as incríveis aventuras de
anastácio
o explorador
Pedro Rosário José Carlos Núñez Antonio Valle Arias
Rosário, Núñez & Arias (2016). As Incríveis Aventuras do Anastácio, o Explorador. Braga: Escola de Psicologia, Universidade do Minho. Autores
Pedro Rosário, Universidade do Minho José Carlos Núñez, Universidad de Oviedo Antonio Valle Arias, Universidad de A Coruña Ilustração
Ricardo Roque Martins Design Gráfco
Joana Pereira ISBN: 978-989-20-7142-8
1. a caixa misteriosa
Tudo começou com uma caixa de papel. É curioso como as grandes aventuras começam sempre por coisas pequenas e simples. A campainha de casa soou estridente no nal de uma tarde preguiçosa. Arrastei-me murmurando queixumes (por que é que tenho de ser sempre eu a fazer tudo aqui em casa...), e abri a porta. Esperava-me uma caixa de cartão e um envelope elegante com o meu nome escrito numa letra cuidada. Abri o pacote com o coração aos pulos. No meio de muito papel de jornal amarrotado encontrei uma lupa, um velho mapa e um pequeno bloco de notas com um lápis.
O envelope escondia uma mensagem misteriosa: Amanhã, sábado, depois do pequeno-almoço junto ao Velho-carvalho. Traz as tuas novas ferramentas.
A mensagem era muito estranha e não estava assinada. Quem teria enviado aquele presente? Quem teria escrito aquela mensagem? Estendi o mapa e examinei os percursos com a lupa. - Ei! E nós? Não te esqueças de nós – a voz era suave, mas rme.
Não queria acreditar no que via e ouvia. O bloco de notas e um irrequieto lápis olhavam-me com um ar desamparado. Sem pensar, segurei-os na mão enquanto os meus olhos percorriam demoradamente o mapa. A lupa empurrou a minha mão na direcção de uma velha árvore, indicando-me o objetivo. Nesse momento tomei uma decisão: ‘Velho-carvalho, aí vou eu’. Estava ansioso, mas a minha aventura tinha de esperar. Dormi apressado. Um friozinho incómodo foi o meu despertador. Lavei-me e vesti-me mais rápido do que habitualmente (é estranho, mas tudo parece fácil quando a vontade está de bom humor). Pela minha cabeça passavam mil ideias e sobraram botões na minha camisa. Mais calmo, concentrei-me na camisa e voltei a abotoar todos de novo. Desta vez correu tudo bem. Limpei os meus óculos com muito cuidado. Tinha de estar muito atento a todos os detalhes, não podia perder pitada. Um rapaz prevenido vale por dois, como diria a minha avó Egénia.
Tomei um bom pequeno-almoço porque o dia prometia grande actividade. Coloquei as minhas novas ferramentas e uma maçã na sacola e conrmei três vezes que não me esquecia de nada. Despedi-me da minha mãe com um beijo e um abraço prolongados. Esperava-me uma grande aventura e tenho de admitir que sentia um nervoso miudinho na barriga. Em segredo, deixei um recado na mesa da entrada: ‘Vou partir para uma grande aventura. Tudo começa no Velho-carvalho.’
2. A montanha prateada
‘Onde é que já se viu? Uma criança sozinha partir para uma aventura, uma coisa tão perigosa... Talvez o melhor seja car quieto. Lá diz o velho ditado: Quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos’. ‘Força Anastácio, é assim mesmo. Dos fracos não reza a história. Vai em frente’. Enquanto caminhava, estas duas vozes discutiam no meu ouvido, às vezes ao mesmo tempo, perturbando-me. Possivelmente, o melhor era voltar a casa e fazer de conta que nada se tinha passado. Talvez Talvez o melhor seja aceitar resignadamente as coisas como são. Estas aventuras não são para mim... Sim, não sei bem, naquele dia até as nuvens escuras no céu pareciam querer avisar-me do perigo iminente.
Quando a minha vontade estava a fraquejar e os meus passos a cambalear, fui empurrado por um vento muito forte. Não me lembro bem do que aconteceu. Fui levantado do chão e fechei os olhos com muita força porque tenho medo das alturas. Aterrei de cabeça num tapete fofo de ores e comecei a espirar sem parar. “Santinho”, disse-me uma voz rouca e distante. Compus os óculos e, sem sem tempo para respirar, fui agarrado por ramos que se enrolaram nos meus braços sem pedir licença. Levantaram-me no ar - devo ter gritado com susto, eu sempre grito - e sentaram-me num ramo de um imenso tronco. A minha sacola cou no chão e, de lá do alto, parecia uma pequena formiguinha. Agarrei-me como pude ao tronco.
