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f\utor: Quinet, Antonio, Título: descoberta do incons_iente :do
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SG PUc
0002483423 .
Ac.269592
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Qui net
A Descoberta do lnco nsciente D o de se jo a o si nt o m a
Jor ge Za ha r Ed itor Rio d e Janeir o
Para Annabel, que , criançando com as palavras, me contou que tinh a uma dfrica na bo ca e dormia ao lado d e uma mesinha de travi sseira Todos os direitos reservados. A r eprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em p arte, co nstitui violação de dir eitos autorais. (Lei 9.6 10/98) Copyright © 2003 desta edição: Jotge Zahar Ediror Ltda. rua México 31 s obr eloja 20031-144 Rio d e Janeiro, RJ teI.: (21) 224 0-0226/ fax : ( 21) 2262-5123 e-mail:
[email protected] site: www.zahar.com.br
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nac ional dos Ed irores de Li vros, RJ. Q64d 2.ed.
Quinet, Antonio, 1951A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma / Antonio Qu iner. - 2.ed. - Rio de Janeito: Jotge Za har Ed., 2003
1. Inconsciente - Discursos, conferências etc. 2. L acan, Jacques, 1901-1981 - Discursos, conf erências etc.
3. Psicanálise Título
Discursos, conf erências
etc. I.
CDD -150.195 CDU - 159.964.2
As coisas que não têm dimensões são m uito importantes. Assim o pássaro tu-you-you é mais importante pOt s eus Pronomes do que por seu tamanho de crescer .
PREÂMBULO
É no ínfimo que eu vejo a ex uberância.
Desejo logo ex -s isto _ Freud comi contra _ Sujeito d esejo
11
Descartes
12
15
CApfTULO I
R etomando
a Fr eud com Lacan
21
A obr a freudiana: o inconsciente de ponta a pont a 21 28 O sujeito d o inconsciente, e a trilogia do significante Metáfora e m eto nímia 31 CAPfTULO II
A estrutura
sig nificante
e a pulsão
37
As propriedades do significante 40 Inconsciente e transferência 45 -Pulsão, sintoma e acti ng out 47 Tombos de um sonhador 50 CAPfTULO III
O Wu nsch do sonho O Wun sch freudiano
63 e se u uso em alemão
64
O Wun sch no "Projeto" 66 A Wu nscherfü llung 6 9 A demanda do sonho 70 73 O desejo de dormir - "Quanto barulho!" O desejo inconsciente: a sombra dos infernos 74 A Outra cena 77 O falo e o desejo do Outro 82 O pesadelo: um fr a casso do sonho 84
CAPfTULO IV
Demanda e desejo 87 Necessidade e demanda 88 O desejo do Outro 90 A est rutura da d emanda 95 Os fenômenos da demanda n a análise 99 A questão do desejo e a s respostas do sujeito I- isteria e obsessão 105 O desejo do ana lista 110
Apresentação
/
CAPfTULO V
As vertentes do sintoma 117 O sintoma e o patho s 11 8 O sintoma-verdade 122 O sintoma-mensagem 130 O sentido do sintoma 131 O sintoma-compulsão (Zwang - L) 134 Bem dizer o sintoma 140 O sintoma-signo 144 Ad endo: As novas formas do s intoma na medicina
A idéia desta publicação veio do Centro-Oeste do Brasil, do portal do Pantanal, mais precisamente da iniciativa pioneira de A ndréa Br unetto de levar a ps icanálise lacaniana para Campo Grande, onde a se u convite fiz uma série de co nferências. A reuni ão dessas conferências, produção independente de A ndréa (ela estabeleceu o texto inicial, editou, divulgou e colocou em circulação), foi o passo inicial. Ao retomar as conf erências para transformá-Ias em livro, es te cres ceu, cresceu e cresceu ao in corporar as elaborações dos anos 80 e do iní cio dos anos 90 até a lgumas mais recentes so bre o sintoma. Ele reflete, portanto, um trabalho que se ini ciou quando eu mor ava em Paris onde, nos anos 80, trabalhou-se o binômio demanda e desejo no âmbito da Section Clinique do Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII d entro de uma perspectiva, que havi a então, de uma elaboração coletiva de trabalho entre os analistas. E o livro se conclui com as elaborações mais atuais sobre o sintoma a pós a análi se. Publicar este trabalho, um século depois da descoberta do inconsciente por Freud, po de par ecer ultrapassado, se não acompanhássemos atônitos e horrorizados a cada v ez mais intensa rejeição do sujeito promovida pelo discurso da ciência e pela globalização do capit alismo. O Inconsciente é uma hip ótese a ser con stantemente comprovada, pois sua verdade, a " modernidade" tende a r ecalcá-Ia e so bre o desejo, que aí se manifesta, ela não quer nem saber. Os imp erativos da moda, do consumo, do utilitarismo e do capital não deixam lu gar para o ínf imo, o desútil, o Íntimo, o desver, o falho, a faa lta, a fala. de Tudo é, no e ntanto, o capital sujeito: expressão suaisso singularidade e deo verda seus deir nadas. Eis porparaqueo apostamos nas formações do inconsciente que aqui descrevemos, tentando apreender as leis que as rege m seguindo as c urvas do rega to do desejo à luz do ensino de Jacques Lacan. Convergindo o d esbravar do inconsciente com a prática da palavra poética, que para ser s éria tem que ser brinquedo, recor remos ao " idioleto manuelês archaico" em nossas epígrafes por jul gar que, nessa língua, o
Pantanal é u m dos nom es do Inconsciente. Com sua "terapia literária", q~e consiste em "desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos maIS profundos desejos", Manoel de Barros . nos faz tra nsver o mundo, desformando-o, tirando da n atureza as naturalidades e da s palavras seu acostumad o para chegar a seu criançame nto e as sim, como no so nho, no ch iste e no sintoma, fazê-Ias brinquedos.
Desejo logo ex- sisto
Aonde eu não estou as palavras me ach am. M.B.
"O que sou eu?" primeira
é a pergunta
que leva De scartes
a fundame ntar
p ela
vez na hi stória das idéias o co nceito de s ujeito. O p rojeto' do Discu rso do mét odos e encontra explícito em seu próprio título: trata-se de "procurar a verdade nas ciê ncias". O qu e é verdadeiro para Descartes é o que pode ser con cebido "clara e distintamente" unicamente p ela razão. Eis o passo precursor para o desenvolvimento da ciência moderna. O sujeit o que será de finido p elo mét odo cartesiano não é outro s enão o sujeito da ciência. É esse mesmo sujei to da c i ência sobre o qual opera a psicanálise - eis a tese d e La can. Sem o advento do sujeito com Desc artes, a psicanálise não po deria ter vindo à luz. P ara re spon d'er a pergunta so br e "o qu e sou eu," D escartes, em suas M ed itaçõe s fiLos óficas , descarta de entrada os sentidos, pois estes são sempr e enganadores, assim como o corpo próprio. O que ve jo, o que ouç o, apalpo ou sinto não me dizem o que so u; meu corpo tampouco me define. Descartes põe-se a duvidar da e xistência de tu do e concebe um Deu s como um Gên io maligno cuja i ntencionalidade não é outra senão a de enganar o suj eito. Recusa ass im qu alquer autoridade externa, mesmo divina, que garanta a existência das coisas. Esse Deu s enganador faz parte da dúvi da hiperbólic a de Des cartes, a qual após colo car toda a existência em suspenso e anular todo o saber atinge s eu ápice em um único ponto de certeza: o pensamento. Nesse duvidar de tudo uma coisa é pelo menos certa: que e stou pensando. " ... encontro aqui, diz D escartes, que o pe nsamento é um atributo que m e pertence; só ele não pode ser de stacado de mi m. Sou , exist(J. isto é certo, mas por qu anto tempo? O tem po que eu pen sar, pois, talvez, se e u dei xasse de pen sar eu pod eria dei xar de exis tir . Não admiro ag ora nada que não seja necessariamente verdadeiro: não sou sen ão uma coi sa que pensa". I
Res cogitansé a definição d esse sujeito qu.e é uma coisa .cuja substância , ensamento. O sujeito do p ensamento con sIdera verdadeIro tudo o que ae prazão concebe de forma c Iara e d"lstmta, como, por exemp Io, a I 'd"ela d e Deus que Descartes restitui a partir da "terceira meditação" não m ais como um gênio maligno, mas como "autor de minha existência'',2 Com esse procedimento, Descartes postula um Outro div in~ ~omo gar antia do pensar e do existir: um Outro , em sum a , garante do sUJeIto.
Para a psicanálise, o s ujeito é também sujeito do pensamento - pens amento inconsciente. Pois o que Freud descobriu é que o in consciente é f eito de pensamento. Trata-se aqu i do sujeito n ão da d esrazão e sim da ra zão inconsciente, cuja lógica é também apreendida através de um mé todo - o método psicanalítico. Essa herança da filosofia c artesiana conserva o idea l de cientificismo da psicanálise cujos efeitos de sua prática devem ser verificados, cujo modo de operação pod e ser explicitado e cujos conc eitos podem ser transmitidos, justificando assim o ensino da p sicanálise, inclusive na Universidade. Foi nes sa ori entação que Jacques Lacan propôs maternas para a psicanálise. O procedimento fre udiano é análogo ao adotado por Descartes, na medida em que, na r estituição de um sonho, muitas vezes o s ujeito é tomado pela dúvida, pautando o r elato do sonho com e sse mesmo aspecto d e cogitação dubitativa. É essa dúvida que traz, propriamente falando, a certeza de que aí se trata do pensamento inconsciente. Como diz Lacan no Seminário 11: Lá "onde ele duvida ... é certo que um pensamento l á se encontra, o que quer dizer que ele se revela como ausente. É a este lugar que ele (Freud) chama, ... o eu pen so pelo qual vai se revelar o sujeito."3 Façamos um p aralelo com a dúvida do sonhador freudiano descrita em A interpret ação do s sonhos A dúvida, em relação a um elemento impr eciso do sonho, é um índi ce de qu e aí se tr a ta de uma representação vítima do recai que. A dúvida assinala assim a presença de uma formação do in consciente. Para Freud é precisamente a pe rturbação que a dúvida pr ovoca na análise que a d esmascara como "um produto e um in strumento d a resistência psíq~ica". É nesse lugar da resistência da qual a dúvida é o índi ce que se malllfesta o sujeito: ou seja, no campo do in consciente como pensamento ausente. . ~. esse ~ undam~nto que m otiva a primeira definição estruturalista e dlalenca do mconSClente enunciado por Lacan: "O inconsciente é o ca pítulo
de minha história que é marcado por um branco ou oc up ado por uma mentira: é o capítulo cen surado."4 Quando, no m eio do rel ato de um sonho, o sujeito comenta "aqui o sonho está apagado" ou, como disse um paciente de Freud, "aqui existem algumas lacunas no so nho; está faltando algo", é justamente aí q ue Freud convoca o sujeito, e que, no caso, respondeu com a restituição de uma lembrança infantil relativa a um gozo es cópico: a visão do sexo feminino. Lá onde falta alguma coisa, se enc ontra o sujeito como correlato do s exo no inconsciente.5 O sujeito para a psicanálise é e ssa lembrança apagada, esse s ignificante que falta, esse vazio de representação em que se manif esta o desejo. Desidero é o pensar freudiano, pois o inconsciente nos ensina a seguinte proposição: penso Logod esejo, cogito e rg o desidero , pois a cogitação inconsciente presentifica o desejo sexual, indestrutível, inominável, sempre desejo de outra coisa. Mas o pen samento não o de fi ne, pois não há re presentação própria para o desejo, pois, como o sujeito, ele nã o t em substância; é vazio, aspiração, falta, se não deixaria de ser des ejo. O cogito freudiano é antes de tud o " desi dero er go sum" , uma vez que lá onde s e encontra o desejo est á o sujeito como efeito da associação das representações. Desejo logo existo. Desejo é o nome do sujeito de n o ssa era: a er a fr eudiana. Portanto, o sujeito q ue a psicanálise descobre nos escombros das patologias, nos caleidoscópios oníricos, nas fantasmagorias da ópera privada, nos corredores das vesânias - es se sujeito é fundamentalmente desejo. Se o sujeito da psi canálise é o s ujeito r elativo ao pensamento, esse pensamento não o i d entifica: o sujeito é não-identificável e por i sso pode ter várias identificações, as qu ais são, uma a uma , desfolhadas em uma análise. Ele se en contra, como diz Lacan, nos intervalos significantes, pois ele assombra a cad eia significante como se diz de uma casa ass ombrada. Assim, se o proc edimento c artesiano e freudiano convergem no sentido de definir o sujeito p ela razão, eles divergem em relação à substância: para Descartes o s uj eito é uma coi sa pensante, enquanto para a psicanálise o sujeito n ão tem substância, manifestando-se na hesitação, na dúvida entre isto e aquilo. Para Descartes o s ujeito está no pensamento "Lá onde penso eu sou"; para Lacan, relendo Freud, o sujeito está no pensamento como ausente, como pensamento barrado. Lá onde penso eu n ão es tou, eu não sou. O sujeito como efeito d a articulação significante é o s ujeito do pensamento inconsciente, que Lacan identifica com o sujeito como o d escreve Descartes. É o POnto em que Freud e Descartes convergem. Em Descartes,
a certeza do sujeit o é apreeendida através da dúvida e, par a Freud, como vimos, a dúvid a que aponta o lugar de um branco , que surge no pensa mento, nos fornece a certeza de que aí se encont ra o inconsciente como pensamento ausente (da consciência). Descartes parte do pensamento e chega na existência; Freud p arte do pensamento inconsciente e c hega no desejo. Co m seu cogito ergo sum, a pesar de sua relação ca usal, Descartes se para o ser e o pensamento e pr epara a se paração que a psicanálise trará à luz, ou seja, q ue penso onde não es tou, onde não sou, O que q ualifica o inconsciente como pensamento sem ser. Pois o se r se furta ao significante. Por o utro lado, sou onde não pens o, lá onde se encontra meu ser de goz o que escapa a todo pensamento: eis aí meu semblante de ser, q ue tento cingir no objeto a. No processo da análise, o sujeito se experime nta como falta-a-ser, na medida em que não enc ontra representação simbólica para seu ser. Volta-se e ntão
em oposição à res extensa, suscetível de se divi dir em vár ias partes; a mente é una e o corpo é divisível. Encontramos em Descartes portanto a presença de um Outr o divino que garante o sujeit o como pensamento, e, a demais, o garante de sua unidade. Para Descartes o pensamento define portanto o se r substantificando o sujeito; para a psicanálise o su jeito não tem s ubstância e se u ser está fo ra do pensamento - l á onde se encontra a pulsão sex ual. E mesmo lá , ele é semblante de ser, como no s indica Lacan no Seminário 20. E o Outro, longe de ser diviniz ado, é inconsistente e, portanto, nada garante. Para a filosofia cartesiana o sujeito é Uno, inteiro, identificável, enquanto para a psicanálise não é identificável, mas sujeito a identificação; e longe de ser unificado, ele é dividido - ele se divide em relação ao sexo e à c astração, que ele nega ma s não d eixa de reconhecer. A castração,
para o gozo a fim de tentar apreender esse ser . Mas tampouco o encontra, pois o gozo é pendido e ele só encontra o simulacro de seu ser (e mesmo assim de maneir a episódica) sob a form a do objeto a de sua fantasia. As concepções do sujeito em Descartes e na psicanálise divergem em outros pontos. Em Descartes, há uma substantificação do sujeito n a medida em que ele é uma c oisa, uma coisa que pensa, ao passo que o s ujeito da psicanálise é sem substância. Sua falt a de substância lhe permite ser um sujeito suposto , inclusive su posto saber, que é a mola da transferência. O sujeito em Descartes é um sujeito unificado pelo pensamento, e essa unidade subjetivada do penso é tr ansferida ao Ou tro na figura de Deus como garante tanto dessa un idade quanto dessa identificação do sujeito ao pensamento. O Deus de De sc artes é o sustentáculo da eq uação penso = ex isto (pensamento=ser): o ergo só se sustenta a partir de Deus, ergo é de fato o nom e do Deus cartesiano.
que denota a divisão subjetiva, é a verdade do sujeito banida pelo di scurso da ciência, assim como a castração do Outro é negada no discurso da religião. Sujeito do pen samento para Descartes, o s ujeito par a a psicanálise é um vazio - oco que es trutur a o hom em não tanto como vir-a-ser mas como falta-a-ser, falta constitutiva do desejo de ser e de ter aquilo que jamais terá e jamais será. P enso logo não sou. O cogito lacaniano opõe o "penso onde não sou" do sujeito do inconsciente ao "sou on de não p enso" relativo ao objeto a, fora do significante, lá ond e o sujeito bu sca seu ser para-além (ou p ara-aquém) da linguagem. Mas mesmo aí ele não encontra seu ser: o objeto a, como causa do desejo, não é mais do que um semblante de ser. O objeto é semblante do ser e o suj eito é falta-a-ser, want to be
ergo
~
A idéia de sujeito em Descartes só se sustenta, portanto, na idéia teológica d~ um ~:us uno garante do princípio de identidade desse sujeito. Aqui não h: pa rtlçao, como no espaço cartesiano (partes ex tra parte), pois o s ujeito nao se parte, ele é un o como Deus. Ares cogi tans não se divide, ela é una
Como apr eender esse sujeito que não tem s ubstância? O s ujeito não é o eu, que apr aoooutr e rival, sen do oaquilo que quero quesento e o outr veo, ja. meu Não ésemelhante, a imagem igual corporal, nemcomo tampouco o somatório das insígnias com as quais me param ento para as c erimônias de convívio com o gra nde Outro da coletividade. O que o sujeito apresenta é seu eu-ideal, auto-retrato pintado segundo as linhas mestras dos ideais daqueles que construíram os Outros primordiais em s ua existência. Imagem pintada com as tintas do desejo dos ancestrais, q ue vão com por os ma tizes de seu eu pela via da lin guagem constituindo assim o eu co mo um re trato falado.
o sujeito não é o homem e ta mpouco é a me nte suscetível de estar doente ou sau d ável. Ele n~o é o o bjeto. ~a saú .d~ mental nem da doença mental. O sujeito é patológICO por defiOlçao, S UjeitOao pathos, afe:ado pela estrutura que ob edece a uma lógica: os s ignificantes que o de t~rmlOam e o ozo do sexo que o divid e, fazendo-o advir como desejo. EIS o que nos ~nsina a psico patologia da vida cotidiana. O sujeito é desejo. A existência do . ujeito é corr elativa à insistência da cadeia s ignificante do inconsciente, porém como e xterior a ela: é uma e x-sistência. Desejo logo e~ -sisto: Em 1900, na Int er pr etaç ão dos s on hos, Freud desvela as leIS do IOconsciente, fazendo emergir o sujeito do d esejo como sujeito d eterminado pelas leis da linguagem, ou sej a, po r l eis em que as palavras são tra:adas co ~o puros sinais sonoros, significantes, se m significado, por ond e deshza.o .deseJo. O significado delas é, na verdad e, o desejo, tão fugaz quanto o SUjeItoque aí se ma nifesta. O sonho é como o f ogo de artifício, preparado durante muito tempo e que se acende em um instante. O sujeito do desejo é esse fogo no ar tifício da lingu agem. Ilustremos a manif estação do sujeito como desejo nas ve redas d a linguagem com uma da s Prim eir as es tóri as de Guimarães Rosa. Conta-se que um bravo sert anejo da Serra das Gerais, " jagunço até na esc uma do b ofe", foi chama do de f am igerado por um m oço do gove rno. E não tinha a menor idéia de que trat amento era aquele. É " d esa f tra d o? É caçoáve l? É de arr enegar? Fars ância? No m e d e o fen sa? " - indagava. Ao ser escutado, esse significante fam ige ra do colocou o sujeito "nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco". E, po r não ter à mão "o livro que aprende as palavras", decide percorrer seis léguas a caval o até o arraial do sujeito suposto saber o sig nificado de fam ige rado . Ao chegar, "ca bismeditado", disse de chofre: - "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me e nsinar o que é mesmo que é: fasmisgera d o ... faz-me-ge r ado ... f almisgera ldo ... fa milhas-gerado ... ?
Por não conhecer o sign ificado da palavra f ami gerado , o sujeito desfia a cadeia associativa de seu desejo que emerge como i nterrogação so bre a geração e a família. As questões, tais como qu al o seu lugar na f amília, nas gerações e como ele f oi ge rado, fazem s urgir aí o desejo como enigmático, seu desejo rel ativo ao desejo do O utro que o gero u. A p alavr afami lhas-gerado é a interpretação do sujeito do significante famigerado e que faz s urgir o desejo e a lei (a lei da fili ação que é a lei paterna) no registro da injúria. Essa cadeia associ ativa aponta para o p at hos do sujeito aludindo ao desejo enquanto enigmático. O desejo é o enigma que imp ele o sujeito a saber para desvendar o enigma do de sejo que o anima em sua existên cia, a c ifra
de seu destino. Mas, na es tória rosiana, o personagem, que era para o nosso jagunço, o sujeito supo.sto. saber o signif icado de famigera do , responde à demanda dando-lhe a slgOlf icação dicio naresca, apagando assim a questão do desejo e neg ando a imp licação do s ujeito. E o se rtanejo, em vez de escutar-se na s associações a que o si gn ificante enigmático o remetera em relação a s ua história ou suas fa ntasias, preferiu favorecer o r ecalque desprezando-as: ''A gente tem cada cisma de dúvi da boba, dessas desconfianças .. . só pr a azedar a mandioca ..." Por sua vez, o narrador da estória que lhe deu a significação que estancou o desejo de saber assegurou sua posição idealizada de autoridade sapiente. "Não há como as grandezas manchas de uma pessoa instruída!" - conclui o famigerado sertanejo. Moral da hi stória: ao lidar com o indivíduo cabe ao a nalista solicitar o sujeito - sujeito d o desejo, sujeito do inconsciente - e não responder ao eu que não qu er saber nada disso. O sintoma nos indica q ue o passado é at ual e o desejo eterno dói. O sintoma neurótico, assim como o so nho, é uma formação do inconsciente e, enquanto tal, é a ex pressão metafórica do dese jo para o sujeito: Ele rev ela a articulação do d esejo com a lei, tal co mo Fre ud apreendeu através do mito de Édipo. Eis o que vemos num sintoma do Homem dos Ratos, em que uma idéia o ob cecava: se eu vir uma mu lher nu a meu pai d eve morrt' lOn d e aparece a articulação entre o pai como representante da lei e o desejo proibido. O sin t oma é portanto uma metáfora da estrutura edipiana onde sepr esentifica a articulação da lei com o desejo - desejo que aí se manifesta em suas imp ossibilidades. Tomemos o ex em plo de uma fobia em que o ataque de angústia é desencadeado em situações meteorológicas ou físicas so b as quais a paciente não pode sair do r ecinto em que se e ncontra. A ca da vez que ela se se nte pres a , a angú stia é desencadeada. Presa é o significante fóbico ao qual se agarra o sujeito para traçar a geogra f ia de compromisso de sua existência de confinamento. O significante fóbico é a quele que vem suprir a fa lência do pai simb ólico a barrar o gozo da mãe . Pois, no caso, o s ignificante que representa o pai, longe de barrar a fúr ia materna, é o que a justifica, pois é o que lh e faz seme lhante fisicamente ao pai aos o lhos da mãe. Daí o sujeito recorrer sintomaticamente a um significante de evitação como meio físico d e escapar da mãe-monstro. A e quivocidade do si gnifica nte presa aponta para um possível lugar e m relação ao O utro ma terno: ela é a presa da mãe. Mas é tam bém um significante que caracteriza se u desejo como desejo advertido para além do qual sopra a ve ntania da angústia. Na en trevista psiquiátrica, a pró pria paciente associa o medo atual de ficar presa com o
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d o monstro que a prendia do . sonho.. de inf ância, adpontando a pr .esença .~ dos dois tempos do sintoma neurónco eXIgIdos por Freu em sua constItUlçao e a origem infantil do desej o. Já no caso de um o urro sujeito, que desenvo.lvererr:o.s no cap.ít~lo II, em d es ta vez um menino de oi to anos, seu ato Sllltomanco consIsna I . . arrebentar-se periodicamente ~m acidentes cuja r epetiç~o reve ava a lllSI~tência da determinação inconsCiente em sua vertente morufera. Sua hemofilIa já colocou em risc o sua vida em diver sos ac identes que :inh~m ~~ ~nd~ereçamento: o pai. E at ravés deles, como num ap elo, pareCIa dIzer.: PaI, nao vês que estou mor rendo?". Para os p ais, formados no sabe r m édICO - eles fizeram um curso dirigido a pais de hemofílicos -, o compo rtam~nto de seu filho constituía um enigma. E os acid entes adquiriram o va lor de Sll ltoma, como o r etorno da verdade numa fa lha do saber médico. O saber do Outro me d o
parental fundamentado na ciê ncia médi ca, e transmiti~o ao fi lho, po~ ~xcluir o sujeito do inconsciente, não pod ia dar .conta do slllto~a. A ana lise ~ez logo surgir a dimensão do sujeito do desejO e sua verdadeIra preocupaçao: ele se via c aído em plena guerra dos sexos, onde no ca mpo de batalha de Eros brotam as flores da morte. Ao se r representado pelo significante hemofílico para o sab er médi co, sustentado pelos pais, o sujeito é um condenado à morte. A an álise v em abalar a identificação do sujeito com o significante hemofílico ao trazer de volta à pauta a questão f álica que faz o sujeito do desejo um condenado a cas tração e à diferença dos sexos. A atividade do des ejo, que é s e mpre uma constante, como Fr eud assinalou, fez uma analisante sonhar que ao chegar no an alista não só era uma mulher que a atendia, e não eu, mas também que sua linha n ão era lacaniana mas todivan a Este neologism? é assi.m explicad? por es ta histérica espirituosa: "E derivado de La dy GodIva, cup lenda mlllha professora de inglês adorava contar." Lembra-se então de uma outra parte do sonh o em que havia uma mulher muito br anca e muito linda montada não num cavalo como a fa mo sa lady, mas num ônibus, e para a qual a analisante ficava olhando admirativa. "Tem aí a coisa do olhar" - diz ela, apontando o lugar de objeto (objeto da pulsão escópica) que para ela ocupa o analista na transferência. Fala então que cos tuma olhar muito para as outras mulheres em geral e que tem mania de ficar observando detidamente as mãos delas para ver se aí encontra sinais de enve lhecimento e as co mpara com as suas. "Minha vontade, diz ela, é que todas as mulheres fossem mais velhas do que eu!" - o que a faz es tar se mpre insatisfeita com sua apa rência. A insatisfação é, de fato, o nome de seu desejo. Como foi ilustrado nesses exe mplos, o sintoma, índice da articulação com a lei, é uma manifestação subjetiva do desejo na fobia, na neurose
obsessiva e na histeria, respectivamente, como a dvertido, impossível ou insatisfeito. A estrutura de li~guagem do incon sciente é o que faz a psicanálise como práxis o~erar por m elO .da fala e sua ética ser def inida por Lacan em T elevisáo como énca d~ bem dIzer. Tra ta-se ?e uma ética relativa à implicação do sujeito, pelo dIZer, no go zo que seu SI ntoma denu ncia - é tica de bem dizer o sintoma. O p si canalista tem uma atitude diferenciada diante do sintoma apresentado pelo pacient e: precav~ndo-se co~tra,o furor sanandi de exigir a qualquer custo a suspensao do SIntoma. POIS Ia onde há sin toma, está o sujeito. Não atacar o sintoma, mas a bordá-Io como uma manifestação subjetiva, significa acolhê-Io para que possa ser desdobrado e decifrado, fazendo aí emergir um sujeito. Tratar do sintoma não significa, portanto, b~urar ao sujeito o acesso ao real que o si ntoma denota e dissimula. Trata-se, pelo contrário, de fazer com que o sintoma se tr ansforme (no sentido temporal) para o pr óprio sujeito, no intuito de deixar de ser sintom-a do momento de con cluir - con cluir em sua incapacidade de lidar d e outra forma com o go zo -, para transformar-se em um enigma do tempo para com~reender. Em Outros termos, trata-se de tra nsformar o sintoma-resposta em SIntoma-pergunta. O desejo é sempre enigmático e por isso mesmo ele apela ao saber, constituindo assim o suj eito articulado a um desejo de saber. É, com efeito, aponta Freud, a partir do enigma colocado pelo sexo que a inteligência é despertada na cri ança. Ele o denomina "Enigma da esfinge", que t raduz pela pergunta "de onde v êm os bebês?"; trata-se portanto de um a pergunta sobre o desejo par ental que o gerou co mo bebê. Em suma, o E nigma da esfinge, que se coloca para todo mundo, é uma qu estão sobre o desejo enigmático do Outro. E tod o homem é impulsionado à sua decifração, uma v.ezque a pulsão participa do sa ber, manifestando-se inicialmente na curioSidade sexual infantil. Mas há obstáculos ao saber. No nível imaginário, esse obst~culo se ch ama o eu - que representa o nível da consciência que ~unc~on.acomo uma barreira ao s ujeito do inconsciente e ao sa ber que lhe e propno. No nív el simbólico os obstáculos ao sa ber se modulam segundo (V er dr agung), desmentido (V er leugnun g) as estrutur as (Vclínicas em: Estas recalque e for aclusão er werfu ng). são as tr ês f ormas de negação do saber sobre a ver d~de do sexo dada pelo complexo de Édipo, que se encontram, respectivamente, na neurose, na perversão e na psicose. Essa negação se expressa no neur ótico por um "não q uero sa ber nada disso", no perverso P?r um "eu sei.. . mas mesmo assim", e no psicótico por "eu não sei nada diSSO". A O saber qu e é negado pelo sujeito faz retorno e se prese ntifica nesse enomeno que Freud designou por transferência e cujo pivô é justamente
f;
o q ue Lacan chamou de o su jeito suposto saber, que é encarnado por aquele a quem se dirige nosso bravo sertanejo para saber o sig nificado de "famigerado". A transferência permite a passagem do horror ao sab er (efeito de sua negação) ao amor dirigido ao s a ber que é o s uporte do tratamento psicanalítico. O operador dessa transformação é o desejo do analista, que se presta a fisgar o sujeito cavalgado pelos significantes de sua alienação ao Outro. O desejo do analista é o desejo de se lançar no v azio sustentado no trapézio do s aber que ele sabe ser instável, incompleto e sempre a ser reconstruído - para no circo das paixões da alma proceder ao ato analítico sem a rede de segu rança do gran de Outr o. Eis a condição par a deixar bater as asas do desej o do sujeito, qu e é se mp re um equilibrista na corda da linguagem. O clínico, seja analista ou não, não é um a nódino observador do paciente, pois por meio da transferência pode ser in cluído na tr ama com a qual o sujeito envolve o rea l de seu sofrimento, seja no sintoma, se ja no delírio. O que o sujeito faz de seu interlocutor, e m que lugar o situa, de onde recebe seu dizer são critérios a se rem levados em c onta tanto no di agnóstico, no qual o próprio clínico está incluído, q uanto na orientação terapêutica. O amor de transferência é a única vereda que dá uma chance ao suj eito de advir como desejo de saber. Poder sust entar a existência do saber inconsciente através da convocação da subjetividade como desejo - eis um dever ético que a psicanálise propõe ao mundo. As pesquisas organogenéticas, que fazem do homem um ser neuronal, fazendo crer n a correlação distúrbios do corpo-transtornos do espírito, se sustentam nas ciências biológicas. Ora, o discurso científico prescreve de sua órbita tudo que seja relativo ao desejo e ao s ujeito d o inconsciente, para referir números, relacionar comportamentos e me dir sensações. Mas ao rejeitar o inconsciente, isto não quer dizer que ele cesse de se manifestar. Tal é o caso do quím ico que, em análise com Freud, sonha estar preparando sub stância, o br Mas, no so nho, ele mesmo éuma o magn ésio. Per ceometo bendo de quefenil seusmagnésio. pés se decompõem e seus joelhos amolecem, ele r etira suas pernas do alambique. Logo e m seguida acorda e , e~ es:ado de exa ltação, brada: Fenil! Fenil! Suas associações levam-no, pela flI~a, a pal~vra e~ hebraico Sc h Lemil que significa incapaz e infeliz, faz endo assim surgIr a dImensão da falta, explicitada pela associação do cientista sonh~dor: ele se lembra de um capítulo de um livro que tem por tí tulo: Os excLuldos do amor. Quando se trata de "química silábicâ', como diz Freud, a história é Outr a, é a história da Outra Cena.
Cap ítulo I
Ret or na nd o a F re ud co m Lac an
No Pantanal ninguém pode passar régua.S obremuito quando chov e. A régua é e xistidura de lim ite. E o Pantanal náo tem limites.... O mundo foi renovado, durante a noite , com as chuvas. Sai garotopelo p iquete co m olho de descobrir. Choveu t anto q ue há ruas de ág ua. Sem placas sem nome sem e squinas.
~ retorn.o a,Freud pr omov.ido por Lacan é o retorno ao sentido de Freud, que d~zrespeito a verdade. E eXIstealguém que não esteja concernido pela verdade? EIS~or q ue a psicanálise pode ser transmitida a qualquer um, analista ou não analtsta, po is o sentido do retorno a F re ud é fazer aparecer a ver dade depreendi.da de sua obra. A descoberta freudiana do inconsciente é a de que ele tem leISe comporta desejo, sobre o qual nem sempre o sujeito quer sa ber. d Freud, ao vencer as barreiras desse não-querer-saber, promoveu um ~centramento tal da visão do homem que podemos qualificar este século d ' qu~ agora apaga suas luzes, co mo o séc ulo de Fre ud. Apesar da rejeição oo~~~~~ pron:ovida pelos avanço~ da, ciê.nci~ e d,o.discurso. do capitalismo, do-Pai, que representa a InstanCla slmboltca da lei e a cas tração a q.ue todos so mos su b 'd . . a ver dade da descobe rta do inconsmeti os, constltUI cIente que n- ao po d e mais. ser ca a1 d a. Se a a lguns essa verdade pode parecer ' d e mostrar s ua rcorça e o g ume de seu fio cortante dcansada ' trat a-se par a nos emonstrando o inconSCIente '. - conceltual . em sua ven'fiIcaçao clínica e ética.
A
obra fre Ud" lana..' o InconSCiente .
de pon ta a ponta
Ao f azermos uma p anoramlca '" da o rb a d e Freud com Lacan verificamos uma unlnca çao - d o conceito . do i nconsciente. 'C O
1895 é o ano em qu e Freud tem o sonho inaugural da injeção de Irma se permitir desenrolar os pensamentos a ele conexos, percebe como c .' ~ ~ di' funciona o seu inco nsCiente, partindo entao para a IOrmu Iaçao e suas eis. 1895 é também o ano em que publica os Estudos sobre a hist eria em colaboração com Breuer, onde descreve os mecanismos de formação dos sintomas histéricos a partir d a hipnose, descobrindo sua src em sexual, sua relação com o Out ro par ental e seu caráter inconsciente. A partir de ent ão, Freud começa a elaborar sua teoria, que chamará de psicanálise, sobre e ssas duas ba ses: o sonho, como via r égia do inconsciente, e o sintoma neurótico, como atualização de um tra uma sexual infantil. Essa é uma data pré-histórica, porque a história propri amente dita da psicanálise começa em 1900, no com eço do século" com a pu~ l~caç~o ?o famoso livro A interpretação dos sonhos,no qual, apos uma r evlsao biblIO-
uma obrigatoriedade, na anális e do sonho, de se passar do son ho às s uas associações para f azer e xistir o inconsciente que só se apreende ao pé da letra..Sã? r aros aqueles ~onhos nos quais se sonha com uma palav ra ou letra, a malOna dos sonhos e como um filme , feito d e cenas. As represe ntações importantes vão aparecendo a partir de suas associ ações com as representações que constituíram o sonho. Freud acaba verificando que a constituição dos sintomas neuróticos obedece à mesma lógica da formação dos sonhos, o que na época foi u ma grande novidade, ju nto com a descoberta do sonho como de sejo. Na verdade, essa descoberta freudiana continua sendo a gran de novidade do século XX, a qual se re nova a ca da análise de rrubando os pressupostos da ciência com sua exclusão do sujeito do desejo. A descoberta do inconsciente é sempre uma novidade para o analisa nte quando ele se deixa experimentar a de ter-
gráfica, Freud inicia sua co ntribuição original e inaug~ral com ,e~sesonho da injeção de Irma - que ocorre logo após ter recebido a no tiCia de que sua ex-paciente Irma est á indo muit o m al, o que o levou a se pe rguntar se isto se deve ao fato de a aná lise ter fracassado. R esolve então escrever o caso clínico de Irma tarde da noit e, porém dorme e sonha que não, é ele e sim outro co lega o responsáv el pelo fato de Irma não estar bem. E um sonho que, portanto, desculpabiliza Freud, realizando o desejo de não ser responsável pela saúde de Ir ma, o qu e o faz concluir que o sonho reali za um desejo. Freud afirma que e sse sonho também evoca questõe: relativas à sexualidade, mas com o pudor e a discrição que lhe são pecu liares, apenas ressalta o tema, indicando que o sonho aponta para a ex istência de pens amentos recalcados inconscientes. Generaliza daí a tese de que to do sonho é realização de desejo, descobrindo as leis fundamentais da formação de sonhos (a condensação e o deslocamento). Nos sonhos, às vezes aparecem pessoas, que não se sa be quem são, mas que, ao se a nalisar, verifica-se que têm o nariz de um, a boca de outro e o andar de um terceiro, sendo port anto uma condensação de vários personagens que foram importantes na vida do sonhador. No deslocamento, há a m udança de importância de uma coisa para outra, como na assoc iação livre, por exemplo, em que, em vez de se falar de sapato, fala-se de meia , apontando o deslocamento de uma pal avra para outra devido à proximidade de uma idéia com o utra. O que Freud descobre é que, para se interpretar um sonho, é necessário passar do sonho a s eu r elato, pois o sonho, apesar de ser figurado em imagens, é f eito de linguagem ou, como diz Freud, de pensamentos oníricos. Na verdade, o inconsciente não se encontra por si m esmo no sonho; só podemos afirmar isso retroativam ente quando de seu relato. Há inclusive
minação inconsciente de seus sonhos e s intomas. Se o sintoma segue os mesmos processos de formação que o son ho, apesar de fazer sofre r o s ujeito, ele é também uma forma de sa tisfação de desejo. Mas que desejo é es se q ue em vez de ca usar algum prazer causa sofrimento? Será que a teoria do sonho como realização de desejo está errada? Além de o sintoma como realização de desejo parecer contradizer sua teoria, o pesadelo, com o sonho de angústia, é mais um argumento contra. Para explicar, Freud propõe dois funcionamentos da subjetividade (que ele chama de a parelho psíquico): o processo primário baseado no princípio do prazer, que visa apenas a sa tisfação; e o processo secundário, dominado pelo consciente, que visa o reca lcamento dos desejos que pululam no pro cesso primário. Constitui então sua primeira tópica, ao afirmar a existência do inconsciente e do consciente ou pré-consciente. Basta se fazer um e sforço de atenção, e chega-se ao pré-consciente; daí ele se torn a consciente. O inconsciente não. Há uma ba rreira entre o inc onsciente e o co nsciente. Freud formula portanto, logo de início, a subjetividade humana em conflito, ~stirada em dois topos, designando a divisão do suj eito entre o qu e ele quer Inconscientemente e o q ue ele conscientemente não quer ou ig nora qu e q~e~. Encontramos aqui a própr ia definição de sujeito por Lacan como su!elto dividido: o primeiro nome dessa divisão em Fr eud é a divisão entre o Inconsciente e o con sciente (ou pré- consciente). Em 1905, Freud av ança mais, apre sentando o que foi um escândalo para sua époc a e - por qu e nã o di z ermos - para hoje também: o texto que se chama os Três ensaios da teoria da se xualidade Afirma, no ensaio sobre a sex ualidade infantil, que a criança não é aquele ser ingênuo e absolutamente sem malícia como se de screve normalmente, mas que a criança tem uma sexualidade e, q ue a lém do mais, esta sexualidade é perversa.
