Faculdade Católica de Rondônia Acadêmicos (as): Vaniza Vaniza Cordeiro de Souza Victor Samuel Sá Ribeiro Bruno Biliatto Miquéias Pereira Iris de oliveira Docente: Carina Clemes Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito 1ºperido/Manhã
Assunto: Relatório sobre o livro Antígona de Sófocles
Grupo de acusação de Antígona
Porto Velho/RO 2014
Introdução a Antígona
O que representa Antígona para nós? Um sinônimo de coragem, de justiça e de humanidade? O que isto significa? Em geral, nós a vemos como a heroína que enfrenta sozinha o tirano, defendendo a liberdade (tão cara ao indivíduo moderno) em nome de leis divinas inalienáveis. Nós a admiramos por ter-se insurgido contra regras arbitrárias que contrariam o direito natural da família e por defender a consciência religiosa contra a opressão do Estado. Esta visão tem sua razão de ser, mas ela corre o risco de tornar-se um clichê, um mito moderno, uma projeção repetitiva de nossos sonhos. Por isto, convém voltar, sempre de novo, ao texto orig inal, ao “quebra-cabeça” das incríveis ironias trágicas de Sófocles. Para perceber esta arte insuperável é preciso distanciar-se das concepções corriqueiras de “tragédias” cotidianas — desastres de grandes proporções, acidentes de trânsito, assassinatos ou outros tipos de fato. No centro da arte dos poetas trágicos está sempre uma situação que coloca o herói diante da escolha entre dois bens. Em outras palavras, a ação trágica leva infalivelmente a uma ação que negligencia um desses dois bens equivalentes. É nisto que consiste a reviravolta trágica: o herói age escolhendo um bem, mas desde o início de sua ação já se anunciam as sombras do “erro” — isto é, de uma limitação própria do homem, incapaz de realizar todos os bens. O segredo da arte sofocliana está nessas ambigüidades, nos sentidos dúbios e enigmáticos nos quais eclode a tensão dramática. Para além das razões explícitas, que levam ao enfrentamento pessoal e religioso de Antígona e Creonte, existe no texto grego uma sutil trama política e genealógica que repercute secretamente sobre as posturas bastante matizadas dos diferentes personagens. Quem se debruça sobre a trama enigmática que subjaz ao enredo superficial encontra nesta tragédia de Sófocles um drama intenso e vivaz. Na leitura do poeta Hölderlin, os personagens de Sófocles deixam de ser meros símbolos, adquirindo a textura densa e labiríntica digna do “mestre da ironia”. Assim, essas figuras tornam-se infinitamente mais ricas e sua luta mais verossímil do que no conflito polarizado que faz de Creonte um simples tirano ávido de poder e de Antígona uma santa que se sacrifica pela família e pelo dever religioso. As personagens principais: Antígona e Creonte. Para compreender o que está em jogo no enfrentamento de Antígona e de Creonte, é preciso compreender o peso de pequenos sinais que Sófocles colocou nas falas dos seus heróis — sinais estes que podem passar despercebidos para leitores que não conhecem bem os mitos antigos, os costumes e as instituições ou a língua da época clássica. Delinearemos, portanto, algumas das passagens chaves nas quais se desenha um conflito político e dinástico que faz de Antígona não apenas a representante de ideais humanitários abstratos (justiça, piedade, leis eternas), mas uma figura com real peso político.
Nessa perspectiva, também Creonte aparece como algo mais do que um bárbaro que abusa do poder, antes revelando os motivos de um esforço sincero para salvar Tebas da catástrofe iminente — o que aparentemente contradiz as evidências. O hábito nos acostumou a ver Creonte como um tirano egoísta e ávido de poder. No entanto, desde os primeiros versos, Sófocles dá também à Antígona os mesmos traços egocêntricos: sublinha que ela se atribui um estatuto privilegiado no palácio e na linhagem dos Labdácidas. A etimologia de seu nome reforça essa indicação: Anti-gone significa: anti-, no lugar da (ou contra), gone, a progenitura. Em outras palavras, a heroína marca sua presença como aquela que substitui (a falta de) descendentes de Édipo. O poeta equilibrou a ação trágica opondo ao rei ou regente, Creonte, uma mulher, filha dos reis mais prestigiosos que afirma com veemência sua posição de destaque. Seria ela egocêntrica ou apenas consciente de seu papel no direito sucessório de sua linhagem? Eis a ambigüidade trágica que confere aos primeiros versos seu estranho frêmito. Antígona é totalmente diferente de sua irmã, Ismena. Esta representa o que é a mulher na pólis clássica (um ser frágil, suspeito, insignificante, cujo valor consiste em ser bonita e submissa), ao passo que Antígona tem a presença de espírito, o faro e a truculência de seu pai. Desde as primeiras palavras no Prólogo, ela fala com inaudita altivez, com uma superioridade surpreendente para uma moça tão jovem, comparável apenas à aura dos heróis lendários.
