O rancor de que se ac$am possuídos conra o desino que os ma'raa e do qua' n0o se podem "ingar, e'es o desa(afam conra as pessoas que com e'es "i"em e '$es s0o su.eias* O #a.or, enco'eri%ado com as de'ongas e $esia)ões de L/cia, perdeu aque'a prudncia e (onomia que sempre o caraceri%a"a, e, ca'cando aos p&s o decoro e o respeio que sempre guarda"a para com os senimenos de sua fi'$a, aca(run$ou-a com um mon0o de imperinenes repreensões e cru&is expro(ra)ões< - i'$a indci' e capric$osa>*** (rada"a e'e em acessos de c'era, que n0o sa(es sacrificar uma paix0o%in$a indigna e ridícu'a aos "erdadeiros ineresses e ao sossego e fe'icidade de min$a "e'$ice*** pensa acaso que n0o esou perce(endo que ainda ra% arraigada no cora)0o essa afei)0o "ergon$osa por esse po(redia(o, que aí anda 3 oa sem eira nem (eira, e que em sido consanemene o fanasma perur(ador do meu repouso e da fe'icidade de min$a famí'ia:> ;e nesa desgra)ada erra $ou"esse po'ícia e um recruameno em regra, n0o andariam por aí passeando 'i"remene esse e ouros "adios dessa 'aia, que n0o m oura ocupa)0o mais do que perur(ar a pa% das famí'ias>*** A$> nunca pensei que a min$a fi'$a querida, que eu criei aos meus (ra)os e ao meu co'o, com ano esmero e ano mimo, "iesse amargurar-me assim o reso de meus dias>*** 7 L/cia, a po(re L/cia, com os o'$os (aixos e co(era de "ergon$a, ou"ia oda aque'a exp'os0o da c'era paerna, rmu'a e ransida de $orror, como quem ou"e o esa'ar da ro"oada, e s respondia com 'ágrimas e so'u)os* ;eu cora)0o .á n0o in$a for)as para resisir a 0o rudes em(aes for)oso '$e era cur"ar-se a esse no"o sacrifício que o cora)0o repe'ia, mas a conscincia aconse'$a"a* Le"ada ao /'imo exremo pe'as cru&is e duras pa'a"ras do #a.or, L/cia, com a frone ru(ra a um empo de pe.o e de indigna)0o, com o cora)0o a rans(ordar de amargura e desespero, airou-se aos ao s p&s de seu pai* - 7is-me aqui, meu pai>*** (radou com "o% rouca e corada de so'u)os* 7is aqui, n0o a sua fi'$a, mas a sua escra"a* a)a de'a o que (em '$e aprou"er> 6esse momeno ou"e-se o rope' de um ca"a'eiro que apeia-se e (ae 3 pora* 7sse incidene correu o pano so(re aque'a rise e do'orosa cena L/cia 'e"anou-se enxugando 3 pressa as 'ágrimas e procurando compor o roso ransornado pe'as cru&is emo)ões do momeno* O #a.or foi ranqBi'amene a(rir a pora que da rua ou da esrada da"a imediaamene para a pequena sa'a
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em que se ac$a"am mas empa'ideceu ao recon$ecer no "isiane o mance(o conra o qua' $á poucos insanes a c'era '$e in$a feio "omiar os mais in.uriosos improp&rios* 7'ias, gra)as ao (afe.o exraordinário que rece(era da foruna 3 ca(eceira de seu camarada mori(undo, apresena"a-se com ar a'i"o e reso'uo dir-se-ia que ou"ira as in./rias de que $á pouco fora o a'"o, e de'as "in$a exigir prona saisfa)0o* #as, n0o era er a nada disso* 7'ias, depois de er dado com minucioso cuidado as necessárias pro"idncias para que se fi%esse o enerro a seu "e'$o camarada com a possí"e' decncia, monou de no"o a ca"a'o, e sem ao menos parar na casa de sua "e'$a enfermeira, dirigiu-se a oda a pressa 3 c$oupana do #a.or* 8á n0o eram precisas as enre"isas furi"as os ímidos e ocu'os mane.os .