e, ao
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Observa, por me io das atividades infantis,o .q ue o ao criança gos ta o de se ex ibir lhando ou seJ'a que ela é eX lblClOnlstae voye unsta, que gosta c. e d e Ilcar o " o d . O anais e sa o masoqUlstas. d e c hupar , se masturbar. eoque tem atividades o d d ncontra nessa sexualidade infantil a par ece nos per ver sos na I a e e que se o, . o . d adulta, nas alu cinações e delírios dos pSICOtlCOS,no inconsCIente os neuróticOS e nos jogo s sex uais de todos. o ~ , Com esses três ensaios, Freud avança o c onceito de ~ulsa~, que e a impulsão do sujeito que tende à satisfação. Trata-se de uma satlsfaçao perver sa, pelo fat o de usar o outrO n ão como uma outra pessoa, ~as apenas ~m pedaço de seu corpo para a satisf ação, pois a pulsão não considera o parce:ro como um s ujeito e sim como um objeto. As pulsõ.es sã o sempre p~lsoes o . e sao - eIas qu e constituem o que é propnamente a sexuahdade parCIais o relação a ISSOe h uma na . Freud aborda a puberdade e a v ida adulta com d b of ~ sustenta que, para o neurótico, o sintoma é a ma.neira e o ter sat ls açao sexual. Sim, a maneir a de o n eurótico gozar é o S intoma. o Em princípio, qual é a relação entre o inconsc~ente e .a sexuahdade, tal como Freud a descobr e? Por um l ado, temos o incon sCIente estruturado como uma linguagem, como o ensinou ~ ointerpr~taçã,o dos sonhos, e: por outro lado, temos a puls ão imp elindo o sUjeito a sansfaze-l~. M~s ~ cons.Clente não permite e a reca1ca, e, ao invés de obter uma sansfaçao Imediata, a pulsão se satisfaz n o sintoma. o ~ No mesmo ano (1905), Freud também escreveu Os chlStes e sua relaçao com o incons cient/i mantendo os dois manuscritos em mesas diferentes , ou seja, trabalhava um pouco sobre a sexualidade, se virava e odali a _pouco estava escrevendo sobre os chistes. E isto sem fazer uma arnculaçao entre eles. Notemos que ele já lançara em 1901 a Psicopatologi~ da vi da cotidi~nt;.que, ao lado de A int erpretação dos son hose de Os chlStes e sua re laçao. com o inconsciente, é um do s textos que fundam o inconsciente. Eles .conStltuem "a trilogia do si gnificante" do inconsciente fre udiano, na medida em que fundamentam a hipótese do inconsciente demonstrando-o como e~truturado como uma linguag em: basta abrir qualquer página deles que se v enfica como tudo o que aí é de scrito se encontra no jogo da lingu~gem.. _ 'o Em 19 15, com o s artigos de Metapsicologia, havera a unlficaçao teonca da pul são e do in consciente com seus jogos de linguagem. O q u e estou chamando de pulsão, Trieb em alemão, será lido na edição da Imago c~mo instinto.l O que é contestável, porque o instinto está muito mais próximo do animal do qu e propriamente do homem. Logo, traduzir " pulsão" por "instinto" já é dar um sentido mais biológico ao que é a pulsão no homem, que nada tem de in stintivo, uma vez que ela é obrigada a passar pela rede de ling uagem do in consciente. Há algo na sex ualidade que escapa, que o
homem não co ntrola, e que nada tem a ver com o instinto animal, na medida em que este encontra o seu objeto na realidade, como o instinto da fome, por exemplo, que tem um objeto determ inado, a co mida que satisfaz a fome m as não necessariamente a pulsão oral. Quando estamos no âmbito da sexualidade humana, quando vamos falar de dese jo e de pulsão, já não encontramos o objeto preestabelecidoo Qual é o obje to q ue satisfaz a pulsão? Pode ser qualquer um e , ao mesmo tempo, ela jamais se sat isfaz completamente com obj eto algum. ~atisfaz co m um obj eto qualquer, mas daqui a pouco já não é mais isso. Não é pelo fato de se encontrar um objeto que vai saciar a fom e que a pul são oral vai deixar de se manifestar. Continua-se querendo comer uma det erminada coisa, e e m seguida outra e mais adiante ainda outra, apesar de não se es tar mais com fome. É o paradoxo de f'appetit vient en mangeant. Quanto mais se co me, mais apetite se tem. Pode-se também querer comer a lguém, no sentido sex ual, fazer se-xo oral, comer uma outra p essoa com os olh os etc., o que demonstra que a pulsão oral nada tem a ver com o in stinto da fome.2 Nos artigos de Metapsicofogia, principalmente em "As pulsões e seus destinos", "O inconsciente" e "O recaIque", Freud demonstra que a pulsão é sempre parcial e t em uma representação de linguagem no inconsciente. Há, no entanto, uma part e que nã o é representada (que Lacan denomina o r eal pulsional) que corresponde à libido, a parte energética da pulsão. ~ pulsão há um real d e gozo impos sível de ser simbolizado, pois se e ncontra fora do significante e do âmbito d e Eros, com o Fr eud formula n~s 20 com o conceito de pulsão de morte. O re al é um dos nomes da pulsão de morte que se manif esta no sentimento d e culpa, no masoquismo moral e também nos dissabores da vida amorosa e da transferência. pulsão de fiO e é r es onsável ela re etição t azendo ao s ujeito uma satisfação paradoxal p;u:a-além prin cípio do prazer - repetição que az parte do próp rio in consciente, na medida em que se es tá sempre repetindo os mesmos circuitos das cadeias associativas. Lacan r etomou a teoria freudiana inteira a partir do conceito de sujeito do e doou conpalavr ceito asfundamental de r eao petição. isso sesua verifica? N~ssignificante coisas, ce nas que r etomam sujeito Como marcando vida, POISsão representações inconscientes que se repetem sem cessar. Quem já ~e?1 uo: tempo de análise, certamente já o se ntiu e formulou algo como: ]~ falei tantas vezes so bre isso! Eu nun ca co nsigo deixar de falar da mesma co" '1 an d o assim . qu e o inconsciente está amarrado na repe tição, tosa - ~ustr articulado numa pulsão de m orte que faz com que se retorne sempre a um l11eSmolugar. Retorno ao lugar que faz sofrer, retorno que não é regido pelo princípio dp prazer mas per~ mundo simbólico, t raçando as vias
R e tor nand o
a Fre ud co m La ca n
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. I O SUoeito demonstrando a incidência da ulsão de mort e por on de C ltCUa . . , . ., . . . te , que La can esigna po r lO SlstenCla da cade la SI 01 Icante. nO lOconSClen . -A . da~pulsão de morte e da repe tição, Freud rev ê to a sua teona e parnr . " " 'h 'd propõe uma n ~va di~isão das lOstanClas pSlqUlcas, que sera con eCI a como a segunda tóplCa: o ISSO,o eu e o s upereu. .,. , O eu (aquele que diz eu, o senhor da con SC lenCla .e ,do. corpo). e ~a ordem do narcisismo, que se e ncontra achacado entre as eXlgenC las p~l~lOnals do isso, reservatório das pulsões, e as do supereu, que exige do sUjeito u.m comportamento ideal. Ao propor essa nova tópica, reform~lan~o sua teona, Freud tenta dar c onta do que são as manifestações dessa satlsfaçao paradoxal, para-além do pri ncípio do p razer, que fa z ? ~ujeito gozar de s~u .n:al-estar. . om a segunda t ópica, o complexo de Edlpo - descoberto 1OlClalmen:e por Freud a partir d a análise de seus pró.prios so~hos como um dupl~ d esejO inconsciente - adquire se u valor conceltual articulando a fa lta e a dlf ~rença dos sexos, o des ejo e a lei, a cas tração e a angústia. Ao problematlZ~r .0 Édipo nos ano s 20, Freud estabelece a articulação entre o co mplexo de Edlpo e o complexo de castração. É a p artir da ca stração que o complexo de Édipo se reordena - em torno d a ameaça de castração para o homem e da invej a do pênis para a mu lher -, articulando a fa lta c~m o com~lexo de Édipo ( -< p ). Para o menino , trata-se da ameaça de castraçao ~elo p~l q~e viria a cas trar o filh o por desejar ficar com a mãe; e para a me01na, a lOvep do pênis que supõe que iria sa tisfazer a mãe . Fre ud reto~a, F0rtanto, o complexo de Édipo em torno de algo que marca toda a pSlc~nahse:~ fa~.\ Trata-se de um a falta que dá o selo à sexualidade e que a dqUIre no falo seu significante primordial, ou se ja, a sua significação de cas traç~o. Há ~u~s vertentes da falta. Por um lado, a falta causa desejo, por outr o, cna a angustia de castração, mostrando aí o ma l-estar do sujeito. A angústia se manifesta quando o sujeito não consegue cumprir as ordens do supereu, sendo que, na ver dade, ele nunca con segue, porqu e o supereu está sempre comparando o sujeito com aquilo que ele supõe que seria o idea.l .necessári.o ~ide.aldo eu) ser amado pelodeOut ro majestade, a fim r estituir o narC1Slsmoda OfanCla eme que para ocupava a posição "sua o bebê". E o supere u l está sempr aí, paradoxalmente exigindo e apontando essa impossibilidade. Freud verifica e de senvolve, em 1930, as repercussões dessa estrutura subjetiva na cu ltura e escreve um texto deslumbrante, O mal-es:ar ~a civilização, considerado in clusive por sociólogos e a ntropólogos ate hOJe como uma re ferência incontornável.fb.. civilização é o lugar da expressão ~o .supereu para o su·eito n a medida em que exige sempre do sujeito.a .renúnCla pulsional. ela, a;mãnifestações do supereu aparecem par a o sUjeito como
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uma figura do Outro} figura de autoridade, de imposição, de comando e até mesmo de tirania. ~a medida em que o supereu tem suas raízes no isso, de onde tir a .s~a forma p~lsional, e~e é u~a instância que está se mpre acuando ! : ! su elto ~o força-Io a realtzar o Imp o ssível de suas e xigências, empurrando-o a sat isfazer seus i eaise,· ao mesmo tempo, a ren unciar apulsões. A cultura e a r elação com os outros são o terreno propício para a manifestação desse paradoxo do gozo , marca do supereu. O incon sciente, que se manifesta na cultura, traz a característica desse as pecto pulsional, fazendo os sujeitos repetirem nas r elações com o s outros aquilo mes mo que os leva ao pior - a expressão da pul são de mo rte. Em 1937, dois anos a ntes de mo rrer, Freud escreveu Análise com f im ou sem f im, a partir da dificuldade que e ncontrava em sua clínica de fazer os pacientes terminarem as a nálises. No início da psicanálise, com a de sco-
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berta do inconsciente, apesar do en tusiasmo dos psicanalistas que rodeavam Freud e do interesse despertado pela novidade, houve ao mesmo temp o uma grande resistência por pa rte dos pa cientes a entrarem em an álise. Com a divulgação das idéias de Fre ud, isso foi sendo v encido até que, nos anos 30, Freud notou o problema oposto, ou seja, a dificuldade de os sujeito s irem embora de su as análises e de se darem por sa tisfeitos uma vez o btido aquilo pelo qual tinham vi ndo. Acaba con cluindo que toda análise desemboca na questão da cas tração considerada, por ele um rochedo inamovív el, inquebrantável e intransponível. Em 1938 , em seu texto sobre a Spaltung , sua última obr a (traduzida como A cliva gem do ego no pro cesso d e d e fesa) , Freud aponta qu e o su jeito se divide frente à castração e que isso produz uma fenda que jamais se fec ha, indicando por tanto que a divisão do sujeito (1chsp ait ung) , assim como castração, é incurável. Freud mostra ess a divisão a partir do per verso, o qual diante da descoberta da castração no O utro sexo, da const atação de que a mãe não tem pênis, se divide. Por um lado, o sujeito d á crédito, por outro, nega, desmente: "não, ela tem, ela tem sim, eis aq ui o p ênis da mã e, transformado num fetiche". Ora, na verdade, a q uestão da castração é da ordem do in suportável parasutodo no ca"Esboço psicanálise", generalizao aperver divisão do jeito.mundo Diantee, da stração danão há como Fr n eud ão negá-la: so desmente, o ne urótico recalca e o psicótico rejeita completamente (foraclui).3 M~s a questão da verdade da castração r etoma ao sujeito: o neurótico recalca e Sllltomatiza, o perverso desmente e f etichiza e o psi cótico for aclui e alucina e/ou delira. Spaltung , que significa divisão, clivagem, fenda, es quize é a própria característica do sujeito do incon sciente, pois sua definição inclui a castração. Ela coloca por terra todo e qualquer ideal de harmonia em que o sujeito seja inteiro (ou esteja i nteiro) em alguma situação.
ontas do in í cio e do fin al , da obra d e Freud e, Lacan toma a'S duas P d' '~d " d 5 a Ltu ng mostra que a IVlsao o sUjeito o , d conceito de nm o-as com o r' " I ~ , al' d d d u, 'C'. nte corresponde à divisão do sUjeito em re açao a re I a e a slgnlIlCa~ O" ~ " ' , com ad esco b ta er d o se encontra d es d e o iniCIO castraçao, IVlsaoque , b 'l'd d d c d ,inconSCiente, ' quando Freud po stula , a Incura I I a e a len 11 , ' ate, o Snal da do su'eito. Quanto ao inconsciente, Lacan o vincula com o c~ nc ~lt? ,e re eti~ão par a além do prin cípio do pra-:er a fin: de demo nstrar a Ins lsten,cla d! cadeia significante e a artic ulação do inconsCiente com o gozo apr eendida a partir de sua característica de Zwan g , fl
o sujeito
d o incon s ciente
e a trilog ia do significant
e
A distinção e ntre o eu e o sujeito é difícil ~e apreend~r~ na medida em qu e este escapa à percepção e à intuição, tendo sido neces sano a Lacan promover o retorno a Fre ud e elaborar uma teor ia que encontra seu su~orte em o ~t~as disciplinas, que vão da lingüística à mat emática, para formalizar q~e sUJett,O é esse do inconsciente. Nosso ego, n ossO bem pensante ego ca rteSlano, diZ penso , Logosou. Eu me defino p elo que estou falando"pelo que es tou pensand;, ela minha imagem corporal, mas isso nã o me d iZ quem s~u: Esse eu ,o ~ensamento consciente e do corpo não se confunde com,o SUjeito do de sejO O /'ch que se encontra nos termos freudlanos, se refe re em , 'te InconsClen. , d /, h L ) alguns textos ao eu e , em outros, ao suie~to (c omo no caso a c spa tun g : O eu da consciência se sobrepõe ao sUJeito, barrando-o e escamoteando-o.
(e ; ) Ao abordarmos o inconsciente, referimo-nos ao mesmo tempo ao sujei,to e ao desejo. Esse sujeito é tão inapreensível por es ~e eu quanto o ? es~Jo, Lacan escreve sujeito dividido com um S b ar:ado, nscado ($), para I~dlcar que o s ujeito equivale a um significante nsca~o, p~lado. n~ cadela de significantes do incon sciente, apontando. q~e nao eXls~te slgmficante que designe o sujeito, Essa barra, em lógica, slg~lfica ne~açao s~n??, p ortanto, $ o matema do sujeito do inconsciente defimdo pela Impossibilidade de sua nomeação e pelo vazio d e sua negatividade. " Antes de continuar, é pr eciso esclarecer o que é significan:e, cUJo con~elto é solidário da tese do in consciente estruturado como uma linguagem. E em Saussure que Lacan encontra sua fonte para tratar do significante. Saussure . r IngUlS '" t'CO toma uma pa lavra qualquer designan d o-a por signo I , a palavra mais simples do mu ndo: árvore. Mas, para sair um pou co de tod~ o imaginário que a p alavra árvore pode nos evocar, ele a emprega em latim, para mostrar que se trata apenas de um t ermo: arbor
significado signiflcame
S
Quando se diz arbor, temos o que ela significa e se u som. No signo lingüístico, o que a palavra indica é a coi sa que ela representa, Quando se diz "árvore", todo mundo já t em a representação de alguma árvore. Toda palavra, portanto, que ele chama de signo lingüístico, tem seu som, que ele chama de imagem acú stica (não tem nada a ver co m imagem, é o simples som), e o co nc eito de á rvor e, ou seja, o significado daqu ele som que é a 4
coisa qu e o som designa • A imagem acú stica, esse som extraído de seu significado, para aq uém ou p ara além do co nceito que a representa, o puro som, é o significante. Lacan vai inv erter essa relação, colocando o significante em cima e o significado emb aixo. (S/s) Por qu ê? Porque o incons ciente se interessa muito m ais pelo significante do qu e pelo significado, ele é constituído por c adeias de significantes, Que a fal a et nha uma funç ão de comunicação, todos notamos isso; o que não notamos é que ela tem também uma fu n ção de mal-entendido. Ao saírem de uma conferência minh a, dizem: "O Quinet disse aquilo"; outros contestam: "Não, o Quinet dis se aquiloutro". Por mais que tenhamos um vocabulário em comum e qu e eu tenha a impr essão de me comunicar com a audiência, o qu e digo evoca em cada um coi sas distintas que fazem associar a outras tantas coisas. Às palavras que uso atribuo determinados significados e, felizmente, há algun s significados em comum que podemos partilhar, senão todos f alariam um di aleto particular que seria incompreensível para qualquer outro. Se, por um l ado, partilhamos de significados comuns a certos significantes, por outr o lado, o f a to de falarmos a mesma língua não impede o m al-entendido pr óprio à linguagem, que nos indica que não estamos tão distanciados da torre de BabeI. Cada um tem seu "idiolês". No dicionário, significantes têm não um, porém uma série de significados. Se isso já dificulta o entendimento, o inconsciente nos mostra que o que interessa ao sujeito, por exemplo, não é cadeira o conceito de quando ele se r efere à palavra ca deira numa análise. Não é o nível do dicionário que o interessa, ou sej a, a definição dicionaresca de uma cadeira com sua função mobiliária, se u determinado material, se tem quatro ou três pernas, se seu estilo é esse ou aquele. O que interessa é ao que "cadeira" remete o sujeito, podendo remeter, por exemplo, a uma cadeira de uma cena da
• CA Cl'a debai xo da qual aconteceram determinadas coisas fortes da vida lnlan , d d. ' libidinal do sujeito. Na aná lise trata- se não. da. articulação .a ca eua com seu significado e sim da articulação do slgn.Ificante cadeIra c o~ o utro significante. Freud percebe que os .sonhos, os smtom~s, os laps~s sao t~dos da ordem do chiste, co mo trocadIlhos, porque funcIOnam multo maIS na base do jo go de significantes do que na base dos sig nificados. Insistimos no significante, e não na palavra, para pod ermos discernir, por um. la~o, que toda análise é uma ex periência de significação (de se dar novos s lgmficados a significantes, a acontecimentos, a coisas que aco.nteceram .na vida do sujeito ou de se verif icar a não significação de determmadas COIsas)e , por outro lado, a i mportância de certos significantes que cons tituem os significantesmestres norteadores de sua existência. O primeiro ponto é porta~to. a prev~lência d? s ~gnificante_em ~el~ção ao significado. Na verd ade, o slgmficado e outro slgmficante, nao e XIstmdo
o significado fixo de n enhum significante, pois o s igni?ca?o pode remeter a outros. Tomemos um significante e fixemos se u slgmficado com um significante. Se, em seguida, formos definir este último, va mos encontrar outro significante, e ass im por diante. O inconsciente é constituído dessa forma: pelo desfilamento dos signif icantes, que deslizam sem cessar não se detendo em significados. O que Fr eud designa por cadeia associa tiva, Lacan vai chamar de c adeia de significantes, um significante ar ticulado a o utro, a outro, a 9 utrO. Eis o que se verifica na trilogia do sig nificante em Fr~ud. Como se d~ e~ta articulação de sentido na psicanálise? Ve mos, com Saussure, que os slgmficantes são articulados entre si e com se us significados co rrespondentes.
Ao encadearmos uma frase, as pa lavras apresentam seu significante, o som, e o seu significado, o co nceito que ela representa. A experiência do inconsciente nos revela que não é be m essa articulação que é dada, mas uma ar ticulação em que nós te mos uma ca deia de significantes e que só no final de uma frase é que vamos ter o se ntido do primeiro significante. Tomemos o exemplo de um tipo de alucinação de Sch reber: "eu agora vou me...". O que significa es ta frase? Só poderemos conhecer seu sentido se pudermos ir até o fin al da frase que, no caso , ele mesmo completava ". .. convencer-me de que sou louco". Então o significante louco, que é o último termo da fra se, é o que dá o sen tido do q ue estava acontecendo com ele. A constituição do sentido, que a psicanálise nos desve la, se d á a p ost er ior; "
do f inal para ?i a~te. Assi;.n, c~mo no caso do sertanejo r osiano das P rimeira s estór ias, é ? sI9,mfi~ante \~mIlhas-gerado" que dá o se ntido ao significante desconheCido f amIgerado. Trata-se do conceito de na chtrag lich de Freud, que mostra,. n? c~so do H ~m:~ dos Lo bos, a partir de uma experiência na qual ele ~SS~S:lUa cena p~lmIt1Va do. coito. parental, que a ca da momento de sua hIstona ele conf ena um sentIdo dIferente a es sa ce na. A análise é também assim, mas não só. Isso é uma experiência da vida em geral. Um acontecimento importante na vida de alguém pode ter hoje para ele um significado diferente do que tin ha ont em. E qu em sabe se aman hã já não será ainda outro diferente? A se ssão d e análise é também ressignificada a partir do corte da sessão, que implica uma experiência de pontuação. Lacan representa a estrutura da significação mostrando que o vetor d o significado corta o do significante, produzindo o sentido a p oster ior i
Lacan propõe, a par tir de Fr eud , duas formas, e a penas duas formas, de articulação dos significan tes, designando-as por "as leis do inconsciente", no texto ''A instância da letra no in consciente ou A razão desde Fre ud". É um texto bastante indicativo de que Freud in augura na história das idéias uma n ova razã o. Nele pro põe as leis do inconsciente, que correspondem, do POnto de vista da lingüística, à condensação e ao deslocamento descritos por Fr eud em A int erpret ação d os sonhos Quais são essas duas leis? A metáfora e a meto nímia. Lacan utiliza a metáfora para mostrar que o qu e Fre ud chama de ~ond.ens.ação(a figura com posta que aparece no sonho) é uma superposição .e ~lgnlficantes, ou seja, a substituição de um significante por o utro ~lgnlficante, como encontramos na poesia. Tome mos uma frase: A mulher e uma rosa. Será que a mulher é uma rosa? Uma planta? Não, é um efeito ~etafórico. Quando digo "a mulher é uma rosa", estou usando o termo r " asa para apontar alguma qualidade desse s ujeito da frase q ue está elidida, sendo a penas evocada. Pod e ser o atriburo da beleza, o p erfume, a delicadeza,
e em suma, ser várias coisas. O que é certo é que algo fo i substituído, po d , do uma palavra nessa frase que rol C· su b'Stltul 'da pe Ia pa Iavra "rosa. "E ssa h aven . , O C· d " substituição de s ignificantes pode ser escn ta: S /~. . eleito pO~tlCO a metáfora deixa em s uspenso o s ignificado: o que slg mfica afinal d izer que a mulher é uma rosa? O sentido não nos é claramente dado, ma s aparece o efeito de significação. No materna da met áfora:
f
[ S5' J
S' S _ S (+) S. A barra e ntre
e S
corresponde ao recalque, sendo qu o Ignificante (S') s ubstitui o signi ficante recalcado (S), e o s inal (+) é a emergência da significação. Lacan in~ica qu e essa forma de articulação e ntre dois significantes é própria do smtoma, definido portanto como um nó de significação. O sinal (=) ~ignifi~a congruência. A falta de sig nificado exato ~po nta trata~-se de ~m: artlculaçao de significantes que na ver dade pode contmuar a ~es ~lzar, po~~ na~, se resol~e o problema sobre o q ue é uma mulher com o s lgmfica~te . rosa, que nao é seu significado mas um significante que foi acop la~o a~ sl?mfican.te mulher. O efeito m etafórico que aparece é uma lei propna da hnguagem, inseparável portanto do si gnificante corr:o o puro ~,ignificante can ,~ado "n~ voz da poeta: "Uma rosa é uma rosa e uma rosa . . O segu~do rosa e diferente do primeiro, e o terceiro do se g undo e ass im por diante. Nesse exemplo, o efei to metafórico presente como efeito poético, f ura, no entanto, a significação .' ~ A segunda lei do inconsciente é a me to nímia. É uma artlculaçao de um significante ao o utro por deslizamento. To rr:emos"o fa~oso, exemplo de metonímia: "Trinta v elas despontam no honzonte . Ao mves de se fa lar barco, fala-se vela, de ac ordo com a d efinição da me to nímia que é a parte pelo todo, pois tomou-se parte do barco, a v ela, para se r eferir ao bar~o. Para generalizar o t ermo me to nímia, podemo~ ~lzer q ue o que per ml;e articular vela com barco - a par te pelo todo - e S implesmente a artlculaç~o significante, ("velà' se a rticula com "barco"). A fa lta de significaç~o própna da cadeia significante cor responde a~ reenvio da s ignificação d~ s~gmf ican~e em significante próprio à associação hvre. No materna da metommla: f(S ... S ) S=S (-)s, a conexão do s ignificante com o sig nificante (S... S') nã~ ~er~it: a cristalização de um significado, o sinal (-) representando a res lStenCla a significação. Essas leis fundamentais da linguagem são a s leis do inconsciente. Se a metáfora é aquilo que constitui o sintoma, a me tonímia é o qu e dá a característica do desejo. Por quê? Porque o desejo é marcado pela falta, ~o r aquilo que não se tem. Certo dia uma paciente impaciente me falou aSSIm: "Mas como é que eu só posso desejar aquilo que e u não tenho?" Ao qu e
pensei.: "Mas como é que ela ~ode desejar aquilo que tem?" Ao se f icar satis~elto ~ contente com aq~do que . se, tem, certamente o desejo se man~festara em ou.tro lu~ar, P?IS o ~eseJo e propriamente a fa lta, é sempre desejO d~ outr a cOisa .. POlS se e desejO de uma coisa, daqui a po uco já é de outra cOisa ~ e~ segu I~a de outr a, ~o[(~ue. a característica do pró prio desejo é ser metomm~co, de~hz~r na cadela slgmficante. O desejo é a meto ní mia da falta: o en vIO da slgmficação sempre a outro significante da meto nímia corresponde à característica do des ejo sempre faltoso. Assim como o ser da coisa nunca é atingido pelo significante, o desejo está no pró prio deslizamento do significante que busca se r ealizar de significante em si gnificante. É isso que conf ere ao desejo seu aspecto e nigmático: ele está sempre escapando como no jogo de passar o anel. Você ac ha que é aquilo e já n ão é. Para abordarmos a clínica do i nconsciente a pa rtir de suas leis, tom emos um exemplo clássico da Psic op at%gi a da vi da cotid iana em que Freud propõe utilizar um diagrama na análise do esq uecimento de um nome próprio, Signorelli, demonstrando brilhantemente a hipótese do inconsciente.' Enquanto o at o falho é uma-formação do inconsciente que passa para o <:..onsciente, sendo d a ordem _do reca lcado e surgindo à revelia do sujeito, no esquecimento não se deixa aparecer na consciência o que se quer lembrar, e em seu lugar surge um significante absurdo que dribla o reca lque. É um àto de fala falho do -sujeito mas é bem-sucedido no se ntido do inconsciente. Freud está viajando de trem e começa a co nversar com seu companheiro de cabine que não conhecia. Estava na Dalmácia e pegara um trem que ia de Raguza para um lugar na Herzegovina. Diz e le: "Nossa conversa vo ltou-se para. assunto de viagem na Itália." Freud perguntou se ele já conhecia ~rvleto, e se havia visto os famosos afrescos que havia na cate dral, que eram p~ntados por. .. E não lembrou o nome q ue deveria ter vindo, que era Slgnorelli, o pintor. Mas vieram outros no mes como Botticelli e Bo ltrafio. Todo mundo passa por essa experiência em que tenta recordar uma coisa, u~ nome, e ele não vem, surgindo outro q ue se sabe não ser aquele, mas nao se sabe p or que é ele que aí co mparece. Presentifica-se a fa lsa recordação que vem no lugar do que seria a verdadeira recordação. E, no e ntanto, é ~ma verdade que aí se manifesta. Freud confere a essa co isa ínfima, esse pormenor da vid a psíquica, o ~at~s de uma for mação do inconsciente, para mostrar como fun ciona. enficaremos co mo a tese de Lacan de que o inc onsc iente é estruturado ~omo uma linguagem é na verdade uma tes e compreendida no próprio te xto e Fr~ud. A partir desse pequeno fato psíquico, Freud começa a procurar, ror livre associação, o mo tivo pelo qual esqueceu o nom e Signorelli. embrou-se d o que estava conversando um pouco antes sobre esse tema: Os COStumes dos turcos que viviam na Bósnia e na Her zegovina. Co ntara
. de um co lega m édico a descrição de como a s pessoas que lá ouvua qUe . . . ham uma atitude e xtremamente condescendente com a m orte, Vlvlam tln I ' d' não aprese~tando grande medo d ela. E, quando, por e xemp o, um me 1~0 , 'a nessa região dizia n ão ter nada p ara faz er pela pes soa, que ela la que VlVl . d' "E Ie e Ise b em rou que morrer m, .,esmo ouvia' "Senhor o que hei "de . l zer? isso vem do alemão H err . Notou qu e é o iní cio de H erzeg?vllla. H err , o que hei de dizer? Se hou vesse uma maneira de salvá-Io, sei que o senhor . Del'tol'SSO"Descobre de onde veio Bó snia, e encontra , nessa conv ersa tena . . 11' B . 11' anterior significantes que verifica estarem articulados a Slgnore i, ottlce 1 e Boltr ~fio. Mas o que Bósnia, Her zegovina e H,e~r têm a ver com eles? Aparentemente nada, mas Freud supõe que essa sene de pensamentos t eve a capacidade de pertu rbar a outra série, impedindo-o de lembrar o nome do pintor . Ora, durante a convers a sobre os costumes dos tu~c os, de que eles aceitavam bem a morte, lembrou-se de que tinham uma atlt ude op~ sta em relação ao sexo. Se alg uém tinha alguma pe:turbação sexual , tlpO impotência ou frig idez, era um horror . Eles prefenam morr er a te: al go dessa ordem. Lembrou-se porém calou-se. Calou-se porque achava nao ser muito conveniente e, principalm~nte, porque i sso r~ meteu a um a ssunt? desagradável. Havia e stado, algum tempo antes, na ~l~ade chamada Tr afOl, em qu e um pa ciente, que fi zera análise com ele, sUiCldou-se por causa de uma perturbação sexual incurável.. Conclui: "Tenho _certe.za d e que este acontecimento triste, e tudo r elaCiOnado com ele, nao fOl lembrado p or minha memória consciente." Mas afinal o qu e aconteceu? O a ssunto recalcado, e. agora lem?~ad?, recalcou out ro pensamento articulando mo:te e sexo que vlllha na sequen Cla e sobre o qu al o Freud con sciente não quena nem saber. A f~rça do re caIq ue se manifestou no esquecimento daquele nome, levando CO .~Slg.0 o nome q u~ fazia parte da cadeia que n ão podia aparecer na conSClenCla. O q~ e ~01 recalcado acabou se manifestando de uma forma d eformada por aSSOClaçao, pela articulação de significantes, nos nomes que surgiram no lugar do esquecido. Para explicá-Io, Freud propõe o segulllte esquema: ~'~BO~
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7 ..... --..
Trafoi
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Ele põe o significante Signore11ina mesma linha de Bottice11i e Boltrafio, pois estes doi s vieram no lug ar do q ue foi re calcado. Por q ue se dá essa articulação? S ignor, senhor, é a tra dução em i taliano de "Herr", que aparece no Herzegovina e naquele Herr da frase "Senhor, mas que hei de faz er, se o senhor não pode fazer mais nada? " S ignor é portanto o significante que remete a outro significante, "H er r ", que r emête a ourro significante, Herzegovina, e a ess a frase do Herr que lembra a histór ia dos russo s na Bósnia. E temos o BO para o sig nifica nte que vai constituir a palavra Bottice11i. ELLI remete ao signi ficante do Signorelli. E aind a o Boltrafio, que vem da Bósnia e também de Trafoi. Vê-se através da decomposição significante como essa palavra nova foi constituída pela decomposição desses significantes, que aparece no BÓS/NlA. Essas associações de significantes constituem a falsa recordação que, comproibido, esses a elaonde articulados, não deixa de remeter àrecalcados" morte e à sexualidade, assunto Freud coloca "pensamentos que foràm os que deram o alerta de perigo. Eis uma demonstração do inconsciente estruturado como uma linguagem. Longe de s er algo do tipo um saco sem fundo, de onde vai-se tirando coisas, o inconsciente está na superfície, não es tá escondido, mas na cara. Só está escondido na m edida em que não é formulado e não se desentolam seus significantes. O inconsciente, en quanto tal, se manifesta através dessa articulação de significante em sig nificante - eis por que Freud inventa uma técnica, que tem ap enas uma regra, que é "a r egra de ouro da psicanálise": a associação livre. E qu e, na verdade, não tem nada de livre, pois a tendência do inconsciente é repetir. A associação de idéias é marcada pelos pensamentos recalcados que d ão a ordenação da cadeia ass ociativa; são os sig nificantes recalcados veiculadores de cenas onde se ma nifesta o desejo: significantesmestres que orientam a cadeia s ignificante do sujeito. , O sonho, com o qual Freud descobriu a Outra cena que constitui o inconsciente, é também uma forma de articulação significante "deformada". É _ a partir do r elato do sonho, que cada cena representa, que os signif icantes v.ao,se conectando com out ros significantes, fazendo assim aparecer os slgnlficantes recalcados por onde rolam os dados do desejo. O primeiro exemplo de Freud, nas Confe r ências intr odu tórias, de 1915, em que r etoma toda a teoria psicanalítica, é o de um pr esidente (o e quivalente ao ~residente do Senado) que, ao abrir uma sessão que ele sabe que vai ser ~Ulto difícil e polêmica, diz em s ua fala inaugural: "declaro fechada a sessão, o ! qUero dizer, declaro aberta a sessão", mostrando aí o a to falho como Umato bem-sucedido em declarar o dese jo do sujeito. Vejamos um exemplo recente e brasil eiro. Durante a CPI dos medicamentos, para defender o
consumidor, o governo precon izava a venda dos medicamentos genéricos (o nome de suas fórmulas químicas) contra a venda dos medic amentos com o nome fantas ia que cada la boratório utiliza, devido ao aumento abusivo de preço. Uma jornalista de uma grande emissora de TV; ao ent revistar um representante do Procon, acaba traindo "sua neutralidade" ao perguntar : "O que você ac ha que é m elhor para os con sumidores: os gen éricos ou os verdadeiros? Que horror! Verdadeiros não, os medi camentos dos labo rató. .. ~" nos O sintoma obedece à mesma estrutura do ato falho, pois o sint om a para a psicanálise se diferencia do sintoma para a medicina basicamente or p sua estrutura de linguagem e pela implicação do sujei to. Se alguém ch ega ao mé dico e diz qu e es tá com uma dor no fígado, por exemplo, será submetido a um exame c línico para saber de onde vem aqu ela dor e tratá -Ia com remédios ou cirurgia. Para o psicanalista é diferente. Tenho um exemplo em que justamente a palavra "fíga do" apare ce em dado momento na análise de um sujei to, estudante de medicina, remetendo-o a uma aula de a natomia em que os estudantes estavam fazendo a dissecção de um fígado e, de re pente, um pe daço caiu no chão. Eles d escobriram que o fígado, que tem um a consistência parecida com a da bor racha, quica quando cai no chão. "Qu ica que nem bola", disse o ana lisante. Os estuda ntes começaram então a fazer entre eles uma guerra com pedaç os de fíga do, um jogando fígado no outro numa brincadeira muito divertida. O paciente recordava-se com certo horror disso. "Como é que nós brin cávamos com pedaços de cadáver?" Essa cena o rem eteu a uma decepção amorosa: era apaixonado por uma men ina chamada Cristina, que tin ha o apelido de Quica e não dava bola para ele. Vemos aqui o tipo de articulação significante que intere ssa ao inco nsciente, o significante "fígado" se articulou ao "quica", e ao "bola", significantes equívocos que o remete ram a uma cena de decep ção amorosa. A associação livre fez colocar em cena o inco nsciente estruturado como uma linguagem e como desejo. Daí a técnic a psicanalítica obedecer à estrutura do incon sciente, tratan do-se tão-somente de uma talkin g cure
Capítulo"
A estrutura signifi cante
e a pulsão
Desinvent ar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente fUnções d e não p entear. Até qu e elef ique à disposiçãode ser um a begônia. Ou uma gravanha. M.B.