- Não tenhas medo – disse uma coruja que tinha acabado de pousar no tronco. ‘Isso é fácil de dizer’, pensei com os meus botões, enquanto abraçava o tronco como se o quisesse espremer. - Precisamos muito da tua ajuda – continuou a coruja, ignorando o meu medo. - Siiim, siiim – tentei responder - mas agora é um pouco difícil. – A resposta pareceu-me ridícula, mas foi o que me veio à cabeça. O medo não me deixava pensar. Entretanto, a coruja balanceava-se no tronco com uma agilidade que me parecia ser impossível.
- Os coelhos estão doentes e precisam de ajuda – disse a coruja com uma voz triste. - Sim, mas o que posso fazer - Estou a tentar não cair, acho que vou... nem quero pensar – continuava a dizer coisas sem muito sentido. - Há uma cura, uma planta que cresce longe, no cimo da Montanha Prateada – continuou a coruja sem se perturbar com o meu evidente desconforto. - Ahhhh! Que bom... – disse para ser simpático. – Desculpa, mas podes ajudar-me a descer- Por favor... - Sim, claro, mas antes olha para a tua direita – a coruja cou pacientemente à minha espera.
Tentei virar a cabeça sem me mexer muito, não queria cair e estava cheio de medo. O que a coruja me pedia parecia impossível. Os meus óculos faziam equilíbrio no nariz e as gotas de suor passeavam pela pela minha testa sem sem pedir licença, tal era o esforço. Por m, com a velocidade de uma preguiça sonolenta, lá consegui virar a cara e, por m, vi a linda montanha com o cocuruto coberto de neve. - Sim, estou a vê-la, estou a vê-la – gritei de entusiasmo. Fico sempre contente quando consigo chegar a um m depois de muito esforço.
3. O Esquilo branco
Num abrir e fechar de olhos estava no chão. Nem queria acreditar que estava são e salvo salvo e dei uns saltinhos para conrmar. Sacudi o pó da sacola e sentei-me numa pedra para descansar de de tanta emoção. A verdade é que que não sabia bem por onde começar. De repente lembrei-me dos conselhos que tinha lido num num livro há uns tempos. Primeiro, antes de começar qualquer coisa, temos de Planicar (Pl), depois Executar (E) e, no m, Avaliar (A) o resultado nal. PLEA, sim, era essa a senha. Nessa altura senti que o mapa se agitava na sacola. Compreendi que me queria ajudar, e isso era bom porque porque eu tinha muitas diculdades em chegar a qualquer m. Quase sempre começo tudo com muito entusiasmo, mas rapidamente aparecem os obstáculos, a minha força diminui e as coisas vão cando para trás. Pode ser que o PLEA me ajude, oxalá.
Estava na hora de planicar esta nova etapa. Estendi o mapa no chão para estabelecer um plano. Para chegarmos onde queremos, temos de saber bem qual é o caminho. Queria ir para a Montanha Prateada e encontrar uma planta que pode curar os coelhos. Este era o meu objetivo, e a lupa ajudouajudoume a encontrar o caminho no mapa. Escrevi algumas notas que me poderiam ajudar no percurso, respirei fundo e avancei para a seguinte etapa da aventura: a execução. Os primeiros passos deixaram uma pegada leve no chão, sentia-me um pouco inseguro, mas à medida que o caminho ia cando para trás, a minha conança aumentou e os meus passos caram mais rmes. O grande começa sempre pequeno, talvez as coisas sejam sempre assim.
Uns passarinhos decidiram voar ao meu lado piando alegremente e algumas famílias de coelhos acenavam à minha passagem animando-me a continuar. De repente ouvi gritos de socorro. Afastei-me do caminho, procurei o som, e encontrei um pequeno pequeno animal no fundo de um buraco. Sem pensar, deitei-me no chão e estendi o braço no buraco, mas não o consegui alcançar. - Olá, estás ferido? Estás sozinho? – perguntei, enquanto tentava que o meu braço esticasse mais uns centímetros. centímetros. - Não. Estou bem, obrigado. Podes ajudar-me? – pediu o animal num tom suave. - Não te consigo ver bem, quem és tu? - Desculpa, vou tirar o chapéu para que me possas ver. Vês, sou um esquilo branco e caí neste buraco. Nunca tinha visto um esquilo branco, era lindo.