á n0o in$am 'ugar* 7ra empo de apresenar-se francamene e dec'arar sem dissimu'a)0o as suas preensões* ?uando 7'ias se apresenou ao 'imiar da pora, L/cia n0o pIde coner um grio de surpresa* O #a.or recuou um pouco desconcerado, murmurando consigo< ese $omem***> meu 2eus>*** ese $omem & como um especro que surge sempre diane de mim em ocasiões desas* 2epois, recuperando o sangue-frio, cumprimenou coresmene e disse-'$e< - O$> sen$or 7'ias, muio me $onra a sua "isia*** mas, descu'pe-me a franque%a, coninuou com sorriso sardInico, n0o posso dissimu'ar-'$e que nesa ocasi0o e'a n0o me parece de muio (om agouro* - 60o:*** sino muio, sen$or #a.or mas n0o admira que eu, que sempre en$o sido infe'i%, n0o possa agourar sen0o desgra)as* #as agora*** n0o sei qua' possa ser o moi"o*** - 60o se 'em(ra que a /'ima "isia com que me $onrou, foi em "&speras de casar-se min$a fi'$a L/cia:*** - O$> se me 'em(ro>*** perfeiamene* - 7 'em(ra-se am(&m que esse casameno se desfe% de um modo (em rise:*** - Como se fosse $o.e, sen$or #a.or*** - Pois (em e agora que esou de no"o em "&speras de casá-'a, eis que me aparece a sua "isia* ;ou a'gum ano supersicioso e n0o deixo de ficar um pouco apreensi"o*** - 7 n0o & sem fundameno a sua apreens0o, sen$or #a.or* 8á que me fa'a com ana franque%a, permia-me que '$e reri(ua na mesma, e fique sa(endo que o
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meu aparecimeno $o.e em sua casa n0o esá 'onge de ser o an/ncio de um no"o desmanc$o de casameno* - 2e"eras, sen$or 7'ias>: exc'amou o #a.or com um sorriso que exprimia a um empo esran$e%a, desd&m e %om(aria* 2e"eras> en0o ainda desa "e% espera que emos pe'a (ar(a a'gum moedeiro fa'so:*** - Pouco impora, reorquiu 7'ias sorrindo* ;e n0o & moedeiro fa'so, o noi"o de agora n0o deixa de ser um usurpador que preende rou(ar o que '$e n0o pode perencer* 2a primeira "e% foi a po'ícia quem se encarregou de desmanc$ar o casameno desa "e%, por&m, serei eu mesmo* O #a.or esa"a pasmo, e n0o sa(ia o que pensar da audácia e impa"ide% com que o mo)o proferia aque'as pa'a"ras que a seus o'$os eram "erdadeiros despropsios* 7sará 'ouco ese $omem: pensa"a ou pre"a'ecendo-se do esado de po(re%a e des"a'imeno em que me ac$o, "em agora "ingar-se insu'ando-me:*** L/cia am(&m, enre aInia e conene, n0o podia (em ainar com a significa)0o daque'e inesperado incidene, e ardia por ou"ir da (oca de 7'ias a exp'ica)0o de 0o exraordinário procedimeno mas n0o '$e ficando (em dirigir-'$e a pa'a"ra, o inerroga"a com os o'$os, onde re'u%ia a mais ansiosa e "i"a curiosidade* - ;eguramene, rep'icou o #a.or depois de um insane de si'ncio, o sen$or esá grace.ando mas permia-me que '$e ad"ira que nem a ocasi0o nem o assuno s0o prprios para %om(arias* - Perd0o, sen$or #a.or>*** n0o %om(o, nem sou capa% de %om(ar de ningu&m em negcio 0o me'indroso* epio-'$e que "en$o desmanc$ar um casameno, porque "en$o aqui de propsio para pedir a m0o de sua fi'$a para oura pessoa que em mais direio a e'a do que esse preendene com quem a quer casar, e que em pono nen$um '$e & inferior* O assom(ro do #a.or crescia de pono, ao mesmo empo que se aumena"a o conenameno de L/cia, que come)a"a a enre"er o desfec$o daque'a cena* - 7n0o o sen$or, prosseguiu o #a.or pausadamene e carregando nas pa'a"ras en0o o sen$or "eio 3 min$a casa de propsio para em(argar o casameno de min$a fi'$a com a pessoa a quem eu quero dá-'a:*** 2e"eras meu sen$or: o sen$or mesmo:*** - ;im, sen$or> eu mesmo> repeiu 7'ias com seguran)a* - 7 quem '$e dá esse direio:*** 103