A psicanálise é u~a antipsicologia, pois enquanto a psicologia, ao lidar co m os proc~ssos co~sclentes, es:á imers; n? rein~ d~ sentid o, a psicanálise opera sobre o I?C~nSCIente,q~e d.aprev alencla ao slgmficante - pois o significado nada m.alse qu e. o~tro slgmficante que, junto com o prim eiro, produz efeito de sentIdo. O slgmficante é apenas o som da pala vra esvaziado de sent ido co~o uma palavra estrangeira desconhecida ou o nome próprio que embor~ d eSlgne, na d"fi S lca. e não se conhece ninguém ' que res ponda por aquele .a slgm n~~e. pró?n~ ou. se não se conhece a cidade a que ele se refere, esse nome !uafOlI ; , opr.1Onao e ~als do que o som de uma palavra . Trafoi. O que quer dizer p -··fi d ' Ao .. ara 11 mIm [".'. nao slgm lCa na a, so me remete a esse. exemplo de Freud d OUvir rarol, penso Imediatamente que faz pa rte da associação de idéias S~ Fr eu~, dessa for mação do inconsciente em que ele es queceu o nome ~nor~lll ~ que em seu lugar veio o signi ficante Boltrafio, que ele associou a. uaf . 'fiIcad o d esse slgm "fi Icant e para mim, . mas poderia continuar fi ..ol EISo slgm In IOltament d d .., . . e an o sequencla a essas aSSOCIaçõe sa que ele inicialmente me Ievou. e.nao _0 do queslgmficado. .m~stra queEis a associação de idéias se faz pelaapreender via do significante o que a psicanálise permite no esqueaCImento' no at o fa lho, no c lsh·te , no lapso e também no si ntom a que presenta ess d l ' , a mesma estrutura e lO guagem. Vamos a um e xemplo clínico qUeas d o que el xp 'lCaçoes. - Tomemos o sintoma princip al ' do H vezesfi'a a maIS Ia to v'd Ornem dos Ratos que o levou até Freud, qu e é o sintoma de uma díe não consegue pagar. Há muitas pessoas que têm d~IVI~dque ele contraiu C lhas que nao pagam, mas e 1e , como bom neu rótico que é (e não um ana a que pode usar o que é do outro sem problemas), culpabiliza-se por
não conseguir pagá-Ia. Essa dificuldade se transformou num sintoma obsessivo que compulsivamente o impele a pagar a dí vida e, ao mesmo tempo, o impede de fazê- lo. Essa impossibilidade o leva a um extremo sofrimento, o que não o imp ede d e continuar tentando pagar ; pelo contrário, ele não mede esforços para tal. Trata-se de uma dívida compl icadíssima. Ele estava no meio da gu erra e perde os óc ulos. Pede, então, por carta a seu ocul ist a para mand ar-lhe outros óculos pelo correio. Quando chega a caixa com o s óculos perto do lugar onde se encontrava seu bat alhão, um capit ão entrega-lhe o pacote dizendo que ele tem de pagar ao ten ente A . Esse tenente diz que não é a ele a quem tem de pag ar e sim ao tenente B. A partir daí ele se vê nu ma enrascada sem saíd a. A dívida se trans forma num sintoma e torna-se u ma dívida impagável, denotando a cara cterística do desejo do obsessivo: a impossibilidade. E o que é desejo vira obriga ção, com a característica de compulsão (Zwang) a realizar , ou seja, ele se v ê obrigado a fazer exatamente aquilo que lhe é impos sível fazer. Num mesmo sintoma vemos a obrigação e sua impossibilidade: ele é simultaneamente impelido e impedido de p agar a dívida, que se tr ansforma numa idéia obsessiva torturante. Qual é a chave que utiliza Freud para desvendar o enigma desse sintoma? Ele percebe o elemento significante de articulação dessa dívida com a economia libidinal do sujei to a partir do signi ficante prestação (quantia que se paga parceladamente quando se compra alguma coisa a prazo), que em alemão é Raten, com um T, que equivoca com Ratten com dois Ts, qu e significa "rato". É a mesma palavra que se ouve, mas não é a mesm a palavra. A partir da ling üística podemos dizer que é o mesm o significante Raten, que tem duas grafias diferentes e dois signif icados diferentes. Temos o significado da prest ação que apar ece no sinto ma da dívida e o signific ante "rato", que passa a fazer parte de suas idé ias obses sivas a part ir de um relato do ca pitão tcheco - o que lhe entregou o pa cote com os óculos e qu e estava portanto envolvido no tema da dívida. Ele lhe contou um suplício que cons istia em introduzir ratos vivos no inte stino do ind ivíduo através do ânus. Era a tortura usada por determinado povo nos países do Leste para com seus prisioneiro s. Ao ouvir esse r elato, imediatamente lhe vem a idéia de que isso estava acon tecendo a uma pessoa queri da, ou seja, à dama que habitava seus pensamentos e por quem nutria amor e admiração, e também a seu pai . Foi nessa me sma noite que esse ca pitão lhe entregou os óculos que chegaram pelo correio. E, no momento de receb ê-Ios, uma outra id éia lhe surgiu como uma solução: ele não deveria devolver em pagamento o dinheiro, se não o suplício dos rat os iria acont ecer a seu pai e à dama. Mas tampouco podia deixar de pa gar e , em sua neuros e obsessiva, acabou
inventando uma_ "moeda-rato". O "gozo ignorado de s' I mesmo, " queF reu d nota na 1 an Ise o á l' d . expressao do Homem do s Ratos quando d oreatoem suplíciO .dos d questao . ratos, aponta a emergência de um gozo Igaol'auma anal do SUJeIto,q da dl'vI'da 1 '- e '. . ue aparec e em ,.seu si ntoma , . . e Essa Igaçao ntre o an~, o dmh elro, o rato e a. dlVlda e feIta pelo significante Rattenl Raten. do incon scI'entecom re açao l- a os . EIS . um exemplo . do funCI Onamento '. slgnIficantes. A p artIr dessa eq UlvocIdade significante , ele raz o SIntoma. Ra~tenIR~ten. é ~m signi~cante que se enc ontra na encruzilhada de aruculaçoes sIglllficantes dIversas, constituindo o sintoma como sobred eterminado, como nos diz Freud. A sobredeterminação nada mai s é d que a articulação das cadeias significantes encontradas ao se decifrar ~ sintoma, isto é, ao se fazer deslizar e desdobrar os significantes recalcados que a ele estão atrelados. . Uma ~nalisante. fez um sonho q ue considerou estranhíssimo, no qual nnha perdIdo, um VI?ro ~e absinto . Mas absinto? "É um tipo de droga, diz ela,.q,~e dava b.arato antIgamente, no sécul o passad o, coisa que nem se usa mais. Falar ab~mto.pode evocar diversa s coisas, eu mesmo pensei em abcesso, ~orq~e ela haVIa feIto recentemente um abcesso no corpo . Pensei que talvez ISSO:lVesse.a ver , mas não disse nad a e fiqu ei esperan do o qu e ela ir ia aSSOCIarpOIS , essa era uma associação minha. De repente, e la passa a palavra para o fr an~es .- ela teve uma educação francesa - e fala absinthe, que é o mes;n0 slglllficante de absente, "ausente" no feminino. A passagem de uma h ~gua para outra é muito freqüente na análi se de pessoas poligl otas, como VImos no próprio exemplo de Freud. O signif icante absente remeteu à sua ' . h' ,. b p~opna IStona, so re a qu al perc ebeu que sempre se sentiu ausente do de sejO do Outro pois o Outro paterno jamais estava pre sente em sua casa. Na sua. vida adulta , reatualizando a ausência/presença do pai, era ela quem, nas SItuações em que diante do Outro social devia ma nifestar sua presença ' respon d'" Ia au sente. " Estar absente constituía assim um sintoma em SU avida que ar:Laz ' d' Iasorrer , pOISnao res pon d'Ia "presente " à convocação .o de~eJo. Pela pura associação de significantes, "absinto" trouxe à baila sua L
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fantasística a pergunta: "qual desejo do Outro?do" d~tuaçao q.ue ela respondia e pela ausência, poré otermeu semplugar re senosentido ausente eseJo paterno. . ~ processo da anál ise é o processo de de ciframento dessa articulação slgnlficanre q d " d d .' ue na a maIS e o que um desdobramento, um d esenrolar as c~delas de associação de significantes. Quando ela falou "absinto" e eu pensei "abce ~so.' " eu estava erra d o. O que mostra que quem faz a interpretação dos seus propnos sonhos é o son hador. Eu não f alei "abcesso" para ela,
enas pensei, pois se e u dissesse "é um a bcesso", esta ria dando um significado ap C . sl?nlIlcante e e aI àquele "absinto" e com isso teria interrompl 'd,~ a ca e d"'l~ não teria chegado - pelo men os naquela ocaSlao - ao slgmficante ausente , um significante-mestre em sua história. Quem int erpreta é, portanto, o próprio sujeito, ao deixar-se vagar por suas associaç~es: absi~to: absint h e, a bsent e, ause nt e. Este último significante nessa cadela é o slgmficado de "absinto". "Absinto" aqui não quer di zer a bebida absinto, quer dizer "ausente". Essa sessão pod e ser considerada como uma frase que com eça com "estou procurando um vidro de a ~ sin,to", do r elato do s~~ho .' e t,~r mi~a com "ausente", que dá portanto o slgmficado ao termo absl~to.' cUJo significado dicionaresco pouco importou. Não se trata de um slgmfica~o que esgote o s entido, mas de um significant e q~e reme te a ~utra cadela associativa em qu e está presente a questão do desejo como desejo do Outro.
abs into, que se opõe a presente devido a se u equívoco com o significante abs ent.
A segunda, propriedade do sign ificante _é sua topologia de composição "segundo as l elS de uma ordem fechada". E uma ordem que tem suas leis, como,vimo~, metáf~ra e metonímia. Essa ordem fechada constitui a repetição própna ao m consclente, mostrando que a associação livre não é tão livre, pois as cadeias significantes têm uma amarração que faz co m que se esteja sempre voltando 'aos mesmos lug ares, c omo p ode ser verificado no exe mplo ~ núm_eros ditos ao acaso: esse acaso nun ca é por acaso, pois o enca deamento dos significantes segue determinadas vias particulares de cada sujeito. O que Freud mostra nada m ais é que o acaso no in consciente é determinado e tem leis.2 Por isso Lacan propõ e pensar o inconsciente como o conjunto de cadeias significantes em que cada uma, como um an el, se articula com 9utra ca eia significante formando assim anéis dentro de um colar , que se articula com outro an el de um outr o colar, f eito d e anéis e este com outro colar e assim suces sivamente.
Vejamos agora as propriedades do significante.1 A primeira propriedade indica que um significante não se define pelo significado e sim por outro significante, com o qual ele vai estar em oposição. Tomemos o significante "homem". Quando s e diz "o homem e a humanidade", "o homem e a massà', "o hom em e o animal" e "o homem e a mulher", esse hom em que está presente nessas quatro proposições é o mesmo? Esse simples exemplo mostra que a primeira propri edade do significante é que ele só se d eflne pela dif erença. E essa diferença se encontra em sua situação de oposição a outro significante. O exemplo fr eudiano clássico é o jogo do carretel da criança do texto Para a lém do p rincí pio d o pra zer . Para simbolizar a ausência e a presença da mãe, ela utiliza um carretelzinho com um fio e emite, num movimento d e afastar e aproximar o carretel, um som O e A que Freud interpreta como querendo dizer FORT p ara longe e DA p ara perto. O que a criança faz a nível da fala é situar um par d e significantes em oposição O/A e n essa enunciação simboliza a ausência e a presença da mãe. Nesse
O inconsciente é co nstituído por anéis de cadeias significantes articulados em col~res que se conectam entre si. Um significante de uma cadeia faz também _parte de outra cadeia significante que se conecta com outros ~ignifi.cantes, mostrando assim a sobredeterminação de t oda formação do ~o_nsciente. A simultaneidade de pertencimento d e um mesmo significante a mais de uma cadeia lhe confere uma propriedade fundamental não só para a c~nstituição dos sint omas, como t ambém para a técnica analítica no que dl~ respeito à interpretação. Trata-se da equivocidade. É uma propriedade cUJosexemplos abundam tanto nos textos da trilogia do significante quanto ~m Outros de Freud, que, por vezes, a designa como espirituosidade ou
exemplo, em qu e a criança repete alguma coisa que lh e é desagradável, e o qual Freud utiliza para ilustrar a repetição a serviço da pulsão de morte, Lacan aponta o paradigma da oposição signiflcante como simbolização primordial. Para que o uni verso simbólico se constitua é suficiente ter um par de opos ição signiflcante. Lacan demonstra isso matem aticamente, de uma maneira muito simples, a partir d e um jogo d e par ou ímpar no "Seminário sobre A carta roubada". O q u e define, portanto, o significante é a sua localização em r elação a um outrO significant e, como o significante
ambigüidade" - como n o t exto "Delírios e so nhos na 'Gradiva' de Jansen", em que Zoé utiliza essa propried ade na int erpretação do delírio histérico de Nor bert Hanold, A equivocidade do significante aparece co mo o fa to de um,a palavra poder t er vários sentidos (a mbigüidade semâ ntica), como venficamos no dicionário; estruturalmente, porém, ela é devida à articulação e. à posição do significante na sua conexão com os outros. A e quivocidade slgnificante é a característica do inconsciente, que Lacan eleva à co ndição de definição do próprio in consciente ao traduzi-Io do alemão Um bewust
para o fran cês como Une bévue (um.a. equivoca~ã?). O .incons.ci~~te é equivocidade, e nesta se r e~er~utem a divisão do sUjeito e a Imposslb.lhdade de sua de finição por um slglllficante que fosse UlllVOCOe que o designasse como tal . A equivocidade se contrap õe a outra propriedade do significante, que nos faz te nder a tom á-Io como um s ó e unívoco. Trata-se do poder de comando próprio ao significante, que se encontra mais evidente no im perativo do que nas formas indicativo ou subjuntivo. Faça! Pare! Ande! O poder de comando transparece também evidenciado nas falas performativas descritas por Austin em seu livr o Quando dizer é fazer. 3 Essa propriedade aí evidenciada se encontra presente em tod o significante. Esse poder também comparece em seu aspecto hipnótico - o significante faz o o utro obedecer e também o faz adormec er. Quem assiste a uma palestra s abe que o significante pode ser um bom sonífero. Essa propriedade é r elativa à característica unitária do significante - ele é um, todo significante é e m si um SI, signif icante-mestre. E essa função da unida de é corr elativa à sua propriedade de diferenciação. "O que distingue o significante, diz Lacan no Seminário da Identificação, é unicamente ser o qu e todos os o utros não são." O que no significante implica a função da unidad e é justamente ser apenas diferença. É como pur a diferença que a unidade em sua fun ção significante se estrutura e se constitui. Enfim, não podemos deixar de evocar a propriedade do significante de tender a precipitar a significação, antecipar o sentido. Quando se ouve uma cadeia significante é difícil ir co ntra essa propriedade de antecipar o sentido, seja de um a fra se, palavra ou inte rjeição. Ela é tão forte e presente que p assa desapercebida e devemos insistir para atentar que o significante em si não significa nada. As crianças nos ilustram isso muito bem quando não entendem uma palavra ou escutam uma palavra no va, em prin cípio desprovida para elas de sentido. Sua tendência é utilizar o equívoco da língua e, no lugar da palavra d esconhecida, colocar um significante cujo sentido já lhe é dado por' um significado conhecido. Como mesinha de "travisseira" (no lugar d e "cabeceira"), "áfrica" na boca ( no lu gar de "afta") e nos exemplos "O Cristo
. Trata-se de uma equação cujo res ultado é um neologismo do mesmo tIpo dos que se encontram na fala dos sujeitos na psicose, onde o inconsciente está a céu aberto. Nos dois casos ap reendemos que o inconsciente se manifesta através dos jogo s de lin guagem. ~á uma distinção fu ndamental, introduzida pelos lingüistas, entre a fa la ~ a l~nguagem. A fal a é a pr esentificação, na palavra, da linguagem. A fala 'mpl~ca o sujeito dirigir-se a Outro, implica o reconhecimento do Outro e
rebentô Riido o d pe Janeir elatado por J airo Gerbase o c Bárbar aso doa menin o que dissenoter ara oso" "G rustavos Unidos", contado e por Guatimosm. A propri edade de esp irituosidade do sig nificante (cor relata à equivocidade) é amplamente demonstrada por Freud no texto O chiste e sua re lação com o inconsciente. Ele parte do sig nificante "Familionário" do chiste descrito por Heine em que o personagem Hirsch Hyacinth, ao relatar um episódio com o ric o Barão de Rothschild, disse: "Sentei-me ao lado de Salomão
a artIculação, em p alavras, da demanda e do dese jo em relação a O utro. Quand.o Lacan se refere à linguagem, trata-se da articulação dos significantes entre SIcom suas leis: a m etáfora e a me tonímia. É a isso que ele se r efere ~~ dizer que o inconsciente é es truturado como uma linguagem. Essa 'ferença entre linguagem e fala ou palavra (palavra aqui é no sentido de palavra falada) é essencial para manter a distinção entre as leis que regem ~ofala.e. as que regem a linguagem. As leis da fala imp licam a mensagem SUjeito e seu reconhecimento pelo Outro no pacto da palavra falada,
Rothschild e ele me tratou como seu igu al. Ele me tr atou familionariamente." Freu.d apont~, a par~ir ~e sse e~e~plo, que para se c hegar ao significado o qu:, Importa e a 10~a!lzaç~0do slglllficante em relação a um outro s ignificante. O po.der da. pOSlçao, diZ Fr eu~: é o que interessa , seja na guerra pa ra os guerretros, seJ~ entre ~s 'pal~vras . O des" .en~ament.o da posição do significante n~ cad ela aSSOClatIvae o q ue constItuI pro pnamente a decifração do inconSCiente. "Familionário" é uma palavra condensada, produto da condensação e ntre o familiar e o milion ário. Ao interpretar esse c histe, ele diz que o s ujeito queria dizer familiar, mas tem algo que ele evitou d izer e q ue vai aparecer como significante novo, que é o f amilionário. O qu e ele r ecalcou e não quis dizer é: "Rothschild tratou-me bastante familiarmente, isto é, tanto quanto é possível para um mili onário." Não acreditando que um milionário pudesse ser rdação ao milionár io que são recalcados aparsincero, ecendo onodesdém chiste e adeironia uma em forma deformada. Poderíamos ter outr~s interpretações, por exe mplo, a de que ele foi tratado de forma familiar por um mi lionário, como gostaria de se r . De qualquer forma, vemos que é diferente do caso Signorelli: lá ocorreu a s ubstituição de um significante por outro e aqui a constituição de um novo s ignificante por condensação. Eis o esquema que Freud pr opõe: famili ar mili onário faMILIon ÁRIO
nde circula a verdade. O Out ro da fala é o lugar da falta e da verdade do o 'ei to. Qu e a f ala se a presente como o Outro do sujeito se deve (além do SUJ )' I 'd a.d e fato de o incon sciente se manIf"'Cestar em sIgnIIlcantes a es .sa par~Ic.u.an de o sujeito se ouvir quando ele me.smo fala: ao s: o uvir se d.lVldu, pOIS, por vezes, fala coi sas que não quena, que nao sabIa (que sa bia) e qu e o surpreendem como se fosse a fala de outrem. E tamb~m qua~do não eSCuta o que fala, principalmente quando é al go que ele nao quena ~alar e, sem querer, fala. O inconsciente vence o r ecalque e e s te se manIfesta numa "surdez momentânea", o sujeito não r econhecendo o que falou, e procura se corrigir. Um conhe cido, ao desc~ever seu modo. d~ ~uncionamento no novo cargo do gov erno, comentou: eu p arto do ' pn~ClplO de q~ e eu estou certo e os outros estão errados". Ao qu e retruquei bnncando e dizendo que julgava um tanto onipotente de sua p ~rte: ~le ,~ees pant~u e per guntou: "Mas eu estou err ado? Eu parto do pnn CIpIO... , e repetiu exatamente a mesma frase. Não pude d eixar de rir . Aí ele falou a frase pela terc eira vez e só aí s e ouviu e t entou consertar. Mas era tarde demais e teve que conf essar que havia se tr aído. . .. .. Após termos descrito as propriedades pnnClpalS do slgnIfi~ante , que n~ verdade independem do in consciente, não pod emos deixar .de Justapor a~uI duas definições do significante por La can que di zem propnamente respeIto à descoberta fr eudiana e ao retorno a Fr eud. 1. "O significante é o que representa o sujeito p ara outro significante." Como o sujeito não pode ser nomeado, na medida em que é falta-a-ser, ele só pod e ser representado, e é es sa representação que d efine o significante para a psicanálise. O incon sciente é es tr.u~urado c~mo uma linguagem em que os significantes representam o sUjeito que ai te~ ~eu hábitat. E o sintoma é uma modalidade da representação do sU Jeito, como veremos adiante. 2. "O significante é ca usa de gozo." Ao to mar as quatro causas de Aristóteles, Lacan demonstra que a articulação entre o significant e e o gozo é a de causalidade, como também veremos no cap ítulo sobre o sintoma. O inconsciente se a tualiza na transferência. O desenrolar das ca deias significantes qu e constitui a livre associação de idéias se efetua na transferência com o a nalista, na medida em que o sujeito dirige a sua fal a - ou, em termos lacanianos, sua cadeia sig nificante - para o analista que se s itua para ele no lug ar do Outro. Não custa lembrar que o Out ro é um lu gar, pois o Outro não é ninguém, sendo o lugar e quivalenre ao lugar psíquico onde se passa o sonho, que Freud chama, a partir de Fechner, de a outra cena. O grand e Outro como lugar é o lugar do código para o sujeito, onde
se encontra o tesouro dos significantes, elementos da linguagem. Mas, esses significantes são de que~, afinal? Do sujeito que fala? Do su jeito qu e escuta? Está na cultura? Onde e que es tão os sig nificantes? O OutrO como in~onsciente, como alt eridade radical para o sujeito, é o lugar que se presentlfica na f a la a partir da linguagem. Ele não se s itua propriamente nem fora n em dentro do s ujeito, mas faz parte da ordem do simbólico qu e é da mesma ordem da cultura. O inconsciente como o Outro da linguagem significa que n ão há barreira entre o q ue é do sujeito (e nquanto "seu" inconsciente) e o que é do mund o simbólico em que ele está inserido. Os significantes que constituem o inconsciente são determinados significantes que estão aí o t empo todo e que, no momento em que se fala, ex perimenta-se seu p eso e seu v alor. "Mas você sa be que a pessoa pode encalhar numa palavra e perd er anos de vida ?" - pergunta Clarice Lispector. "É que as palavras, com essa c oisa de se pl antarem na nossa vid a, nos alimentam e nos matam, são r emédio e veneno, e, co mo os produtos de u ma farmácia, são drogas qu e podem matar ou curar" - responde Mfonso Romano de Sant'Anna. O conceito de in consciente indica que não s ó habitamos a linguagem, mas que ao mes mo tempo somos habitados por ela. O sujeito sempre se mant ém numa r elação de alteridade em relação a seu inconsciente, o qual, por definição, evidentemente, jamais será totalmente consciente. Da análise, espera-se que o sujeito conheça os significantes primordiais que o determinaram em sua hi stória e em sua vida a partir d a decifração do inconsciente, para que possa deles se desa lienar escapando de seu poder de comando.
O analista, prestando-se a esse lugar do Outro para o sujeito, faz com q ue, através da associação livre, o in consciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito. Um pa ciente em análise me dizia: "Eu sei que você não tem aí nenhuma função, a única co isa que você faz é me fazer f alar; aí eu pensei, cá comigo, que podia co ntinuar sozinho. Até que entendi que a SUafunção é essencial, pois é nos momentos em que estou em casa pensando na análise, ou vindo para cá, o u aqui na análise, que começo a p ensar as rninhas coisas." O s ujeito em associação livre, é um sujeito diri gindo-se ao analista cuja presença nas se ssões é condição sine qua non para fazer o inconsciente existir. Pod e earecer...esrranho, mas o inconsciente se rese ntifica na POltrona do a nalista. O in consciente vai se situar nesse lugar (A) o cupado
pelo analisota - s,e ~l~ o permitir, ~vi~en~emente -, ~ois é a e le: ~ela transferência, que e dmglda a aSSOC laçaolivreo 5ua funçao é fazer eXlstlf o inconsciente, para que o próprio sujeito possa encontrar as cifras do seu destino, se us significantes-mestres (5 1). O Outr o do analista não se conf unde com a pessoa do ana lista, qu e é nosso semelhante, homem ou mulher, que está esc utando a fa la do sujeito. O Outro é o lugar do inconsciente a que o analista é chamado a ocup ar, vindo representar todos os que ocuparam o lugar do Outro na vida d o sujeito. A pessoa do analista, enquanto semelhante, é um ser igual e também rival que se s itua em espelhamento ao sujeito f ormando um p ar imaginário com se u duplo nar císico (a-a'). Essa diferença estrutural se encontra no esquema L de Lac an, solidário d a diferença entre Outro e out ro e da definição do in consciente como discurso do Outr o.
Temos aqui uma polaridade, na linha de cima, onde se encontra de um lado o suj eito (5) e do outro l ado o pequeno outro (a ). Do lado di reito está o Ich freudiano, que se desdobra em sujeito do inconsciente (S) e na linha inferior n o eu (a'). Assim como d o lado esquerdo a alteridade se desdobra em o Outro e o pequeno outro. A linha que liga o Outro c om o sujeito representa o incon sciente, se ndo int errompida pela linha da r elação imaginária que liga o pequeno outro ao eu (o consciente). Par a se ter a cesso ao in consciente é preciso dribl ar o recalque, como nos caso s dos Botti celli, Bo Lt ra fioe fami Liondr io. A mensagem do inconsciente, como lug ar do Ou tro, que cheg a ao suj eito tem que atravessar a b arreira especular (a-a') e ir para além (ou para aqu ém) do sentido, que é se mpre imaginário. y Se o Outro constitui o tesouro dos significantes no lugar do in consciente, não é, no entanto, um con junto fechado, em que tudo está coberto pelo significante. No Ou tro há um a falta que é es trutural e que pode se escrever
Essa falta,q~e se situa no nível dos significantes, corresponde estruturalmente falta descrita por Fr eud no complexo de castração. Esse Outro é po rtanto marcado por um a f alta que podemos chamar de ca stração, mas o s ujeito o não quer saber da f alta no Outro nem da sua pro'prloa. Na an álIse o. , o sUjeito deve s er levado a se c onfrontar com a falta para ch egar à pura d°f c °fc 1 erença. Trata-se d e sua dI erenç a, de sua singularidade. à
O inconsciente não é pura ar ticulação de significantes. O incon sciente é pulsional; Cabe-nos, portanto, efetuar a articulação do conc eito de incQillciente com o conceito de pulsão. I eficácia da psicanálise_d<'J?ende diretamente dos efeitos de sua rá xis ~~obreum os es tlOos da pulsão ; o recalque , cuja teona reu considerava ;lí, 'a pedra angular sobre a qual repousa a estrutura da psicaná lise", como podemos ler em seu te xto "Sobre a história do movi mento psicanalítico". Pretendemos abordar aqui o recalque e duas modalidades de sua m anifestação, ou seja, de seu r etorno: o sintoma e o actin g out, para int errogar o efeito da análise sobre a puls ão no n eurótico. O âmbito pulsional é o campo de Ero s em qu e brotam a s flores do mal, onde a pu lsaçã~ da vida é mordida p ela morte. ~ en~tra o que considera seu verdadeiro dualismo pulsional: J;:ros tende à umão, à aspiração ao Um, à vida, à reprodução, e a pu lsão de; morte é desttutividade e desunião, o impulso que na v ida só quer morrer . A pulsão ,de morte é o que vem fa zer objeção ao Um da relação sexual d e comple..!!lentaridade prometida por Eros . Com Freud dizemo s que a puls ão é o conceito-limite entre o físi co e o ( sí9uico; c,om Lacan pod emos dizer qu e a pulsão é o concei to-limite entr; o Simbólico e o real, pois s e encontra na interseção dos dois re i stros: Si mb óLico: ~ pulsão é representada n o inconsciente p elo conjunto de V or st e LL ungrep resentan z, ou seja, or significantes. São os significantes repres~ntativos d a pulsão que fazem o inconscient~ estruturado como uma f .l
[S(.A)].Esse mat erna pod eque ser flido ias maneirque as. completar Como significante da falta do Outro, designa alta do esigvárnificante ia o OutrO, e que nem tudo é significantizável, que nem tudo pode ser dito.4 Pode designar também qu e há um significante, no cas o o falo (< 1 » , que t em a função de suprir a f alta do/no Ou tro. O risco o u a barra sobre o A indicando negação apo nta para a f alta de consistência e, até mesmo, a inexistência do Outro, que nad a mais é do qu e uma co leção incompleta de sig nificantes.
linguagem. Re aL : trata-se da energia pulsional, a libido, ~uja manifestação no sintoma Freud designa por afet os, entre os qu ais pnvilegia a angústia. E a energia .que se p resentifica comõ satisfação pulsional ou go zo do sintoma. As pulsães são nossa mitologia, pois ao mitificarem o real r eproduzem a relação do sujeito com o objeto perdido. Mitificação paradoxal, pois, por um. lado, lá onde está o sujeito não se encontra o objeto, ou seja, nas
representações representativas da pu lsão no inconsciente que ind ica~, a s demandas do sujeito ao O utro, e as de mandas do Ou tro ao sU Jeit o, modalizadas pela pulsão ora l, ana l etc. .. E, por outro lado, lá onde est á o objeto da pulsão não se e ncontra o s ujeito. No re istro simbólico da pulsão, o s ujeito em fading se encon ,Eg em nexã~~ disjunção com a demanda do outrO ($ O D ). No rea l, o su'eito é seus objetos, como é ilustrado no esquema no trajeto pulsional ropoSIo ~or aca t}oAo atingir su meta, eercorrendo seu traj:to de ida e :~lta em torno do objeto, a pulsãQ ~e satisfaz mostrando-se ac efala, sem sUJeito.
Por se s ituar nos registros do simbólico e do real que a pul~ conceito-chave ue permite sustentar que a psicanálise opera so bre o go zo Cir intermédio da linguagem. ) As representações representativas da pulsão recalcadas co nstituem o inconsciente. Recalque e inconsciente são, portanto, correlativos. O recalque srcinário corresponde à recusa da pulsão pelo conscient~ e à fix~ção d e significantes à pulsão que permanecem ligados a ela e subsistem no IOconsciente que se es trutura co mo uma l inguagem da pulsão. O recalque, nos diz Fr eud na Metapsicologia, concerne aos " derivados mentais da r epresentação recalcada ou a tais cadeias de pensamento que, originando-se em outra parte, tenham entrado em ligação associativa co m ela". Há, portanto, significantes da pulsão recalcados e uma formação contínua de cadeias de significantes ligados a eles. É essa r ede de significantes co m suas interligações que faz d a associação livre a única reg ra da psicanálise compatÍvel com a decifração d,o inconsciente u'eito vai...s~~senrolando as cadeias sig nificantes até cair em uma form ação de pensamento na qual, diz Freud, "a relação com o ~alcado a~e com tal int ensidade que ele dev~ re peti: sua tentativa de recalque". E aí que se e ncontram as formações do IOconsClente: nos tropesos da fala, nos-desditos do dito, na negação do declarado. O sintoma, como um d erivado do recalcado, é uma formação do inconsciente, ou seja, uma f ormação substitutiva do significante recalcado sendo, portanto, uma m etáfora [ ~ ]. A única arma que o analista tem
contra, o sint?ma, nos diz L aca~ no Sem inário 23, de 1975, é o equívoco - ~OIS, ao Jogar com a propnedade de am bigüidade do significante, o analtsta. pr~voca a ab ertura de outras vias a ssociativas, permitindo trazer à luz os sl gmficantes recalcados que representam a pulsão no inconsciente. O sinto~a é u.:::..~ativida~e sexual, se .ndo o modo pelo qual o neurótico goza. A ulsao ~ satisfaz no s intoma: satlsfação paradoxal, ois ge radora de desprazer. Esse p aradoxo só se es clarece a par tir da concepção de que tod;pulsão é pu s ão de morte (devido ao i ntrincamento de Eros e Tanatos) situandose a satisfação do sintoma para além do principio do p razer. Tomemos como exemplo a f obia de Hans, A pul são presente no sin toma de ser mor dido p elo cavalo é a p ulsão oral, que se sa tisfaz fazendo-o desaparecer como sujeito e desvelando seu status de objeto - objeto a ser mordido. No re istro ul sional, ~ sujeito é equivalente ao objeto ($ = = a). \ .Daí o i o o pul sional aparecer so b a forma de angústia provocada pelo cava lo, sig?ificante de sua fobia. ' A interpretação psicanalítica, ao agir so bre esse destino pulsional que é o recalque, tem efeitos sobre a sa tisfação pulsional à qual se habituara o neurótico. r-A atuação, ou seja, o q ue se convencio nou chamar de acting outa partir da tradução de Strachey, é uma manifestação pulsional em que o sujeito repete ao invés de reco rdar. Como o si ntoma, o acting out a presenta uma vertente significante discernida por Fr eud desde sua Psicopatologia da vida I ~otidiana, no q~ e ele chamava, na época, de atos s intomáticos, ou de atos \talhos, que eqUIvalem a uma confissão do sujeito. Esses a tos ex rim em o .que o su'eitQ. "~a intenção de guardar para si, di z Freu~ ao invés de .....J.rausmitiraos outros". Nessa co nfissão, a dimensão do Outro está sem pre presente: o su j eito envia, assim, sem que rer querendo, uma mensagem lOconfessa. º-ato falho é, na ver dade, bem-sucedido em dizer sobre o ...r.eccado O acting out apresenta essa ve rtente significante do ato falho numa ~antomima em que o sujeito endereça sua mensagem ao Outro. Como o Sintoma, o acting out é uma manifestação do inconsciente e tem valor de verdade. Sã o dois modos de satisfação da pulsão no retorno do recalcado. A característica do acting o utde ser or ientado para o Outro faz Lacan dizer no seminário so bre a Angústia que se tra ta aí de transferência sem aná lise. ~a sua dim ensão significante, o sintoma acentua a divisão do sujeito; o o,bJet,oda pulsão não é aí discernível senão por inferência, ou seja, co mo vazIo cmgido pelos significantes depreendidos da decifração do inconsciente qu~ sua mensagem codifica. No sintoma, o o bjeto de pulsão é i mplícito, POISé dedutível apenas por int ermédio dos significanres que o co nstituem.
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' ou t, OobJ 'eto da pulsão é ex plícito, tratando-se justamente daquilo N o actmg . . . l'tOtraz a'cena O obJ 'eto euo que o sUJe . " a., no acting outencontra-se no pnm b' plano - ele é apresentado ao Outro. AqUl o SUjeito vai apr esentar o o Jeto (a, >
Ilustrarei essas duas modalidades de satisfação pulsional a partir de um fragmento de c aso clínico para demonstrar os efeitos da análise sobre a pulsão. , . Jean-Louis é um menin o frances de OltO anos, segundo filho de uma família que passou um a temporada morando no Rio d e Janeiro, sendo o pai sul-americano e a mãe francesa. Dos quatro fil~o s hom~ns d esse. cas:!' ele e seu irm ão logo abaixo são h emofílicos, ou s eja, os dOIS do melO s ao hemofílicos e o mais velho e o mai s moço não. A hemofilia de Jean-Louis foi descoberta quando ele tinha um ano d e idade devido a seus hematomas freqüentes. Essa de scoberta causou uma grande surpresa tanto na família materna quanta na ,ra,te.rna por ser : primeiro caso de hemofilia de ambas. Essa descoberta e vlVlda como um catástrofcomo e port ambém esse jovem casal, apenas pela ameaça de de morconstItuir te ~es~a criança pela que bra não no ideal partilhado pelo casal uma família num erosa. A partir de então, a mãe não mais trabalhará, para se ocup ar de seu filh o hemofílico e dos que vi~ã~ a seg uir.. moO casal fará então um curso médico es pecializado para pais de ~~ , fílicos, na França, a prendendo toda a técnica e todo o sa ber nec~ssanos a manutenção em vida de seu f ilho suscetível a freqüentes hemorragias, o que permitiu-Ihes não abandonar totalmente a idéia de ter uma prole numerosa.
Devido ao trabalho do pa i a c am 'l' ", d' , , , 1: I Ia ]a Viveu em Iversos palses, mas ]ean-Louls. mantem um co ntrole mé dico regular na F d rança to os os'1anos. Ao fazer r ecentemente os exames habitual's el . , e r ol Aver acabou encontrando um ana hsta E a pe dl'do seu I " um pSICOogo e, ,, .' , , fOI ve- o v anas vezes ate que a famlha r etomou ao BrasIl e o anal is ta indl'cou m Ri d eu nom e no o e Janeiro, onde e stavam mor ando. C ·
.
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O que decid iu seus pais a trazê-lo a um psicanalista fora do âmbito do corpo médico, além ~a in~icação de meu nome, foi o fato de que Jean-Louis andava totalmente dlstraldo, sem concentração alguma na escola, onde os pais foram chamados devido à preocupação do professor com sua falta de atenção. Eis o sintoma que o traz à análise. El e é descrito como um sonhador, diferente dos pais, que dizem ter os pés na terra. No entanto, havia algo q~e, a~esar de . colocado em segundo plano, era bem mai s grave do que a dlstraçao: os aCldentes r ecorrentes com Jean-Louis, pondo em risco su a viçia, Caiu d o primeiro andar de sua casa fr aturando o braço e a clavícula em circ~nstâncias estra~has: estava brincando com o irm ão mais moç o que quena pegar um carnnh o que estava em sua mão. Ele foi recuando, recuando sU,biuna balaustrada e caiu. Paira a dúvida se não teri a se jogado, preferind~ c~lr a ser pego. Em s eguida, atravessou uma p orta de vidro que não tinha ViSto e COrtou-~: todo - o, que para um hem ofílico é a inda mais grave, Em outra ocaSlao, estava bnncando de Tarzan numa árvore e caiu l á de cim~. Teve uma fr atura exposta no antebraço que "não conseguiu r eduzir aq,Ulno Brasil" (sic) e foi p ara a França co m o pai por 15 dias. O qu arto aCld~nte é um estranho episódio, em que paira a suspeita de ele ter empurrado seu I rmão de do is anos de idade na piscina de sua casa, o qual só não m~rreu porque a mãe re tirou-o a tempo. Ao não ver o filho mai s novo, a mae perguntou a Jean-Louis por s eu irm ão e ele disse que não sabia onde e~tava"atéque ela viu o b ebê no fundo da piscina, retirando-o a tempo com Vida. Com todos esses ac identes, diz a mãe, é o suicídio aos 15 anos." , ~ mãe relata que, ao ficar ciente da hemofilia do filho, veio-lhe Imediatamente a fr ase ouvida em seus tempos de universidade durante uma de emato h _ ultrapassam os 15 anos", Um a 1'"gia: os" h emOllül'lCOSnao Iaula apso em , que na entreVista comigo troca o número 8 pelo número 15, 1l10straqu e para ela tinha soado a hora do suicídio de Jean-Louis, que Contava então com oit o anos.