- Porque usas um chapéu tão grande? – Perguntei espantado. - Porque sou um esquilo albino e tenho uma pele e uns olhos muito sensíveis. sensíveis. Tenho de proteger-me e, por isso, uso sempre um chapéu na cabeça. Mas este chapéu é muito grande e não me deixa ver bem o caminho. Acho que tropecei na aba e caí neste buraco. Podes ajudar-me a sair? - Sim, mas não sei bem como. O meu braço não te alcança – respondi um pouco desconsolado. Nessa altura, as ferramentas agitaram-se na sacola. Sim, para alcançar o objetivo tinha de usar o PLEA (Planicar, Executar e Avaliar). Esta era uma boa oportunidade para aplicar o que tinha aprendido. Para preparar um plano, tirei o bloco de notas a sacola e enumerei os dados da situação: Esquilo branco num buraco/o esquilo não está ferido/braço esticado não o alcança, mas está perto.
‘Qual é o problema?’, ‘Quais são as alternativas para o resolver? Por onde começo?’ Perguntei em voz alta. A lupa agitou-se e mostrou os ramos de uma árvore no vidro redondo. ‘Claro’, exclamei em voz alta. Passei rapidamente à fase da Execução e estendi estendi um ramo grosso grosso e comprido que chegou ao fundo do buraco. O esquilo branco aproveitou a oportunidade, subiu pelo ramo e, pouco depois, saltitava alegremente ao meu lado. O esquilo branco estava salvo. Estava concluída a fase de avaliação. O objetivo foi alcançado, o PLEA funciona. As ferramentas celebraram o êxito no interior da sacola.
4. A missão
- Desculpa, com tanta confusão, nem te perguntei o nome... - Cucu. O meu nome é Cucu – respondeu o esquilo branco. Tentei esconder o meu espanto. Que nome tão estranho!? Porque teria o esquilo branco aquele nome? Pensei Pensei com os meus botões. - Eu sou o Anastácio – disse-lhe. - Obrigado por me teres salvo. Já estava ali há muito tempo no buraco e não gosto de estar sozinho – explicou o esquilo branco. Sorri-lhe e senti o meu coração quentinho. - E agora, o que vais fazer? – perguntei-lhe. - Agora vou ajudar-te. Tu ajudaste-me e eu vou fazer o mesmo por ti. Qual é o plano? Para onde é que é a aventura? – Cucu era um esquilo despachado e sem papas na língua.
- Como é que sabes que estou numa aventura? – perguntei curioso. - Ora, ora. Todos estamos numa aventura. Sempre que desaamos os nossos nossos limites, estamos a viver uma aventura. Podemos não o reconhecer, mas isso seria uma pena, porque todas as aventuras são... uma aventura. As minhas sobrancelhas franziram-se interrogativamente. - Sim, além disso tu estás tão à vontade neste ambiente como se estivesses a andar de bicicleta no cimo de uma grande grande árvore – concordei com a cabeça. – É fácil concluir que estás aqui por algo. Qual é a aventura? – o esquilo branco era insistente, não era fácil escapar-lhe. - Os coelhos estão doentes – disse quase em surdina. - Sim, eu sei. É uma desgraça – respondeu o Cucu. - Tenho, temos – corrigi rapidamente e o esquilo branco sorriu – de ir à procura de uma planta que os pode curar.
- Vamos, vamos. Como se chama a planta? – perguntou entusiasmado o Cucu. Não respondi e olhei para o chão com os ombros encolhidos. A verdade é que me esqueci de perguntar à Coruja o nome da planta. - Não sabes o nome da planta? Não podemos partir sem saber o que procuramos procuramos – disse sabiamente o Cucu. – Antes de avançarmos, temos de saber muito bem qual é o nosso objetivo e recolher a informação necessária. Não podemos caminhar à toa. - Tens razão, tens razão, eu devia ter perguntado – respondi com voz envergonhada. As ferramentas agitaram-se na minha sacola e eu entendi a mensagem. O PLEA chamava-me. Esticámos o mapa no chão e eu segurei na lupa.