- Perd0o n0o "en$o exigir "en$o pedir* O #a.or $esiou um momeno na resposa que de"ia dar passou a m0o pe'as (ar(as grisa'$as e respondeu< - ;e "em pedir, o caso & diferene*** Toda"ia, por mais que o sen$or me diga iso, me parece uma farsa, e aca(emos com e'a, eu n0o posso por modo a'gum fa'ar 3 min$a pa'a"ra .á . á compromeida com oura pessoa* - 7 a sen$ora 2* L/cia:*** n0o cona com e'a: descu'pe-me a perguna* 2i%endo iso, 7'ias fia"a os o'$os em L/cia* - 60o posso deixar, respondeu o #a.or, de esran$ar o desem(ara)o com que o sen$or se inromee nos negcios de min$a famí'ia conudo de"o dec'arar'$e*** O #a.or ia responder que sim mas L/cia fixou-'$e um o'$ar, que parecia di%er'$e< n0o mina* O #a.or prosseguiu a'gum ano em(ara)ado< - 2e"o dec'arar-'$e que e'a, infa'i"e'mene, dará o seu consenimeno en$o disso cere%a* 7'ias o'$ou para L/cia esa '$e fa%ia com co m a ca(e)a um sina' negai"o* - ?ue cere%a em disso, sen$or #a.or: .á a consu'ou: - Ten$o oda a cere%a* 2emais, .á que come)amos a exp'icar-nos com oda a franque%a, coninuemos da mesma sore< n0o desfa%endo em nen$uma oura pessoa, o noi"o a quem desino min$a fi'$a & um mo)o muio disino, ai"o e ine'igene, e .á possui a'guma coisa aqui pe'a !agagem n0o con$e)o ouro que ese.a em me'$ores, nem mesmo em iguais condi)ões* Poder-se-á di%er ouro ano desse que a preende, e que .u'gais com mais direio de que o ouro: 7samos po(res como sa(e por mim, que .á pouco en$o a "i"er, pouco me imporaria a po(re%a* #as cusar-me-ia muio resignar-me a "er min$a L/cia sofrer as pri"a)ões da po(re%a, podendo dar-'$e uma posi)0o mais cImoda e (ri'$ane na sociedade* ;eria uma crue'dade que nunca me perdoaria a mim mesmo* - Tem ra%0o de so(ra, sen$or #a.or nem "ou conra isso* 7n0o & muio rico esse mo)o:*** quano possuirá e'e pouco mais ou menos: - Principiou a negociar $á pouco empo, e .á possui a'"e% mais de "ine conos 'i"res* Aqui para o ser0o n0o & mau come)o*
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- 7 se esse ouro, que am(&m preende a m0o de sua fi'$a, possui ano ou mais do que isso: - 7m(ora>*** a min$a pa'a"ra & sagrada n0o & moi"o (asane para eu fa'ar a e'a* - #as, sen$or #a.or, sua fi'$a ainda n0o deu pa'a"ra ao noi"o que '$e quer dar* 7 supon$amos que e'a .á i"esse $ipoecado sua pa'a"ra e seu amor a ese de quem '$e fa'o, e que fosse o noi"o da esco'$a de seu cora)0o: - A$> nesse caso*** eu sei: mas*** aca(emos com ese mis&rio quem & esse preendene:*** onde esá esse noi"o: - Pergune-o á sua fi'$a, sen$or #a.or e'a, ano como eu, '$o poderá di%er* L/cia corou exraordinariamene e (aixou os o'$os* - A$>*** exc'amou o #a.or como acordando de um son$o, n0o & preciso que me digam nada .