A
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I
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nasceu o terceuo f ilho , tam bém hemofílico , Jean-L' rnae re ata , que quando , . OUISsentiu que tinham-lhe roubado sua diferença se ndo inúmeras as ll1anlfest - d 'd' d ., I açoes e o 10 e e ClUme em re ação a esse irmão. Mais tarde, qUando nasceu o quarto filho , Jean-Louis presenciou a mãe eufórica anunciar
ao telefone que este último não era hemofílico. Este quarto filho fo i a vítima do estranho episódio da pi scina, deixando supor que Jean-Louis quisera transferir ao irmão mais moço a sina fatal qu e lhe estava destinada. Ele se dá muito bem co m o pai, a quem sempre procura para p edir carinho e cuja relação é mais caractetizada pelo corpo a corpo do que p ela palavra. Com a mãe é uma "guerra". O pai admite que seu filho possa ter algo a dizer que não fa laria com os pais, pois ele mesmo tinha num tio e não em se u pai o co nfidente-amigo de sua infância, mostrando, portanto, saber que a função paterna é se mpre falha, podendo ser discordante com o papel do genitor. Para esses pais formados no saber médico, o comportamento d o filho constituía um eni gma, uma falha no saber e seu pud or lhes impedia de dizer a Jean-Louis que ele ia ve r um ana lista. Preferiram dizer-lhe que ele ia encontrar um ami go do Henri, o analista de Paris. "Amigo do Henri" foi a designação conferida a minha pessoa servindo de engate transferencial. Na primeira entrevista, Jean-Louis entra resolutamente no consultório, senta no di vã e, muito d ecidido, me diz: "Eu estava muito ansioso para te conhecer. Você é um amigo do Henri. Eu te conheço desde sempre." Eis como demonstra, dessa forma surpreendente, que a f unção do sujeito suposto saber já estava es tabeleci da independente da minha presença. Passa ent ão a re clamar do irmãozinho de dois anos, que é mu ito barulhento em casa; em seguid a diz que em sua casa ele é jogado de um lado para o outro e que quando está num lugar c hamam-no para o outrO canto. Ele se propõe a desenhar, dizendo que dese nhará "coisas de guerrà' (ver desenho 1). Desenha uma nuvem e a risca logo em segui da, dizendo que não vai d esenhar coisas de menina, e sim de guerra, e faz um tanque. Durante a execução desse desenho, co menta que seu irmão mais velho fica mexendo com ele afirmando que ele está apaixonado pelas meninas, maS ele nega e me diz que não é verdade. Nesse primeiro desenho ele escr eve o número do m eu consultório (401) situado no qu arto andar, inscrevendo assim o lo cal de endereçamento de sua mensagem. A nuvem ao ser ri scada, barrada, é paradoxalmente reforçada, mostrando-me sua impo rtância como significante recalcado. Podemos ve rificar como, de início, o sujeito se coloca como s exuado para o analista, trazendo a diferença dos sexos r epresentada pelos significantes nuvem e guerra: o s ignificado de nuvem é "coisa de menina" e o significado de guerra "coisa de menino". A o po sição significante nuvem x guerra representa portanto oposição menino x m enina
nuvem guerra menina . menino
o significante cair, duplamente presentificado na sessão (pelo relato da queda da bici cleta e p elo ato de deixar cair água em seu dedo), é o significa nte da tr ansferência (S) que, articulado ao si gnificante qualquer do anal ista, no caso, amigo do Henr i (Sq), mostra o estabelecimento da transfer ência comigo.
guerra ftttVe ffl
A uerra será o tema qua se con stante de seus desenho~ seg uintes; ~u erra sendo ~am bém o significante relatado pelo pai que d eSIgna a relaçao de Jean-Louis com sua mãe. . d E sse pnmelro .. d esenho pode tamb ém representar o smtoma, e detectado elos pais e profes sores: a falta de atenção. Ele e um . nas p nuvens t' levar um tombo edE cair que vive e a d das al turas no
J L' ean - h OUIS d son a or cam po de '
batalha da. dguerra dos sexos - campo min ado de morte on aoe actmg e. ros outJorra go a h emorragla e . zo O sintoma do sonh ador articulado "d d das d uedas ilustra a dimensão do sintoma que representa o retorno a v er, ~ e qcomo ta 1na a f lh a. de um sab er" 6 Tr ata-se aqui d e uma falha n o saber medICo d' 'd'd por onde retoma a verdade do sujeito do de sejo embaraçad? e ~VII o .em relação ao se xo. O saber médico, que indica que o hemof:l tco, eve eVI tar cortar-se devido à dificuldade de coagulação do sa ngue,. nao da conta dos acidentes recorrentes que o fiz eram tanto sangrar. Esses aCIdentes aparecer~m na falha do s aber médico, constituindo, como veremo s, e~nquanto actmg out a manifestação da verdade do sujeito enquanto castraçao. . d ' Ainda nessa primeira entrevista, . .h a pergun ta sobr e o ..motIvo e a, mm d ter ido ver Henti, ele responde: "sou hemofílico" e me conta os ~Ol~aCl en~: em qu e caiu e quebrou o braço. Quanto ao acidente em que~caIU a var:7do de sua casa, diz que fez de propósito para chamar a at ~nçao e q~e demo a isso, me di z com grande contentamento, ficou 15 dias ~n: Pans co b .. . d'Ican d o-me ser o p ai a qu em dtrlge os tom b oss pai, os dOISsozmhos - m . em qu e põe em ri sco a pr ~pria vida - o qu e me fez considerar os tom o
. como acting out. d dedo Na segunda entrevista, ele entra na mmha sala mostran, o-me ~ . leta indicador - o qu al havi a machucado na vés pera quando catra da blclc d - e me pede um copo d'água. Gostaria de salientar. qu~ ? de do m~str a o " . . ,IJ ean -LOUlSdtrlge-se entao . com não apresentava nenhum r[ enmento vlslve. . I ~ um tanto apreensIvo, toe o copo d , água para a pne a, nao se m que eu fique I . . l'a em b'alXO,na rua joga água no dedo delxando-a caIr .' Eu, pontuo esse a . a ag , ua"Ao por um : vo ce es ta d'elxan d o caIr . esvaz iar a agua do copo em seu dedo, este ficou imediatamente bom. "
A
,
S (S',
S S2... sn)
-7 Sq
Ele ind ica assim que me situava no lugar do endereçamento de seu apelo - apelo correlacionado a seus tom bos -, que já sabemo s ser o lugar do pai. Esse a pelo poderia assim se enunciar: "Pai, não vês qu e estou caindo?". Por outr o lado, há um des locamento que é efetuado na min ha pr esença entre o deixar-se cai r como um obje to e deixar cair um objeto, no caso a água. A partir daí ele pas sa a me pagar espontaneamente as sessões co~ biscoito. Nas sessões seguintes, ele faz des enhos de gu erra acompanhados por comentários sobre os efeitos das armas, projéteis e balas sobre os corpos: membros esparsos, esquartejados, pedaços arrancados, esmagamento, partes cortadas. Tudo isso rega do a muito sangue e ênfase, denotando um gozo mortífero associado ao espetá culo e às imagens do corpo desp edaçado (ver desenho 2). Em uma sessão dessa análise, que OCOrreuem f rancês, e le está desenhando uma gu erra (batalha naval ou g uerra nas estrelas) e, como sempre, estão presentes as fo rças do mal (!esfOrces du mal) que atacam a n ave, que se enCOntra no centro do dese nho, comandada por um pe rsonagem que é o herói da história e co m o q ual ele se identifica. Num mom ento de sua descrição, eu, usando o cristal da líng ua francesa, equivoco "Forces du mâle ou de I a femelle?".7 Ele me olha esp antado, como s e eu tive sse dit o uma bobagem e me diz: "O mal cont ra o b em, ora!". Esse dito do analista teve valor de interpretação, como veremo s. Na sessão seguinte, ele se senta n o divã e me diz que está com problemas na escola, qu e não con segue prestar a atenção. Diz, em seguida, que teve Um sonho em que Jaspion era atac ado por rod elas lançadas pelos inimigos. Jean-Louis se levanta então e, de pé, passa a fazer a pantomima de seu s~nho. Em um dado mom ento, ele troca o nom e de Jaspion e, num l apso, diZ "eu". Fic a então de pé pulando, mostrando como Jaspion-Jean-Louis se desvia das "rodelas" (des petits rond s) que são como que projéteis, balas lançadas Contr a ele. Eu p ergunto quem são os inimigos e ele diz: mulheres. Proponho-lhe como brin cadeira COntar até três e no final me dizer o prirneiro nom e de mulher que lhe venha à cabeça. Ele acata de bom gra do
a brincadeira ~ pri meiro me fala de Isabelle, que é a menina com quem dividia a c artel.ra na ~sco la..Não associa nada a partir daí e me pede par a continuar a bn ncadelra. Dlgo: um, dois, três e já, e ele diz: Marianne. A partir daí, me c onta uma recordação de infância. Quando ele era pequeno, um dia, estava no r ecreio e Marianne levantou a saia para ele e mo strou-lhe o sexo e ele viu "uma rodela" (um rond)o Ficou apavorado e foi falar com a diretora, que pun iu a menina. No outro di a, a menina fez d e novo a mesma coisa, e a diretora foi atrás dela. "Daqui por diante já não é mais verdade", diz ele e continua - "ela subiu num muro , de onde dava para ver de baixo a rod ela e, como todo mundo fi cava com m edo que ela caísse lá de cima, pediam que pr estasse atenção par a não cair ". A partir dessa sessão seus desenhos se modificaram, concentrando-se na temática das pequenas rodelas qu e atacam a grande nave de onde o c omandante Jean-Louis sempr e consegue escapar numa nave m enor antes de sua nave explodir (ver desenho 3). Pode-se também verificar qu e há mom entos de trégua na guerr a dos sexos, em que as nuvens-mulheres podem conviver com o batalhão fá lico de árvores sem, no entanto, se misturarem (ver desenho 4). Esse desenho figura, de uma c erta forma, sua tábua da sexuação. Uma prática, como diz Lacan em Televisão, não pr ecisa ser es clarecida para operar. Quanto à psicanálise, não é justamente ao esclarecer seu modo de operação que pod eremos apostar em um de stino para ela que n ão se ja o porvir de uma ilu são? O que operou n este caso que promo veu o desaparecimento do sintoma com a r etomada do rendimento escolar e a interrupção da série de acidentes mortais? Jean-Louis pôde, a partir do qu e foi efetuado no sonho, perlaborar a separação do Outro no r egistro da c astração e não mais no registro d o ser . Cair era a maneira de se separar do Outro não d eixando cair o obj eto, mas deixando-se cair como um obj eto. A interpretação do analista (du m âle ou de ia femelle?) reintroduz a partilha dos se xos ao enunciar o p ar de op o sição significante "macho e fêmea" a partir da equivocação em f r ancês com o par "bem e mal", e o resultado é a ce n a de castração que d á a razão ao sonho, aos desenhos e também aos tombo s. Na cena "de mentira" da recordação de infância, o sujeito está em p elo menos dois lugares: no lugar da vítima da exibição do sexo f eminino e no lu gar daquele que, ca strado, pode cair das alturas e se machucar. A pergunta que o sujeito se coloca em relação ao Outro ("Pode ele me perder?") era enc enada no acting out por um deixar-me cair respondendo do lugar de objeto na fantasia da mãe, "s uicidando-se" aos o ito anos: maneira de separar, no acting out , com seu próprio ser, o obj eto do campo do Outro (a :> < A .) .
:> '7
7
o sonho de castração vem apontar que o objeto da separação é o f alo denotado pela angústia provocada pela visáo do sexo da menina, O objeto a ser perdido pelo/do Outro não é e le com seu ser e s im o falo,
angústia' da castração .!-
Pode ele me perder .!-
objeto a ser perdido .!O sujeito como objeto a ser deixado
(-cp )
c iriam. antecipando a viagem e nao - pu d eram VIr . . PeIo te IeIOne _ Aca baram ' a mae me dl sse q~e, des de que ele começou a análise, a mudança foi nítida: I iOnarme lhor co 'Passou a se re aC , , mse us lrmaos e co m os colegas; está menos ffechado, conseguindo bnncar sozinho e concentrando se , - no qu e az; nao f :az mais'b' nnca d'eiras pengosas e náo houve mal's probI emas na esc o Ia. Ped'I , que ele vie sse ao telef . one: , ele parecia surpreso que eu t'Ivesse I'Igado, d'I sse que" estava b em, tnste de lr embor a do Br asil mas que nao - era d'eClsao _ sua e Sim'"de seus pais. Ao ser perguntado sobre o que achou do tr b Ih l ' do reaoa a lZa comigo, ele respondeu: Isso também vai me faltar." Poder falar da f alta é corr elativo à temática da cas tração reintrod 'd UZI a I T pe a ana Ise e que é se mpre de atualidade para o sujeito, pois reconstitui a verdade que apareceu na falha do saber médico, , ,Podemos assim esquematizar a mudança que a anális e operou nesse sUJeito:
No sonho e suas associações, o apelo ao p ai é representado pelo chamado à diretora que vem punir a infratora, colocando em c ena a metáfora paterna em que o Nome-da-Pai vem barrar o Desejo d a Mãe, que podemos fazer equiv aler ao gozo do Out r o. Mas a diretora, assim como o pai, é imp otente para barr ar esse g ozo; e daí a cena se rep etir e insistir na visão des sa cabeç a de Medusa que, so b a forma de uma "rodela", petrifica de horror nosso sujeito. Essa impotência em dar conta totalmente do go zo é, na verdade, estrutural, pois da op eração de metaforização do gozo há um rest o que é o obj eto a, [NP
gozo
-7 a]
no c aso representado
pelo olh ar, que é o obj eto da pulsão em jogo no sonho e suas associações e também no acting out dos tombos. O objeto a olhar é articulado ao falo como faltante, figurado pela visão da "rodela" no personag em da menina que sobe no muro e que, se desatenta, pode cair, Essa seqüência na análise vem retificar a verdadeira condenação do sujeito descoberta por Fr eud: a condenação d ó sujeito ao sex ual. Ao ser representado pelo significante "hemofílico" para o sa ber médico, sustentado pelos pais, o sujeito é um condenado à morte, A a nálise ve m abalar a identificação do su jeito ao significante "hemofílico" ao trazer de volt a à pauta a questão fálica que faz do sujeito do desejo um condenado à castração. A análise se interrompe no momento da s f érias de julho quando a família esteve em Paris e so ube que o pai fora t ransferido, Vieram então para o Rio só para fazer a mudança. Marquei duas vezes e a mãe disse q ue, se pudessem,
condenado à morte
-7 condenado
J sonhador
J
à castração
J -7 sujeito
do desejo
J
" A análise no âmbito do retor no a Freud qu e Lacan propõe é o r etorno ao . " pé dI" a etra, O que vai' Intere ssar à análise desse menino não são os SignIficados que eu poderia dar a partir da minha compreensão da psicanálise. c . f Pod' , enamos efetivamente azer toda uma teoria a partir da relação mãe' cnança ,_mas e'cpr efenve I tratar o meninO ' como um sujeito e não co mo um ~~,b~, nao ,como ~m filho , ~ sim como um sujeito e, co mo sujeito, ele é Jeito ~o in ConsCiente, sUjeito sexuado dentro da partilha dos sexos. Temos de consld "fi IC~ d os que I e e a tribui aos seus significantes. A ' e~a: quals'- sao os s lgnI , conmbulçao de Lacan me permite mostrar que o significado de "nuvem" e ~~do pelo sujeito, e não por nós, O sujeito do inconsciente, que é o srJelto da associação livre, atribuiu um significado que lhe é própr io, Para e e, nuvem é "co isa de menina". d Há todo um imaginário na psicanálise que nos fornece muitos significa os; por exemplo, os s ímbolos que nos levam a povoar os nossos significantes d os slgnl . ,fiIcados maiS ' usuaiS, , Esse caso mos tra-nos bem o q ue é guerra para esse sujeito. Quando eu falo guerra dos sexos, não uso esses termos à A
toa, não é po rque a s f eministas fa lam de guerra dos sex os desde o s anos 50 . É ele quem o di z, é ele quem situa a guerra como coisa de menino, nuvem como coisa de m enina e coloca a g uerra nessa o peração metafórica de substituição de nuvem por guerra. Como uma língua estrangeira, ca da um tem sua língua. Mas os sign ificados de cada pala vra na língua individual de cada um tampouco são fixos, como o são num a língua estrangeira. Em nos sa prática não podemo s atribuir os nossos signific ados aos significantes do sujeito e pre cisamos ouvir quais são os significados que ele dá, ou seja, qual é a cadeia associativa que ele desenrola. Isso muda completamente a t eoria da interpretação. Po r isso a interpretação feita nesse ca so, uti lizando a propriedade de equivocação do significante, introduziu uma ambigüidade, um dup lo sentido o que é diferente de uma interpretação hermenêutica, isto é, de uma interpr etação em que o analista atribui um sentido. A p artir da interpretação a n ível de significante feita p elo analist a, Jean-Louis passa a poder elaborar sua r elação com o Ou tro sexo, su a situação entre o macho e a fêmea, então par a além de sua p osição entre o bem e o mal. A questão sobre o que é um ser se xuado estava s endo recoberta por uma qu estão bélica e pôde ser r elançada na análise.
Capítu lo
O W u ns ch
III
d o s onho
Definitivo, ca baL, nunca há de s e r este ri o 1àquari. Cheio de f uros peLos Lados, t orneiraL - eLe derrama e desmatreLa à toa. Só com um a tromba-d'agua se engravida. E empacha. Estoura. Arromba. Carrega barrancos. Cria bocas enormes. Váza por eLas. Cava e reca va novos Leitos. E destampa adoidado ... CavaLo que desembesta. Se empoL ga. Escouceia árdego de s oLe cio. Esfrega o rosto na escória. E invade, em estendaL imprevisíveL, as t erras do pantanaL. Depois se espraia a moroso, Libidinoso an imaL de água, abraçando e cheirando a terra f lmea.
"Um rio desbocado", M.B.
É com o tratado sobre os p rocessos oníricos, a Traumdeutung, que Fre ud inaugura a psicanálise como ciência do desejo, ao descobrir que todo o sonho expressa um Wunsc h , mostrando que no inconsciente há desejo , sobre o qual o sujeito sabe sem sa ber que sabe. O sonho é a via ré gia do inconsciente, mas n ão o son ho (Traum) propriamente dito, e sim sua i nterpretação (Deutung). Devemos diferenciar o sonho, como fenômeno, de seu r elato com sua i nterpretação. Como fenômeno, o sonho é u ma histor inha encenada em imagens durante o sono, recordada ao se aco rdar. Ao relatá-lo, acaba-se lembrando de alguma coisa que havia sido esqu ecida pois é a p artir do r elato qu e o sonho propriamente se desenrola. O relato em si é s ua interpret ação, uma v ez que ao relatar o sonho o son hador associa seus e lementos a outros elementos significantes de Sua história, ou de sua fa ntasia, que constituirão a interpretação daquele sonho, interpr etação que equivale a seu deciframento. É nisso que consiste a revolução freudiana sobre os so nhos: a interpretação do sonho está em seu relato aco mpanhado de suas ass ociações, sendo efetuada pelo próprio sonhador.
Com a Traumdeutung, Freud realiza. portar:to .uma dupla oper ação ·Inverten e classicamente a humamdade inteira considerava como o od q u . . ., ·Interpretaçao ~ dos so nhos . A primeira diZ " respeIto ao Interpr I Dete: . Iquem · pre t a na~oé o "intérprete dos sonhos, como po r exemp , que Inter d' . oh ameG ' . · Interpreta o sonho de Nab ucodonosor na Bíb lia, ou o a IC IVIn o na b r eclaI . m as pessoas levavam seus sonhos em De IOSpara sa er qu antiga, para que ... ~, a era a mensagem que os de uses estavam envIando. A, pnm:lr~ operaçao e portanto sobre o i ntérprete: quem interpreta o. sonho. e o propr~o sonhador. A segun da operaçao ~'ma inversão do conceIto de Interpretaçao. eu h d ( Como o. .. . para o so n a or ou pa ra . SI sUjeIto Interpr eta seu. sonho' Freud não, chega . mesmo, uma vez que utl'lizou seus propnos sonhos para esc rever a m aior h ~ d os son hos) e diz'. "O que você ac ha que esse son o nterpretaçao parte d a ! ~ que Freud r ealiza é deixar falar sem a menor censura quer d·Izer.," A op eraçao . d . preocupaçao~ com o sentido' . "o que faz você ou maIOr . . pensar a. partIr d I' e d etermlna . d os e Iem entos dos sonhos'". Ele convida ,o sUjeIto a aSSOCIar,es Izar ~ de palavra em palavra para ver aonde vai cheg~r. ~ um~ op~r~çao totalmen~te diferente de dizer: "Diga-me o que acha que SignIfica IS~O.. E ~ma operaç:o pela via metonímica e não pela via me tafórica; pela via slgnlficante e nao pela via do si gnificado. . Na verdade, é uma tentação constante dos a nalJsantes 9uer~r saber o sonho está querendo dizer, em vez de deixar associar 1Jvreme~te que o . . . ~ I tido elemento por elemento. Isto porque existe no sUjeito palxa~ pe o sen - paixão maior d o que o desejo de saber so bre os se us deseJOS.Em s~ ~a, a prim eira operação que a psicanálise pro~õe é fa zer com que o su; e~~~ suposto saber, que o so nhador situa no analtsta, se desloque 'para o pr op fabricante de sonhos: "Quem sabe é você" - a ponta o analIsta. A.segu n~a operação consiste em apontar a inutilidade de se procurar O sentIdo, p~IS o que vai int eressar é onde suas associações vão desembocar, como no son o do absinto. . ,. . . , ue Se a interpretação dos so nhos é a via regIa do inconsciente e p~r q ela permitiu a Freud a descoberta e a fo rmulação do Wunsch inconSCiente.
o Wunsch
f r eudiano
e se u uso
em al emão
Em sua carta de 12 de J'unho de 1900 a F liess, Freud expressa um Wunsch: - um d'Ia h avena . ma que, na c asa de Bellevue onde passara o ve rao, u. pl aca d de mármore na qual se po deria ler: "Nesta casa.' no dia 04 d~,J unho e 1895 o mistério do sonho foi revelado ao D r. Slgmund Freud. Esse mistério é o Wunsch que o son ho revela como realizad~, tal como . . - de Ir ma que Inaugura o foi interpretado a partir. do so n h o d e InJeçao
inconsciente com a tese do sonho-desejo: Der Traum isteine Wunscherfüllung.! Hoje, na flores:a d.e Cobenzl, quase não s e pode di stinguir a placa da revelação do mlsténo do sonho que, do alto da colina, traz a marca d e Freud p ara essa Viena adormecida desde que o inventor da psica nálise a deixou. O Wunsch de Freud foi , no entanto, realizado. Lá está a placa, marco de um n ovo século qu e traz à hum anidade um novo cogito: desejo logo existo. O sonho de Fr eud a despertou para o desejo in consciente. O sonho como uma rea lização de d esejo sempre foi con siderado por Freud sua grande descoberta: an insi ght as this one de stination offirs us once 2 in a lif etime. O caráter de i ntuição, insight, ou mesmo de r evelação da teoria do sonho-desejo, se deu a partir do son ho de injeção de Irma. Mas afinal o que é esse Wunsch cuja descoberta e cujo a lcance mudaram a própria concepção do homem? Freud utiliza um t ermo banal e corr ente da língua alemã e pouco a pouco vai transformando-o, caracterizando-o, conceitualizando-o para faz~r do Wunsch inconsciente a própria essência do so nho.
Em alemão, Wunsch designa um vo to, uma aspiração, um desejo ou mesmo um pedido. O termo wunsch é utilizado para expressar, por exemplo, votos de bom aniversário (lch wünsche dir alies gute zum Gebur tstag), ou voto s de recuperação a a lguém que este ja doente (!ch wünsche dir voll e Genesung). O Wunsch também expressa o q ue se esp era acontecer (Es geht alies nach Wunsch): tudo está ind o como se esperava; Das ist wün schenswerts significa "isto é desejável" e Wunschsatz é equivalente a "To mara!", "Oxalá!". Wunsch é também o pedido que se fa z às fadas, às e strelas caden tes ou quando se entra pela primeira vez em uma igreja. É ele que está no centro do Conto da lingüiça utili zado por Freud como a pólogo para ilustrar a oposição entre os do is processos do apare lho ps íquico q ue põe em ev idência a divisão d o sujeito em r e lação ao d esejo, pois Wunsch é um termo do Vocabulário da literatura mágica-infantil dos contos de fada. "Uma fada boa prometeu a um pobre casal garantir-Ihes a r ealização de seus três primeiros desejos (Wünsche)". " ... Este co nto de fad as po deria ser empregado em l11uitasOutras conexões, mas aq ui serve apenas para ilustrar a possibilidade de que, se duas pessoas não se e ncontram unidas uma à outra , a realização d~ desejo de uma delas pode não acarretar mais que desprazer para a o utra."3 Ainda no âmbito feérico e ncontramos um curioso termo para se referir à :arinha de condão: Wünschelrute (em q ue rute significa pênis), ou se ja, o Instrumento para re alizar magicamente os desejos é literalmente o "pêni s-
de-desejo", mos trando que a sabedoria popular identifica o desejo vinculado ao fa lo. Wunsehkínd em alemão designa aquele que é sortudo, que n asceu empelicado: é a criança qu e foi desejada , um filh o do desejo. E Wunsehfos é o te rmo que expr essa um estad o de satisfação total (literalmente "sem-desejo"), de alguém que está sa ciado, como depois de ter co mido uma lauta refeição. O verbo wünsehen comporta sempre um com plemento, pois é um verbo transitivo, traduzido, segundo o co ntexto, por: desejar, aspirar, ter vontade de, querer, fazer votos . Ele pode ser usa do como ref lexivo para ind icar o desejo de proporcionar a si mesmo um prazer pessoal. "Síe wünseht e síeh zu Weíhnaehten eíne Puppe" (Ela des ejou para si uma boneca de pr esente de Natal). Aqui é um Wunseh para si mesmo , esperando no entanto que alguém o realize. No Wunseh a dim ensão do Ou tro do endereçamento está sempre presente. Quando é de signado e explicitado a alguém, ele se ap resenta claramente como um pedido, uma demand a. lch muss íhr díesen Wunseh versagen (Devo-lhe recusar essa demanda); Prospekte werden ,auf Wunseh zugesandt (Enviaremos o s prospectos conforme os pedidos). E tam bém o Wunseh que encontramos na expressão alemã equivalente a "deixar d esejar" para se referir a alg uém ou al go que não corr esponde às ex pectativas. Seín Betragen f iisstnoeh víe f zu wünsehen (Seu comportam ento deixa aind a muito a desejar). Mesmo qu e possa às vezes ser traduzido por d esejo, segundo o contexto em português, o Wunseh em alemão jamais tem uma conotação d e desejo sexual, cujo term o m ais adequado em a lemão é Begíerde (concupiscência, cobiça, no sentido sexual). É Freud qu em vai elevar o termo Wunseh à dignidade de uma categoria fundamental da psicanálise: o desejo inconsciente sexual infan til indestrutível. O texto da Interpretação do sonhos é um lon go percurso de elaboração desse c onceito, que o ensino de Lacan nos permite aprender a partir da distinção entre demanda e desejo, que desenvolveremos no capítulo seguinte. Neste aqui, acompanharemos os passos de Freud n.a especificação das características desse Wunseh tão inapreensível quanto loglcamente definido.
Alguns meses depois do son ho de Irm a (junho de 1895), Freud envia a Fliess se u "Projeto para uma psicologia" (8 de outubro de 1895), onde
TVJ: h encontramos . -. as principais teses q ue dizem res pel'to a' t eona. do wunse traum: I" . . a reaIIzaçao do deseJO, seu caráter a lucinato' rI'o e e . r gresslvo, a oglca SlgOl- d ficante do sonho e a semelhança do pr ocesso da f:o h . u r maçao o s on o com o dos SIntomas neuróticos. _ Antes de abordar o s o nho, Freud se r ef ere ao TVJ:un h na expressao " . ", wz se estados de desejO , q ue são reslduos deixados p elas ex periências vividas que engend~aram un:a s.atisfação.4 No caso dos afetos há uma liberação súbita ~a ten~ao quantitativa :m um d ~s :}stemas. Q uanto aos desejos, não há 1Jberaçaom as acumulaçao da tensao. O es tado de desejo, diz Freud , resulta nun:a atração p~si~iva"para o obj eto desejado ou mais pr ecisamente para sua Imagem mnemlca. Essa at ração se deve às vias trilhadas que conferem à recordação uma quantidade mais importante do que à p ercepção. O rec~que cor~esponde aqui ao desinvestimento de uma imagem mn êmica
~ostll, ~u sep, não é etomado m prin cípio tributário do desejo, desejo. seMas inconsCiente s~ eele ncontra por um estado de o objquando eto nãoo aparece na reabdade mas apenas sua recor dação, toda satisfação é impossível, podendo "cair, n~m estad.o de inermidade e sof rer danos". Isto significa que o apar el.h~. p~lquI~o ,(~ ,;lStema) não é ca paz de distinguir entr e o "objeto real e aldeia ImaglOana e coloca em ação o p rocesso de descarga. Podemos obse:var aqui a i~port ân.ci.a do obj eto fantasístico que é o obj eto que funCIOna na fantaSia do sUjeito, a qual é uma máquina de d escarga de gozo (não necessariamente de prazer). ~le distingue dois processos: o processo primá rio, em que a ca rga em d~sejo desemboca na alucinação e na produção do desprazer mobilizando : Intervenç~o d e .todas as defe.sas;e o .processo secundário, que torna possível ~ ~~m IOveStlmento do IOconSClente e uma moderação do p r ocesso pnmano.
É no estado de desejo que, regida pelo princípio do prazer, será buscada a tensão ótima para-além da qual não há mais per ce pção nem esforço. Os :ados de ~ ese!o s.ãoos q ue apresentam as coordenadas simbólicas de pr azer . as cadel~s slgnlficantes por onde rola o desejo determinadas por da s Dzng , a COi sa, a qual jamais será encontrada.5 . q.~anto ao so nho, a realização do desejo é atribuída aos "processos P~lmanos qu e acompanham a experiência de satisfação" e, se o so nhador nao . se ad'COnt a, e'd eV 'dI o a'f: [ragl'l'd I a de do so nho em produção de prazer e SISto . .porq' ~e, .asslm como nas neuroses, ha' processos que mascaram para o Ujeno a slgOlficação dos sonhos como realização de desejo. O qu e é ilustrado pOr t 'lf d a esquematlzaçao . - que propoe _ nesse texto do sonho de . . Fr _ eud a p ar I~jeçao de Irm a.6 Em seu esquema, há duas representações tornadas consCientes, ou seja, . aIUClOaas . d no son ho A ( e C), ao lado de uma r epresentação
não alucinada C aparece
(D) e uma representação
no consciente
inco~ciente
no lugar de B, (
13 \'
.(B). A representação pOIS C se e ncontra
no
4
. h leva a D B é a representa~o ue melhor corresponde a camm o q u e· ., . Wu nscher fü LLung, ou seja, segundo Freud, e o sl gnlficante que aponta para o des ejo. Aplicado ao sonho da in jeção de lr ma, t.emos: A. Otto dá um a injeç ão a lrma d e proplleno C. A fórmula da trimetilamina D. "A doença de lrma é de ori g em sexual" - pen samento
. que surgIu
ao mesmo t empo que C B A conversa com Fliess sobre a quím ica sexual. "elo intermediário" - ch amado por Freud de des ejo (Wunsch) B',
e o
l'
.
"'r.
significa que ele não é a preensível de imediato; é so mente pela interpretação do sonho qu e ele é discernido. "O desejo é sua interpretação", radi caliza Lacan . Mostrando que a neurose tem o mes mo procedimento do sonho, Freud utiliza, ain da no "Projeto", ao se r eferir à psicopatologia da histeria, o mesmo esquema, embora simplificado, para explicar o c a ráter absurdo de uma representação hist érica. A é a representação recalcada que dá o se ntido a B, representação consciente que tem um caráter absurdo. A é o sí mbolo de B e Freud acrescenta que "o símbolo, neste caso , substituiu completamente a Coisa (das Ding) ". Ele situa portanto o d esejo (a realização do desejo) no lugar d a Coisa, correlato do objeto perdido de gozo, que por s er inapreensível, fora do significante, pode ser apenas indicado sendo A , no caso, seu símbolo.8
d
- que s e pro d UZIU . s em ter pod ido tomar uma forma qua It atlva. 'blU o '1 'l'd de do obJ 'eto que pode ser formulado como atrl mo, aqUI o que e qua I a , .' d' diz Lac an ao comentar esse texto de Freud, entra no In vestimento o.s lst em~ psíquico e constitui as V or ste LLu ngen primitivas em t orno da s quals estara em jogo o destino do .que é regulado segundo as l eis do Lust e do Unlu st, do pr azer e do desprazer, naquilo que se p~d~ .chamar de as entr~das primitivas do sujeito."? Essas representações pnmltlvas 'p0~em ser consId eradas na álgebra lacaniana como os S ido sujeito - slgOlficantes-mestres, primordiais, marcas do desejo. Ao transportar o esquema do sonho de injeção de lrma para o grafo do desejo de Lacan teremos:
A _ C _ D são elementos da cadeia significante consciente do sonh o e B corresponde ao s ignificante da fa lta do Outro S(J Á.)-, q ue aponta pala o sexual. S (lh) é a mensagem do sonho que, através do significante rec~lca u~ B dá o selo do sexual à mola do s o nho. O selo do sexual é o de sejo q , r epresentação denota. Esse dese. Jo,d' FIZ reu, d deve ser inlf'J
A gr ande tese de Freud na Traumdeutu ng corresponde à sua pr ópria definição do sonho: o sonho é uma realização de desejo (Wunsc herf üllun g). De que Wu nsch se trat a nessa obra original? Freud começa usando o termo Wunsc h de maneira bem genérica até chegar a conceitualizá-Io como desejo inconsciente, elevando portanto o Wu nsch à categoria de conceito. Ao longo da Int erp retaçã o d os sonhos observamos que o Wu nsch é uma palavra passe -partout servindo par a designar principalmente: as as pirações pré-conscientes, o desejo de dormir (W unsch zu sc hla f en) e também o desejo inconsciente (Unbewuster W unsch). Trata-se, portanto, de um mesmo termo utilizado para categorias distintas. Nessa obra, Freud pr ocede e progride passo a passo no estabelecimento da teoria do sonho-desejo, tomando de início o Wunsc h como uma aspiração da vida de vi gília que não foi atendida e que é desvelada pelos pensamentos oníricos através do método de associação de idéias a partir de fragmentos do texto do sonho. O Wunsc h que ele designa no sonho de injeção de lrma não é aqui aos bilizar as suntos dosexuais fizera no dessa "Projeto",9 e s im o VOto de ser elativo desresponsa fracassocomo do troatamento histérica. O sonho lhe diz: a c ulpa não é s ua, é do Ono. Pois, co mo já vimos, no dia em cuja n oite teve o so nho, soubera que sua paciente lrma não estava nada bem. Freud começa, portanto, de uma maneira simples, a pontando que o sujeito vai dormir pensando "Ah, como ser ia bom se tal coisa acontecesse" e aí dorm e e so nha com a coisa realizada. Se rá que esse " tomara que" é da
mesma ordem que o d esejo inconsciente, motor do sonho? Se assim fosse, seria o pré -consciente a de scoberta freudiana - o que nem seria uma descoberta. Ora, o fato de os Wunsche pré-conscientes se realizarem nos sonhos já havia sido apr endido há muito tempo: desde Ari stóteles o sonho é considerado um pen samento continuado no sonho. Não é, na verdade, essa a descoberta de Freu d. O ensino de Lacan nos permite diferenciar, a partir do binômio demanda e desejo, que desen volveremos no p r óximo capítulo, os tipos d e Wunsch que Freud r elata na sua Interpretação dos s onhos. Na "Abertura da Seção Clínica", Lac an diz que o sonho "diferencia de maneira, é claro, não manifesta e totalmente enigmática - basta ver o trabalho a q ue Freud se dá - o que é pr eciso cham ar de uma demanda e de um desejo. O sonho demanda coisas, mas ainda aí, a língua alemã não ser ve a Fr eud, pois ele não en contra outr meio de entr designá-Ia a não chamando de um voto, Wunsch, que 1 0 Isto significa que na I nterpretação está,o em suma, e demanda e deser sejo", dos sonhos, or a o Wunsch é demanda ora desejo, ora ain da outra coisa.
Esse voto-aspiração, que é atendido no sonho, podemos designá-Ia por demanda. Isto nos pe rmite traduzir inicialmente Wunscherfüllung por atendimento da demanda, que o próprio sonho realiza, correspondente, em t ermos freudianos, à realização do desejo consciente ou pr é-consciente, O desejo inconsciente deste se diferencia, co mo veremos adiante, apesar de Freud utilizar o mes mo termo Wunsch. Nesse sentido, pode mos apurar no sonho a d emanda q ue o sujeito dirige ao Outro - "Ah, tomara que ..." - e o sonho como o Outr o responde para o sujeito atendendo a essa demanda. Daí o sonho apar ecer como uma mensagem do Outro, como uma m ensagem dos deuses na int erpretação dos Antigos. A tendência a divinizar o inconsciente como di scurso do Outro é freqüente na tradição místosicar eligiosos religiosa,doLápoliteísmo onde Freude mesmo descobredoominconsciente como a Iteridad e radical, onoteísmo colocam o Out ro Absoluto, Deus. Essa a bordagem não faz da psicanálise uma religião, pois o O utro é barrado e incompleto, o q ue o torna inconsistente e diverso do Deus da religião, cujas características e figuração se aproximam mais da instância do supereu. Mas o inconsciente como o OutrO do sujeito pode ser int erpretado, por sua transcendência e concomitante incidência na vida do sujeito, co mo divino, pois no f undo, Deus é inconsciente, que é, segundo Lacan, a verd adeira forma de ateísmo. 11 Ess a outn 'filCaçao
do inconsciente, ou ainda, a pe rsonificação d O d' . d euses )' e apreen d'd I a como sinal de amor' "S' o utro O o InConsCIente (os ' . h d . 1m, o utro m e ama porque d respon e as mIn as emandas, atende aos m d'd" É ,, eus pe Ias. essa demanda h e1j•• "{:";'/ que os pen samentos onmcos de svelam como a TVJ" d wunsc . , ' t, ung e Fre ud no son h o d a InJeçao de Irma . E o sonh o como t d h ' o oso n o, representa essa d eman d a aten d'd I a - em sua encenação. Eis "d' , ." o eseJO pr e-conSClente real Izad o. o
A prova indi scurível da Wunscherl'üilunu são para Freud h d . . J" os son os as cnanças em qu e o atendImento da demanda aparece se m disfarce, como no son~~ de ~~a , filh~ ~e Freud, que so.nha com . os objetos proibidos pela polICIasanItana domestica. Durante a noIte, a menIna driblando a int d ' d" d . d " ' er lçao, IZ/~ 1,?~~In o: ~na Fre .ud. mo-rranga, morranga silve stres, ombleta, podlm.. ~o e~unc~ar os ,s~gn/ficantes. dos objetos desejados e proibidos, ela mesma aI se l?clU1 na sen~ como objeto a s er comido, objeto da pu lsão oral. ~rata-se a~uI d e u~a séne de objetos-significantes _ por ond e desliza o deseJO, ou seja, d~ ob jeto em ob jeto - aqui r epresentados como significantes de uma cadela de objetos da demanda oral que o sonho atende. Se. Freud se detém, num mom ento, no aspecto de satisfação das necess/d~de.s que o so ~?o encena, é por extrair algo da verdade semi-dita ?o proverblO,po~ular: Com ,que ~onham os ga nsos? Co m milho." O que Interessa por ~m e menos a fiSIOlogIado m ecanismo corporal do que o fa to de as. n~cessldades passarem pela linguagem para os seres fa lantes ao s e conStltU1rem com o dema n d a e d'eseJo, '"v Ter , -se-a que ta l'vez tivéssemos c~egado a no ssa te?ria do signi.ficado ocult o dos sonhos co m a maior rapidez sImpl~s~ente segUIndo o uso lIngüístico."l3 O desejo é para Freud articulado nos SIglllficantes da demanda e se utiliza dos sintagmas da língua pois como ele mesmo ressalta, "é mais difícil saciar com um sonho um~ sed~ ~~~l d?, que uma sede de vingança", Os sonhos utilizam as e xpressões I'f ilOmatlcas. da língua, gírias, trocadilhos transformados em mensagens CIradas em Imagens. 6 '
,
fiO trabalho da interpretação dos sonhos consiste em passar para palavras s Fareud Iguras cenas o níricas n osdas 1a q ue. lh mo se decifram os ré bus, as cartas enigmáticas. reve o" me co a r exemplo de uma interpretação dos sonhos que nos c~ega dos antigos se baseia num trocadilho", É um exemplo narrado por Art.emldoro sobre um sonho de Alexandre da Macedônia. "Julgo também ~e Ar~st~nder ofereceu uma interpretação das mais felizes a Alexandre da in ac~donla quando havia cercado Tiro (TupoÇ) e a s itiava, mas se se ntia qU1e.toe perturbado em vista da longa duração do sítio. Alexandre so nhou qUe VIa um sátira (CJCXTUPOI') dançan do em seu escu d o, Aconteceu q ue ': > •• Ar' Istander se e ncontrava nas VIZInhanças de Tiro, a se rviço do rei, durante
a campanha da Sír ia. Div idindo a p alavra r elativa a sátiro em (me TupoÇ (Tiro é tua) esti mulou o r ei a apertar o cerc o, ot rnando-se este senhor da cidade".14 Freud chama a atenção sobre a importância da língu a em que o sonho é feito e como este utili za todas as facetas de seu cristal, tornando na verdade os sonhos intraduzíveis, mas nem por isso inexpli cáveis. Os son hos nos mostram que o inconsciente é estruturado p ela língua, que Lacan, no desenvolvimento de seu ensin o, elevou à categoria de conc eito escrevendo-a em uma só palavra, Alíngu a (Lalangue), termo que remete a uma ant erioridade da articulação de signi ficantes que preci pita uma significação, como a lala ção ou tatibitate das cria nças. Alíngua é o conceito q~e Lacan ~ria para falar do efeito da linguagem no sujeito, extraído o seu efei to de sen tido. Isso por que a linguagem não tem exis~~ncia teórica, mas .sempre inte,rvém sob á forma de uma língua . Diz Lacan: Conforme a maneira como a I mgua foi falada e tam bém ouvida por tal ou qual sujei to em sua part icularidade, é que algo em segu ida sairá em seus sonhos, em todo tipo de tro p eço, em todo tipo de diz er . Eis o materialismo em que reside a apr een são do inconsciente." 15 É o que apar ece no sonh o de uma ana lisante que sonhou estar numa loja de ro upas experi mentando vários vestidos até enc ontrar um que estava perfeito, fazendo-a sentir-se linda, maravilhosa ao olhar-se no esp elho. Ao pagar, surpreendeu-se em ver uma nota de dez reais e~ cima do balcão. Fica na dúvi da se é su a, acha qu e não é, mas mesmo assim a pega , coloca na bolsa e vai emb ora. Essa nota que se enc ontra na interseção entre o sujeito e o Outro (anônimo no son ho) é a cif ra que designa o suj eito a partir do Outro do espelho como objeto de seu de sejo: ela recebe uma nota dez, ela é a mulher nota dez. Atendimento da dem anda que apon ta para o desejo. . Que os so nhos compo rtam votos e aspirações não foi nenh uma novidade. Mas dizer que só existem sonhos de realiz ação de desejo (atendimento da demanda e presentificação do desejo inconsc iente) é uma tese nova e chocante da qual Fre ud nunca abriu mão. É a partir dela que ele constitui o aparelho psíquico e, podemos dizer, a própria psicanálise. Eleeleva a Wunscherfüllu~g à cate goria de lei co mo uma proposição geral. 16 É a lei do son ho - Via régia do inc onsciente - e o objetivo da análise é de sv elá-Ia. , Quando Freud se de tém na que stão da def ormação no son ho, ele e obrigado a definir seus doi s sistemas do apar elho psíquico: um de on de se origina o Wunsch, e o ou tro que d ele se de fende por meio da c ensura deformando sua exp ressão, apontando assim para a divi são subjetiv.a em relação ao desej o. Trata-se aqui de um Wunsch que reside no inconSCIen te,
onde todos os pr.ocessos são. submetidos ao processo primário em oposição ao processo dommante, deSignado por secu ndário, o qual tem a função de censura. O processo s ecundário, diz ele, é o "guardião de nossa saúde mental ". Mas antes de .dar toda a r elevância ao de sejo inconsciente, agora discernido, Freud evoca amda um Outro Wunsch muito particular, e no entant o universal que não é assim ilável ao v oto, nem ao de sejo pré-consciente e tampouc~ ao desejo inconsc iente. Trata-se do Wunsch zu schlafin.
