EXALTAÇÃO OU ELEVAÇÃO? A EQUIVOCADA DENOMINAÇÃO “EXALTAÇÃO” PARA A CERIMÔNIA DO GRAU DE MESTRE MAÇOM NOS RITOS EAA, ADONHIRAMITA, BRASILEIRO, E MODERNO ADOTADOS NO BRASIL” “
Sergio Roberto Cavalcante
Antes de adentrarmos no cerne do objetivo do presente trabalho, iniciamos as nossas primeiras linhas na tentativa de tentar esclarecer ao leitor que ora nos honra com sua leitura de que a denominação “exaltação” é utilizada de forma equivocada tanto no REAA e outros (ritos1) adotados pelos Grandes Corpos Simbólicos da Maçonaria do Brasil, é que tomamos emprestado uma estória popular turca contada por Narusdin. E assim diz ele: “Eu, Nasrudin, resolvi procurar novas técnicas de meditação. Selei o meu burro e fui à Índia, à China, à Mongólia. Conversei com todos os grandes mestres, mas nada consegui. Ouvi falar que havia um sábio no Nepal. Viajei até lá, mas quando subia a montanha para encontrá-lo, meu burro morreu 1
Brasileiro, Adonhiramita e Moderno.
de cansaço. Eu, Nasrudin enterre-o ali mesmo, e chorei de tristeza. Alguém passou e comentou: - Tu procuravas um santo, e este deve ser seu túmulo. Na certa, estás a lamentar a sua morte. - Não, é o lugar onde enterrei meu burro, que morreu de cansaço. - Não acredito – disse o recém-chegado. – Ninguém chora por um burro morto. Isso deve ser um lugar onde os milagres acontecem, e tu queres guardá-lo só para ti mesmo. Por mais que eu, Nasrudin argumentasse, não adiantou. O homem foi até a aldeia vizinha, espalhou a história de um grande mestre que realizava curas no seu túmulo, e logo os peregrinos começaram a chegar. Aos poucos, a notícia da descoberta do Sábio do Luto Silencioso espalhou-se por todo o Nepal – e multidões correram para o lugar. Um homem rico foi até ali e achando que tinha sido recompensado, mandou construir um imponente monumento onde eu, Nasrudin enterrara “seu mestre”. Vendo isto, eu, Nasrudin resolvei deixar as coisas como estavam. Mas aprendi de uma vez por todas que, quando alguém quer acreditar numa mentira, ninguém a convencerá do contrário .”
Dando continuidade ao presente assunto e antes de dissertar sobre o tema acima proposto, recorro também aos traçados do século XVII, através do filósofo François de La Rochefoucauld, (Duque de La Rochefoucauld), plenamente adequados ao século XXI, para reflexão daqueles que como MESTRES MAÇONS, deverão, ou melhor dizendo, deveriam ter domínio sobre sí mesmos. Vejamos o que afirmou o celebre filosofo: “Perdoamos facilmente a nossos inimigos os defeitos que não nos incomodam. Não se deve julgar os méritos dos homens por suas grandes qualidades, mas pelo uso que delas sabe fazer. As paixões mais violentas às vezes nos deixam em paz, mas a vaidade nos agita sempre. Os velhos loucos são mais loucos que os jovens. A conveniência é a menor de todas as leis, e a mais seguida. Ganharíamos mais em nos mostrar tais como somos que em tentar parecer o que não somos. Estamos longe de saber tudo
o que nossas paixões nos induzem a fazer. A vaidade nos induz a fazer mais coisas a contragosto do que a razão.” Caro leitor, o vocábulo EXALTAÇÃO é correspondente a glorificar, tornar-se alto, levar ao mais alto grau de intensidade ou energia, elevar-se. Portanto, totalmente inadequado ao conjunto da cerimônia erroneamente denominada “exaltação” ao Grau de Mestre Maçom. Baseado e alicerçado na história maçônica, recorro aos mais antigos catecismos (ancestrais dos nossos atuais rituais) oriundos da Irlanda, Escócia e Inglaterra, esta última, através da tradição da Grande Loja dos Antigos (a de 1751), bem como à Grande Loja dos Modernos (a de 1717), que classifica de forma coerente como CERIMÔNIA DE ELEVAÇÃO AO GRAU DE MESTRE MAÇOM. As Grandes Lojas da Irlanda, Escócia, Inglaterra e também todas as Grandes Lojas estaduais norte-americanas mantiveram a lógica, permanecendo e fazendo uso do correto termo ‘ELEVAÇÃO’ e não “EXALTAÇÃO”. A história sinaliza que o REAA, amplamente praticado na América Latina, solidificado a partir da base do Rito de Heredon, com o acréscimo de 8 Graus, perfazendo os famosos 33 Graus, foi criado sem os graus simbólicos, ou seja, sem os graus 1, 2 e 3, para ser praticado e trabalhado nos “Altos Graus”. A exceção dos povos de origem latina, raramente ele (é) trabalhado no simbolismo, mantendo a sua tradição inicial. Nos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, só há uma Grande Loja, a Grande Loja do Estado de Louisiana que tem algumas (poucas) “lojas simbólicas” (blue lodge) que trabalham com os rituais simbólicos para o REAA. E mesmo assim, o termo adotado para a cerimônia do Grau de Mestre Maçom é ELEVAÇÃO e não EXALTAÇÃO. As lojas escocesas da jurisdição da Grande Loja do Estado da Louisiana são as seguintes: Estrela Polar nº 1 (1794) – trabalha na língua francesa; Perseverança nº 4 (1810) – trabalha na língua alemã2; 2
Trabalhava na língua francesa.