á o adi"in$ei>*** & o sen$or mesmo*** mas será possí"e': - ;im, sen$or #a.or o sen$or o disse sou eu mesmo* O que ac$a nisso de esran$o: - 6ada*** O que somene me mara"i'$a e n0o posso conce(er & que o sen$or, que ainda onem era 0o po(re como eu me "e.o agora, pudesse de um dia para ouro adquirir uma foruna*** - Caiu-me do c&u, sen$or #a.or posso assim di%er* 7 n0o foi para mim que o c&u a en"iou, foi para sua fi'$a, que & um dos seus an.os, que o c&u a en"iou* 7ra para e'a que eu $á muios anos, com esfor)os e di'igncias inaudias, a procura"a* A capric$osa foruna de um dia para ouro o redu%iu 3 po(re%a, quis am(&m de um momeno para ouro ornar-me rico* oi uma compensa)0o, sen$or e o c&u quer que ese pouco que agora a foruna me concede se.a consagrado a irar da mis&ria a famí'ia a quem e'a 0o crue'mene despo.ou* - ;en$or 7'ias, disse o #a.or como"ido, descu'pe-me*** eu en$o sido "íima de anas decep)ões, de anas misifica)ões nese mundo*** - Compreendo, aa'$ou o mo)o, du"ida ainda do que eu digo* Tem muia ra%0o, sen$or #a.or* ?uer uma pro"a, n0o & assim: 7i-'a aqui* 2i%endo iso, 7'ias irou do (o'so um pequeno em(ru'$o, e o enregou ao #a.or*
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- !em ", acrescenou e'e, que s o .ogo, o esameno ou o garimpo nos podem ornar ricos de um dia para ouro* - ;0o na "erdade magníficos (ri'$anes, disse o #a.or depois de a(rir o em(ru'$o* ; aqui, $á um "a'or de muio mais de "ine conos* - 7 a 'a"ra de onde saíram ainda n0o esá esgoada, disse 7'ias* - 8á "e.o que o c&u os desina"a um ao ouro, e de maneira nen$uma me posso opor ao "osso casameno, "iso que as coisas ocadas pe'a m0o de 2eus se encamin$am de modo 0o "isí"e' para esse fim* 60o me & preciso pergunar a L/cia se consene nesse casameno* =á muio sei de "ossa m/ua afei)0o, e que era a causa da repugn4ncia de L/cia em aceiar ouros en'aces* O c&u me & esemun$a de que eu, denro dJa'ma, n0o desapro"a"a esse amor, e que sempre fi% .usi)a 3s suas qua'idades e (ons senimenos, sen$or 7'ias* #as ese mundo, esa sociedade em ais exigncias*** e eu am(&m, eu que em min$a "ida singe'a e uniforme nunca sondei o oceano das paixões $umanas, n0o podia con$ecer odo o a'cance de a' amor, e pensa"a, insensao que eu era> que conrariando os afeos de min$a fi'$a, procura"a-'$e a "erdadeira fe'icidade* #as espero, meus fi'$os, que me perdoar0o e n0o me querer0o ma' por isso* - 7sque)amos o passado, sen$or #a.or, esse passado, que para ns am(os em sido (em rise e (em c$eio de ranses de amargura* Tin$a um moi"o .uso de proceder assim, eu o recon$e)o e ano o recon$e)o que ainda $o.e, ao 'e"anar-me do 'eio onde passara a noie em 'ágrimas, orurado de ang/sias e o desa'eno nJa'ma, "endo-me po(re, sem fuuro e sem esperan)a depois de mi' "0s enai"as e desesperados esfor)os para adquirir a'gumas coisas, pari para aqui com a firme reso'u)0o de renunciar para sempre ao meu amor e a odas as min$as esperan)as de fe'icidade, des'igar-me de odos os .uramenos e proesos que nos dias de esperan)a fi%era 3 sua fi'$a e com o meu exemp'o e min$as pa'a"ras aconse'$á-'a, a'ená-'a, para que se reso'"esse a aceiar o esposo que podia ampará-'a nese mundo, e esquecesse o desgra)ado que n0o podia ser"ir sen0o de esor"o 3 sua fe'icidade e 3 de sua famí'ia* - ?ue (e'o e generoso procedimeno> exc'amou o #a.or, .á sino-me orgu'$oso em o er por genro* L/cia, sem di%er pa'a"ra, o'$a"a fixamene para 7'ias com os o'$os nadando em ernura e em arrou(os de fe'icidade* - #as o c&u se condoeu de ns, coninuou, e no curo camin$o do Com&rcio de (aixo para aqui, a foruna por um modo exraordinário sorriu-me .uno ao 'eio de more de um po(re "e'$o, e enconrei num momeno e sem procurar aqui'o que $á ano empo procura"a em "0o com esfor)os inaudios* 7sque)a-se do