Há pelo menos um Wunsch que se encontra indiscutivelmente realizado a cada sonho: o dese jo de dorm ir, pois só se so nha dormindo (o devaneio não tem o omesmo que eno não sonho). Essa evi dência não é tão te Wunschstatus zu schlaf à necessidade assim, pois é equivalente de eviden repouso, mas à força pulsi onal desta onde se alojou o eu consc iente. Esse Wunsch deve ser levado em cont a como um dos motivo s da constituição do sonho, pois a censura se exerce em função dele, não deixando passar senão as interpretações que se ac ordam com ele e nã o acordam quem está dormindo. I? Cada sonho que se ef etua é portanto a realização do des ejo de dormir e assim todos os sonhos são sonhos de comodidade ou preg uiça. O exemplo paradigmático é o do jov em médico que, ao ser a cordado p ela empregada, dorme em seg uida e sonha que está no hospi tal num leito de doen te . No sonho, ele diz pa ra si: "Como já est ou no hospi tal não há nece ssidade de ir para lá", e viro u para o outro lado continuando a dormir. 18 . Quando há uma ameaça de despertar, é o des ejo de do rmir que lev a o ~nconsciente a dar o avis o: é apen as um sonho. Ele é o vigi a noturno que Impede o dese jo de ent rar na res idência do eu sobr essaltando seu don o. Se o sonho deixa aparecer o processo primário com suas leis de condensação e deslocamento é porque "o sistema dominante se retirou no d.esejo de dormir". Assim ess e Wunsch acompanha sempre o desejo inconsCiente no sonho e sua importância é tal que Freu d chega a fal ar da "teoria da dupla realização do desejo", pois é graça a ele que o sonho é o guardião do sono. ?olidário do desligamento do processo secundário, mantido em ojf , o desejO de dor mir ~antém a realidade em susp enso para o sujeito: ele é retração narcísica. E por intermédio do desejo de mor te, di z Lacan no Seminário sobre o dese jo, que o desejo de dormir se satisfa z: ele é a fac e oculta do desejo inconsciente; ele está para Tanatos como este está p ara Eros. Não é por acaso que nos est ados depressivos, o dese jo de dorm ir se
impõe arrancando o sujeito ~os laços libidinais para jogá-Ia nos braços de Morfeu e assim apagar a realidade que lhe aparece penosa, e amortecer os "choques dos quais a ca rne é herdeirà', como diz Hamlet:
to die - to sleep No more, an d by a sleep to say we end the heart-ache, and the thousand natural shok s that flesh is heir to.
O desejo de dormir, nos est ados depressivos, equivale à covardia moral, à tristeza como expressão do recuO d o sujeito em relação ao ?esejo,19 como nos ilustra Hamlet, que expressa o desejo de morrer, eqUivalente ao de dormir, para n ão levar às últimas con seqüências se u dever ético gui ado pelo desejo.
. _ . O desejo de dormir expressa uma outra sansfaçao trazlda p elo s~n~o/sono diferente da satisfação que O so nho encena ao re presentar o desejO inconsciente realizado. Trata-se da satisfação de um "retorno ao estado in animado", como diria o Freud da segunda tópica, satisfação para-além do pr incípio do prazer: o gozo da quietude, do si lêncio da pulsão de morte. Ele se opõe ao alarido de Eros, à vivacidade e movimentação das r epresentações que colocam o desejo na outra cena do son ho. Refúgio para escapar ao barulho da vida erótica. O desejo de dormir nada tem de particular, ele é "universal, invariavelmente presente e imutável". 20 Ele é o único desejo que o sonh o sempre realiza: "Sonha-se para não se r o brigado a acordar, sonha-se porque se quer dormir. Tanto barulho!. ..".21
que "esses desejos inconscientes acham-se sempre em estado de alerta, prontos a se ex~ressar quando podem aliar-se com um imp ul so do consciente e transfenrem sobre ele sua inte nsidade superior".22 O mesmo se dá com o s estÍmulos somáticos: o trab alho do sonho se serve das sen sações so máticas (sede, fom e, dor) para obter a r ealização de um desejo a té então recalcado. "O desejo inconsciente é o capita lista q ue emprega os restos diurnos para efetuar o empr eendimento do sonho".23 A análise do sonho deve ir além do desvelamento da demanda q ue ele atende, mas não pode deixar de passar por ela, pois o son ho utiliza os significantes da demanda presentes nos "restos diurnos" para promover a mise-en-scene do desejo inconsciente. O sonho não expressa a cr onologia. Esta pode ser tão-somente sugerida por meio da sucessão das representações, mostrando que o que obedece a
Podemos di stinguir do Wunsch pré-consciente, cuja melhor tradução é.voto (ou aspiração), que situamos no registro da demanda, o Wunsch inconSCiente,
ordem devido ao necessário desenrolar de seus elementos tempo, do é arelógio, cadeia associativa de significantes presentificada no relato no do sonho. O sonho não está no tempo cronológico: ele é como "o fogo de artifício, preparado durante horas e que se a cende em um in stante". 24 O tempo do sonho é o instante do olhar, como o clarão de um relâmpago que, subitamente, clareia a paisagem noturna. E o tempo do desejo é se mpre o presente, pois é ativo de modo permanente e co nstante, mesmo quando expressa um Wunsch de trinta anos atrás ou mais. O desejo está sempre lá: ávido de significantes. Sua origem infantil deve se r compreendida como o fato de o desejo estar desde cedo presente, desde sempre ati vo. Assim como à noite o raio esclarece a floresta, o so nho clareia o desejo obscuro - que no entanto permanece tão enigmático quanto a f loresta espessa. A origem inf antil do desejo é ca lcada no mito d e Édipo, introduzido pela pr imeira vez por Freud a respeito do sonho de morte de pessoas queridas. Essa característica significa que o Édipo como mito desvela a es truturação do desejo na medida em que é articulado com a lei. Dele decorrem dois Wünsche: o Wunsch da morte do genitor do mesmo sexo e o Wunsch sexual pelo do sexo oposto, que se ex pressavam livremente nas fantasias do "paraíso" da i~fância. Essas Wunschphantasien, que se e ncontram realizadas na tr agédia
que é, propriamente falando, o desejo tal como Lacan formulou em seu ensino. Ele é o motor do sonho, do qu al retira sua força pulsional. Embora o sonho seja o pensamento continuado no so no, o Wunsch não satisfeito conscientemente durante o dia n ão basta para promover o sonh o. Freud afirma q ue "um Wunsch consciente só po de tornar-se um induzidor de sonho se obtiver sucesso e m despertar um desejo inconsciente do mesma teor e conseguir reforço dele". Acrescenta so bre isso uma observação fu~damental extraída de sua experiência com os neuróticos, que o persuadiU
de Edipo-o-sonho, encontram-se recalcados no drama de Hamlet-a-neurose. A partir da r ealização de um Wunsch, pode-se descobrir outros e "sendo o último da base a realização de um desejo que data da primeira infância".25 Que o desejo guarde o selo da primeira infância só fa z ace ntuar suas características de proibido, inconfessável e também de indestrutível. Uma vez pr esente, ja mais se ex tinguirá. O desejo só co nhece a morte como as sombras do inferno na Odisséia que, ao beberem sangue, despertam para uma nova vida.26 O verbo é o sangue do desejo no sonho.
o des ejo inc ons cie nte : a sombr a dos inf ern os
A "relação do sonh ador com os desejos é m uito peculiar. Ele os r epudia e os cen sura - em r esumo, não quer nem sa ber deles -, de maneira que a sua r ealização não lhe dará prazer, mas exa tamente o oposto ... Desse modo, o sonhador em relação a se us desejos oníricos a parece como um amálgama de duas pesso as se paradas que se ac ham ligadas por algum importante elemento comum"Y Eis como Freud expressa a divisão do sujeito provocada pelo desejo mostrando assim a equivalência do sujeito dividido, sujeito do inco nsciente, com o próprio desejo ($ = = d). E Freud tenta explicar essa divisão do sujeito em re lação ao desejo, como já o fizera privadamente no "Projeto ", pelo estabelecimento dos dois sistemas psíquicos: o processo primário que o admite e o processo secundário que o inibe. Os dois são reg idos pelo princípio do desprazer. No processo primário, que corresponde ao f uncionamento d o inconsciente, só há desejo, nenhum elemento penoso - é lá ond e o desejo se e ncontra mais despedaçado, diz Lacan. As formulações de Fr eud são tais q ue podemos admitir que o inconsciente só ex- siste graç as ao desejo: "Ele é incapaz de fazer qualquer coisa que não seja de sejar. "28 Como vimos anteriormente, Freud intr oduz esses dois sistemas ou instâncias a pr op ósito da deformação (EinsteLlung) do sonho: "uma constrói o desejo expresso no sonho, a o utra o censura e em seguida deforma a expr essão desse desejo". Assim, todo sonho é ex pressão de desejo - mesmo o s que provocam desprazer -, pois trata-se de um desejo da primeira instância mesmo que esta realização desagrade à segunda provocando o desprazer. Daí surge o recalque (cujo modelo é a fuga diante da recordação da dor), e o s eg undo sistema só pode investir uma r epresentação quando é capaz de inibir o desenvolvimento do desprazer que pode sobrevir. Por que os processos secundários não conseguem dominar os primários? Freud O explica pelo fato de que estes últimos já estão dados desde o início, ao passo que aqueles foram se constituindo pouco a pouco no decorrer da vida.29 É com o objeti vo de driblar a censura (ao mesmo tempo que a res peita por reconhecê-Ia) que o s onho efetua seu trabalho significante para reali zar o desejo (trabalho caracterizado como coação), e todos os pr ocessos psíquicos deverão aceitá-los para sempre, po is "no inconsciente nada pode ser interrompido, nada fica p ara trás ou é esq uecido".30 Se no inconsciente nada se perde, os fenômenos pré-conscientes, em co ntraposição, são destrutíveis e é nessa diferença que repousa a p s icanálise. Isto se deve ao fa to de o inconsciente ser constituído pelo simbólico da linguagem, que não se extingue, e o pr é-consciente pelo registro do imaginário, cujas fo rmações se
compõem, erecompõem sefor _ . d' ' mam e esvaem por nao serem determinantes, . e sim . etermInadas pelasaelas c d' . b'o I'Icas slgnlllCantes '. c. . s im do Inconsciente. ~reud I~Slste, por _tanto, que ~ psicanálise lida com as ca deias simbólicas do lOconSClente e nao co m o Imaginário do p re-conSClente, ,. . I . como o raz a PSlCOogla. Estando a se ,rviço do inconsciente e do pré-consciente , na m e d'd I a em que tem . de rea IIzar um Wunsch 'de cada co o son ho e' um mpromisso, . ta I como o SIntoma n,eurótic.o. Da n:esma forma , est.etambém é WunscherfUllung. Mas q uando o.p.re-consCIente d eixa passar demaiS o desejo, esse compromisso fracassa e o SUjeito desperta. Quando o indivíduo é acordado por um son ho, ~u _be.m ele ac?rda para adorm ecer o desejo ou b em a encenação do desejo e tao In suportavel que ele é despertado pela angúst ia. Freud pod eria ter sido acordado p ela imagem terrível da garganta de lrma cheia de placas purulentas que apareceu em seu sonho, mas o son ho continuou até a fórmula da trimetilamina, indo para a lém do ponto de angústia. Para Freud, o destino do desejo inconsciente é o dos Titãs, que "foram esma~ados desde as eras primitivas pelo peso maciço d as montanhas que u_mdIa lhes f oram arremessadas em cima pelos deuses vitoriosos e que ainda sao abalados de tempos em tempos pela convulsão de seus membros".3l Essa metáfora permite apreender o caráter de impossível, de audácia, de escândalo do desejo p~is os T itãs foram punidos por t entar escalar até o cé u, morada dos deuses. E e~se, d~sejo que se manifesta nos terremotos que assolam corpos e mentes. DeSej O e Justamente o nome daquilo qu e os antigos qu alificavam de o demoníaco, o indomável na alma. O r espeito que eles tinham pelos sonhos era, seg undo Freud, devido à consideração pelo "poder demoníaco , . e que encontramos em ação no nosso inconsq ue p ro duz o d'ese Jo onmco ciente".32 I:
A Traumdeut~ng é sem dúvida um tratado da l ógica do significante ou, nos t~rmos fr eudlanos, o tratado das "relações lógicas multiformes" do sonhorebus .33O son h o nao - e, da o r d em d o sim ' b o Io, que, por defimçao, . - representa algo . . q ue tem um senti'd'o umversa,I como a balança que é o s í mbolo da JUStiça. O so n h o como via " regIa . d'o InconsCIente . tem uma sintaxe eq uívoca na ~edida em que aí se encontra "uma forma de palavra que , devido à sua amb "'d a d'e, e ca paz d e dar expressão a mais de um dos pensamentos , .lguI onlncos" .34y,en'fiIcamos aqUI. a pr opne. d ad e d e equivocidade do significante que denota seu dup lo, ou m elhor, múltiplo pertencimento a mais de uma
cadeia significante. A prevalência dessa propriedade na constituição do sonho só é possível devido à primazia do sig nif icante sobre o signif icado no inconsciente, pois, como Freud constata, uma palavra, além de seu significado usual, "combina grande número de outros significados aos qu ais se ac ha relacionada da mesmíssima f orma que estaria uma palavra sem se ntido".35 Isso se observa claramente no tr atamento que o so nho dá ao nome pr óprio, utilizando por exemplo "uma Matilde por outra" ou tratando o nome pr óprio como nome comum. É o que verificamos no caso de um sujeito q ue an dava deprimido, no extravio de seu de s ejo, lamentando-se permanentemente da vida. Um dia ele tra z um son ho que lhe pareceu completamente obscuro em que havia apenas uma cena: ele era pequeno e caminhava com sua mãe em uma rua de sua cidade da inf ância. O sonho se esclareceu ao lembrar do nome da rua: Di as da C ruz. Ao se esc utar, não p ôde deixar de rir e
A Wuns.che1üllung do sonho significa a encenação do desejo, sempre sedento de slgn l.fica~tes, sempre de t~caia na língua. N essa expressão,fUllung ~od~ ser traduz .ldo literalmente por preenchimento", e Wunsch por "faltà', significando assim que o s o nho pre enche com significantes a falta constitutiva do desejo. A "solução" (Losung) do sonho de injeção de Irma é u ma solução de química silábica, co mo aponta a cena final em que apar ece a p ura fórmula da trimetilamina (que tem cheiro da amônia contida na composição do esperma). O sonho é tão espi rituoso q uanto os c histes, como no sonho da nota dez e também no s on ho do me nino que son ha estar perdido na fl oresta e cuja origem edipiana de seu desejo aparece no no me da mãe Flora - a qual ele torna presente (Flor'esta') e designa (Floresta). Para q ue um sonho se constitua, há necessidade de transftrêncía: processo
comparar suas lamentações com as d e sua mãe, que vivia r eclamando de seus dias como quem carregava uma cruz. As leis dessa lógica combinatória são impostas ao U mbewuste Wunsch que impele os significantes a r epresentá-Io no sonho: a superposição de significantes da metáfora, equivalente à condensação das imagens oníricas, e o deslizamento significante da metonímia, que corresponde à sucessão das imagens que confere a o sonho seu aspecto cinematográfico em seu des enrolar de cenas. A ciência do sonho é a "química silábicà'. E quais são esses "desejos inconscientes"? Freud d á de cada sonho analisado o Wunsch que o formou. Não é o que falta. Mas serão eles o desejo (no si ngular) inconsciente e indestrutível do qual f ala Fr eud na última frase da Traumundeutung? Votos de morte do pai , mania d e grandeza, aspiração a ser aliviado da culpa são alguns exe mplos fr eudianos de Wunsch recalcado que se encontra explicitamente na i n fância. Não obstante, sua concepção dos procedimenros do sonho que fazem o desejo inconsciente passar pelos desfilamentos do significa nte nos dificulta pinçar esse d esejo. "A conseqüência do deslocamento é que o conteúdo do sonho não mais se assemelha ao nú cleo dos pensamentos do sonho, e que este não apresenta
de deslocamento de investimento das representações recalcadas pa ra aqudas presentes nos restos diurnos, as quais são indiferentes ao e u. Essas "não apenas tomam emprestado ao i nconsciente ... a força pulsional da qual dispõe o dese jo reca lcado, mas ainda oferecem ao inconsciente algo: o ponto de ligação necessário para re alizar a transferêncià'. 37 O método da interpretação dos so nhos permite r estituir as representações em que o des ej o se fixou, o qua l se expressa, no final , por um Wunsch da primeira infância. "O desejo inconsciente, diz Freud, trilhou uma via at é os restos diurnos e realizou sobre eles uma transferência. Um desejo transferido sobre o mater ial recente aparece ou en tão um desejo recen te recalcado se reanima re tomando forças no inconsciente. "38 É interessante notar que o conceito d e transferência na análise designando a relação do analisante com o anali sta encontra, na d escrição de Fr eud da formação dos sonhos, sua fundamentação no des ejo inconsciente transferido de uma repr esentação à outra. O desejo incon sciente do an alisante trilha uma via até os significantes que ele encontrou naquele ana lista. O significante da tr ansferência do la do do analisante se liga a um si gnificante qualquer do lado do ana lista por intermédio do d esejo (SI ~ Sq) . Freud reserva, na Traumdeutung, um pap el e uma import ância notáveis a certos significantes: a s representações-meta (Zielvorstellung). Trata-se de significantes r esponsáveis pela determinação da cadeia associativa, fazendo-a dobrar-se à exigência d e fazer passar o desejo, sempre pronto para se expressar. As Zielvorstellungen, "estão à es preita em nossos pré-conscientes, elas jorram de nossos desejos inconscientes se mpre ativos. Essas r epresentações podem se prender a um a excitação vinculada à esfera de pensamentos ..., e fa rão a ligação entre esses e um des ejo inconsciente transferindo sobre eles a e nergia
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mais que deformação son ho qu e eX1steno Não temosuma portanto acessodoaodesejo d esejodoinconsciente, pois eleinconsCIente. não é f igurado no sonho ; este pode tão-somente indicar sua ex-sistência, termo que melhor traduz, segundo Lacan, a E nstellung (traduzido por deformação) pois é e.la que faz ex istir a insistência do d esejo e que mostra a insistência de desejO em sua existência. O desejo inconsciente não pode ser nomeado enquanto tal, não pod e ser designado, só inferido. Ele é d esejo - sem qualificativos, sem atribuições, sem dono, sem nome. O sonho só faz encená-Ia, e s eu relato com s uas associações mostra por qu ais signif icantes circula.
,. propna a esse de-)·o .> , - . "39 As re presentações-meta .. são por tanto significantes . que significam o desejo, que podemos designar con:o slgmficantes do . 40 tal como o c av iar no sonho da Bela Açouguena que transfere ao d ese)o, . ·d d ' . O d . . .ficante "salmão", presente no sonho, sua mtensl a e pS lqu!ca. ese)o slgm . d . .c. .. , responsável por essa o peração, de transferência e slgnmcante a Slglll~c:nte, se ndo inclusive defmido por Lacan como "pura ação do sign ificante".41 As Zielvorstellungen são responsáveis pela passagem de uma representação pré-consciente ao inconsciente, transferência que confere a~ desejo sua particularidade de trilhamento das associações, que é, propnamente falando, a metonímia. A condensação no sonho, sua lei de metaforização, que lhe con fere um efeito de sentido, dá ao conteúdo repr esentativo uma intensidade que Freud faz equivaler a uma p alavra em itálico ou em negrito em um t exto, ou q u e, "ao falar, pronuncio a mesma palavra em v oz a lta lentamente e com. uma ênfase especia1.42 A ênfase e o negrito ou o itálico correspon.de~ à enunClaç.ão na fala e n a escrita r espectivamente, sendo a í nesses s lgnlficantes aSSlm marcados que está a manifestação de desejo, o qua l se e nco~tra porta~to menos no enunciado do que na enunciação; ele é o próprio efeito de sentldo do sonho. Desejo - eis o único sentido do s~nh~ e c ujo en~nciado, ~or s~r qualquer um q u e o desejo trilhe. O s o nho slgmfica o desejo que e martlculável, embora articulado. Mas nem tudo é significante, pois há uma falta no Outr o do i nconsciente que Freud designa como umbigo do son ho: l ugar insondável ~ inefável ~a trama significame de onde surge o desejo. "feder Traum hat mmdestens em e
"É esse mo vimento que chamamos desejo", e o reapareci mento da percepção é "a r ea lização do des ejo".44 O desejo é o ve tor que indica a direção do processo alucinatório do sonho, vetor q ue aponta a Vorstellung que deve a parecer em cen a . Trata-se aí da ca racterística do processo primário q ue visa a busca do ob jeto a ser r eencontrado p ela via de um significante evocado: o desejo acende a representação tornando-a v isível para o s o nhador, fazendo-o ass im alucinar o o bjeto. A a lucinação, protótipo do sonho, apresenta a ca racterística do proce sso primário, que é a identidade de percepção (a representação a parece lá on de o ob je to falta) p or oposição de pensamento típica do processo à identidade secundário. O o bjeto de gozo está para sempre perdido e em seu lugar há um furo qu e causa o desejo, ro deado pelos traços q ue se tornaram sua representação. "Uma cor rente deste tipo no aparelho começando do desprazer e visando o prazer foi por nós denominada de desejo, e afirmamos que somente um desejo é ca paz de colocar o a parelho em movimento."45 Essa a firmação mostra que o desejo é esse ve tor que vai
pelo menos um tr echo - ou uma passagem, conside.rand~ o so nho co.mo um texto - que é insondável (impenetrável), por assim di zer um umbigo, por meio do qual ele está em contato com o desconhecido (o não-reconhecível). O desejo desliza pelos significantes que volteiam esse f uro na t .rama do in consciente, o qual podemos esc rever com o matema S(lh), vazIO d e
do vazio do objeto à satisfação verbal ([ ] --7 S) graças ao a parelho significante que o representará em sonho. O desejo é, portanto, co rrelativo à fa lta, a es sa i mpossibilidade de atingir o objeto real, objeto que é: ele mesmo, a metonímia dessa falta. Freud propõe co nsiderar que o c a minho que leva à alucinação tenha realmente sido percorrido na remota infância. O "primeiro desejo parece ter sido um in vestimento alucinatório da lembrança de satisfação".46 É baseado no modelo da r eg ressão temporal (de volta ao passado), fo rmal (de volta ao modo de f uncionamento primitivo de expressão) e tó pico (investimento da imagem) que Freud explica o ca ráter visual da máquina de sonhar. A realização do Wunsch é a encenação da representação recalcada, mascarada pelo trabalho do sonho; a re alização do desejo se e fetua no plano escópico: o " isso mostra" do sonho. Trata-se aqui da função do olhar como objeto a no campo escó pico, na medida em que ele é invisível mas revestido
representações, recoberto p or uma cena de gozo. Que o d esejo inconsciente seja estruturado pela falta ~ o que .Fre~d . . ~ a partl.r da pr Imelra demonstra nas etapas lógicas de s ua COnStltUlçaO experiência hipotética de sat isfação. Do o bjeto de gozo, o se lO, de uma ve z q.uando por todas perdido, restará um tr aço mnemlCO que sera mves. t·do I houver uma impulsão (Regung) psíquica. O movimento de . r~mvestlmen~o do tr aço mnênico do objeto perdido reconstitui a situação ongmal por meiO de uma alucinação.
pelos significantes no sonho, o q ue confere a es tes significantes o ca ráter de "visibilidade", de figurabilidade, como a parecem nas ce nas oníricas.47 Assim como o itálico ou negrito, F reud encontra no sonho uma clara indicação escópica do desejo. "Na maior parte dos sonhos é possível descobrir um POnto central que é ass inalado por uma peculiar int ensidade sensorial. Este POnto é, em regra, a representação direta da realização do desejo."48 A WunscherfUllung pode ser aqui compreendida como a encenação escópicado desejo: satisfação da Schautrieb. A "intensidade particular" do centro do
Stelle, an we lcher er une rgründlich ist, g leichsam einen Na bel, durch den e~ mit dem Unerkan nten zusammenhiingt'~43 Traduzindo: todo sonho pOSSUI
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sonho aponta a presença do gozo escopLCopromovido pelo objeto olhar. Para além do aspecto imaginário, que lhe empresta seu caráter cênico e cinematográfico, o sonho, como toda formação do inconsciente, produz gozo _ é o gozo do espetáculo. A Outra c ena é o palco da ?atisfação escópica. Der and ere S chaupl atz ist P latz der Scha ulust .
É a propOs ltO do so.nho. da bela açougueira que Freud introduz na Tr aumdeutung o tema..,,'da z dent zif icação Como os ousotros '" ,e ess n h o comporta dOIs Wunsch e. O pnmeIro é não contribuir p ara tornar maIS . be I .": a a a mIga
os sonhos típicos, que podem s er interpretados, segundo Freud, a partir do método simbólico (distinto do analítico). Isto pode p arecer um c ontra-senso, pois vai a contr acorrente de tu do o q u e Freud vinha aftrm ando. Ao examinarmos de perto, veriftcamos que todos os exemplos de sonhos típicos, que Freud apresenta, trazem uma só mensagem: é sex~al. As~im, o chap~éu representa o órgão genital mas culino; ser esmagado sImboltza as relaço.es sexuais; subir uma escad a, o coito; roubar equivale a observar r elações sexuais; fazer uma prova signiftca masturbação etc. . . O simbolismo fr eudiano tem uma ch ave que é o falo: sIgmftcante que não só designa em seu conjunto o s efeitos de ~igniftc.ação: .como também faz a conjunção do lagos com o sexual. O metodo sImboltco de Freud não se o põe a seu método analítico, apenas comprova o selo do sexual presente em todo sonho. O sexual é a mensagem do sonho que vem no lugar de S(A.), encobrindo a f alta com cenas de gozo que tra zem os Wü nsche infantis. Em num erosos sonhos analisados, Freud extrai dois Wüns che: o primeiro é uma aspiração (demanda) que os restos diurnos revelam., e o segundo é, pr opriamente f alando, o desejo, quase invariavelmente Vin CUlado a repr esentações sex uais. No sonho do cavalo cinza, por exemplo,
O sonho. encena o fracasso ~a d emanda da amiga de vir ja ntar na casa dos açougueIros, f rustrando aSS Im seu Wu nsch de engordar . Assim, o so nho atende à demanda da so nhadora, a b ela açougueira, de conservar o interesse de seu m arido por ela ao não engordar a amiga recu sando-lhe o jantar pois o marido só gosta de mulheres gorduchas. Esse Wunsch, que o sonho r:aliza, expressa de forma. res~ondida e sa tisfatória a demanda de amor endereçada ao Outr o. Esse pnmeIro Wunsch é portanto uma demanda de am or que se manifesta por intermédio da pulsão oral ($ O D). O segundo Wunsc h , o desejo inconsciente, é o desejo d e d esejo insatisf eito que enc ontra sua expressão, na vida dessa histérica es pirituosa, no desejo de caviar que ela insiste em manter insatisfeito, proibindo seu marido de lhe presentear com caviar. É pela via da i dentiftcação que esse desejo se i ntroauz no sonho na substituição do caviar pelo salmão, e m relação ao qual a amiga tem exatamente a mes ma atitude que a bela aço ugueira, ou seja, ela dese ja sem querer realizá-lo. Trata-se, portanto, de uma identiftcação pelo signiftcante qu e confere uma expressão ao dese jo inconsciente, ilustrando que é fundamentalmente por meio do signiftcante que o desejo do homem é o desejo do Outro. Uma outra identiftcação, no caso dessa histérica, nos mostra o alcance da fórmula consagrada de Laca n sobre o desejo deftnido pela insatisfação. A bela açougueira coloca também a questão so bre um desejo insatisfeito de seu marido que ela, bem perspicaz, percebeu. "Se ele só gosta de gordinhas, como foi int eressar-se por essa a miga que é mag érrima?" Deixar a amiga magra, recusando-lhe o ja ntar, é uma forma de ~anter, ao identiftcar-se com o mar ido, esse desejo insatisfeito. Eis aí uma Ilustração da identiftcação da histeria com o homem: um a forma de ela bancar o homem.49 A identiftcação é, na Interpre t ação dos sonhos, equivalente à metáfora, ou seja, uma substituição signiftcante que serve à ftguração das ~oisas em co mum e de uma coisa comum "que só se faz desejar".5o A ~dentiftcação pelo desejo será deftnida por Freud como característica de
Freud discerne um prim eiro Wunsch: "não quero ter furúnculo", que é perfeitamente pré-consciente, pois na época ele tinha um bem gran~e na região inguinal. Mas isso não basta, e Freud é levado a efe tuar u ma análise mais profunda", veriftcando então a presença de "pensamentoS sexuais", pois a partir da decomposição signiftcante ele descobre q~e certos elementos do sonho são provenientes de suas viagens rumo à I tálta , que, em alemão, é gen Italia.
Identiftcação histérica em seu texto sobre a psico logia das massas e por Lacan como a carac terística do próprio dese jo humano. Em um exemplo de sonho absurdo, Freud também faz referência à identiftcação. Trata-se do conhecido sonho, amplamente com entado por Lacan, do pai recentemente mo rto em que este apa rece vivo no .sonho do filho sem saber que já estava mo rto. Para Freud, nesses sonhos de pe ssoas mortas, "q uando no sonho não é lembrado que o mo rto está morto, é
o método
analítico de interpretação dos sonhos (há outros, como Freud apOnta) caracteriza-se pela restituição dos signiftcantes recalcados para fa zer chegar a m ensagem da qual o sonho é por~ador. Há, ~o ~ntanto, sonhos cuja mensagem, para ser de cifrada, não necessita das aSSOClaçoesdo sonh~dor:
porque o próprio sonhador se id entifica com o mo rt o: ele sonha com a própria morte. E quando se pen sa bruscamente com surpresa: "ora, ele já morreu há muito tempo", está-se r epudiando essa identificação e negando que o sonho significa sua próp ria morte ".51 Essa identificação com o pai morto, em que o suj eito ele mesmo banca o morto, é característico do neurótico obsessivo que cauciona a morte do Outro. Mas , mais do qu e isso, trata-se do d esejo de não ac ordar para a mensagem à qual o sonh o leva o sujeito a se confrontar: a cas tração.
Só há sonho de desprazer (U nlu sttraum)
quando há desacordo entre o
recalcado e o eu, e o desejo se rve-se de restos di urnos penosos para se expressar. Todo sonho de angús tia tem p ara Freud a mesma significação de um sintoma neurótico devido à sua srcem sexua l. A angústia, em sua teoria de época, apresenta duas fo ntes: as excitações sexuais e os pontos somáticos (doenças), qu e, na verdade, são dois aspe ctos que apontam para o re al não simbolizado. Mas o so nho só utiliza as fontes so máticas quando estas se assimilam facilmente ao co nteúdo representativo de sua fonte psíquica. O que o faz chegar, a partir de sua experiência com neuróticos, à formulação de que a única origem da ang ústia é sex ual e, na seg unda tópica, de que toda angústia é angústia de cas tração. O pesa delo é a testemunha de acusação contra a teor ia do sonho-d esejo. Mas Fre ud a defende demonstrando que os Unlusttraums e os pe sadelos não a contrariam, pois nada mais são do que a rea lização do desej o inconsciente que, driblando a censura, faz passar as representações contrárias ao eu em que ele se fixou. É o que podemos verificar no so nho de Freud, em seus sete a oito anos, do qual acordou banhado em lágrimas e angústia. "O sonho mostrava minha querida mãe, com uma expre ssão par ticularmente tranqüila e ador mecida, sendo levada para seu qua rto e colocada sobre a cama por duas (o u três) personagens que tinh am bicos de p ássaros." Esses personagens foram extraídos da bíblia de Philipp son , significante que o fez associar Philippe, nome do menino que lhe ensinara o palavrão vo geln ("foder"), que é figurado no sonho pela multiplicação de pássaros (vogeln). "Minha angústia, efeito do reca lque, pode ser atribuída a um desejo obs curo, manifestamente sexual, que tão bem expressa o conteúdo visual do sonho ." O sonho não é ma is um compr omisso se para efetuar essa realização ele perturba o sono provocando o fra casso do so nho como s eu guardião. O
"livre c urso das representações inconscientes desde o rec " . a queI traz a marca do desprazer ... ~ pengo e, que as eXCitações i nconscientes possam liberar afeto, de ." uma 52 OespeCle .. que so pode ser ex perimentada com o desprazer, como angustia. SUjeito, ao ver seu desejo realizado no sonho d esper at com ,., ' angustia. Porem, o desejo realizado, na verdade, não é mais desejo o u al por definição é fal ta e, por isso def esa co ntra o gozo. A su a reali;açã; de desejo não é mais desejo, e sim gozo . O pesadelo se r~~ere ao enc~ ntro traumático com o gozo do O utro q ue tende ~ fazer do S UjeitOseu obje to. Lacan, no seminário da A ngústia, lição V, partindo do t er n:o incubus, que design a "pesadelo" em latim, o compara a um gozo estrangeiro como o do íncubo ou o súcubo, demônios masculino e feminino que, na c o ncepção da de monologia, são os demônios que possuíam os corpos das pessoas d urante o sono para "gozar dos praz eres do Littré . amor ou transpor para o sabai ',é segundo como gozo do O tá-los utro demoníaco, a prova odedicionário que a rea lizaçãoOdopesadelo, desejo, longe de ser fo nte de pr azer, se situa para-além, onde reina a pul são de morte.
Capítulo
Demanda
IV
e de sejo
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio es tá começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um vel ho toc ará su a flauta para inverter os ocasos
o postulado
fundamental da psicaná lise diz que a ~tura do ~ se or aniza a partir de UfQ furo. Esse f uro orga nizado r na estrutura é correlato ao conceito o jeto perdido o qu e implica que aquilo que poderia dar satisfação ao s ujeito é perdido desde se mpre como condição necessária ao des~jo, que or defini ão é insatis feito. Retomemos a descrição já comentada de Freud da experiência de sa tisfação que se encontra no subcapítulo chamado "Realização de desejo", da Inter pretaçã o dos son hos , e façamos uma leitura a partir do ensino de Lacan, como introdução a o bin ômio deman da e d ese jo.l
O elemento essencial da experiência de satisfação é o a parecimento de uma certa erce ão - o alimento, no exe mp o esco l I o - cu a Imagem mnêmica J2ermanecerá associad~º-m o tra o mnêmico da excitação da necessidade. Temos aí a situação do neném com fome e que se depara com o objeto qu e vai sa tisfazer essa necessidade. Freud não utiliza o termo objeto ~ si~ "eercepção", indicando que há um "objeto" que entra~o espaço perceptivo" do sujeito, visual e táctil, e que essa impressão constituirá o traço da presença desse o bjeto. Este traço permanece associado a o traço da fome, excitação de necessidade. Eis o que resta da primeira experiência de satisfação. Na se unda, e em todas as o utras daí em diante, a partir do
momento em ue a necessidade se rea resentar, haverá uma conexão, graças ~ re ação previamente estabeleci da, e ntre o tra ço da ne cessidade, a fome, e Ó tra o erceptivo do objeto que trouxe essa satisfação. Graças ao r estabeecimento dessa r elação, há um dese ncadeamento de uma impu lsão psíquica ue vai i nvestir de novo a imagem mnêmica do traço do objeto. Esse reinvestimento provoca uma nova percepção - a alucinação satisfatória de desejo -, reconstituindo a situação da primeira satisfação. Observamos que é indiferente para Freud se o suje ito alucina essa percepção ou se o pr óprio objeto da sa tisfação está presente. De toda for ma, é o reinvestimento dessa imagem mnêmica do objeto que reconstituirá a s ituação da p rimeira satisfação. Esse movimento é o desejo. Em sum a, 0_ desejo é o ve tor qu e se desloca de um significante (51), representado pero traço da excl.ta.çãpda necessidade de comer (a fom e), para outro signifignte (52), reE!~entado pelo traço do objeto que a sa tisfaz (o se io): 8, ~ 82 . Para abordarmos a questão da demanda precisamos introduzir a mãê" como o Outro provedor, o Outro que tr az o_objeto que satisfaz a necessidade. Para que isto ocorra é n.ecessário que esse Outro provedor dê uma .0gnificação ;10 gr ito da uele ser ~~stá a i ser Vivente, que se agita e g rita com fome, ~ seja, ex citado pela necessidade de comer. E recis~ que a esse grit o seja atribuído 3... significação de um apelo, de um Redido, transformando a neces$;dade que se expressa no g rito em uma demanda) Na situação da úperiêncla de sat isfação, o grito do bebê é interpretado pelo Outro como uma demanda de satisfação: a mãe o escuta c~mo ~ de!!1anda diri gida a ela, pa ra efetivar o que Freud designa no "Projeto" como a "ação específica": mzer o objeto de satisfação. Temos aí, n esse exe mplo paradigmático da experiência de satisfação, o bi nômio proposto por Lacan de demanda e desejo. A demanda está nesse a pelo (grito interpretado como dirigido ao Outro da assistência) que o s u jeito faz em busca de um complemento que é o objeto qu e pode satisfazê-Io. E nessa demanda se desenrola o desejo. Na demanda há sem re edido de restituição de um status uo ante , de um estado anterior de com lementa ão ue o su'eito su õe existir ou ter existido. o ese jo? O desejo é jllSramenr a a rocu ra da uele ob'eto stg?0sto da primeira experiência fictícia de satisfa ãO J ~~ nunca ex istiu ~as é um põStu ado necessário a Freud ara constituir o objeto como faltante e .sua cons~ üente busca da parte do sujeito. O esejo é a usc~ o o je to perdIdo, a demanda é o l2..edidode_satisfa ão ao status quo ante. J
Qual a dif erença entre demanda e necessidade?
_A necessidade tem sem re um ob 'eto ue a satisfaz, com o o ali mento para a orne. Precisar comer, evacuar, respirar se situa no registro da eto agia. A necessidaOrt'!-ntoa ró pria cadeia de si nifi cantes ue se dirige ao O utro como o lu ar de si nifi cantes (A), o~ar do códi o, de onde virá a res ~ tr~ aos ujeito sua rópria mensa em de h ma invertida sob a fo ~ ~e si nifi cado do Outro (s(A)), como ver ificamos no grafo do desejo. Ao Situar o ana ista no lu gar do Outro, o ana lisante, co m sua fala-demanda, e~~ e e receber a interpretação que diga o sen tido do que ele está dlzenao. A f ala do analisante é, em si, demanda de interpretação, demanda de sentido. J
o sujeito vive num mund o em que suas necessidades são reduzidas ao valor de troca. O seio e o excremento como o bjetos de necessidade entram no jogo da linguagem não como obj etos e sim co mo sig.ni~cantes: eles são "objetos significantes". Mas n em tudo está dentro dos slglllficantes: o que está "alienado das necessidades, constitui uma U rverdr angung (recalque originário), por n ão poder, hipoteticamente articular-se na demanda, aparecendo, porém, num rebento, que é aquilo que se apresenta no h omem com o desejo (das B egehren )".3 Temos aqui a i ndicação de que ~~esejo está fora do significante. E Lacan dá a segui nte imagem dessa r elação: "o desejo se esboça ~argem onde a demanda se rasga da necessidade".4 A partir daí podemos escrever a segu inte fórmula: (N - D = d ). O aesejo é o res to da o peração d e sub tr ação da demanda à necessida d e. . . Apesar de não s e inscrever no significante, o desejo só pode ser mf en.do a partir da demanda, que se manifesta em cada fala. A demanda, na m edida em que é constituída pelos sig nificantes emitidos pelo sujeito, tem apen~s um signif icado: o desejo, que é ca usado pelo objeto a. Tr ata-se do d esejO como vetor, que se p resentifica articulado através dos significantes da demanda. Assim, a demanda está para o enu nciado como o desejo está para a enunciação (D/d = = E/e). O en unciado de uma fa la é da ordem da demanda" mas é em s ua enunciação, na modalização do dito, sua e ntonação, suas pausas, sua cadência, sua rapidez ou :,ua lentidão, na ênf ase ou na elipse ~e suas palavras que rola o desejo. "E como , que em derivação da. cadela significante que cor re o regato' do desejo ."5 E ai, no cam2QAo d~ s~o, q ue se situa ara o homem e ara a mu lher ar eia ão sex al, pelo elllgma que ela suscita - enigma do des' lJe o sJ1jeitoienta em vão resolver com o retorno à eman a como d emanda de amor-.