Resumo da obra
A família de Antígona tinha relação direta com trono de Tebas e após tragédias e discussões familiares instaura-se um conflito em torno do reinado. Seus irmãos Polínice e Eteócles foram amaldiçoados pelo pai que rejeitaram, e destinados a morrer um pelas mãos do outro, o que não deixou de ocorrer, pois se rivalizavam pela posse do trono vazio: Etéocles, a favor do tio Creonte, e Polínice, pleiteando reaver para si o trono que fora de seu pai, colocou-se contra Tebas. Creonte que havia tomado o poder prestou honras fúnebres a Etéocles, seu aliado, mas proibiu, sob pena de morte, que o corpo de Polínice fosse sepultado, decretando que os restos mortais ficassem expostos às aves carniceiras, justificando e legitimando seus atos, repita-se, pelo apego férreo à "manipulável" lei dos homens. Tendo por base que Polínice era um traidor daquela terra e seu inimigo direto. Antígona desobedeceu as ordens do rei e sepultou seu irmão passando por cima de leis soberanas. Argumentos de acusação contra Antígona Lei positivada
Desobedeceu a uma ordem legal, direta, legítima e válida do Rei seu Governante.
Insurgiu-se de maneira egoísta e inconsequente contra o Rei e a Cidade de Tebas. Ameaçou diretamente o equilíbrio e a ordem social. Desafiou de forma deliberada a Soberania do Rei e de Tebas. Antígona abre um duplo conflito: com a polis e com a vontade do seu governante. Recusou-se em obedecer a leis civis, por achá-las inferiores aos desígnios divinos. Aliou-se a um traidor, que matou o legítimo herdeiro do trono, Etéocles, e era inimigo de Tebas fazendo aliança com os argivos para conquistar o poder em sua própria terra pela invasão violenta. Portanto, ficou imediatamente sujeito às sanções para inimigos Tebanos. Lei natural ou divina
Ousada e indomável, atreveu-se a desafiar o rei Creonte (seu tio Creonte), e mesmo ciente da pena de morte que seu ato implicaria, recusou-se em obedecer a leis civis, por achá-las inferiores aos desígnios divinos. Polínice e Etéocles eram amaldiçoados. Preferiu o crime, a desobediência, o conflito, a afronta direta, ao invés de tentar primeiro apelar para os laços de parentesco que os unia ao ponto de ser chamada de louca pelo Coro. Os deuses de baixo eram venerados por Antígona, e os deuses olímpicos, Creonte invoca como protetores da cidade. Zeus é o deus maior e protetor da cidade. ―[...] meu crime de hoje será louvado, pois terei muito mais a quem agradar no reino das sombras do que entre os vivos [...] ‖ – Admite a arrogância egoísta,
assume o crime e usa o divino para defesa de seu crime. As catástrofes sucessivas provocadas pelos Labdácidas atraíram a ira dos deuses, e Creonte acredita que é preciso afastar-se dessa linhagem infeliz e purificar o solo de Tebas. Inicialmente, cabe contextualizar, que Antígona era filha do incesto entre Jocasta e Édipo (v. Édipo Rei), cuja maldição acompanharia também as gerações futuras. Tinha por irmãos (mesmos pais): Etéocles, Polinice e Ismênia. Antígona, jovem virgem, seria esposa futura de Hêmon, filho de Creonte.