Cervantes nº 5 (1842) - trabalha na língua espanhola; Germania nº 46 (1844) - trabalha na língua inglesa 3; Cosmos nº 171 (1864) - trabalha na língua inglesa 4; União nº 172 (1865) - trabalha na língua inglesa; Dante nº 174 (1866) - trabalha na língua italiana; Galileu Mazzini nº 368 - (1917) - trabalha na língua inglesa 5; Albert Pike nº 376 (1919) - trabalha na língua inglesa. Paul M. Schneidaut nº 391 (1921) - trabalha na língua inglesa. Há também o “Ritual of The Three Symbolic Degrees of The Ancient And Accepted Scottish Rite of Freemasons under the Jurisdiction of the National Supreme Council Ancient and Accepted Scottish Rite Freemasons for the United States of America its Territories and Dependencies6”. No referido compêndio, ou seja, no conjunto dos três rituais e em especial no do Grau de Mestre Maçom (na página 93) consta o seguinte: “Ceremony of Raising”, que traduzido para o português significa: “ Cerimônia de Elevação”. No Ritual do Grau de Mestre Maçom da Grande Loja Legal de Portugal consta na página 10 (dez) o seguinte: “Cerimónia de Elevação a Mestre”. Após breve exposição de fatos históricos, é fácil compreendermos várias adaptações no simbolismo junto ao REAA, como por exemplo, a influência da Ordem Rosa + Cruz, e a inexata terminologia EXALTAÇÃO ao invés do correto termo ELEVAÇÃO. O Ritual do Grau de Mestre Maçom datado de 1804 7 é omisso quanto as denominações: “ exaltação” e “elevação”. O referido ritual diz taxativamente que é “recepção”. No livro8 “Porch and the Middle Chamber: Book of the Lodge” de autoria de Albert Pike (considerado o pai do REAA - USA) reza o seguinte: “PRELIMINARIES OF RECEPTION – A Fellow-Craft 3
Trabalhava na língua alemã. Trabalhava na língua alemã. 5 Trabalhava na língua italiana. 6 É o Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria Prince Hall. 7 Foi o primeiro ritual do REAA. 8 Esse livro consta os três rituais do REAA para a maçonaria norte-americana, elaborado por Albert Pike. 4
cannot be raised9 to the third degree until he has worked his time – that is, until he has been a Fellow-Craft at least three months and a half ”. No recebimento do Grau de Mestre Maçom, o companheiro se depara em um ambiente que o remete à morte. Posteriormente, vivencia a dor e a consternação com a morte do nosso Grão Mestre Hiram Abif após ser elevado da “sepultura” através dos Cinco Pontos do Companheirismo. Após, efetivamente passa ter consciência de que o Mestre está morto, que a Palavra de Mestre se perdeu, e que o Templo está incompleto com sua construção paralisada. Que houve a perda da Palavra de Mestre com a quebra de uma das três colunas de sustentação do Templo. Que Salomão rei de Israel e Hiram rei de Tiro não poderiam formar novos mestres, impedindo por consequência, a difusão da arte da construção. Após deparar-se com o fato acima, não há como persistir na ilusão de que houve a decantada plenitude maçônica, muito ao contrário. Se o Venerável Mestre de uma loja simbólica tenha parado no simbolismo, será incapaz de responder perguntas básicas, tais como: - a palavra foi recuperada? Como ocorreu, e como foi possível o término do Templo? Queridos irmãos mestres, devemos ter a humildade de observar que o 4º grau do REAA é chamado Mestre Perfeito. Por lógica e raciocínio, o Mestre do 3º grau não é perfeito, porque obviamente há respostas mais adiante que obviamente ainda não sabe. O magnífico Rito York, não tão belo, pomposo e esotérico como o REAA é sublime e magnâmico quando “exalta” o Mestre Maçom ao “Sublime Grau de Maçom do Real Arco ”. No grau anterior, como Mui Excelente Mestre, viu o término e a dedicação do Templo. Exaltado, recuperou a palavra que se perdeu, tendo a honra de reviver um dos nossos três antigos Grão Mestres, com a formação do triângulo vivo. Compreenderá ainda o porquê do uso da antiga fórmula: “O Venerável Mestre 9
Elevado.