- Temos de saber o que o que queremos alcançar, o que temos, o que nos falta ... - o esquilo não parava para respirar. – Só depois podemos estabelecer um plano. O bloco de notas gostou da sequência e o lápis anotou tudo. - Bem, temos de encontrar uma planta da qual não sabemos nem o nome, nem... – disse, mas fui interrompido pelo Cucu. - Sim. E quando não conseguimos resolver as coisas sozinhos, quando temos dúvidas, o que devemos fazer? pedimos ajuda – perguntou e respondeu Cucu com a habitual velocidade. ? Quem nos poderá ajudar? – continuou o Cucu – Temos de falar com os coelhos. Eles podem ajudar-nos – respondi entusiasmado com a ideia. A lupa reetiu a luz e apontou o caminho. Sorrimos todos. Caminhámos em silêncio e, no nal de uma longa alameda de árvores que se abraçavam nas copas, encontrámos um velho coelho na borda do caminho.
- Olá, Coelho. Eu sou o Cucu e este é o Anastácio. Somos amigos, sabes?! Ouvimos dizer que os coelhos estão doentes e queremos ajudar. - Obrigado, amigos – respondeu um velho coelho com voz cansada. – Doença terrível ajuda precisamos. Olhei para o esquilo com ar preocupado. O coelho parecia estar muito doente, nem conseguia completar as frases. Tínhamos de agir rapidamente. - Sei que pode parecer estranho, mas uma coruja pediu-me para procurar uma planta no cimo da Montanha Prateada. E a verdade é que eu não sei o nome da planta. Podes ajudarnos? – pedi com voz suave. - Montanha Prateada, sim. Planta pequena, amarela, estrela. Trazer rápido – tapou os olhos com as longas orelhas, parecia querer descansar. Decidimos partir para não incomodar mais, mas tínhamos de continuar à procura procura de mais informação, a que tínhamos não era suciente, concluímos os dois.
5. Era uma vez Dédalo e o seu filho Ícaro
Um pouco desconsolados, sentámo-nos numa pedra do caminho. Mas as ferramentas na na sacola, sempre vigilantes, agitaram-se empurrando-nos a continuar o caminho. O objetivo esperava por nós. Quem Quem não desistir, há-de conseguir, recordámos. Perto, encontrámos uma família de coelhos a comer folhas verdes com apetite. - Há muitos coelhos que estão doentes?! E isso que me importa? – exclamou o pai coelho com voz forte. Terminou com uma gargalhadinha forçada e os lhos repetiram em coro a frase e a gargalhadinha. Não estavam doentes e não estavam interessados em ajudar quem estivesse. Naquela família corria tudo bem. Ter uma saúde de ferro e folhas verdes tenrinhas à mão de semear, era tudo o que lhes interessava na vida.
Afastámo-nos com muita tristeza. Os nossos pensamentos e interrogações silenciosas foram interrompidos por uma pequena abelha que voava em círculos sem parar. Parecia transportar uma mensagem importante, tal era a agitação. Mas como só compreendíamos o que nos dizia quando passava à nossa frente, demorámos algum tempo a entender a mensagem. - Eu sei zzzzz onde se zzzzz encontra a zzzzz planta amarela zzzzz em forma de zzzzz estrela – concluiu, por m, a pequena abelha sem parar o seu voo. - Como te chamas? – perguntou o esquilo branco sem conseguir xar os olhos na abelha irrequieta. - Zeee... claro – respondeu entre zumbidos. - Claro? Porque é que é claro? – perguntei eu, surpreendido. - Porque todos zzzz me chamam zzzz Zeee – respondeu a abelha no m de algumas voltas.
- Por favor, voa mais devagar que já estamos a car um pouco enjoados com tanto movimento – pedi-lhe o mais gentilmente que consegui. - Sim. Pára, por favor – disse-lhe o Cucu já sem paciência. Mas a Zeee não parecia querer abrandar, e o incómodo zumbido estava a tornar-se insuportável. - Queres ouvir uma estória? – perguntou o Cucu, já em desespero. Fiz um olhar espantado, mas o Cucu sossegoume. -Vais ver que resulta, pelo menos com os esquilos irrequietos resulta sempre – disse-me em voz baixa. A verdade é que a abelhinha abanou as antenas armativamente, aterrou na sacola e cou quieta à espera do início da estória. Eu nem queria acreditar. Cucu tossiu para aclarar a voz e começou como começam todas as estórias.