A ideia generalizada de direitos subjetivos independentes e acima do direito positivo perdurou por eras. Bases de Argumentação
Nós a admiramos por ter-se insurgido contra regras e normas positivadas que contrariam o direito natural da família e por defender a consciência religiosa contra a opressão do Estado. Esta visão tem sua razão de ser, mas ela corre o risco de tornar-se um clichê, um mito moderno, uma projeção repetitiva de nossos sonhos (Kathrin Rosenfiled) ―Parece preferível uma sociedade de celerados tementes à lei, como diria Kant,
a uma sociedade de santos que viram a luz, pois estes só seguem a luz que descobriram[...]‖. (ADEODATO, 2009, p.3). Para Creonte, que assume o reinado de Tebas, considera Polínice como traidor tendo em vista que o reinado era de Etéocles. Algumas ou quase a maioria das obras não citam essa passagem, apenas se referem a uma guerra tendo Etéocles de lado oposto e não em busca de seu reino por direito. Kathrin Rosenfield observa em sua obra que: ― Antígona diz, en passant , no prólogo ―o grande Creonte‖, ela assinala, entre outras coisas, a inferioridade
tradicional da linhagem de Creonte (não só sua indignação pelo decreto que ordena a exposição do cadáver de Polínice. ‖ (Rosenfield, Katrin, Ed. Zahar 2009). Para o leitor atento e sensível as máscaras usadas por Antígona, consegue enxergar que ela usou um fato dos campos familiar, religioso e humanitário para disfarçar e maquiar sua intenção de derrubar o trono de Creonte e assumir o governo de Tebas. Vejamos o que diz a carta magna a respeito desta situação pontual: Art. 5º/CF
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Ela não se incluía na cidade ou nas leis que a regiam, tanto que fala para Ismene que Creonte decretou uma lei para todos e ―pasmes, também para mim‖.
O hábito nos acostumou a ver Creonte como um tirano egoísta e ávido de poder. No entanto, desde os primeiros versos, Sófocles dá também à Antígona os mesmos traços egocêntricos: sublinha que ela se atribui um estatuto privilegiado no palácio e na linhagem dos Labdácidas. Desde as primeiras palavras no Prólogo, ela fala com inaudita altivez, com uma superioridade surpreendentemente egoísta e política.
Estamos falando de alguém que colocou seus interesses, suas paixões e seu egocentrismo principesco acima do Rei, da Sociedade, da Estabilidade, da Soberania e da Segurança de um povo, manipulando o povo através de um pseudo ato heroico mascarado com o véu da enganação de seus verdadeiros motivos, que eram o de tomar o trono de Tebas e reinar mesmo contrariando as leis divinas que ela mesmo pregava, mesmo sabendo que era a última da casa dos Labdácidas que foram amaldiçoados até a última geração, portanto esta se encerrava nela. Antígona sabe que pode morrer, mas escolhe o dever religioso e a glória. "Deixe-me, deixe minha imprudência correr esse risco. Ainda que me seja necessário sofrer, morrerei gloriosamente" insiste ela, contra uma irmã que reconhece em seu gesto a marca de uma loucura, de uma loucura de quem "sabe amar aqueles que ama" (ANT. 94-l(K)). Creonte não é tirano, é legítimo. Creonte em sua primeira fala pretende esposar um ponto de vista humano por excelência, o lugar da política e das leis criadas pelos homens. Por isso seu primeiro discurso é todo voltado para uma lógica que a cidade democrática do século V conhece e adota. Num primeiro momento, ele mostra que ocupa o poder de maneira legítima: —"... o poder soberano me foi concedido por ser o parente mais próximo" (Ant. 170). Não caracterizando com isso que seu mando seja imediatamente caracterizado como tirânico. Em segundo lugar, procura opor os atos rebeldes à necessidade de conservação da cidade: "... Que Zeus saiba, ele que lê nos corações: não sou homem a me calar, quando vejo a desordem de um só pôr em perigo a sorte de todos" (ANT. 180-185). ―Como observa Lanza, trata-se de um programa político, de um discurso de investidura‖ E não podemos negar-lhe a eficácia. Como observa Knox, ele professa uma religião da cidade, um culto dos defensores da polis, que nada tem de irreligioso, embora alguém possa indicar certa superficialidade de crença, no entanto, não foi recusada pelos atenienses do século V. Ismena se curva (aceita) sob a vergonha da maldição, ao passo que Antígona (69-77) encara esses insucessos como se sua audácia pudesse reverter a situação.