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passado, sen$or #a.or, e a(en)oe o nosso amor eu am(&m de udo me esquecerei, e pode ficar cero que enconrará em mim um fi'$o su(misso e afeuoso, e suas fi'$as, uma um marido erno e exremoso, e oura um irm0o dedicado* O #a.or, como"ido no ínimo do cora)0o pe'o generoso procedimeno e pe'as no(res pa'a"ras do mance(o, 'an)ou-se em seus (ra)os* - ;e.am fe'i%es, exc'amou com 'ágrimas nos o'$os, se.am fe'i%es, meus fi'$os>*** o c&u a(en)oe o "osso amor* Logo desde o dia seguine 7'ias raou de empregar oda a di'igncia para desco(rir a mina indicada por seu "e'$o camarada no 'eio de more* 6o fim de a'guns dias de pesquisas, com (asane ra(a'$o e pacincia, desco(riu-a enfim no fundo de um gro0o escuro e co(ero de espessa maa* 60o $a"ia ri'$o a'gum que 'á condu%isse* O "e'$o e asuo ca(oc'o mui de propsio in$a ido o cuidado de n0o deixar "esígio a'gum por onde pudesse ser desco(ero o esouro que n0o queria que perencesse a mais ningu&m sen0o a seu .o"em par0o* 7'ias imediaamene deu ser"i)o e o resu'ado n0o desmeniu as pa'a"ras do "e'$o ca(oc'o* 7m poucos dias e'e in$a quadrup'icado o 'egado que na $ora da more rece(era das m0os do fie' e dedicado ;im0o* #as, coisa singu'ar> 'ogo depois a 'a"ra se esgoou, e por mais ser"i)os que dessem, ningu&m conseguiu desco(rir o mínimo diamane* 2ir-se-ia que a Pro"idncia in$a a'i deposiado aque'e pequeno esouro unicamene para ser"ir de recompensa 3 "irude daque'es dois fi&is e dedicados amanes* ?uin%e dias depois do aconecimeno que e"e 'ugar na pequena c$oupana do #a.or, na pequena e /nica cape'in$a que en0o $a"ia na !agagem, ce'e(ra"ase um casameno sem pompa a'guma e com a maior simp'icidade mas o ./(i'o e conenameno que se irradia"a na fisionomia dos noi"os e de odos que presencia"am aque'a so'enidade, da"am-'$e um ar fesi"o e anuncia"am que era um casameno fe'i%* 7ra com efeio um simpáico e formoso par, digno de odas as "enuras da erra e de odas as (n)0os do c&u* Ao saírem da igre.a, os noi"os, separando-se da comii"a que os acompan$a"a, des"iaram-se para um 'ado da igre.in$a, e encamin$aram-se para uma co"a que a'i se $a"ia recenemene a(era, .uno 3 qua' $a"ia am(&m uma cru% no"a de madeira* A.oe'$aram-se .uno de'a, e nessa posura esi"eram re%ando por a'gum empo* Ao 'e"anarem-se, a mo)a despregou o mais 'indo ramo de sua grina'da de noi"a e o deposiou em um dos (ra)os da cru% no ouro o marido co'ocou um rama'$ee de perp&uas e saudades* 7 o po"o que, c$eio de ineresse e
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admira)0o, conemp'a"a aque'a no(re e ocane cena, (endi%ia-os de odo o cora)0o*
XXX*poeeiro*com
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