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o dese jo do Outr o Abordemos o conceito de desejo a partir de um dos grandes aforismos de Lacan: o desejo do homem é o desejo do Outro.
Qu~ o desejo dQ homem se ja constituído, formado a par tir e a través do dese jo do Outr o, é u m tema hegeliano que Lacan tomo u emprestado da leitura de Kojeve da Fenomenologia do es pírito, sobretudo da dialética do senhor e do e ~cravo. De janeiro de 1933 a maio de 1939 , Kojeve fez um seminário na Ecole Pratique des Hautes Études ao qual L acan assistiu, tendo sido marcado por essa leitura no que diz respeito à teoria do desej o, mas não só. R etomando algumas teses hegelianas, Lacan as tr ouxe para a t eoria psicanalítica, fazendo surtir vários efeitos de significação que a renovaram. Uma dessas teses é bem conh ecida: "a palavra é o a ssassinato da coisa', que se encontra na origem de uma da s bases lingüísticas da t eoria l acaniana, ou seja, a de que a inci dência do significante faz a co isa desaparecer. Isso não quer dizer q ue o significante não evoque toda a dimen são da co isa, pois, como Lacan diz no Se minário 1, basta falar "elefantes" para que eles apareçam. Isso confere ao significante a propriedade de constituir a pres ença sobre o fu~de ausência, ou seja, de ser uma presença ausente e uma ~sên_cia resente como a carta roubada do conto d e Edgar Allan Poe. Encontramos também essa tese na concepç ão lacaniana da transformação da necessidade em valor de troc a, dentro do r egistro da demanda . Trata-se da modificação que o significante impõe à sua vida, numerando-a.6 Outra tese hegeliana que concerne a no sso tem a é justamente sobre a questão do des e jo: ç > desejo do homem é o dese'o do ou tro . Este des ejo é formulado inicialm~nte em t ermos d dese 'o d~ r econ ecimento e lo outr na dialética do s enhor e do escravo. Trata-se de um apó og o construI o por Hegel para ilustrar como o h omem, definido pela consciência que tem de si mesmo, se con stitui; como é estabelecida a dissimetria entre o senhor e o escravo; e como se daria a saída dessa situação. Vamos abordar apenas a primeira parte d a dialética par a apreender a constituição do d esejo do h omem a partir do desejo do outro qu e é aqui seu semelhante, seu igual e também seu rival mortal. A dependência do sujei to em relação ao ou tro encontra-se desde a e.:imeira frase da dia lél:ica do senhor e do escravo que, de fato, se chama "Independência e dependência da consciência de si; dominação e servidão". Ei-Ia: "A consciência de si é em si e é para si, quand o e porque ela é em si e para si par a uma outra consci ência de si, isto é, ela só existe (ou é) enquanto ser r econhecido."? Mas por qu e uma coisa, um objeto , não é s uficiente para constituir uma con sciência de si? Por que ela pr ecisa de uma outra consciência de si que a reconheça? Vejamos o desenvolvimento de Hegel associado ao comentário de Kojeve. O homem contemplando uma coisa, um o bjeto, é absorvido pela coi sa e se esquece, ele não pensa nem em seu ato de cont emplar nem em seu eu.
Ele pensa na coi sa e não e stá aí para dizer "eu", pois a contemplação revela o obj eto, mas n ão o próprio sujeito. O que chama o sujeito a si mesmo, fazendo-o sair d essa contemplação, é o desejo que, para Hegel, é um desejo consciente que lhe permite designar-se como um sujeito dentro desse ato de co ntemplação da coisa. Quanto ao animal, o qu e Hegel chama de desejo animal, é algo qu e equivale à necessidade, na medida em que o desejo animal é o desejo da coisa, co nferindo-lhe o sentimento de si. O desejo da coisa é necessário, mas não suficiente para constituir o qu e é propriamente humano, que não é o sentimento de si, mas a consciência de si. O eu anim al tem o desejo imediato da coisa e e ste o lev a a satisfazê-Io pela negação da própria coisa; ele nega a coisa d estruindo-a, por e xemplo comendo-a. O d ese'o -ªIa que se'a humano, deve incidir sobre um ob 'eto ue não se'a um ob ~tural,
.Ieconh,e~imento. Para se fa lar da origem da consciência de si é portanto necessano falar de uma luta mortal em vis ta de reconhecimento. Qual a dif erença entre Hegel e Lacan no que di z respeito . ao d'eseJo.; > . Se, par a Hegel, o ~eseJo do ho mem é o desejo do outro (com minúscula), p~ra Lacan, o de~e o do homem é o dese'o dó Outro com maiúscula). Em egel, meu desejO depende do outr o como des ejante e como c onsciência estando, como d esej~, interessado numa luta de pres tígio com o outr o par~ ser por ele reconheCIdo. Para Hegel, o outro é aquele que está presente e ql!e me vê e contra quem eu luto. Para Lacan, o Outro se apresenta como inconsistência e inconsciência. Qinconsciente é o discurso do Outro, se ndo ue ara o n euróticQ, ele é barrado or ue há uma in seri ão da falta no Outro, o ue o torna incon sistente. É justamente por hav er uma falta inscrita no Outro que o Outro di z respeito ao desejo do sujeito, pois é ao n ível do
e sim um ob 'eto que ultra asse a r ealidade dada. Ora, se undo H e el, a única coisa ue u ltra assa a r ealidade humana é o dese'o, oi s o desejo, ~ o da sa' ~ é um va zio, um vaz io irreal, um na a r evelado. O desejo humano, p ara se constituir enquanto tal, é um d esejo que incide sobre um d esejo. O desejo animal incide sobre um obj eto, sobre a coisa, S o desejo humano in cide sobre um outr o desejo., É um desejo de dese~ O des e'o ue incide de forma imediata sobre um obj eto natural só _ se torna hUl21anoquando é mediatiza_ o elo~jo do outro. anto o desejo animal quanto o desejo humano tendem a se satisfazer, porém o desejo humano se nutr e de desejos e o desejo animal de objetos da realidade. Partindo da tendência à satisfação encontramos também aqui um a dissimetria. Todos os desejos animais se detêm diante d e um desejo, qu e é o d esejo de conservação da vida, mas não o desejo humano que só é aver iguado enquanto tal qu ando o suj eito arrisca a sua vida em funç ão do seu de sejo. Trata-se de uma luta de prestígio com o outro em vista do reconhecimento de seu desejo, o que leva o humano a arriscar a pr ópria vida. O result ado dessa luta introduz na dialética da constituição da consciência de si a dissimetria entre o se nhor e o esc ravo: o senhor é o se nhor porque arri scou a sua vida e o escravo não. Mas o que é desejar um d esejo? - pergunta Kojeve. O q ue é desejo de desejo? Desejar um d esejo é querer deter o valor desejado pelo desejo do outro. Desejar o desejo de u m outro é dese@r q ue o valor que sou oU ue r~resento se'a o va lor dese'ado elo outro, Quero que ele reconheça meu valor co mo se ss ; quero que ele r econ eça o meu v or c omO um valor seu; quero que ele me reconheça como um valor autônomo.l249 dese'o ~umano ara H!gel é,"p0rtanto, dese'o de reconhecimento. O desejo humano é gerador da consciência de si e o é e m função desse desejo de
qme. ue falta no Outrobjeto o que desoumeu levado a buscar aquilo e falta o de ue ta c<:.~o desejo. O Outro paraqueLamcan é o - lugar s! nlficante~ (A), ~s é também o lug ar ond e se institui o Outro d a falta, pois falt a o significante que o definiria como um a totalidade: S(A). No seminário sobre a angústia, Lacan desenvolve suas diferenças com Hegel sobretudo no que diz respeito à concepção do outro. Em Hegel, o desejo é portanto desejo de desejo, isto é, desejo que um d esejo responda a um out ro d esejo, responda a um chamado de desejo. Ele é desejo de um desejante, desejo do outro. Esse desejante que é outro, e que me int eressa, eu preciso de seu reconhecimento. §.m Lacan, a questão do reconhecimento ~ão se coloca no Outro porque, justamente, o s UJeito nâo vaI s e fazes reconhecer elo tro ar Outr o falta, o Outro é ban:.ado. Para a psicanálise, o desejo do homem é o desejo do Outro na medida em que: 1: ~ inconsciente como discurso do Outro é constituído pela cadeia slgmficante por onde circula o desejo inconsciente; esse O utro é lugar da fala, da Outra Cena (Andere Schauplatz) segundo Freud. 2. O des ejo do homem se pr esentifica pelo intermédio do Outro como uma questão que lhe é endereçada: Che vuoi? Ou um a interrogação sobre o que o outro (como parceiro) na relação sexual deseja. 3. Para além do Outro, o desejo do s ujeito sempre depende de um outro - pois o sujeito não é causa sui - , radicalmente outro, parceiro libidinal do sujeito, que é o obje to a. Se, e m Hegel, o desejo é desejo do o utro, meu semelhante, a ún ica ~e~iaç~o que poderia haver é a ~rópria violência presente na luta de pr estígio, :lOlenCla do Imp eto de destruIr o outro que é próprio da dimensão do Imaginário onde o outro é igual e rival. É aqui, no regis tro imagi nário, que se encontra o desejo de reconhecimento pelo outro que acar reta sempre em
Cl
f.
J
luta de pr e stígio, com sua dim ensão mortífera e a a mbição de dobrar o outro impondo-o à dominação, como na dialética do senhor e do es ctavo. Mas o outro não é apenas rival, na medida em que a imagem do outro é suporte do desejo, pois ela não só encobre como co ntém o objeto causa do desejo: i(a). pdesejo se manifesta no plano d o imaginário, como aparece no est ádio do e spelho, onde o eu v ê seu desejo no outro e vice-vetsa. Porém, não há de sejo somente imaginário p ois não h á uma anterioridade à linguagem. Q . Outro é p révio ao sujeito ~<::,ejo é determinado pelo simbólico (articulado nas cadeias significantes) e causado pelo re~14o objeto a. Portanto, o tempo de con frõi1to- e uas con sciências t:J como apar ece em Hegel é um tempo que - embora a descrição h egeliana nos faça associá-Io ao plano imaginário - já é mediado pelo simbólico da linguagem. No que diz respeito à função do r econhecimento em r elação ao desejo,
-ª-
o a rticu anoaoplano nÍ vesimbólico. a -a ,- nNo de~ejo ao do registr sujeitoo a dimensão éLacan autenticado seminárioem1,que em orelação simbólico, o des ejo é situado como devendo ser reconhecido e nomeado, ou seja, ele po de s er dito como desejo de alguma coisa. Lacan dá com o exemplo o que Fr eud fez com D ora, ao diz er-lhe: "Você ama o Sr . K". Embora Lacan chame a atenção de que Freud erro u na nom eação do d esejo - pois não era o Sr . K , e sim a Sra. K . o obj eto de desejo de Dora - ele não coloca em qu estão a nomeação do desejo.8 No Seminário 2 , apesar d e encontrarmos a função do reconhecimento l igada ao desejo, Lacan aponta que o "dese'o é dese'o de nada, é dese'o de nada nomeável". Por tr ás daquilo que se pode nom ear do desejo, encontra-se o que há de m ais inominável: a morte, que aparece e ntão como o qu e do desejo não tem n ome. Por ém se tomarmos a análise de Lacan do conjunto do sonho da in jeção de Inna e da interpr etação de Freud, ver emos que o d esejo de Freud em questão é um arroio inomináve! que corr e em derivação da cadeia significante da demanda ... de reconhecimento. Freud, como v imos, considera um sucesso ter desvendado e ex plicado este so nho em t odos os se us detalhes a partir do "desejo" de se desresponsabilizar pelo fracasso do tratamento de Irma. Po is bem, Lacan põe em evidência que o sonho de Irma é o sonho de alguém que está buscando a chave dos sonhos e que, em suma , esse s onho e sua interpretação são uma fala de Fr eud dirigida a nós, uma mensagem de Fre ud à comunidade dos analistas. Podemos acrescentar que se tr ata de um Wunsch sob a forma de demanda - des velada em carta a Fliess, c omo vimos no capítulo anterior - de que ele gostaria de comemorar este sonho, inaugural da psicanálise, com uma placa colocada em Bellevue nomeando Freud o decifrador do mistério dos sonhos. É uma d emanda de Freud dentro da função do
reconhecimento, e não é à toa que ela é dirigida a Flies s em uma carta de amor de tran sferência. Qual seria e ntão o desejo inconsciente de Freud qu e foi o motor do sonho? Ele m esmo não no s diz mas para F liess sim, tra ta-se de des~jo sexu al (sem mais detalhes). Ao cons iderar tudo o que Freud produzIU e tudo o que teve de enfrentar , em si mesmo e na comunidade, para fazer avançar a psicanálise, podemos inferir qu e se trata do desejo, para-além de qualquer demanda, em sua ma nifestação mais inv entiva: o desejo de saber. Encontramos, portanto, no e nsino de Lacan a f unção de reconhecimento ligada inicialmente ao desejo dentro de uma c oncepção hegeliana; mais tarde ela desaparece para dar lugar ao co nceito de demanda: o desejo de reconhecimento é antes uma m odalidade da demanda. Em 1958, em ''A direção do tratamento e os princípios de seu poder", Lacan desvincula completamente o desejo da função de reconhecimento, pois o desejo não pede para ser reconhecido nem o s ujeito quer reconhecer o desejo, este pode ser apreendido apenas na interpretação, ao pé da letra .IO dese jo está sem pre em alteridade em relação ao sujeito, furtando-se, esquivando-se, pois se e ncontra no lugar do Outro. "Se eu disse que o inconsciente é o disc urso do O utro com maiúscula foi pa ra indicar o para-além em que se ata o reco nhecimento do desejo ao desejo de reconhecimento."9 O que interessa em relação ao desejo está para além da fu nção de reconhecimento.
Lacan propôs o conceito de d emanda como r esposta ao conceito de fru stração, muito em voga no movim ento analítico da é poca, para inscrever esse conceito no campo d a fala e da l inguagem, como vemos no t exto ''A direção do tratamento". A frustração é o sentimento provocado no analisante pela não resposta à demanda, e a "regressão", que implica essa frustração, corresponde à emergência d e significantes da hi stória libidinal infantil do suj eito. A regressão só diz respeito à pulsão oral, anal, através dos significantes da demanda, onde o desejo se fixou. A clássica tríade "frustração-regressão-fixação" é reinterpretada por Laca n a partir da linguagem e da fala: a frustração provoca uma "regresão" na cadeia significante. O sujeito não vi ra uma criancinha. Trata-se do deslizamenw da cad.ci ig nificante trazendo à baila os significantes de sua pr ópria demanda detectados em sua história infantil, ou seja, os significantes primordiais onde o se u desejo está fixado, pois "é por intermédio da demanda que ~odo o pass ado se encontra', como diz
Lacan, sendo just amente pela não-resposta à demanda que e sses significantes que mar caram o sujeito em seu pa ssado podem ressurgir em sua fala. A demand s.u·~ rovém do OUl !2, sendo datada do lu gar do Outro, lugar originalmente ocupado pela mãe, e o des ejo é articul ado através da demanda, transparecendo na enunciação dos significantes. A del Jltnda é 120rtanto a uilo ue se enun cia nL cadeia de signif icantes, onde se :.articula de~~ como efeito meto nímico, na medida em que est e passa de um para l!.,mo~tro significanlS..rolando ~CQ)TIO um dado lançado na fala. De alavra em palavra, temos o des ejo como efeito met onímico da emap.da. A experiência analítica mostra que todas as demandas trans itivas se referem à estrutura p rópria da demanda, que é fundamentalmente int ransitiva. A demanda de sarar, a demanda de interpretação, do que fazer, enfim, todas as dem andas deste tipo, que são demandas de alguma coisa, referem-se
demanda ao O utro_ (oral) e a d e~~nda do Outro (ana l). Isto pode ser lido no materna da pulsao em q ue o SUjeItose enCOntra em disjunção e conjunção com a demanda do Outro ($ O D), ou, também poderíamos dizer, com o O~t.ro da dema nda. A ~anifestação da p ulsão é o sujeito acéfalo, isto é, o sUjeito que desvanece dIante das demandas orais e an .ais constituídas pelo Outro. A demanda é o que representa a sex uali4:.!..d~no inconsciente pois a gramática da pul são é feita d e significantes recalcados, como vimos anteriormente, os Vors telungr eprezen tan z. Se a pulsão fosse apenas silenciosa _ vertente que foi formulada por Freud como pulsão de morte - e não se inscrevesse no significante, jamais uma lista das pul sões poderia ter sido declinada. A pulsão é uma d emanda inconsciente que imp lica o corpo, os orifícios do corpo, daí ser um conc eito que se encontra no lim it e entre o
estruturalmente à demanda intransitiva, que no fundo é uma deman da de amor. Amar, verbo intransitivo, como nos ensina Mário de An d rade. Demandar idem. A dem anda é inc ondicional, não tra zendo_llenhuma possibilidade de negociação, nem admitindo condição algutEa; e tamp ouco wmporta um ob·et2L..como_é o ca so d~ ne~ss@a~ ~demanda poderia se formular pela frase "me dá", com toda a co notação impositiva que essa fórmula implica. Ela incide sobre outra coisa pa ra além da sati sfação que pede ou, at é mesmo, exige. É demanda de pres ença ou de ausên cia, como podemos verificar na r elação prim ordial do sujeito com a mãe, pois esta, no lugar do Outro, tem o pri vilégio de sat isf azer as necessidades e também de privar delas a criança . A demanda que a criança faz ao Ou tro materno se situa no nív el daq uilo que o Out ro não t em, isto é, do seu amor, na medida em que "amar é dar o que não se tem" , segundo a definição de Lacan. Quando a mãe dá aquilo que tem , aquilo qu e pode oferecer, não se trata de uma prova de amor. &demandas c:.0nstantes da criança que aparecem, por exempl ?..' !.la rua pedindo à mãe, "me dá isso, me dá aquilo", na verdad~ s-i~ demandas impÕ:;síveÍs de se satisfa zer, pois quando ela rece be o que pedi u já ped e '(;útra e mais outra e out ra ainda,
físico e o mental, o corpo e o in consciente No grafo do des ejo de Lacan, encontramos dois' lu ares o n e figur a a demanda. No primeiro patamar, a própria cadeia de significantes situa a ~ a a como uma demanda ender~ç!da ao O _uE:..0(A). No segundo, correspondente à cadeia inconsciente, encontramos a pulsão ($ O D) C9mo demanda incon~cie~. O desejo se situa entr e as duas formulações, para al ém e para aquém da demanda. A não res posta à demanda (em A) fa z a parecer a dimensão do de sejo (Che vuoí?) implicando a "regressão" a significantes das demandas (passagem para o segundo patamar) nas quais houve fixação. É a aus ência de re sp'0sta do analista ocupando o lugar do Outro que permite abrir a qu estão do desejo e a passagem ao nível do inconsciente pulsional. (A ~ $ O D). O desejo passando pela pul são vai ter co mo primeira resposta o significante da inscrição da falta no Outro, S(~. ~~da do sujeito se co nstitui, portanto, a partir da demanda ao Utro ~ da aema noa do Outro, aq uele que é responsável pelo fato de a pulsão oral passar à pulsão anal havendo inscrição no i nconsciente sob a
or ue trata -se efetivame~te de demanda de .ªmo! por..2.nd.e..çirc1J,la_odesejo [ como desejo e outr~isa. Como a demanda do sujeito se constitui através da de manda do Outro? As chamadas fases de desenvolvimento, como a s fases pré-genitais e a fase genital, se ordenam conforme a dialética da demanda de am or e da prova de desejo. Não há r elação natural de engendramento de uma fase na ou tra dentro de um circuito instintivo. A passagem da pulsão oral à pulsão anal só se dá pela intervenção da demanda do Outro. Não se trata, portan to, de um processo de mat uração libidinal, mas da r elação do sujeito com a
Vors telungreprezentanz. Essa demanda do éOutr o é vai incondicional dela se vê ass ujeitado. O desejo o que permitir aoe °forsumajeitoda diante ~eito destacar-se, desligar-se do O utro; ele derruba o incondicional da ~emanda do O utro - o desejo é portanto uma defesa co ntra demanda do Outr? Que demanda é essa? A de que o s ujeito lhe dê o com plemento q ue lh~ falta, o fa lo, pois o neurótico acha que o O utro demanda sua castração. ~ lll .trodução do significa nte da lei no Out ro pe la operação do Nome-do-Pai SIgnIfica que a criança não é aqui lo que pode ria preencher o Outro, isto é, que a criança não é o co mplemento do O utro. Do se u lado, por não poder
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dar aquilo que ele tem, o sujeito d á aquilo que não tem, isto é, o se u amor; por não poder vir ocupar esse lugar que a mãe lhe demanda (lugar do fal o), a criança lhe dá o seu amor . Na análise, não s e trata de saber o que o sujeito demanda, mas SUa relação com a dem anda inconsciente do Outro, sendo que o desejo, p or ser vinc ulado à lei, é aquilo pelo qu al o sujeito se situa em relação a ela, podendo inclusive dizer-lhe não. O d esejo se apóia n a lei que o co nstitui e com a qual está estruturalmente associado para derrubar o in condicional da demanda do Ou tro, co locando-se, para o sujeito , como condição absoluta. Diante da demanda do Outro, repr esentada no inconscient<:.Eela-pulsão, o ue a ve m ara o s uoeito é a castr ação. Lacan chega a identificar essa posição do sujeito em r elação à d emanda inconsciente com a posição incestuosa, o suj eito devendo escolher entre a demanda e o desejo, ou seja, entre ser o objeto incestuoso e ter o seu próprio sexo. Ele tem de escolh er entre o se r e o ter: ser o falo ou entr ar na dialética do t er ou não ter . Para não dar aquilo que ele tem (o falo), ele dá o que não t em: o seu amor. O sujeito tende portanto a dar como r esposta o signif icante da falta no Outr o, promovendo assim su a saída da submi ssão à demanda do Outr o, o que corresponde à passagem no graf o: [$ O D] ~ [S(A)] . Para o su'eito neurótico sua demanda tem uma r elação com a falta n o Outro, porque o Outro só demanda porque al o lh e falta. O neurótico identifica a fa lta no Outro, simbolizada por aqui lo que escapa à simbolização (a), à sua própria demanda, substituindo, portanto, a fantasia ($ O a) pela pulsão ($ O D). A dem anda e o d ese'o com ortam uma dialétic a que se manifesta na relação de amo r e na r elação sexual. --Na relação amoro sa, seja do casal ou entre pais e filhos, a tentativa de satisfação da necessida de tenta preen cher a falta contida na demanda de amor desconsiderando que aí existe um sujeito. E este aca ba por reagir, seja com uma atitud e de rechaço, seja f azendo greve para fazer valer o desejo. o caso do fi lho qu e pede aos pais que não lhe tragam mais presentes, da t,esposa qu e impede o marido de lhe dar aquilo que mais gosta (co mo a bela açougueira), ou da anoréxica que f az greve para manter a fa lta constitutiva do desejo e mostrar que sua fome não é de comida e sim de amor. Recusando a resposta fisiológica à demanda, a a noréxica faz existir o obje to a, irrepresentável por qu alquer alimento, vazio contornado pela pulsão oral: ela come nada.
Não de vemos acr editar q~e haja uma estrutura única qu e se poderia qu alificar como demanda de análise. O sujeito vem ao a nalista com uma dem anda bem precisa :elativa a se u sofrimento, sobre o qual o saber que po ssui é insuficiente. E com a of erta ue o analista cria a e a n a - ou' gnifu;.a que o de sei-o do analista está aí desde o início - e se pro põe a-.9cupar o lu ar de endere am ento das demandas do su'eito isto é colocar-se no lu ar inicialmente do Ou tr o do am or, qu e é também o Outro do saber. O indivíduo que chega ao analista dirig e sua demanda ao saber a poiada numa questão: o que eu tenho? O que e stá acontecendo comigo? O q ue isto quer dizer? !}demanda em análise é uma d emanda ue se dirige ao s u'eito suposto saber. Não se trat a de_uma emaMa de anilis.e.,~· demandas de sentido, ....de arar,-de interpretação - que são estr uturalmente, com vi illQs, todas y
emandas
Sabemos como dar pres entes é demandar am or, como no exemplo clássico de Freud em que dar as feze s tem o significado de presentear: a criança as oferece à mãe para obter seu amo r . Dar é demandar. Na análise, o amor é um aR elo ao s aber, na med ida em ue a dem anda é dirigida ao sujeito suposto saber. Sujeito suposto saber o quê? Trata-se de ~5er InConsCiente, decerto, 'mas trata-se particularmente de Ilm saber sobre o desejQ inconsciente, sobre o obj .<:.t..2-ue causa esse dese·o. O su jeito ~uposto saber é o próp rio suporte da t r ansferência na medida mesmo em que ele é idên tico ao a mor. A transferência é o am or se endere ando ao saber, pois a ma-se aq uek e..!!1~uem.§e supõ e um saber. 9 analista é investido dessa suposição pela transferência, _mas não pode res ponder daí. Desprezar esse-Iügãr o sujeito suposto saber é uma forma de não r esRonder~demanda de amor. Ao ocu á-Io e respondendo a partir. çiele o ana lista Y..emsituar-se como dete:Etor do t esouro de sign ificantes, o lugar ~Out~para_o sujei to. Esse lugar tem toda a dimensão dã õnipotência, não devido ao fa to d e o analista ser onipo tente mas p elo fato d e ele e star no lugar do tesouro de significantes (em A), ou sej a, de ser suposto possuir todos os significantes apropriados a responder à questão do sujeito. O analista barrando o saber suposto sobre o inconsciente do sujeito (ilusão que o pró pr io dispositivo analítico confere) realiza a operação de barrar o Outro como t esouro do signi ficante aí inscrevendo a falta: A. Pois, se a análise é uma experiência de signi ficação, não c abe ao analista trazer significados e sim fa zer val er o desejo como efeito de significação através dos lances do sujeito. Essa o era ção, ue imE !.ica em desprezar a p osição do su'eito sUQ.ostosaber, o ana lista a efetua para que apareçaa-cfiffiensão da falta correlativa ao des ejo e para que a análise progrida da d emanda dirigida ao analista à de~~nda inconsciente, escrita da pulsão. Outra m aneira de não responder à demanda é se fazer agar , receber seus hon orários.11
eç ada a
algo apenas s uposto. Ele o apr eende como pergunta: "Ela está me dizendo isso, me pedindo _~r~ fazer a uil o, mas, afinal da s c t s, o que ela qu ?" -- V partir do dese'o do Ou tro a bre-se ara o su"eito a dimensão do seu dese"o. O su'eito vai constituir e.nrão.,-as....s.u.as.J:.eS.p-QSta s...obreo $te é o desej~o Outro. Trata-se de s aber q!:!.al_.L9desejo çio_Outro em relação a e le: será que o Ou tro me q uer, não me q uer? Quer ele a minha mor te, qu;:-;;:-minha vida? Será que o Ou tro me quer do sex o que eu sou ou gos taria que eu fosse do outro sexo? É a artir daí que o su"eito vai constituir o seu dese"o, ou seja, a partir do _desejs>JW Outro -_como "~PJeq ueres?" (Che vu ..!}í? ). E. a dimensão a questão que deve ser int roduzida quando o sujeito chega ao analista com sua s demand~ Cabe ao analista fazer s~rgir o desej9 como u estão, o ue el e fa z a oiando-se no desejo do Outro do sujeito a partir da transferência. Se em
-- p
Fr o d esejo um ãomovimento, o dese apreud eendido comoé definido q uestão. como A dimens do desejo,emna Lacan verdade, é jo umaé dimensão interrogativa, em m ovimento e não as sertiva ou conclusiva. O que é da ordem da asserção é ta nto a res posta do sujeito à questão do de sejo, como a própria demanda. O suj eito vem à análise com uma demanda que se a rese nta em s ua dimensão im erativa; ~ quando se estabele~ ~ transferênci~e~ ~p~rece, escamoteada ou não~ como exigência amorosa. O desejo, ao se aRre sentar ~2mo pergunta, faz-surgi~par;- ~~j~ito algo que _ o f,:-z ue stionar-se ois o dese'o é um eni ma. É fun ão o analis ta abrir essa dimensão do desejo - o ue não é na da evidente ois o s uieito, pe1o_efeito.do r.kÇ-ª.lquenão quer sab~ de s e u deselo. Dimensão que s urge, por exemplo, quando o analisante se pe rgunta sobre o que o ana lista quis dizer ou por que interrompeu a sessão naq uele momento determinado:J) desejo do Glltro sur e na aná lise, pela via da transferência, como interrogação sobre o dese jo _do analista, como veremos a seguir. Lacan chega a pro por como se formulariam o desejo h istérico e o desejo obsessivo. Se, na histeria, a q uestão paradigmática é "sou homem ou sou mulher?", na obsessão é "estou vivo ou não?". Trata-se, em a mbas as neuroses, da maneira como o sujeito se si tua entre dois significantes (5 l-52) fazendo surgir o des ejo como questão. Pois o desejo se e ncontra articulado à divisão subjetiva - divisão entre ho mem e mulher, e ntre vivo ou mo rto - e m SUasmúltiplas versões. Como o sujeito responde à questão do desejo? Vejamos o grafo do d esejo que pode ser lid o como o grafo da direção do tratamento, pois aí encontramos o percurso que o sujeita faz em sua própria an álise. Destaquemos três vetares: a cadeia significante, que corres-
ponde à fala do sujeito: s(A) ~ A; a ca deia sig nificante do inconsciente: ($ O D) ~ S(A ); e o v etor que faz a vo lta toda e co rta os dois primeiros que é o vet or do dese jo a par tir d e $. Isso se dá em termos simultâneos, não numa cronologia, mas numa simultaneidade. Todos os maternas do lado direito são da ordem do c ódigo; e o s da esquerda, da ordem da mensagem. Vou consid erar estes últimos como as respostas do sujeito ao desejo do Outro.
Castração
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no eu, no sintoma e o nível dos ideais se dão por acréscimo, pois constituem um efeito do de ciframento do in consciente. O ato analítico, com a não res osta à demanda de sentido que o suj eito ~om seu sintoma, abre uma brecha no Outr o, e a guestão o desejo aparece no âmbito da pulsão relacionado aoS-.sigo i6can.tes da demanda que vão ser d ecifrados na h.istória do su'eit . A pul são é um código pessoal do sujeito na m edida de sua alienação ao Outro. A pulsão está articulada com o Outro e se apresenta para o sujeito como uma alteridade que toma a forma da uma dem anda do Outro, demanda imperativa, superegóica. Pois a demanda do Outro é articulada a um a figuta do Supereu, e o s ujeito é ameaçado por ela - ele vive perigo samente a sua pulsão - e m virtude de sua conseqüência ser a ca stração. É devido à pulsão, com sua exigência de satisfação, que o Outro demanda sua castraç ão.
f:o endere ar a su ~ala ao a nalista no lugar do A, o sL!:)e Jtotransfere aguilo q llf é para ele Q significado do OlJ1Lo s All, ou seja, se u sintoma. Pela não resposta do analista, é possível ir para o patamar superior e não
A resposta do sujeito ao eni gma do desejo, qu e lhe advém como mensagem que ele recebe do Outro , se declina em cin co mat ernas - 5(A .), $ O a, s(A), m, I(A) - , na ordem d e sua determinação simbólica. Todo final de análise deve chegar ao S(A). É por i sso que o sujeito deve atravessar e romper o pl ano das identificações, (I(A)), ir para além do eu e do plano imaginário (m-i(a)), abrir mão d o sentido do seu sintoma (s(A)) e atr avessar a fantasia ($ O a) para poder chegar a esse ponto de não resposta absoluta do Outro. Esses são os patamares subjetivos a atravessar na análise. A definição do q u e vem no lugar de S(A ) varia a ca da etapa do ensino de Lacan. Em ''A direção do tra tamento", ele chama esse significante de falo. Como significante que vem tamp ar o fur o do Outro podemos identificá-Ia ao f alo, que é o s ignificante de suplência que vem suprir a fa lta do Outro: ~/A . O S(A ) que vemos nas fórmulas da sexuação não é o fa lo mas se r efere ao Outr o gozo, não limit ado pelo falo. Ele é o ú nico materna de Lacan que mostra que o Outro é barrado. Os outros ma ternas e m que temos a letra A, esta não se e ncontra barrada, significando que há um significado dado ao Ou tr o (s(A)) como se ele existisse, e também o traço que vai representar o Outr o para o sujeito, constituindo o tr aço uná rio do idea l do
ficar circulando no cir cuito abaixo, que é, pr opriamente falando, o c ircuito imaginário, do sentido, da consciência, do eu do sujeito. Nesse circuito de baixo ve mos formalizada a articulação entre o si ntoma (s(A)) e o e u (m). O sintoma se manif esta no eu: na histeria, no corpo; na neurose o bsessiva, nos pensamentos conscientes. As psicoterapias atuam nesse ci rcuito trabalhando sobre o ego o s ignificado do sintoma e reforçando os i deais (I(A)). Já a psicanálise modifica essas instâncias atuando não so bre eles dir etamente, e sim sobre suas determinações inconscientes. As modificações que ocorrem
eu (I(A)). Com o materna S(A), Lacan indi ca que há algo que não faz limite, que é ab erto e que, no fim d as contas, nada vai tampar esse furo apomado pela barr a. Em outros termos, nada pode significantizar todo o gozo, pois este sempr e excede à simbolização. S( A.) também corresponde a um furo do Outro significante, sendo portanto correlativo ao gozo. Ao se ar r cas tração do-.gozü.,-Lac;an apGnt
Outro quer sua cas tração, o que faz Lac an comparar a mãe a um gr ande crocodilo de boca aberta. Fazer-se devorar pelo Outro é uma representação superegóica da pulsão oral. Para a pulsão anal, essa representação pode aparecer clinicamente como fazer-se ejetar como uma merda do Out ro Eis duas figuras da cast ração articuladas à demanda do Outro, contra ~ qual se insurge o s ujeito desejante. Na fantasia - como res posta ao "Que queres?" do desejo - t rata-se da relação do sujeito com o objeto que, ca usando o d esejo, o divide ($ O a). Mas esse objeto é o sta tus do suj eito como objeto do Out ro. A fant asia fundamental e as fa ntasias masturbatórias imaginárias transformam o gozo em gozo ao a lcance da mão, utilizável para se relacionar sexua lmente com o. outro. O sintoma é a r esposta como significado ao q ue retoma ao sujeito vmdo do O utro [s(A) ), como desenvolveremos adiante. Se a fa ntasia vem en.q~adrar a r~sposta em uma cena do d esejo, o sintoma significa par a o sUjeito o desejO do Outro. Significação enigmática, articulada em sign ificantes, que ca be ao sujei to decifrar. N.essasérie de respostas temo s finalmente os ideais que o sujeito con stitui para SI- casar, ter filhos, se r engenheiro, advogado, s er rico, ser inteligente, ser c~rtês etc ... São t raços significantes vindos do Outro materno ou pat erno (ou amda o utro) que ele vai a preender como veiculando o d esejo do Outro, constituindo assim seus ideais. O desejo está sempre vinculado à identificação simbólica constituída pela instância do Id eal do eu, que na verdade é o Ideal do O utro [(I(A)]. Esses níveis de r esposta, que o suj eito d á à questão sobre o desejo , serão desdobra~os na ~~ópri a análise. A não resposta à demanda é o que pode fazer surgir O sUjeito do desejo e suas respostas. Por outr o lado, é não se assujeitando à demanda do Outro que o sujeito se a firma como desejante, po.d~ndo então se defrontar com a f alta do Outro [S(A)]. A partir disso, o sUjeito poderá depreender a sua fantasia, que, na verdade, é sua janela para o mund o: a fantasia recorta a realidade para o mundo fazendo-o se situar
desafiando o pai que a ob rigava a comer. O que mos tra o funcionamento linguageir~ do. inconsciente. co~ sua química silábica e a passagem da demanda, Impltcada na queixa, a demanda do O utro vinculada à pulsão oral. Comparando-se com sua irm ã, di z que, por s ua vez, se mpre comia tudo, "limpava o prato", nunca t endo coragem de dizer ao pai esse "como se quiser". E continua: "a té hoje eu como com moderação a penas o suficiente para estar satisfeita sem excesso". E ass ocia imediatamente a sua impossibilidade de dirigir carr o, tendo sido várias vezes reprovada no exame de direção, pois anda d evagar demais ou corre demais, mostrando o deslocamento do e xcesso da co mida p ara a direção incontrolável do carro, qu e é um sintoma que e xtrai sua f orça pul sional da demanda oral (o "excesso"). A análise permitiu-lhe fazer um curso de direção com o desejo decidido de passar: passar para além do pai.
aí para dos ideais. Umaalém analisante queixa-se durante uma sessão de sua dificuldade de entrar no jog o de más caras social, de fazer de conta, de calcular quando deve e pode dizer o q ue realmente pensa, em suma, de entrar no semblante próprio a qualquer relacionamento, principalmente institucional. "Eu não consigo fazer como se", diz ela. E eu int errompo a ses são. Na seguinte, ela me relata que, ao sa ir d ali, veio-lhe imediatamente a frase "como se quiser", que sua irmã anoréxica repetia durante as r efeições familiares
o sujeito
Encontramos, portanto, a oposição entre desejo e demanda reatualizada na pr ópria análise. O neurótic o, para não u erer saber sobre caus.a...~~ dese'o, tende a confundir o ob 'eto com a demanda. A demanda de amor para o neurótico é algo absolutamente essencial e nem é pr eciso ser a nalista p,?-radetectar isso. O ca rente é o r~tóti o d.9 neurótlco.-El.e está-s.emp.re sozinho, abandonado, procurando companhia~ esca moteando assim o ob jeto q~e propriamente causa se u desejo. É j~stamente contra o que o ana lista deve conduzir uma análise: na contramão da demanda. O ue romove a entrada em análise é a o posição entre a demanda- do analisante e o desejo ~ista, -;~ melhor, é o ato analítico em contraposição à transferência c9m sua d emanda de amor. O a nalista, ao levar a de manda à pulsão, não tem como d eixar de frus trar as demandas do analisante, o q ue dá o as pecto desagradável, desprazeroso, estritamente falando, de uma a nálise. O que é, digamos, compensado pela retomada do fio do desejo, do ga nho terapêutico, da conquista do saber e da redução do sintoma.
que vem a uma análise é como o ja gunço do conto F amíge rado , de Guimarães Rosa, já evocado no Preâmbulo: vem com uma demanda de saber, demanda imperativa: "... olhava interpelador, inrimativo." Quando essa demanda se expressa em uma p ergunta, surge o dese jo como interrogação: o que o mo ço do governo queri a com aquele dizer? O enigma do f amíg erado leva ao enigma sobre o desejo d o Outro expresso no f ami Lhas -gerado , que é de fato a pr ópria interpretação do desejo, pois o desejo, como diz Laca n, é
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sua int erpretação. Na estória, faltou o ana lista para deslocar a f unção do sujeito suposto saber para o s ujeito que perg untava pontuando-lhe a própr ia frase. A dimensão da demanda abre o regi stro do poder em aná lise em seu duplo sentido: o da potência, do poderio, ou se ja, do poder exer cido sobr e alguém, e também o sentido da potencialidade, da possibilidade, isto é, de poder responder a um apelo. A onipotência do Outro, ou seu poder em potência, é relativa à demanda do sujeito dirigida a um Outr o que tem; o Outro tem com o responder, ele tem para dar. O Outro-que-tem não é marcado pela falta, eis por que seu atributo é a o nipotência, cuja insígnia constitui O traço un ário do ideal do eu que é, de fato, sempre um traço Outro não barrado, I(A), ao qual o sujeito se a liena através da identificação para se ve r amável, digno de amor. A onipot ência nunca é, po is, um traço do sujeito e sim do Out r o. É justamente pelo fato de a onipotência ser do Outro, enquanto Outro que tem, que o su jeito instala aí sua demanda. No amor de transferência ( na verdade uma de manda de amor) o analista é chamado a encamar não apenas o suj e ito suposto saber mas também o sujeito suposto poder. O su'eito su osto saber é o e feito de significado da articulação significante, ou seja, produto da associaÇão livre desencadeada pelo enganche simbólico da transferência. E o suje ito suposto poder é um produto do amor - demarcado no senso c o m~m como a dependência do analista. O sujeito suposto saber decorre da atribuição ao Outro d e algo que vem tamponar sua falta, algo relativo ao sa ber tal como 5ócrates para Alcibíades, e o analista para o ana lisante. A fa lta do Outro é sup.ri.da-.peLoanalisante com o saber su osto. Assim, se ~ fa lta (aparente, pois está encoberta pela suposição de saber), o O utro aparece com os ouropéis da onipotência. A articulação entre o significante mestre (51) do poder, que o analisante atribui ao analista, e o s a ber (5 2), que a es te ele supõe, instaura o lugar do Outr o como bateria significante (51-52) na poltrona do analista como sítio de s aber e poder. histeria o su'eito situa o Outro cuill-o oder de res ponder e a imEotência em mandar. Na neurQse obsessivª, o U.lTO aparece co mo lugar do poder absolutista, ou s eja, de coma ndo da lei no supereu, mas é impossível que ele res ponda. Assim, a figura do Outro-que-tem como sujeito suposto poder aparece na histeria sob a forma do O utro que pode dar amor, sa ber, satisfação e, na neurose o bsessiva, so b a forma do Outro qu e detém o poder. Mas,-Oa verdade, co mo o Outro na neurose é barrado, a falta do poder do Outro retoma: na hi steria sob a forma da impotênga em comandar, pois
o mestre é castrado ara a histérica reinar ' na neurose o bsessiva so b a forma da im ossibilidade de ele responder ao a elo d~mor do suj eito-:,É nessa falha do p oder o Outro que se aloja o desejo do sujeito: a insa tisfação do desejo na histeria é relativa à impotência do poder do Outro assim como a impossibilidade do d esejo na neurose ob sessiva é e ncoberta pelo impossível da resposta ao apelo do suj eito. A topologia do toro é utilizada por Lacan no seminário so bre A iden tificação para demonstrar a articulação entre demanda e dese jo. Lacan justifica a utilização da topologia das superfícies propondo que apenas d uas dimensões são suficientes para definir o s ujeito. Não custa lembrar q ue as figuras topológicas só são mergulhadas em três dimens~es para facilitar a demonstração, pois elas não têm interior - o que mteressa são suas caraterísticas de superfície. Há uma riedade doa sujeito o toro demonstra: quando o sujeito d euprop apenas umaestrutural volta inteir ele deuque efetivamente duas, passàndo pelo círculo pleno e pelo círculo vazio do toro. Essa vo lta qu.e falta e~ sua conta fa z com qu e a subjetividade não possa ser apr.ee~~lda a ~a? ser passando pelo Outr o, como nos indica Lacan nesse se mmano. O sUjeito se enganou de um em sua conta; e ~e ~os en tão ,a p~recer ~ -1 (menos um) inconsciente em sua função const!tut!va do propno deseJO. Quando h ouver percorrido as vo ltas da demanda, representadas pelo círculo pleno, completado um circuito inteiro, ou seja, .retomado .ao ponto onde começou, o sujeito terá percorrido o círculo vaziO do desejO sem s e dar conta. É nesse vazio do desejo, no interior do círculo vazio (que nos apa rece como o interior do toro, mas que na verdade está em seu ex terior), que se encontra o objeto a.