- Era uma vez... Esta é uma estória muito, muito antiga que me contou um primo afastado. Ele é um esquilo esquilo voador campeão de salto entre árvores. Se o conhecesses.... – dei uma cotoveladinha no Cucu para o apressar - Bem, mas comecemos a estória que se faz tarde. Era uma vez Dédalo e o seu lho Ícaro. Por motivos que agora não vêm ao caso, os dois foram presos pelo poderoso rei Minos numa ilha da antiga Grécia. Reza a história que o Dédalo era um construtor famoso em Atenas e, talvez por isso, logo que chegou à ilha começou a planicar a fuga. Depois de percorrer toda a ilha para cá e para lá para recolher toda a informação disponível, Dédalo avaliou as diferentes alternativas e concluiu que só conseguiriam sair da ilha a voar. Elaborou um plano e refugiou-se numa gruta para trabalhar com menos distracções. Trabalhou, sem descansar, e construiu asas usando a madeira da oresta e as penas deixadas no chão pelos pássaros visitantes.
As abelhas também quiseram colaborar e forneceram a cera que permitiu colar as penas “viva zzzz, viva as zzzz laboriosas zzzzz abelhas”, disse a Zeee contente. - Depois de muito trabalho, e de várias tentativas frustradas, as asas estavam prontas para voar. Do alto do penhasco, contemplando as grandes ondas que levavam a espuma às cavalitas, Dédalo avisou o lho que não poderia voar muito perto do sol. O calor derreteria a cera das asas e o resultado seria trágico. Respiraram fundo, deram as mãos e atiraram-se para o vazio batendo as asas. Planaram nos ares com a leveza de uma águia – Zeee fez um pequeno voo demonstrativo. Em breve estariam a salvo, e essa certeza desenhou um sorriso em Dédalo.
! h s a l p s
Tudo corria bem até que, repentinamente, Ícaro decidiu alterar o plano de fuga e, sem avisar, voou na direcção do sol – as ferramentas encolheram-se com receio na sacola. Ficámos todos em silêncio e um pouco tristes. Talvez sentissem, como eu, que era preciso reectir com calma na mensagem da estória. Para desanuviar um pouco o ambiente perguntei: - Cucu, estou muito intrigado. Porque te chamas Cucu? O esquilo branco ia começar a responder, mas foi interrompido pela Zeee, já cansada de tanto descanso. - Vamos zzzzz vamos zzzzz não podemos zzzzz perder tempo zzzzz os coelhinhos zzzzz contam contam zzzzz connosco – disse Zeee na sua habitual agitação.
6. A última etapa
O caminho era bonito, subia lentamente enrolando-se em serpentina à volta da montanha. Parámos para descansar à sombra de uma árvore e dividimos entre todos a maçã que eu carregava na sacola. Não gostava da ideia de subir uma montanha, não gostava das alturas, mas a vista daquela imensa janela em tons de verde e castanho era magníca. É como diz o ditado, quem não arrisca, não petisca. De lá do alto, vi, em versão miniatura, o Velho-carvalho e o longo percurso que tínhamos feito. Nunca pensei chegar tão longe, tão alto; mas a verdade é que estava ali. O esforça valia a pena. Estava contente por não ter desistido da aventura. É mesmo verdade, quem não desistir, há-de conseguir. Enquanto caminhávamos, cantarolámos para distrair o esforço da subida. Não cantávamos anado, mas isso não era importante.
O importante era conseguir alcançar o nosso objetivo e, para tal, seguir o PLEA era fundamental. As ferramentas agitaramse contentes na sacola, parecia que escutavam os meus pensamentos. Caminhámos um pouco mais até que, no nal de uma curva em cotovelo, o caminho começou bruscamente a estreitar, a estreitar, a estreitar. Encostei-me completamente à parede da montanha para car o mais longe possível da berma. Tinha medo de cair. Naquela parte caminhei muito lentamente, qual tartaruga sonolenta. A verdade é que me custava muitíssimo avançar. Duvidava que conseguisse chegar ao nal desta etapa e isso paralisava a minha vontade. ‘Talvez fosse melhor regressar. Aliás, nem sabia bem porque tinha partido nesta aventura... Possivelmente aquela planta sem nome nem sequer existia.
OPS!
Sim, talvez os coelhos nem estejam assim tão doentes.’, lembro-me de ter pensado. Cucu pressentindo o meu medo e empurrou-me as pernas, pernas, mas eu resisti. Para me ajudar, ajudar, saltou para as minhas cavalitas e colocou o seu enorme chapéu na minha orelha direita, tapando completamente a minha visão da berma. Deixei de ver a berma, e, por isso, deixei de imaginar a minha queda queda desamparada no abismo. Afastei o que me distraía e concentrei-me completamente no que estava à minha frente. ‘Vamos’, dizia-me Cucu com voz suave, ‘um passo de cada vez. Um passo dado é menos um em falta’. Com a sua companhia e ajuda, a minha conança foi aumentando e os passos caram mais rmes. Uns metros mais à frente, o caminho alargou de novo, e respirei de alívio. Tínhamos conseguido superar aquele obstáculo tão difícil. As minhas pernas tremiam de cansaço e de susto e deixei-me deixei-me cair no chão a descansar um pouco.