de minha oficina vos saúda por 3x3”, que geralmente é repetida como um papagaio que repete palavras, sem nenhum entendimento. O Ritual de Mestre Maçom editado em setembro de 2012 pela Mui Respeitável Grande Loja Maçônica do estado da Paraíba. na páginas 45/46, traça de forma justa e perfeitas a correta terminologia que deveria adotar: “ ... – Pela dedicação e pelo esforço empregado, os operários mais estudiosos iam subindo de categoria e, com esta, recebiam aumento de salário. Dentre os companheiros mais hábeis e mais dignos, pretendia Salomão, ao termino da construção ‘ elevar ’ a Mestre Maçom os que os que realmente merecessem, a fim de que, ao voltarem para seu país, pudessem angariar mais facilmente a vida como Mestre Maçom de outras construções... ”
Outro absurdo e que afronta à lógica numérica é o dispositivo estabelecido pela Grande Loja Unida da Inglaterra, através do Tratado de União de 1813, conforme segue; “ A antiga pura Maçonaria consiste de três graus e somente três, isto é, Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo o Sagrado Real Arco...” Para compreendermos o porquê da aberração frente à
aritmética devemos recorrer novamente à história maçônica observando que o legítimo e irretocável Rito York, praticado na sua totalidade de graus pela Grande Loja dos Antigos, permaneceu inalterado, graças ao persistente irmão Laurence Dermott, Grande Secretário daquela Grande Loja (1751) e a fatos históricos, nas antigas colônias da Inglaterra, conhecidas hoje como Estados Unidos da América do Norte, independente do julgo Inglês em 1776. Recorro também a Thomas Smith Webb (considerado como sendo o pai do Rito York - USA) o qual diz o seguinte em um de seus rituais esparsos pelo território norte-americano . “Meu irmão, nessa humilde posição você representa nada menos que o nosso antigo Grão Mestre operativo Hiram Abif, que por sua integridade foi assassinado pouco tempo antes que completasse o Templo. Dizemos que seu corpo foi elevado pela
‘ Garra de Mestre Maçom’ , também chamada de ‘ Garra do Leão de Judá’ . Com o mesmo toque elevarei o teu e, após elevar-lhe, comunicarei a Palavra Substituta do Mestre Maçom pelos Cinco Pontos do Companheirismo.”
Caros irmãos, que o presente trabalho apresentado nos conduza a busca de mais Luz. Sergio Roberto Cavalcante é Mestre Maçom (Instalado) – Mui Respeitável Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba. Bibliografias consultada: Rito York – O Simbolismo – Mestre Maçom – Hugo Borges e Sergio Cavalcante; Ritual de Mestre – REAA – Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba – 2012 (1928); Rito Escocês Antigo e Aceito – Rituais de 1804 – Sergio Cavalcante; Compendio de Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceite – Grande Loja Legal de Portugal - 2002; Supreme Council of the Ancient and Accepted Scotch Rite of Freemasonry in and for the Sovereign and Independent State of Louisiana – 1861; Ritual of The Three Symbolic Degrees of The Ancient And Accepted Scottish Rite of Freemasons under the Jurisdiction of the National Supreme Council Ancient and Accepted Scottish Rite Freemasons for the United States of America its Territories and Dependencies – 1946; Porch and the Middle Chamber: Book of the Lodge – Albert Pike; Ritual do 3º Grau – Mestre Maçom – Adonhiramita – GOB (2006); Ritual de Maçons Antigos Livres e Aceitos – Grau de Mestre Maçom – Rito Brasileiro – GOB (2003); Ritual do Grau de Mestre Segundo Friedrich Ludwing Schröder – GOB (2000);