"Sem se dar contà' significa não contar, deixar de co ntar. Dar-se co nta não significa o as pecto psicológico de apercepção o u insighte sim a.contagem. Dar conta de algo, o u de uma situação, é poder contar aí o ~e.seJo qu~ está em jogo, assim como o dar-se con ta é poder contar-se como s Ujeito deseJante.
Podemos citar um caso em que a m ãe, a pós uma p ergunta fundamental que seu filh o lhe fez, r espondeu: "Não é de sua conta." Na s essão segu inte, após relatar o fato, o m enino propõe ao analista contar para brincar de pique-esconde, versão do for t-da , ou se ja, uma encenação da metáfora pat erna e da questã? sobre o desej~ do Outro. Mas ele acaba não conseguindo contar, ~s~u)eltando-se a~ dlto do Out ro que nã o poss ibilita a contagem exploratona sobre o desejO como desejo do Outro. "Poder contar com o O utro" - eis o que a lmeja o ne urótico. Se eu conto para ele, ou seja , se eu não sou a volta pulada no d esejo do Out ro, eu posso co ntar com ele. O Ou tro com q u em o sujeito não po de contar é o Outro que falta - e fa lta justamente quando o s ujeito mais p recisa: na angústia, sinal que, por estrutura, o Outro f alta. Para não se depa rar com a falta estrutural do Outro o neurótico reclama, reiv!Qdica, exige gu e o Outro não lhe falte. O sujeito é sim bolizado por essa volta forçosamente não contada' o sujei.to. ~ esse menos-um que se encontra no fundamento lógico de t ~da pOSSibilidade de afirmação universal, ou seja, a exceção. Essa exceção, (-1), da volta não co ntada do dese jo nas voltas da demanda, aparece n~ clí~ica sob a égide da frustraçã , ou se ja, da imag inarização da falta cons tuutlva do .desejo. f .. frustração é o efeito...da....demandabarrada p or onde emerge o deseJO. Na relação t ransferencial, o sujeito, ao ser frustrado e~ sua demanda de amor, acha que não conta para o ana lista. Na ver são histérica, temos o " eu não conto para ele porque não s ou nada" e na versão obsessiva "eu não conto porque sou uma merda". Tanto na his~eria c omo na neurose obsessiva, o sujeito se manifesta como não contando, não contado. Mas. o que o neurótico r eivindica não é apenas ser levado em conta pelo an~lista no lugar do Outro , ele quer ser o pelo-menos-um: "não quero ser mais um , apenas mais um". Ele não quer que o ana lista deixe de levar em Conta a sua particularidade, ou seja , ele quer ser considerado não mais um , mas a. exceção. "Não quero ser mai s uma de seu galinheiro" - lançou-me,
Esta é a r epresentação topológica da clínica do desejo e da demanda que se verifica na análise. Lá onde poderia surgir o d esejo do Outro com
J
um esper dia, a.uma jovem histérica ao se deparar com outr as analisantes na sal a de , O sujeito se sente um-a-mais como resposta do seu um-a-menos, que e de e strutura, na expectativa de ser o pelo-menos-um a ter lugar no desejo do Outro. No neurótico, há um entrecruzamento do toro do sujeito (1) com o toro do Outr o (2), de tal maneira que lá onde está a demanda do sujeito se encontra o d esejo do Outro e lá onde está o desejo do sujeito está a demanda do Outro.
a emergência do objeto causa de desejo, o neurótico coloca sua demanda de amor (D/a), desejando a demanda do Outro. Assim o sujeito tr ansforma o Outro num solar de am or d esejando ser amado, mas em seu amor ele pede satisfação de seu desejo. Essa interconexão do d esejo e da demanda do sujeito e do Outro é, como diz Laca n, o que se e ncontra na origem da dependência nas relações do sujeito com o OutrO.12 A histérica, em sua estratégia, acentua a dem anda de a mor para escamotear o de sejo, fazendo então aparecer a demanda do ser . Ela pr ocura fazer-se de obj eto de amor: dando o que tem - fl ores, presentes, poesias - para não dar o qu e não tem , não o s eu amor m as a s ua castração, tudo menos isso. Provocando a f alta no Outro - recu sando-se a fa lar, f azendo-se de desentendida -, ela provoca elaboração do saber para mostrar a impotência do anali sta; armando peças para o analista cair. No cas o do ana lista homem, ela que saber se ele é macho e, no da an alista mulher, o quanto ela o é. Assim a hi stérica, para se faze r amar, dá, provoca, ~rma e fura. A estratégia do obse ssivo é ace ntuar a c livagem entre a demanda e o desejo d ando ênfase a o desejo - mas para mostrar as suas impossibilidades. Ele será um analisante aplicado em obter o amor do analista, anulando assim seu desejo; apela para as regras, a lei, o contrato etc. Ele tra nsfere seu amor ao analista para que este, co mo Outro do amor, escamoteie o que é o Outro para o obsessivo: um Outr o gozado r, sem lei, d itador. O neurótico obsessivo então banca o o bjeto do amor para não ser o bjeto de tirania. A dir e ão da análise vai no sentido de o analista contrariar essa manobra sfe.rêllC· u'eito, ue utiliza as dimensões simbólica e imaginária do amor, faz.endo-o defrolltar-se com o r eal em jog o no desejo. À demanda, o analista cala e deixa a desejar.
o "desejo do analista" é um conceito inventado por Lacan, que n ão encontramos em Freud, para designar o desejo que move a lguém em an álise - particularmente no período do final de análise - a tornar-se analista. Esse mesmo desejo é o instrumento com o qual o analisante que se torn ou analista vai operar, por s ua vez, na condução do tratamento ana lítico de seus analisantes. A emer ência do dese'o do analista em uma análise corresponde à passagem de a nalisante a analista, momento singulãr que acan nomeou de passe. E pa ra ave riguar esse desejo Lacan propôs um di spositivo do mesmo nome em sua famosa "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o Anali sta da Escolà'.13
É o desejo do analista que se e ncontra na base da éti ca da psicanálise, pois é o desejo correlato à ação do analista em sua clínica. "É somente a partir do ato p sicanalítico", diz Lacan n o "Discurso à EFP", "que é preciso situar o qu e articulo como desejo do analista."14 O paradigma do ato analítico é o próprio a to em que um analisante decide ser analista, ato portanto contemporâneo da emergê ncia, em uma análise, do desejo do analista. Este nada tem a ver com o dese'o de ser analista, ue ele diferencia muito claramente esse texto, ond e nos fornece uma definição preciosa: trata-se de um I~gar. O desejo do psicanalista é um lu gar do gu al - ser abandonado, ser ex ulso. O d-esejo do ana lista é um lugar ness e percurso, que , embora não seja artic ulável pelos significantes dessas dema ndas que o anal isante p~rcorre, se encontra articulado. O dese' o do analista é articulado ao " sens-i ssue da d.emanda", ou sej a, ao sem saída da demanda, pois não h á saída possível da ,iemanda q uando
se fala . Porém ao in vés de Lacan escrever "sem saí dà', sans-i ssue, ele -escreve sens-issue (no lu gar do sem ele co loca o sentido). Como podemos ler isso? O sens i ssue evoca, por um lado , o sem saída: a v ia psicanalisante da articulação dos infiniti vos da d emanda não tem saída para o dt;sejo do analista. O sem saída da de ma nda mostra que a saída pela via da demanda equivale à saída pelo sent ido, q ue não é uma sa ída para o desejo do analista. Não é a partir da saída pelo sentido que vamos encontrar o desejo do ana lista: isto é u m impasse pa ra ele. Po demos contrapor a demanda ao desejo do ana lista: a saída pelo sentido se contrapõe ao sentido da saída que é o dese jo do analista. Es te indica o sentido da saída do âmbito da demanda, sendo a porta de saíd a do domínio do Ou tro da demanda, que é a saí da do âmbito do sentido. . A úni ca saída da demanda de ser analista é o desejo do analista. Qual o s en s, o sentido do desejo do analista? C'est l'issue . É a saída. Saída no :'não penso" do ato analítico. O sem saída dos in~nitivos da demanda tem uma solução que é promovida pelo desejo do analista: trazer de v~lt.a a demanda à ulsão, fazer va ler o real em jogo na emanda, faze.!.....Q.2-uJelt~ passa.L..do ju o dos sig nificantes da demanC:fa para o âmbito ulsional. O 1m asse ~a demanda é esve a o c omo o i mpossíve~al: esse é o topoS do desejO do nalista, ~aída do sentido. -D-dese' o an;lista ~ncontra na saída do sentido no ercurso das emandas ou seja, ele e I~ oss lve de ser emandado e m~ito m~nos de ser satisfeito. "A demanda do neurótico", diz Lacan mais adiante amaa no "Discurso àEFP", " dá o po nto em que o desejo do analista não é articulável .." Há portanto uma diferença es trutural entre o desejo d~ a na!ista e o ~eseJo de ser analista. Este equivale à demanda de uma qua lificaçao profiSSIOnal, não sendo portanto diferente da dem anda do neurótico - qu.e é dema~da de amor demanda de reconhecimento. A o posição ent re o desejO do ana lista e a dem'anda infinitiva corresponde à oposição en tre o ato ana lítico. e .: a via psicanalisante. Uma das grandes aporias do ato analítico é que o sUj eito na análise ao fazer o decifr amento do seu i nconsciente, não desemboca necessariam~nte no ato analítico, no ato em que há decisão de s er analista. O ato analítico é atópico em relação à via a nalisante do decifram ento incon.sciente. Sua lógica s e articula com essa via, mas não é a mesm a. O de_seJ~ do analista encontra-se em escansão, corte, ruptur a, hiância em relaçao a cadeia sig nificante. Para avançarmos, devemos dif erenciar "desejo do analista" e " desejo inconsciente" .
º
desejo inco nsciente~articulado à lei: "a lei e o desejo recalcado-.São uma única e mes ma coisà'. 15 Articulado à significação fálica produzida pela metáfora paterna ele é desejo articulado pelo Édip o. É o d esejo do in ocente que vem à análise e q ue não se acova rda diante da perspectiva de destituição subjetiva, pois seg ue unicamente a "lei do seu dese jo", como diz L acan na "Proposição".16 Desejo a rticulado à lei inscrita no O utro1- ele é desej o do OJ 1 JY o.
G
a[ ~ desejo ávido de significantes [aita-a-set
(
>]
desejo de um a causa: a causa analítica
O desejo do analista não é eq uivalente à le i, não é e dipianamente constituído, situãllifo-se para-além do Édipo, para-além da lei. Ele é art iculado à "significação de um amor sem limites, pois está fo ra dos limit es da lei, somente onde ele pode viver.17 QJiese' o do ana lista não é desejo d o OutrqLPois advém do encontro com a não consistência do Outro, sendo correlativo à ausência do Outro. É ur u_desejo sem Outro: ele vem n o lugar
O dese' O inconsciente s e ar:.lli::ulaco.rn..a-dem.an4a,..(;i.l:cula nos.-s.i-gnifl.cantes da demand~ O desejo do analista está para-além da demanda. O desejo de ser analista é uma demanda de ser , de ser nomeado por um sig nifi cante do Outro que se articula com o desejo inconsciente vinculado aos id eais do
do desampar O desejoo. inconsciente é articulado a um -ª-~estão (Che vuoi ?) e ~ustenta o pe1afamasia que constitui a princi pal resposta do sujeito à uestão do d ese' o. Resposta articulada pelas coordenadas simbólicas do Outro cuja via analisante cabe de cifrar para, a partir delas, construir a frase da fantasia fundamental. Enquanto o des eio inconsciente é lima er unta, o desejo do ana lista é uma res os t;. É uma res osta do analisante ao se m-saída da -;;ia da de manda, uma res osta à a usência de ;esposta do Outro, uma r es p-~sta ao desampar~ -O desejo do analista é um desejo para-além da fanta sia, CJ.!!enão se stemã e m na a: e e é lugar vazio qge o ana li~ta dere.ce ao a nalisante~ uma vaga para ue aí assa se i~sç ,alar o de ejo do a nalisante como desejo ~o Outro. Ele é co mo uma vaga de gar agem. O desejo do ana lista é a vaga onde o bonde chamado desejo do analisante pode estacionar pelo tempo necessário de uma análise. .9 desejo inconsciente-L-metonímico - é metonímia. da_falta-a-ser É o ue Lacan chama dese' ouro] ue.i desejo de nada , de na da que s eja palpável pelo significante ou pelo imaginário. O desejo do ana lista não é um desejo puro, efe é a rticulado à causa - ao o bjeto causa de desejo qu e se fez causa analítica para o ana lisante que disso fez ato . Eis por que ele é desejo de obter a pura diferença a ser pr oduzida por out ro sujeito. A pureza não es tá mais no desejo, mas na difere nça que esse desejo visa obter em su a radicalidade. Não é necessário que em toda análise ocorra o adv ento da causa analítica co mo destino da causa de desejo. É contingente. A equivalência do desejo do ana lista ao pró prio ato ana lítico assi nala essa virada do desejo inconsciente ao dese jo do analista, virada da ca usa de desejo à ca usa analítica.
sujeito [I(A)]. O dese' o do an alista não é articulá eLà-demanda do-neurótico, iJnédito. O d esejo de ser analista, que condiciona a demanda de análise para fins de formação, é equivalente à demanda do neurótico que "condiciona o ponto profi ssional, a comédia social com que a figura do an alista é forjada". A "Proposição so bre o psicanalista da Escola" pretende incidir n essa demanda, modificando-a. O desejo do analista não se int erpreta. O desejo de ser analista, sim, ele se interpreta, se anãlisa, e podemos inclusive dizer qu e talvez esse desejo de ser analista não desapareça completamente no final da análise, a pesar de ele não se confundir com o desejo do analista. Todos o s ideais de saparecem com a análise? Não; inclusive o desejo de ser analista, que é da ord em da demanda, talvez não desapareça. O desejo de ser analista atrapalha muito o desejo do analista, e ele pode vir justamente fazer irrupção na comunidade dos analistas lá onde o desejo do analista falha, ou seja, quando aparece a demanda de reconhecimento d esse "se r analistà', o u então no narcisismo da solidão que se presentifica nas f iguras mais obscenas que e le pode r evestir. O "eu sozinho dou conta", f ruto do narcisismo da pequena diferença, é a transformação do sentimento da exclusão, que se fu ndamenta no objeto a, na enfatuação imaginária contrafóbica. Lacan nos dá a lgumas referências do desejo do a nalista como operador de uma análise. No Seminário 11, ele nos in dica que, "se a transferência é o que da pulsão desvia a dema nda, o dese jo do ana lista é aquilo que a traz ali de vo ltà'.18 O dese'o do ana lista ~e a demanda do s .0eito à sua vertente pulsional, pois a tra nsferência, como amor q ue demanda amor, :.scamoteia a rea lidade sexual do inconsc iente ao s ubsumir o o bjeto a pelo
want-to-be
Demanda e desejo
refere ao desejo de s --, aber que se distingue ta nt o da ClenClaquanto . I' ' ~ ad'CIVIIzaçao. T rata-se d' e um 1d deseJo por um lad o vinculado a um sa er me ltob'epor 'd' desvmcu outro a o tan to ,.'da ci ência que rac fo UIl' o sUJeito, , . quanto od ' d d 'ISCurSO o mestre, ou sep, da lei que con stitui ~ propnamente , IVIIa c' '1' zaçao d lta. do desejo do analista ao deseJ'o de saber é uma' t ~ " A redução ,,, ~ Inerpretaçao aemepelsta , que nao., encontramos no te xto de L acan Q ue o de seJo ' do " ana IIsta sep um desejO eplstemlco e uma mdlCação qu e encontr "N . l' " amos na ota I~alana , mas ele não ,se define só p elo saber e sim pel o ato . O desejo do analIsta, como falta, equiva le ao não-saber que enquadra o sab er sobre ~a p~IslOnanorn:arizã o em si nif icantes, O dôê~;n-;rma ~guivale topologlcamente ao furo no incon sciente definido como rede de saber, Mas essa relação de não saber co~ ~ saber não é suficie~t~ por defini-l o. -~ o "Di scurso à EFP", Lacan apont ~que nã :; há d~s~jo do analista sem ato e n~ "Nota italiana" ele acrescenta ainda outro atributo que o caracteriza, o entusIasmo . O desejo do anali sta não é um des ejo trist e, conformado com a falta, não é -a r~signação do~ conformista,_apesar de ,ser um _des~jQ gge assume a a ta cO,moconsentimento à _caitraçãQ, Trata-s<;:,,_antesde um des~j9 ue en: 01 a, aOlma, vertendo afeto para ~ â..!llbitodo saQ..e!:.9ueele enguaclra, co_n,fenndo-Ih~a conotação de um saber alegre - gaio saber (que em francês deSIgna a poesia dos trovadores). Trata-se de um entusiasmo que se diferencia do desejo de milit ância, de expa nsionismo ou de conquista territorial. O desejo de saber impli cado no dese jo do analista não é um dese jo de querer saber. O dese'o a ui não é su' eito, e sim ob Eto do sa ber, ~i.o ~~a~terística do saber : trata-se de um saber que é desejante (52 -7d). O saber. está, com efeito; do lado da causa, como podemos ler no dis curso do analIsta: E um des ejo deri vado do sa ber que não há r elação A '
Ideal do eu, situa ndo o analista co!lliLÜu.tJ.'Í~-~amor.
/7 b
( .I(~) ). O, desejo
do analista vai contra a tapeação da transfeJ.'Íencla. O des ~Jo do analIsta é a verdadeira "contratransferência" (e não o e- ess.e..ter.m.O-se-.to.r.nou.no entido de efusões sent imentais do anal ista em r ela
JJ
Essas indicações { 90dem ser lida s no materna do
Na "Proposição", encontramos o desejo do analista definido como um enigma, uma incógnita, um (x) equivalente à, enunciação do anal ist a, que se pode encontrar no estil o de cada ana listal E a partir dessa incógnit a que o analisante qualifica seu ser como (-cp ) ou (í'l). E na "Nota italiana", temos a afi rmação de Lacan de que só ex iste ana ista se o dese jo, rejeitado p ela humanidade, lhe advém,2ü Eis por que e e, o analista, é rebotalho da humanidade. O analista não está do la do do jhumano, pois o saber vinc ulado a seu desejo está para além do humano . É o ~aber sobre a Coisa, ela pr ópria r. .'- cksumana, sabe!, sobre o objeto a, que c ;nst~t~l sua esgraça e também sua graça, O passe no interior de uma análi se corr dPonde ao advento desse desejo, que é um desejo de saber para além do hurr llanismo das boa s intenções, do desejo de aju dar o pró ximo, de tra tar ou Je cuidar, Trata-se pois d e um desejo para além do desejo sanandi, do qual Freud acons elha os anali stas a se precaverem. Esse desejo tem a mar ca de uma escol ha : marca do desejo correlativo ao saber que vai no sent ido con rário à civilização. , Trata-se da marca de um desejo inédito ( Em relação a quê? Ao desejo mconsciente e ao saber já constituído, Lacan l í'lnça um desafio a ser verificado: é preciso que surja esse desejo inédito pa ia fazer (co n stituir) o analista, Lacan não utiliza na "Nota italiana" o sin agma desejo do analist a, ele se
115
A"
"
'
[ ;2 ~ ] ,
sexual, que não há o Out ro do Out ro, que não há o ato do at o,
Capítulo
As vertentes
V
do sintoma
Descobri aos J 3 anos que o qu e m e dava praze r na s leituras náo era a beleza das frases, mas a doença delas. Eu pensava que fosse um su jeito escaleno. - Gostar de f izer defiitos na . frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fiz u m limpamento em meus receios. O Padre filou ainda: Manoel, isso náo é doença, pode muito que vo cê carregue para o r esto da vida um certo gosto por nadas. Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Nos capítulos sintomas
precedentes
evidenciando
e de realização sintoma. sintoma
foram evocados,
sobretudo
do d esejo,
pois a descoberta
Afinal, essa descoberta em qu e a psicanálise
e analisados
do inc onsciente
visa em primeiro
e, portanto, do sofriment o
na medida
descritos
diversos
seu aspecto de formação do inconsciente
do humano
passa pelo
lugar o tratamento
do
p elo discurso do an alista,
como pr áxis do in consciente
não é um
mero exercício epistemológico. A descoberta determinação
do inconsciente
significante
De Freud até hoje, se o " invólucro a época acompanhando hoje não apresentam
é a descoberta
do sintoma
formal do sintomà']
os desenvolvimentos os mesmos
da origem
que estão inscritas
sintomas
sexual e da
no inconsciente.
tem variado segundo
da ciência -
as
histéricas de
que as histéricas de Charcot
-,
Sua estrutura é a mesma. E por mai s que se tente encobri-Ia, com os manuais
(DSM e
de diagnóstico
invadem o m ercado,
em)
e com os inúmeros
a descoberta
psicanalítica
medicamentos
do sintoma
que hoje
não pode mais
ser desconsiderada. Encontramos que comporta
no ensino de Lacan um d eslocamento
mudanças
bastante acentuadas
da teoria do sintoma
em sua abordagem.
Não que 117
uma teorização anule a outra. Como se trata de um ensino, assim com o a obra de Fr eud, ele pode ser con siderado um work in progress em que as teorizações sucessivas não se excluem (como a segunda tópica de Freud não invalida a primeira) - elas sã o, antes, mudanças de perspectiva. Assim, vemos a mudança de abordagem do sintoma-verdade à vari(e)dade do sintoma, do sintoma metáfora ao real do go zo do sintoma, do sintoma parasita ao sintom a como quarto nó (como a arte em Jam es Joyce) que amarra os três registros RSI, até finalmente considerar o sintoma como o modo como cada um goza de seu inconsciente. Neste capítulo, est udaremos, além do qu e já foi evocado at é aqui, algumas dessas vertentes do si ntoma, sem pret ender esgotá-Ias, partindo de sua conce pção da medicina à psicanálise.
Michel Foucault, em O nascimento da c línica, descreve o nascimento da medicina, da qual a clínica psicanalítica é, de cer ta forma, d erivada, ou melhor, a psicanálise tanto deriva quanto rompe co m a clínica médica, sobretudo no que diz respeito ao sintoma. A abordagem do sintoma por Foucault é uma aborda gem estruturalista, o que significa que sua r eferência é a linguagem, a qual para os estruturalistas cor responde à própria es trutura.2 Ele parte de uma análise lingüística do sintoma, definindo-o de início como um significante cujo significado é a doença . "O sintoma - daí s eu lugar de d estaque - é a forma como se apr esenta a do ença: de tudo que é visível, ele é o qu e está ma is próximo do essencial; ele é a tr anscrição primeira da inacessível natureza da doença. Tosse, febre, dor lateral, dificuldade para respirar não são a pró pr ia pleurisia, mas permitem um estado patológico. Os sintomas deixam transparecer a fi gura invariável, um pou co em recato, visível e invisível, da doença."3 A doença como algo da órbita do invisív el é tornada transparente pelo sintoma. Assim os sintomas deixam transparecer algo inaparente que é necessariamente um e s tado patológico determinado. O sintoma é portanto um f en ômeno que, por d efinição, se o põe ao estado de saúde. Na clínica médica, o significado do sintoma como significante é se mpre patológico. ~
S
Patologia
s
. Por ~utro lado o sintoma médico se vincula sempre a outros sintomas cUJo conjunto define a doença. Na sua articulação significante com o utros sintomas ele "faz" a doença. A tosse (5) se ar ticula com febre (5'), dor lateral (S") e dificuld ade de respirar (5"'), e essa ca deia significante de sintomas (n) tem n ecessariamente um significado: a doença pleurisia. L:n
doença
Para que haja essa re lação entre o sintoma e a doen ça, ou seja, o estabelecimento de relação do significante com o significado, é necessária a intervenção de um ato que será efetuado pelo olhar médico. Est e transforma o sintoma em um significante que significa imediatamente a do ença como sua verdade, fa zendo assim do sintoma um sinal, um signo mórbido. Eis a operação clínica fundamental. O sintoma e m medicina é um signo (ou sinal) no se ntido de Pierce para quem o signo (signe) é aquilo que representa alguma coisa par a alguém. Seu exemplo mais típico é a fumaça, pois ond e h á fumaça há fo go. Uma fumaça no horizonte é um sinal (signo) de que há fogo, mas para q ue assim seja, é necessário alguém que esteja pr esente para estabelecer essa relação. O sintoma é signo na medida em que representa a doença para o médico. A apuração do si ntoma em medicina se vincula portanto ao método clínico historicamente datado constituído pela emergência do o lhar do médico nesse campo dos sintomas. A operação médica consiste em transformar "o sintoma em elemento significante e q ue significa, precisamente, a doença como verdade imediata do sintoma". Fazer do sintoma um sinal da verdade tornou-se um id eal da medicina: "Para um médico cujos co nhecimentos sejam levados ao mais alto grau de perfeição, todos os sintomas poderiam se tornar si gnos." Como para a med i cina, também para a psicanálise o sintoma é um significante, porém não com significado patológico. É também um sinal, mas não o sinal de uma doe nça. O sintoma como significante para a psicanálise tem um significado sexual, e, como sinal, o sintoma é um sin al do sujeito. O sintoma é a fumaça e o fogo é o sujeito. O ato médico constitui o sa ber através do olhar clínico, da composição do quadro clínico em sua minuciosa descrição, fazendo do visível o enunciado da doença. Ele aproxima assim o ver e o saber, o visível e o enunciável, tendo como r esultado a produção da verdade da patologia. Essa clínica visual cede pou co a pouco o lugar a uma clínica ordenada pela anatomia patológica na era de Bichat. Encontrou-se então, como descreve Bichat, "um funda-
mento enfim obj etivo, real e indubitável de uma d escrição das doenças: uma nosografia fundada na afecção dos órgãos será necessariamente invariável". Para a psicanálise, o s intoma não remete a uma doença que tenha algum substrato anatomopatológico, ou seja, não remete a um significado gener alizável nem a um significado patológico. Assim, o significado do sintoma tosse de um sujeito, por exemplo, é diferente do que é a tosse para outro sujeito. O sintoma para psicanálise não revela a ve rdade de uma doença orgânica, o que não quer dizer que não r evele uma verdade: trata-se da verdade do sujeito do inconsciente. O q u e Freud d escobre na análise das histéricas é qu e o sintoma se forma como os processos, ditos normais, do sonho, do chiste e dos lapsos, porq ue têm exa tamente a mesma est rutura. O que faz com qu e se romp a aí a barreir a entre o normal e o patológico. Assim, o significado de um sintoma para a psicanálise não é a patologia. sintoma, para sójeito podeque ser écon siderado por ser rOeferir ao patho s, aa psicanálise, pai xão do su paixão sintopatológico matizada pelo sexo, pois o s entido de todo si ntoma é sexual. Por out ro lado, há um path os como padecimento do s ujeito, já que ele padece da est rutura da linguagem. O sujeito padece da linguagem e do sexo, e o sintoma revela ess e du plo padecimento, pois é tecido de linguagem e é a forma de satisfação sexual do neurótico. É surpreendente Freud afirmar que um sintoma como uma tosse, uma paralisia, ou uma idé ia parasitária obsessiva, é uma maneira de gozar do neurótico. O sintoma, por rem eter em ú ltima instância a uma modalidade de gozo , é um destino pulsional que a anál ise, como d ecifração do inconsciente, desvela. Daí a pai xão pelo sintoma. O sintoma da afonia de Do ra mostra uma satisfação oral ao fantasiar o pai nesse t ipo de r elação s exual com s ua amante, a Sra. K , em qu em ela adorava seu próprio enigma de ser mulher. Essa fantasia, que é o significado sexual do sintoma, é propriamente falando patológico, na medida em que o sujeito está padecendo do sexo e tenta, com essa respo sta si ntomática, responder à interrogação do desejo que se apr esenta como desejo do outro. O sintoma na m edicina tem r elação com a estatística desde a constituição de sua clínica. Toda vez q ue se e ncontrava uma pessoa que tinha um sintoma e morria, fazia-se uma autópsia e d escobria-se uma lesão, estabelecendo-se assim a relação entre sintoma e doença. Com iss o registrava-se o caso, que entrava na est atística. A psicanálise romp e com a questão da estatística, pois nenhum caso é igual ao outr o, o que faz Freud recomendar que em cada análise é tod a a psicanálise que deve ser refeita, um cas o não se rvindo de modelo para o outro. O fat o d e o método estatístico ser totalmente alheio à psicanálise faz com que s e questione muito a psican álise a partir do modelo científico: "como voc ês não têm nenhum m étodo estatístico para comprovar
a veracidade e efi~áci.a d a atuação do psicanalista?" Ora, a psicanálise demo~s~ra que o .sIgm ficado de cad a sintoma é se mpre particular, sendo neces,sano constrUir um saber novo pa ra dar co nta daquele sintoma - o que e efe tuado a ca da vez e m uma aná lise. Será possível encontrar o mesmo s intoma neurótico em várias pessoas? Só a partir da identificação histérica. É o que Freud descreve na Psico logia da s massas no caso da jovem q ue, morando num p ensionato, recebe uma carta de rompimento do namorado e tem um ataque histérico. Daí a pouco várias jovens pensionistas apresentam também um ataque. Ocorre uma espécie de contágio do sintoma a partir da identificação, pelo desejo das jovens que t ambém querem t er um nam o rado que lhes enviem cartas. O sintoma histérico mostra o d esejo de desejo, desvela o que é desejar um desejo pela via da id entificação. Ao faz erem o mesmo tipo de sintoma da colega, que efetivamente recebeu a carta, é como se elas também tivessem uma relação com um hom em, mesmo sendo uma r elação epistolar. Qual a verdade desse sintoma? Não é a doença; trata-se da verdade do suj eito como um ser sexuado, como ver emos adiante. O que d á autoridade à medicina para se fazer passar como uma ciência e isso cada vez mais hoj e em dia - são a s provas, em particular, as provas anatomopatológicas, químicas e neuronais. Encontra-se cada vez mais aparelhos para comprovar essa r elação do sintoma com a doença e, cada vez mais, se vêem pílul as para a potência, hormônios para os sintomas subjetivos do climatério, remédios contra a de pressão etc. que tentam fazer passar aquilo que é do âmbito psíquico para o protótipo médico de relação do sintoma com a doença. A cognominada doença depressiva passou a designar, nesses últimos anos, o e stado de tristeza, de desânimo, ou até mesmo de mau hum or como um efeito d o aumento ou diminui ção de neurormônios. Por outro lado, a me dicina, aliando a ciência ao capi talismo, cria também novos sintomas, como descrevemos no adendo deste capítulo. Assistimos ao desenvolvimento da medicina tentando encontrar cada vez m ais provas científicas para estabelecer essa r elação na qual o sintoma remete a um significado único, generalizável, universal do qu al se teria sua fórmula - sua fórmula do real. É o que confere cientificidade à medicina, onde vamos encontrar o real da ciência do lado do sintoma: desde a prova de anatomia patológica até a f órmula matemática. Mas, na pr ópria medicina, sabemos que isto nem sempre é encontrado, muito menos na psiquiatria. Há algo no corpo que resiste a ser totalmente apreendido pela ciência, pois o corp o não está desvinculado do inconsciente e d a pulsão e s eu re al não corresponde ao real da ciência.
Freud, de certa forma, tentou ir atrás do rea l der radeiro que comprovasse a veracidade do sintoma, inicialmente dentro do ideal de ci ência. Sua prova, porém, não era a autópsia, e sim a p rova do ttauma que s e encontra na origem causal dos sintomas. No caso do "Homem dos Lobos", Freu d chegou até a encontrar o dia e a hora exa ta em que o sujeito teria se c onfrontado com a cas tração e com a diferença dos sexos. B uscava, portanto, encontrar o ponto traumático do sujeito em uma cena que ele r ealmente tivesse vivido, a qual seria a base rea l do sintoma. Ora, o trauma, co mo um real vivido, foi na psicanálise o equivalente analógico da autópsia na medicina, em que era desvelado o r eal da d oença. Mas enquanto a ciência foraclui o su jeito, a psicanálise faz valer o sujeito no sintoma, co nsiderando ele mesmo como uma manifestação subjetiva. Freud veio a con cluir que só era possível inf erir ou supor esse trauma,
Ao interpreta,r ~sse sintoma como algo da ordem orgânica, ele tende a procurar ~m mediCO, m~s caso int erprete como algo de uma verdade desconheCida que o. questlona e d a qual ele gostaria de sa ber, ele pode vir a p~ocu~a: um anahsta. Nesse. caso, s eu sintoma tem algo da ve rdade que a pSlcanahse pode resgatar. O slOtoma apar ece, então, como um monumento da verdade que o sujeito deve decifrar. Vimos no caso de Jean-Louis a verificação na clínica do sintoma (no caso, um ato sintomático) como "retorno da verdade em uma falha de um saber", no qua l a verdade do sujeito dividido em relação ao outr o sexo retomava nas situações em que corria risco de v ida, evidenciando assim a falha do saber médico. A abordagem do sintoma pela via da verdade do sujeito, tal como a psicanálise propõe, se opõe a uma clínica da ciência que objetiva o sintoma para produ zir mais uma fórmula que receba o V da verdade e da vitór ia no
o que o fez passar da t eoria universal do trauma à teoria da f antasia part icular que se encontra n a base do sintoma. Essas cenas, por serem da ordem da fantasia, nem por i sso deixam de ser traumáticas, pois fazem parte da realidade psíquica do sujeito. Freud abandonou a bu sca de um real histórico que pudesse realmente mostrar a o rigem do sint oma sem, no entanto, recuar diante de um outr o real, sempre traumático, que é a cas tração para amb os os sex os. Por outro lado, dentro do ideal cientificista da sua época, ele manteve a es perança de que, quem sabe um di a, as c iências iriam descobrir uma base, um substrato anatomofisiológico de um real orgânico para as teorias que estava desenvolvendo. Para além d essa es perança, Freud de fato abandonou seu projeto cientificista, conservando para a psicanálise tanto a exigência de transmissibilidade própria da ciência quanto a referência ao real dentro da sua teoria do sintoma.
pr colonização do reapenas al p eloem simbólico. a verd ade doocesso suje itodepor se interessar form alizarA ciência objetos. foraclui Ela tr ansformou a verdade em uma letra (v) que não só permite a constituição de "tabelas de verdade" dos conectores lógicos, como também a multiplicação de objetos fabricados, como objetos de verdade, "latusas",4 que se apresentam a nós como candidatos a objetos do d esejo. Na ciência, a verdade não é só objetividade; trata-se da verdade formalizada. Mas esquece-se, como lembra Heidegger em "AJétheia", que a subjetividade faz parte de tod a a ob jetividade.5 É no registro da verdade do sujeito e da subjetivação da ver dade que se situa a ética q ue se vincula à clínica psicanalítica na abordagem do sintoma. O "sintoma", diz Lacan, "é o s ignificante de um significado recaIcado da con sciência do sujeito. Símbolo escrito na areia da carne e no véu de Maia, ele participa da linguagem pela ambigüidade semântica que já sublinhamos em sua constituição".6 O sintoma-símbolo indica sua constituição metafórica como, por exemplo, a balança é o s ímbolo da justiça desde os antigos egípcios. O sintoma é um símbolo da verdade do sujeito que não é indelével, pois está escrito na "areia da car ne", sendo portanto movediço. Para lê-Io é, no entanto, necessário saber ler na areia, pois ele está à vista e
Se o sintoma para a psicanálise não é a v erdade da doença, co mo na medicina, nem por i sso ele deixa de falar a verdade: o sintoma fala a ver dade do sujeito. Eis uma grande dif erença da interpretação da verdade do sintoma. O sintoma faz so frer, ele é co mo uma barreira na estrada, que você es barra e não consegue ultrapassar; é o q ue faz co m que as co isas não funcionem. O sintoma é o lugar d o sofrimento que proporciona satisfação sexual para o neurótico sem que ele o saiba. É um lugar que contém uma verdade par a o sujeito, e, dependendo da interpretação que ele lhe der, procurará um médico ou um a n alista, ou ainda um padre ou um p ai-de-santo.
não ent errado. Assim como também não es tá sob, mas sobre o véu de Maia. Essa e xpressão é utilizada por Schopenhauer (a partir do deus hind u Maia que repr esenta a ilusão) para designar o m undo fenomênico das aparências e das p ercepções que, para ele, seg uindo uma tradição filosófica iniciada por Pl atão, se s itua em o posição ao mundo escondido que seria o v erdadeiro, o mund o em si. O sintoma escrito no v éu de Maia está na cara, mas a su a verdade é esc amoteada na medida em que sua constituição utiliza a pro priedade de equivocidade do signi ficante.