- Conseguimos, conseguimos, conseguimos – repetiu Cucu aos saltos de alegria. Zeee tinha regressado da sua missão de reconhecimento e voava alegremente à volta do esquilo branco e do seu imenso chapéu. Com tanta agitação, Cucu tropeçou de novo nas abas do chapéu e resvalou para o abismo. - Cucuuuu – gritei assustado, enquanto o vi desaparecer do meu horizonte. Fiquei encostado à parede tremendo de medo. Não sei quanto tempo passou, mas de repente ouvi a voz do Cucu. - Anastácio, Anastácioooo, ajuda-me, por favor. Cosido à parede só conseguia ver o cocuruto do chapéu do Cucu. Como eu estava paralisado, Zeee picou-me sem pedir licença. - Aiii – gemi de dor. - Não consigo mexer-me, tenho medo – disse em voz baixa, escondendo a minha vergonha.
- Sim, consegues, vamos – animou-me o Cucu. Devia ser ao contrário, eu é que o devia devia animar, mas tremia de medo. – Anda, anda, rápido, rápido, ajuda-me – a voz de Cucu revelava pânico. Quis sair dali e voltar para trás. A aventura era demasiado para mim. De repente, repente, a sacola agitou-se. Não!, não podia fugir e deixar o meu amigo naquela situação difícil. Tinha de fazer alguma coisa, tinha de conseguir ajudá-lo. Cucu contava comigo, não podia falhar. Ajoelhei-me devagarinho no chão e estendi o mapa. Num ato de rebeldia as ferramentas avançaram um pequeno passo na direcção do abismo, quando tentei alcançá-las com a mão, afastaram-se um pouco mais e, sem pensar, fui rastejando de joelhos atrás delas. Pararam na berma. Quando olhei para o vazio, deitei-me no chão assustado, mas o Cucu acordou-me: - Anastácioooo. Despacha-te, vou cair – a voz tremia.
Zeee picou-me com força. ‘Ai!’. Sempre a olhar para o chão, estendi a mão e, desta vez, consegui agarrar o Cucu que subiu rapidamente pelo meu braço para o chão rme. Abracei-o demoradamente e encostámo-nos a descansar. descansar. Aquela aventura era muito emocionante, estávamos esgotados. Uns minutos depois, já cansada de tanto descanso, Zeee picou o Cucu. Desta vez foi o esquilo que exclamou um sonoro ‘Ai!’. Entendemos a mensagem e continuamos a caminhar. O carreiro poeirento continuou a serpentear lentamente a montanha. Zeee fez um novo voo de reconhecimento, e voltou pouco depois muito agitada. - Vamos zzzz vamos zzzz vamos zzzz falta pouco – disse a irrequieta abelha tentando animar-nos.
SOCORRO!
Umas poucas curvas depois, encontrámos a Zeee voando em pequenos círculos apontando na direcção de um um grupo de ores amarelas em forma de estrela. Escondidas à sombra de um pequeno arbusto, não teria sido fácil encontrá-las. Era bom estar rodeado de amigos. Juntos fazemos maravilhas. - Conseguimoooos – gritou Cucu de alegria.
As ferramentas agitaram-se festejando, o objetivo tinha sido alcançado. Eu estava demasiado cansado para celebrar, mas senti-me contente como nunca me tinha sentido antes.
-Mãeee, achas que eu também vou conseguir? - Que parte da estória queres voltar a ler, lho?
Aprendi a não desistir dos meus sonhos
Ensinou-me a usar o PLEA! D.R. 11 anos Percebi que quando me esforço consigo alcançar os objetivos. - I, 10 anos
D.A., 11 anos
Com o Anastácio aprendi que sou Aprendi a ajudar os outros quando capaz sempre de melhorar! - B. 10 anos precisam - R, 11 anos Ajudou-me com os meus med medos os.. C., 6 anos O Anastácio deu-me mais esperança de conseguir. - D.C., 11 anos
Os nossos sonhos temos que lutar para concretizar.
FIM!