ALUA
Aluá – Bebida genuinamente afro - brasileira
Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás o rixás nas festas populares de origem africana, uma das versões para esse nome é uma alusão “ao luar”, porque os escravos preparavam esse refresco à noite, inserido nos cultos afro, mais precisamente nos boris. Essa bebida esta sempre presente nos festejos religiosos ela é uma bebida tradicional. Na Umbanda e no candomblé, o aluá é oferecido a Iemanjá. Em Minas Gerais, ele ainda é servido nos rituais de fé da Igreja Católica, geralmente nas irmandades e não pode ser vendido. O aluá foi uma bebida trazida pelos portugueses e que foi usada, na época da colonização, na Amazônia, Ceará, Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte, depois de passar por um processo de aculturação, substituindo-se a fruta ou cereal fermentado e o açúcar pela rapadura. Até mesmo na capital do Império, o aluá teve sua vez. Câmara Cascudo informa que em 1881, França Júnior, cronista do séc. XIX, evoca a popularidade do aluá durante o reinado de Pedro I na capital do Império: "No primeiro reinado o refresco em voga foi o aluá. O pote de aluá saía para o meio da rua, e o povo refrescavase ao ar livre, a vintém por cachaça". Uma senhora, amiga, relembrou da sua infãncia no interior do Ceará, quando o aluá era feito em todas as casas onde haviam festejos juninos. "Não se fazia quadrilha sem ter aluá em casa para servir ao povo todo". O Aluá feito em Portugal era uma bebida adicionada de bagaceira, que é a cachaça feita de uva e que muita gente conhece também como grapa. Só que os índios da Amazônia também faziam um suco parecido, com abacaxi e com teor alcoólico bem mais baixo, porque eles usavam o abacaxi fermentado, que gerava uma pequena graduação alcoólica de 3%, metade da de uma cerveja Pilsen. No Nordeste, a aluá ainda permanece vivo em alguns lugares no sertão, nas novenas, nas festas da padroeira. Em Minas Gerais ele também sobrevive e existe uma tradição de que não pode ser vendido, mas servido em rituais ri tuais de fé (hoje, nas irmandades católicas) como faziam os negros que dançavam, cantavam e bebiam o líquido de baixo teor teor alcoólico (cerca de 3,5°) que, neste caso, era à base de abacaxi. Minha mãe sempre fez aluá em casa, quando éramos crianças, da casca do abacaxi. É delicioso, com um leve ácido e bolhinhas naturais que se formam na boca por causa da fermentação.
Aluá, Limões Doces e Cana-de-Açúcar - J. B. Debret, 1826
Na casa de Mãe Betinha de Iemanjá Sabá (essa foto antiga é de lá), era tradicional servir aluá (lá chamados garaxó, de abacaxi ou milho). Eram jarras enormes, servidas nas festas para Ibeji, quando os erês se fartavam (e nós, mais crescidos um pouco, também). Nunca ouvi falar de outro terreiro em Pernambuco, com esta tradição que só ouvi falar de terem existido em casas muito antigas da Bahia. Então, uma boa oportunidade de experimentar. Existem aluás feitos de vários tipos de fontes de amido fermentados ou açúcares, além do milho e abacaxi. Encontrei receitas de aluá até feito de pão, farinha de arroz ou de mandioca. São receitas perdidas no tempo, morrendo com nossa memória e que valem a pena relembrar. Por termos no Brasil uma rica miscigenação entre os povos (negros, indígenas e brancos), muitas das comidas da culinária afro-religiosa é incorporada em nosso dia a dia, como é o caso do aluá, que também é conhecido como uma bebida refrigerante de origem indígena, feita com a fermentação de grãos de milho moídos. No Acre e no resto da Amazônia é comum se usar o milho triturado ou a farinha de milho. Em outras regiões, como por exemplo em Belém, se usam cascas de frutas como o abacaxi, raiz de gengibre (esmagada ou ralada), açúcar ou caldo de cana e sumo de limão. Também chamada de aruá. Já no estado do Ceará existe uma versão da bebida feita de pão branco, cravo da índia e adoçado com rapadura preta. Então o aluá brasileiro misturou o culto religioso dos africanos, a colonização portuguesa e a culinária indígena. Portanto, temos aí, talvez a bebida genuinamente brasileira ou, no mínimo, a mais tradicional feita por aqui. Aluá de milho
Ingredientes:
Dois litros de milho vermelho seco
Dezoito litros d'água
Cinco rapaduras de um quilo cada
Suco de dez limões, ou o equivalente em laranjas ou outras frutas ácidas, frescas
Uma raiz de gengibre partida e amassada
Jarra de barro já usada e que caiba tudo
Escolha, lave e leve o milho ao sol, para secar. Bote uma caçarola, sem gordura nenhuma, ao fogo, coloque o milho e mexa para tostar todo por igual. Retire do fogo e deixe esfriar. Triture grosseiramente o milho em um pilão. Ponha a água na jarra bem como o milho já frio e o gengibre. Tampe bem a jarra e deixe em Infusão durante oito a dez dias. Todos os dias dê uma mexida e, logo em seguida, tampe a jarra. No dia de servir, raspe ou corte em pedaços pequenos as rapaduras e coloque tudo dentro da jarra, já com a água e o milho. Mexa bem até dissolver as rapaduras. Coe num coador de pano, usando em uma toalhinha de cozinha bem limpa. Adicione o suco de frutas. Caso prefira mais doce, pode botar mais açúcar, de acordo com o gosto da pessoa. O aluá também pode ser feito com açúcar comum. Simbora brindar a cultura afro brasileiro com Aluá! Saúde! https://www.afroxe.com.br/portal/index.php/blogafroxe/70-alu%C3%A1-%E2%80%93-bebidagenuinamente-brasileira