Mas de que verdade se tra ta ? Em "Sobre a essê ncia da verdade'',? Heidegger começa critic ando a definição da verdade como uma adequação da coisa ao conhecime nto. Será que a verdade é conhecermos uma coi sa? E, ao con hecer essa coisa, vamos depree nder sua verdade? A verdade de um a proposição sobre a coisa é fu ndada na verdade da coisa? Heidegger questiona a relação entre a proposição sobre a cois a e a própr ia coisa. O que permi te afirmar que essa re lação é verdadeira e sem ambig üidade? A formulação que afirma que a pro posição corresponde exatamente à coisa decorre da fé cri stã e da idéia teológica segundo as quais a s coisas e m sua essência e existên cia correspondem a uma idéia pr eviamente concebida. Mas concebida por quem? Pelo inte llec tus div inus, isto é, pelo espírito de Deus. '' Assim, elas (as coi sas como criaturas singulares) concordam com a idé ia e co m ela se conformam, sendo nesse sentido 'verdadeiras'." Deus seria e ntão o garante da relação do conhecimento a coisa. Trata-se, portanto,Mas des abemos uma verdade garantida por um Outro com que esta beleceria esta r elação. com Lacan que "o verdadeiro só depende de minha enunciação, não é interno à proposição",8 e ta~pouéo existe esse O utro que da ria gar antias de qualquer coisa que seja. A conce pção da verdade que ref letiria a cor relação entre a proposição e a coisa, Heidegger opõe uma definição da ve r dade a pa rtir da própria etimologia da palavra alé theia (verdade) que é com posta do "à' privativo e " let eia" que vem de lét e, velamento, ocultação. A tradução da verdade como não-velamento ou d esvelamento mostra q ue a verdade contém tanto o desvelamento quanto o velamento. Em outros termos, a verdade é velamento e sua negação. Em seu texto ''Alétheià', Heidegger a tr aduz por não ocultamento, que é o "traço fundamental do que já apareceu e deixou atrás de si o ocu ltamento". Partindo do com entário de fr agmentos de Her áclito, ele se detém no fra gmento 123 - que assim traduz: "O emergir (fora d o esconder-se) favorece o esconder-se", para acentuar que o esconder-se apraz ao desvelar-se e qu e a emergência como desvelamento de si mesmo conserva o esconder-se: é o esconder-se que garante seu ser ao desvelar-se. Heidegger chega à conclusão, nesse texto, que o "desvelamento não somente não exclui jamais o ve lamento, mas n ecessita deste para mostrar (dép loyer) seu ser tal como é, o u sej a, como des-velamento".9 Em "Sobre a essê ncia da ver dade" podemos ler: "a ex-sistência do homem historial começa naquele momento em que o primeiro pensador é tocado pelo desvelamento do ente e se pergunta o que é o ente . Nessa pergunta, o ente é pela primeira vez e xperimentado como desvelamento". Com efeit o, verificamos na clínica que a pergunta "O que sou ?", a que chega o suj eito em análise -, até mesmo ao iniciar uma análise - se dá na dimensão d a verdade em se u jo go de desvelament%cultamento. ''A verdade é o desve-
lamento do ente graças ao qual se rea liza uma abertura." Mas o desvelamento total é da ordem do in concebível, do indisponível, pois o "ve lamento recusa o desvelamento à alétheià'. E, a través do ve lamento como não desvelamento, Heidegger aproxima a verdade da nã o -verdade, ou seja, da mentira, que pertence portanto à essência da verdade. E o qu e se e ncontra na origem não é a ve rdade, mas o velamento do ente em sua to talidade, "não-verdade srcinal " que é "mais antiga do que toda revelação de tal ou tal ente". Essa não-v erd ad e or iginal é correlata do prot on p seud os (primeira mentira), evocada por Fr eud no "Projeto" ao descrever a psicopatologia como a base do sintoma histérico e que a ssinala a incompatibilidade do sexo com a linguagem. O velamento é dissimulado. A dissimulação do que e stá velado constitui, segundo Heidegger, o m ist é rio que não só faz pa rte da verdade, mas domina o S'ef-aí (D ase in) do homem . Esse mistério, porém, é pa ssível de esquecimento, apesar de não ser eliminado por ele. Esquece-se que há alg o vela,do, pois o velamento está dissimulad o. Na clínica, a emergência desse mistério, ao qua l Heidegger se refere, corresponde à suspensão de seu esquecimento, que propicia a abertura à interrogação e ao enigma do de sejo que leva ao deciframen'to do inconsciente. Heidegger encontra essas características da Aléth eia no Logos , que ele acaba identificando à própria verdade como des-velamento. Eis o qu e podemos ler em seu artigo "Logos": "O desvelamento é a A léth eia . Esta e o Lo gos são a mesma coisa. O Legein (o dizer) deixa o não-escondido estender-se diante, como não-escondido. Todo des ve lamento extrai a cois a presente do ocultamento. O desvelamento necessita o o c ultamento. A A- Iet heia repousa na Lethé (velamento), nela bebe, coloca adiante o qu e por ela é mantido retraído. O L ogos é nele mesmo simultaneamente desvelamento e velamento. Ele é A lé thei a."1O Podemos aqui justapor no dizer de Lacan que a "linguagem do homem, esse instrumento de s ua mentira, é atravessado inteiramente pelo problema de sua verdade". 11 A concepção heideggeriana de Laca n faz a ver dade falar pela boc a de Freud em "A coisa freudiana". "Sou para vós o enigma daquela que se esquiva tão log o aparece, homens que tanto consentis em d issimular sob os ouropéis de vossas c onveniências."12 A verdade do inconsciente é tri butária da linguagem, pois a descoberta do inconsciente (es truturado como uma linguagem) é a descoberta da verdade que está em jogo nos so nhos, nos lapsos, nos chistes e nos sintomas e que não d eixa, no entanto, de continuar encoberta. O umbigo do sonho é um do s nomes do encobrimento estrutural da verdade, que é devido em últi ma instância ao recalque originário. A verdade é não-toda.
Mas a verdade, ela mesma, pode ser d esvelada, o que n o entanto não é nem e spontâneo, nem intuitivo, sendo n ecessária a elaboração de um saber para apreendê-Ia. "O efeito de verdade, que se desvela no incon sciente e no sintoma, exige do saber uma di sciplina inf lexível para seguir seu contorno, pois es se contorno vai no sen tido i nverso ao de intui ções muito cômodas para sua segurança."13 Diferentemente do co nhecimento, que se situa no plano do imaginário e im plica o desconhecimento e o não-reconhecimento (duas acepções do termo méconnai ssan ce), o sabe r da psicanálise se situa no registro simbólico e implica conceitos e maternas, elaboração e consttução. O que está bem distante do conhecimento intuitivo, perceptivo, imaginário. No "Seminário sobre A ca rta roubada" Lacan opõe dois métodos para se r esolver o enigma policial do lugar em que se enco ntra a carta-letra qu e voou, desapareceu, se furtou (lettre volé e). Um deles é o dos po liciais - o método da exat id ão -, que con siste em um es quadrinhamento do esp aço, o qual é transformado em seu objeto de busca. Eles não deixam escapar nenhum oco, nenhuma fresta dos móveis, do assoalho, das encadernações dos livros. Situando-se no âmbito da part e extra partes, do espaço car tesiano (a res extensa complementar à r es cogit ans), eles procuram por toda par te e não a e ncontram em parte a lguma. E, no entanto, lá está a ca rta pe ndurada entre outras, na borda da lareira do gabinete do ministro; à vista de to dos, porém dissimulada, maquiada, travestida. Os policiais a vêem, mas n ão a apreendem devido à sua "imbecilidade realista", como Lac an qualifica a subjetividade q ue corr esponde a es se método.14 Oposto à exatidão, Dupin se situa no r egistro da verdade e, sem n ada vasculhar, apreende a carta e a toma do ministro. Ele a depreende ao estudar as circunstâncias do fur to e a subjetividade do mini stro, que se encontrava tocado por um traço d e feminização que transparece no sobrescrito m odificado da carta em questão. A ca rta com odor di f emina, com outro sinete e outro lacre, estava na cara, porém escondida não aos olhos d e Dupin, e sim aos olhos dos policias cegos pelo realismo da e xatidão. Trata-se da mesma carta qu e não é mais a mesma, mas não deixa de sê- lo. Ela está ausente mas não deixa de estar presente. O que lhe confere seu ser de presença na ausência que é a propri edade do sig nificante com a qual a verdade comunga: Lago s e A lé theia estão no registro do velamento, desvelamento. Mas para apreender o enigma da verdade é necessário tomar o que se diz ao p é d a letra e seguir a dis ciplina do significante. Dupin desvela o que estava velado (onde se e ncontra a ca rta), mas o conteúdo da carta continua velado, a carta não se diz toda. Ao tom armos essa indicação par a o sintoma, podemos dizer que o sintoma manifesta um a verdade que está na cara, apesar de v elada, mas ao ser desvelada jamais é
inteiramente apr eendida. Aliás, é isso que proporciona uma das grandes frustrações da análise: quando a ver dade passa de seu status d'o sem 1-d'Izer . aos. ditos ela continua sem ser total mente apreen d'd '1' que d' a contornam, . I a. A pSlcana ur Ise o se1 " e Iverge assim d e qualquer método iniciático IglOSOque preten d a a uma revelação final. A radical idade da não-resposta à demanda - daí a f rustração - imp lica no fato. de que , no fim das co ntas, não se tem acesso int eiramente à verdade. O a.na1Jsta não desv ela inteiramente a verdade do sintoma não porque esta estep. r~calcada, mas por ser impossível dizer toda a v erdade. A imp otência do sUjeito em conhecer sua verdade e, por conseguinte, a verdade do sintoma revela-se no final como impossibilidade estrutural imanente à questão da verdade. Por mais que o su jeito diga - e d iga bem - sua v erdade, a estrutura permanece a mesma, ou seja, da ordem do semi -dizer da verdade. A inter pretação analítica, como arma contra o sintoma deve ter essa m esma estrutura, só podendo portanto ser semi-dita. A éti~a da psican álise' no registro sintomal pode assim ser r esumida: passar do semi -dizer do sintoma ao bem-dizer o sintoma, como de senvolveremos adiante. A verdade do si ntoma é correlativa à própria estrutura do inconsciente, ou seja, por mai s que ele seja dito (decifração do sintoma), algo dele permanecerá na ordem do não-dito. O recalqu e primário é uma f ace da verdade do sintoma, compreendido como velamento-desvelamento. A mentira é uma d as faces do velamento, por conseguinte outra cara da própria verdade. A seguir, veremos que o sintoma também pode mentir. . A verd ade tributária do inconsciente, que vagabundeia no c ampo da lmguagem e se desloca furtiva n a fala, tem a estrutura desvelada no chiste da Cracóvia comentado por Freud. Diz um passageiro para seu conhecido ao se encontrar na estação de trem: "Por qu e mentes para mim di zendo-me que vais à Cracóvia para que eu creia que estás indo a Lemberg quando, na realidade, é à Cracóvia que vais?". A verdade nos f ornece sua pista lá mesmo onde ela nos despista. Isso é notável na marca da indiferença do sintoma histérico, quando é justamente aí que o sujeito manifesta sua diferença: no real do sexo, lá ond e o gozo se mostra implicado em sua verdade. O "efeito de verdade culmina num velamento irr edutível em que se marca a prim azia do significante, e sa bemos pela doutrina freudiana que nenhum r eal participa mais dele do que o sexo".15A primazia do significante sobre o significado - que faz a sig nificação se mpre recuar, e que constitui a equivocidade estrutural da linguagem - marca na própria fala a irredutibilidade do véu da verdade. Por outro lado, ao vincular Heidegger a Fr eud,
Lacan aponta a articulação da verdade linguageira com o real do sex o, o que podemos figurar utilizando os círculos de Euler : a verdade se encontr a na interseção entre o simbólico e o real, onde podemos situar O padecimento do sujeito do sexo e da lingu agem. Este padeci me nto Freud o nomeou d e castração (e p ).
Tomemos como exemplo uma das idéias obsessivas do Ho mem dos Ratos, distinta da principal, que é aquela relativa à dívida relacionada ao suplício dos ratos infligido à dama e ao pai. Essa outra idéia se formula n a seguinte frase: "Se eu v ir uma mulher nua , meu pai morre ." Ela te m a característica da id éia obsessiva de fazer o sujeito querer e não querer, desejar e anular seu desejo, pois este vem acoplado a uma sanção , expressando assim a divisão do sujeito. Pod emos fazer dessa frase-sintoma uma equação ao desdobrá-Ia em dua s proposições e ligá-Ias co m o con ector lógico da implicação: Ver uma mu lher nua Meu pai morre - y [x ~
A castração, diante da q ual o sujeito se divide, é um elemento universal para o ser fa lante, fonte da ver dade sobre a qual e le não quer na da saber. O sujeito, indica-nos Lacan, t ransfere o nada-de (o pas) do nada-de -pên is (o pas-de-pénis) - que é a verdade da cast ração com a qual ele se defront a ao descobrir o O utro sexo - para o saber, o que resu lta num nada-de-sab er (pas-de-savoir) sobre a verdade da cast ração.16 Essa negação do sa ber pode se declinar em recalque, desmentido e foraclusão, como as negações estruturais à verdade da castração. Aquilo que é da or dem da angústia, relativa à castração, se transforma num problema epistemológico, ou seja , relativo ao saber, ou melhor ai nda, ao não-s aber. definição positiva e sim J A verdade do s ujeito como castração não é uma uma definição em negativo, que pode ríamos desdobrar a pa r tir de um a declinação desse" nada-de". Ele incide na r elação e ntre os sexos, sign ificando que não há relação sex ual: nada de complementaridade entre os sexos. N ad a d e se encontrar o parceiro ideal, nada de garantia da integridade do pênis , nada de completude do go zo, nada de tudo saber etc. Trata-se do nada-d e que indica o ponto de fal ta pr óprio à verdade do suje ito, ponte qu e corresponde ao irredutível do ve lamento. É verdade que existe uma fa lta no Outro como um un iverso de linguagem: S(A), o que nos leva a concl uir que não há universo. No imaginário, o ponto da verdade do s ujeito corresponde ao materna (- e p ), ou seja, a evocação da falta par a o sujeito que se ex pressa como angústia de ca s tração para o homem e penisneid para a mulher. S paltung é o nome, para o sujeito, de se u ponto da verdade. Como esse ponto da verdade se manifesta no sintoma?
x
y]
Na decomposição desse sintoma, vemos a articulação do desejo com a lei manifestando então aquilo que ele deseja como uma proibição. Trata-se de uma lei que proí be aquele desejo e ao mesmo tempo o sustenta, poi s o desejo e a lei não estão desvinculados no neurótico, sendo uma só c oisa. Ao de sejar, o suj eito encontra uma figura da castraç ão - a morte incidindo numa pessoa qu erida, no ca so o pai . Essa articulação do d esejo com a lei, e sua san ção de castração, verifica a verd ade do sintoma : o sintoma-castração. Nesse sintoma do Ho mem dos R atos, depreendemos claramente a própria estrutura do complexo de Édipo. A o substituir, nessa frase do sintoma , mulher por mãe encontramos exatamente a ficção edipi ana de matar o pai e go zar da mãe. Vemos aí a articulação da angústia com o desejo, que faz com qu e o sujeito, particularmente o sujeito obsessivo, util ize o recurso da anul ação em relação ao se u próprio desejo, evidenciando a verdade de sua divi são. Na histeria, a divisão do suj eito é mais evidenciada, pois incide, classicamente, no corpo - como no caso descrito por Freud do ataque histérico, que é outro exe mplo de manifestação da verdade-castração. Trata-se de um a mulher qu e em pleno ataque histérico levanta a sa ia com uma mão e com a outra a a baixa, representando simultaneamente o homem (que está assediando-a sexualmente) e ela mesma se defendendo. Nesse sintoma agudo, que é o a taque histérico, aparece a divisão do s ujeito que deseja aqu ilo contra o qual ele se defe nde, manifestando aí a ver dade do sujeito. A pr ópria definição do suj eito implica essa divisão (homem e mu lher, agressor e agredido, sedutor e seduzido) expressa no si ntoma. A divisão do s ujeito é incurável, pois nada mais é do que o co rr elato da castração. O sujeito é castração. Eis o pon to de verdade presente em to do sintoma.
A descoberta freudiana é a descoberta do poder da verdade das formações do inconsciente. Trata-se de um poder que se o põe ao poder do comando, ao poder do SI, do Um d o imperativo; é o poder da hiância atrelado à f alta e que se manifesta n a divisão subjetiva. Esse é o poder do sintoma que desafia o saber da ci ência.
De que maneira a v erdade do sintoma se manifesta para o s ujeito? Como uma mensagem cifrada do Outr o cujo significado ele deve decifrar. O sintoma, por ser d e tecido linguageiro, ao ser decifrado, desvela sua relação com os significantes srcinári os do Outro (aqueles que constituíram o Outro do desejo par a o sujeito, pai, mãe, a vô e qua lquer outra pessoa importante na cons tituição de seu de sejo como desejo do Outro). O qu e Lacan n os aponta com sua te se "o incon sciente estr uturado como um a linguagem" é menos a importância daqueles que ocuparam esse lugar do qu e aquilo que eles di sseram, os significantes que constituem o sintoma do sujeito. Daí o sintoma ser um monum ento histórico, um marco da história do sujeito ele é uma mensagem histórica da alienação do sujeito aos s ignificantes do Outro. Um analis ante tinha como idéia o bsessiva o medo de morte de um parente próximo. Quando alguém de sua família viajava, fosse filho, esposa ou mesmo alguém próximo, ele tinha medo de que essa pessoa morresse. A morte desse ent e querido não lhe saía da cabeça, insistindo de m odo compulsivo. No decifr amento desse s intoma, foi desvelado que seu pai vivia dizendo repetidamente "que morra", durante sua infância. Ele dizia "morrà' praguejando em relação a qualquer pessoa, inclusive em relação ao filh o, que é o analisante em questão, que interpretava essa interjeição de rai va como um voto que ele tomava para si. Encontramos nesse sintoma o significado que ele dava a essa palavra do pai. O sintoma como uma mensagem doQuando Ou tro eraimplica os sdisser ignificantes do seu pai pai çomo umjar,nómas, de significação. pequeno, am-lhe que fora via na verdade, tinha id o para a guerra. Quando voltou tratou-o muito mal, com secura e seve ridade; provocando-lhe desejo da morte do pai, expresso no voto de que teria sido melhor que ele não tivesse vo ltado da viagem. Pensamento que foi r ecalcado e posteriormente, quando do desencadeamento da neurose, deslocado para a idéia obsessiva atual. Eis a mensagem do sintoma que articula os s ignificantes morte e viagem em relação a parente próximo. Seu sofrimento é derivado da culpa (sanção) pelo Wunsch da morte
dO'pa~. A. sanção é a expressão da ver dade do sujeito-castração dividido entre dOI~slgmficantes e dois desejos: vida e mo rte. Es te exe mplo demonstra que o sintoma-mensagem é um memorial do Outro é uma modalidade do sujeito fazer existir o O utro com seu sentido. ' O si,ntom~-mensagem faz o sujeito crer que o Outro n ão é barrado, ~ue ele e ~ p~l, por exe mplo, e não que se tr ata apenas de significantes. O Sintoma, slgmficado do Outro , s(A), confere portanto ao Outro um s entido sintomático (cf o g rafo do desej o). No sintoma, o sujeito recebe sua própria mensagem de forma invertida como que vinda do Outro (cujo discurso é o inconsciente) - daí a alteridad e do sintoma que o s u jeito experimenta.
Qual é o sentido do sintoma? Em primeiro lugar, ao considerar o sintQma como significante encontramos o seu correlato de significância (pela propriedade do s ignificante de antecipar a significação e precipitar o sentido) que é o significado, o que faz Lacan apr esentar o sintoma como metáfora -
.cuj~ f órmu~a, f (
:1 I S ~ S.
+ s já comentada anteriormente
mostra que
o slgmficado e um out )o slgmficante e que, por ser metafórico, o si ntoma apresenta um efeito d e sentido que atravessa a barra do recalque. Em suma, a primeira coisa a constatar é que o sintoma tem um sentido. E é isso que, ao ser constatado, leva alguém a procurar saber qual é o seu sentido. Esse sentido, no entanto, não é propriamente um sentido a priori, é o "sentido emergente que ele toma em um a análise".l? Em segundo lugar, como no caso do analisante que temia a m orte de parente próximo, o sentido do sintoma é o s e ntido que o sujeito atribui aos ditos do Outro, que ele interpreta como desejo do Outr o. Pois o sintoma, como vimos no capítulo anterior, é uma resposta ao Che vuoi? do Outro. Mas, na ver dade, o se ntido do sintoma, prossegue Lacan, é "o sentido do sig nificante que conota a relação do sujeito com o sign ificante". Um significante conotando a relação do sujeito com o significante pode ser a própria definição do sujeito do inconsciente, representado por um signifi· · fi lCante T SI --7 S 2. O sU.. cante para outro slgm jeito esta, con ecta do com a
cadeia significante através do sintoma considerado como um sig nificante. Essa def inição aponta a es trutura de l inguagem do inconsciente presente no sintoma, despatologiza-o e f az aparecer o sujeito como falta-a-ser: o sujeito nada mais é do que essa representação sintomática dentro da cadeia dos significantes.
Uma sen hora decide empreender uma análise por não conseguir viajar de avião - t emor que sempre sentiu e q ue ag ora a es tá incomodando por tê-Ia feito perd er várias oportunidades de viajar e conhecer ourros lugares fora do Br asil como sempre desejou. Na análise, emerge o significante "sem saída" como denominador c omum d e várias situações nas quais sobrevém uma cri se de angú stia (ou um grande t emor antecipatório de sentir angú stia) em: elevadores, túneis, aviões e em sal as fechadas onde não se vê a saíd a. No deciframento desse s intoma, veio à luz que dur ante toda sua infância e juventude ela morou em uma rua sem saída até o mom ento d e sair de casa para casar, quando então sentiu grande dificuldade em se s eparar do pai , tendo a impressão de esta r só, abandonada e sem prote ção. S ensação que só piorou com a sit uação do marido irr esponsável e incapaz d e f azer barreira de proteção a seu desamparo. "Sem saíd a" é o s ignificante fóbico que delimita sua geograf ia desejante. Sua análise trouxe a lembrança da infância de u m a perigosa queda de um bar ranco num m omento em q ue estava sozinha. A articulação da cadeia significante "sem saída-pai-cair" trouxe a elucidação do sintoma: se r deixada cair p elo pai = encontrar-se e m uma situaç ão sem saída. Por o urro lado, paradoxalmente sem saída é uma form a d e retomar à casa paterna e à proteção do p ai. O significante do si ntoma é o que conot a a relação do sujeito com a cadeia significante de seu desejo. E sse exemplo mostra que o sintoma faz função do N om e-do-Pai, vindo suprir a carência paterna e sus tentando seu desejo como um desejo advertido. O sintoma adverte o sujei to com o semáforo vermelho de perigo qu e a angústia sinaliza. "O sentido do sintomà ' é o título de uma das Conferências introdurórias à psicanálise de Fr eud, na qu al ele associa esse s entido à "vida íntima d o sujeito", demostrando, como v eremos adi ante, que o sintoma é uma ma neira de gozar do sujeito. O que primeiro chama a atenção é que, para se ref erir ao se ntido do si ntoma, Freud não faz ap elo à hist eria, e sim à neur ose obsessiva em mulh er. Isto po r que o sintoma obsessivo evidencia mais a vertente de gozo do sintoma do qu e o sintoma histérico, o qua l evidencia mais o aspec to de formação do inconsci ente com seu significado de desejo, expressão da divisão do suj eito. O sintoma histérico es tá para o d esejo como o sintoma obsessivo está para ogozo . O sintoma histérico manifesta mais a insatisfação do d esejo, ao passo que o sintoma obsessivo é mais apropriado para salientar o gozo e se u impossível de suport ar. No materna do discurso histérico, Lacan, no seminário 17, identifica o próprio sujeito di vidido com o sintoma que, com seu desejo, provoca a elaboração de saber por parte do mestre. Podemos apreender essa distinção, em "Psiconeuroses de defesa", de 1889, onde Freud diferencia o primeiro encontro sexual na histeria e na neurose obsessiva. Na histeria trata-se de um en contro conotado com m enos de go zo, ou seja, mais p ara
o lado da fa lta'e do desejo; já na ne urose obsessiva es se encontro é marcado por um a-mais de gozo, um excesso de gozo . Eis por que nessa conferência introdutória so bre o se ntido dos sintomas, Fr eud de screve dois casos de neurose o bsessiva, dentre os quais destacamos um curioso ato compulsivo com valor de sintoma, para demonstrar o sentido de go zo do sintoma. Trata-se do caso de uma moça que em sua própria casa, quando estava em seu quart o, sa ía correndo para um quart o ao lado do seu e de repente voltava para seu quarto colocando-se na frente de uma mesa. Em seguida tocava a campainha e, quando vinha a empregada, dava-lhe uma ordem trivial qualquer e tornava a faz er todo esse circuito várias ~ezes. Freud considera esse comportamento um ato sintomático. Qual o sentido que ess a mulher dá a es te ato? Pela análise, revelou-se que esse a to significava a repetição da cena que havia ocorrido em s.ua noite, de. núpcias .. Qu~ndo se casou, ela e seu marido foram passar a noite de nupClas em dOiS comodos separados porém co ntíguos. Ela fi cava em um cômodo e o marido em ou tro, enquanto aguardava a chegada do marido p ara q ue ocorresse o q ue ela ansiava. Mas o marido nada consegue. Ele tenta uma vez, não consegue, e volta para o q uarto dele. Daí há pouco, ele volta p~ra o quarto del~ e t.enta de novo, mas sem sucesso. E a cena se r epete a nOite toda: o mando mdo e vindo e não co nseguindo nada, numa gr ande frustração para ambos. Eis a noite de núpcias. Na madrugada desse vaivém, o marido confessa t~r vergonha da empregada que no dia seg uinte far ia a cama e não encontrana manchas de sangue como prova de sua virilidade (a defloração da moça). Pega e ntão um tinteiro que havia no cômodo e ve rte a tinta no lençol para fingir que teria havido um a relação sex ual. Freud nota que ele aca ba faze~do a mancha de sangue no lugar errado, ou sej a, de uma certa forma o mando se desme nte, denunciando sua impotência. Neste ato sintomático, a paciente repete a ce na de sua noite de núpcias , porém no lugar do marido. Identificada com o marido por meio do sintoma ela fica correndo de um qu arto para outro. No ato sintomático, ela chama a empregada e se co loca dia nte da mesa num lu gar tal que a empr egada possa ver uma mancha que se e ncontra na to alh~ da mesa. E ~a faz a e.~preremeteaoà faz mancha fa~safeita pel? mando~ agada cenaverdaa mancha noite de que núpcias er ac reditar ter haVido relaçaocorngllld~ sexual, Ia onde não ocorreu. O sintoma é o me morial desse desencontro se xual, e o retorno da verdade de que não houve relação sexual, a manifestação da verdade da cast ração. Mas por ourr o lado o sintoma mente, por que faz crer que há relação s exual. Se, por um lado, o sintoma como retorno da v erdade aponta a castração Cn:emorial d,? desenco?tro s:xu~l), por o utro lado,. e~e mente ao fa z er acreditar que nao ho uve Impotencla da par te do ~and . Esse exe mplo paradigmático permite-nos generalizar e pr opor que o sintoma
vem suprir a relação sexual que não pode ser escrita na e strutura ~ . O sintoma ocupa, portanto, a fun ção de su pl ência da relação sex~ de complementaridade entre os sexos. Nesse sentido, podemos dizer com Lacan que o sintoma, como aparece nesse caso, é um p arceiro sexual do sujei to.18 O gozo, aí e ncontrado, não pode ser experimentado de o utra forma senão pela via ~intomática. Eis o se ntido (sens) do sintoma: é o s e ntido de go zo (jouissance). Podemos apreender o s e ntido do sintoma de pelo menos de duas maneuas: . 1. O sentido significante. Como no exem plo acima, o se ntido do at o sintomático da obsessiva f reudiana é a ce na da noite de núpcias: a pr imeira cena dá o se ntido à seg unda cena. Chamemos de 51 a noite de núpcias, de 52 o ato sintomático e ver ifiquemos como uma ce na se co necta com a outra produzindo o se ntido.
2. Em te rmos libidinais, o sentido do si ntoma é u m sentido de gozo (joui-sens). O sentido do s intoma é o r eal que comporta o im possível de se escrever a relação sexual. O sentido do si ntoma é esse real, como est udaremos a seguir, pois o se ntido, do sentido no f inal das contas, é que ele vaza como o ton el das Da naides.19 O sentido está sempre va zando, escapando, pois não há um sentido final; sempre se é possível atribuir-se sentido, pois, ao se chegar a ele percebe-se que é furado. Em ú ltima instância, o se ntido do sintoma é o real do gozo co mo aquilo que não pode se r escrito.
Para e videnciar a articulação do sintoma com a pulsão em sua vertente de gozo, vamos recorrer ao Zwang presente tanto no inco nsciente (como compulsão à repetição) quanto n o sintoma, principalmente no sintoma obsessivo. Em 1896, Freud elevou à dignidade da n eurose uma característica de um tipo de r epresentação. Trata-se de Zwang, característica generalizada nos anos 20 em Para-além do princípio do prazer como ma nifestação do poder do recalcado do in consciente.20 Zwangsvorstellung, Zwangsneurose, Wiederholungszwang. Nessas três expressões, Zwang designa o que é obrigatório, imperativo, como se pode encontrar em Z wangsarbeit (trabalho forçado), er
tut es n~r a us Zwang. (ele só o faz por obrigação), unter Zwang stehen (estar submetldo a, sob o J ugo de). Par alelamente a essa característica de ordem e coma~d~, Zwang si~nifica força e pr essão, como na s expressões der Zwang der Er ezgmsse (a pressao dos aco nteCImentos) e d er Zwang d er Konvention (a força das c ircunstâncias). Esses dois aspectos fazem de tudo o que é Zwang uma exigência coercitiva - eine dringende Ford erung, em qu e encontramos a conjunção de uma representação, que faz f unção de mest re do coma ndo, e o Drang da pulsão sexual, que exige sa tisfação. Obsessão, neurose obsessiva, compulsão à re petição: em todas as tr ês ex pressões trata-se de uma articulação entre o si mbólico e o rea l, que faz do significante não uma barr eira ao gozo mas seu porta-voz. O sintoma ob sessivo contraria o compromisso que promete, pois, longe de int erditar, ele tr az o gozo do qual o sujeito gostaria d e se se parar. A cada remanejamento t eórico que Freud faz da etiologia da obsessão, longe de excluir a precedente, ele acrescenta a esta uma característica que nbs ajuda a melhor cingir a r elação entre o si ntoma e o gozo. A primeira teoria se refere ao período que vai de sua correspondência com Fl iess até "O Hom em dos Ratos" (1909). Nessa neurose de defesa, sua etiologia está vinculada à conotação de prazer quando do primeiro encontro com o sexo . Quando, mais tarde, sua recordação é evoca da, ela vem acompanhada de uma r ecriminação, e o que era praz er se torna desprazer. Em seguida, recordação e recriminação são r ecalcadas para dar origem ao sintoma primário da neurose obsessiva: a escrupulosidade. No retorno do recalcado, o afeto da r ecriminação se vincula a um conteúdo deformado: a idéia ob sessiva, que é o s intoma de c ompromisso. Dividido entre a esc rupulosidade que exige que nada seja desarrumado e a idéia obsessiva que faz irrupção na co nsciência, o sujeito rejeita a crença na obsessão e s ua "luta" desemboca na formação de sintomas secundários, como a comp ulsão ao exame, a ruminação mental, cerimoniais,filie du d oute etc. Daí Freud afirmar no "Rascunho K" que os o bsessivos "são pessoas que correm o perigo d e ver finalmente o c onj unto da tensão sexual cotidianamente pro duzida transformar-se em a uto-recriminação e daí em sintoma".21 A recriminação que acompanha a recordação da experiência sexual d e prazer lhe confere a posteriori a característica de experiência proibida. Ela é a expressão da lei que marca o gozo c omo proibido, e seu reto rno, mesmo. disfarçado, é o memorial dessa transgressão que faz um ap elo a uma sanção. A obsessão traz, ao mesmo tempo, a Lei e sua transgressão, o gozo e sua condenação. Em "Novas observações sobre as psiconeuroses de defesà', diz Freud: "As o bsessões são invariavelmente recriminações transformadas que retomam fora do r ecalque e se referem sempre a uma ação sexual da infância efetuada com prazer." A obsess ão co mo sintoma faz, portanto, função de
Nome-do-Pai como representante da Le i sim bólica que barra o goz o e, simultaneamente, expressa a man eira de um sujei to gozar de seu inconsci ente. A obsessão nos mostra ass im as duas características do si ntoma depreendidas por Lacan: como Nome-do-Pai e maneira d~ gozar do incon ~c.iente.22 A o bsessão não é po rtanto um comp romIsso no q ual o sUj eito possa ter confiança. Muito pelo contrário, é uma defesa fr acassada, o qu e o briga o sujeito a encontrar medidas de pro teção que também serão um f racasso. A formação perpétua e co ntínua de sintoma é uma característica da neurose obsessiva. Quanto ao Homem dos Ratos, Freud remete a origem de seus sintomas ao co nflito entre o amor e o ódio no que diz respeito tanto a sua amada quanto a seu própr io pai, os doi s confundidos. O amor por um é acompanhado do ódio p elo outro. Esse ódio, corre spondente ao co mponente sádico
manifestar por úm ato, e desviá-Ia para dentro da esfera do pensamen to, onde existe uma possibilidade de o bter uma outra forma de satisfação prazerosà'.23 Gozar do pensamento é a satisfação que está presente no si ntoma da ruminação: gozo escó pico que situa o sujeito em um dar-a-ver. O sujeito dá a ver para o Ou tro se u desempenho sexual sob a forma de cogitação. A copulação de significantes substitui o ato sexual colocando à distância o parceiro, que não é ass im tocado mas pode ocupar o lu gar do espectador de seu de sempenho intelectual, performance qu e é fonte freqüente de angústia. Em 1913, Freud afirma qu e a orga nização sex ual sádico-anal é a dispos içã o à neurose obsessiva e, e m 191 7, de scobre que é o ero tismo anal que estabelece a equ ivalência entre pênis-bebê e prese nte-dinheiro devido à "t ransposição"
do am é recalcado maspor força sua irru pção a trtoda azendoatividade a dúvida bre o amor , or a , qual se estende, deslocamento, do ssoujeito, levando-o a uma incerteza generalizada. A r e petição das obsessões e dos cerimoniais surge então para banir essa incerteza, a qual concerne, no fundo, ao êxito da defesa contra o ó dio do Outro. P ara se defender do ó dio do Outro no sentido subjetivo (seu ód io co ntra o pai), o s ujeito, graças ao retorno da pulsão em d ireção a ele mesmo, é levado a se r o objeto do Outro do ódi o - o que será tematizado por F reud na seg unda tópica. O ódio do Outro é uma face do Wunsch inconsciente de morte do Outro, desejo ligado à imp ossibilidade de passar para a p alavra e no entanto presente nos insultos infantis ("Sua lâmpada! Sua toalha! Seu prato!" - como xingava o Hom em dos Ratos a se u pai) e nas blasfêmias que se int roduzem como q ue sem querer nas orações de louvor a De us. A gentileza do obsessivo e seu comportamento tudo-para-o-outro constituem uma for mação r eativa contr a esse ódio, no fim do qual se enco ntra a morte que o mira. Esse ódio é a expressão, no nível do afe to, da pulsão de morte que visa a destruição, o aniquilamento do Outro. O sujeito toma muito cuidado na sua r elação c om o outro, co mo "se devesse prepará-Io para o anúncio da morte de uma pessoa querida", dizia-me um paciente. Seus depoimentos adquirem o asp ecto de um a morte anunciada - morte do Outro que ele desej a ao mesmo tempo em que a an ula e dela se r ecrimina. Freud confere à pulsão escópica um papel essencial na constituição do sintoma da ruminação mental obsessiva: o rec alque do voyeurismo e da curiosidade sex ual é o res ponsável pela sexualização do p ensamento, que não é outra co isa sen ão a substituição do a to pe lo pensamento. A pulsão de saber derivada da pulsão escópica (o vo yeurismo tor na-se curiosidade sexual) é particularmente apta "a a trair a e nergia, que se esforça em vão
dessa p ulsão, que dá o título ao texto. Essa série de objetos entr a e,m jogo como objetos da demanda do O utro ao s ujeito - à qual está suspenso o obsessivo. Nesse plano da demanda, temos a oblatividade: o sujeito dá presentes ao Outro ou se recusa a dar qualquer coisa, refugiando-se na avarice ou na dívida. No plano do gozo a nal, o sujeito é levado à obscenidade, ao escatológico, à sujeira própria desse objeto nada limpo, que melhor o figura como dejeto do simbólico. O sujeito tenta reco brir com os significantes da demanda todo vestígio de prazer excedente que ele experimentou no sexo. Es se prazer excessivo, mod elado pelo reg istro anal da pulsão, toma o caráter de gozo sór dido, " porco", "cagado", elevado à categoria de impossível de ser suportado. O Zwang do próprio sintoma é portador da satisfação do T rie b que ele anula, daí a associaç ão entre o sa grado e o profano, o puro e o impur o, o Pai e o p ior, Deus e a merda. Se Lacan nos advertiu a não acreditar na oblatividade do ob s essivo é porque o sujeito tenta recobrir com os significantes da demanda, sob a máscara da generosidade, o ó dio pe lo Outro do amo r, cujo c aráter pulsional Freud atribuiu ao reg istro ana!. Nos anos 20, a articulação entre o isso, reservatorlO das pulsóes, e o do supe reu permite junção entr e a pulsão emandamento a representação obsedante, entremelhor o obj cingir eto e ao con significante mestre. Em "Inibição, sintoma e angústia", Freud situa a constituição da obsessão a partir do c o mplexo de É dipo e da angústia de castração. O gozo em jo go é o da mas turbação castigada por um "supereu supersevero": a obsessão é seu compromisso. Esse gozo auto -erótico, q ue faz a econ omia do Outr o sexo, v em à pauta graças à caraterística do sintoma obse ssivo de "deixar .cada vez mais espaço para a satisfação substitutiva", e o re sultado, que vai em direção ao "fracasso completo da luta inicial", é "um eu extremamente
limitado, reduzido a buscar suas sat isfações nos si ntomas". Nesse registro do gozo, a pulsão sádico-anal exige do sujeito atos de c rueldade que o supereu condena. "Todo excesso traz em si o ge rme de sua própria supressão".24 A obsessão comporta portanto esse traço do paradoxo do supereu que Lacan r esume com o imp erativo do gozo e cuja fórmula podemos
Freu ressalta, nesse te xto, o que ele considera o mai s importante no s sintomas obsessivos: o "valor de satisfação de moções pulsionais masoquistas". Trata-se da resistência do sintoma a cur ar, pois ele satisfaz a pulsão de mo rte. O supereu do obse ssivo adquire o aspecto de um Outro go zado r, como o capitão cruel ou o Pai da ho rda primitiva de T otem e tabu, que trata sadicamente o sujeito que só pode tom ar a posição masoquista em seu sintoma mortificando-se. Podemos desdobrar a pulsão ma soquista que se sat isfaz no sintoma obsessivo segundo a declinação das pulsões em oral, anal, escópica e invocante, ca da uma apo ntando para um aspecto diferente e para uma face particular do supereu. No ní vel oral o sujeito é presa da gu lodice do supe reu, como transparece nos dito s de um pa ciente - "Deixo sempre os o utros me devorarem cruamente" - que sustentam seu si ntoma de impotência diante do Outro da autoridade. No nível anal o sujeito se faz expulsar com o um obj eto, condenado por suas r ecriminações, reduzido a esse dejeto sórdido cujo gozo da sujeira ele tenta limpar com o s significantes de suas repr esentações obsedantes. Para além do regi stro da d emanda, tanto oral quanto anal, o sujeito se encontra confrontado com o d esejo para o Outro da pulsão escópica e o desej o do Outro da pulsão invocante. O olhar e a voz são os objetos que condensam o go zo do supereu, cujas funções de vigilância e de crítica foram depreendidas por Freud a partir d a clínica dos paranóicos desde 1914 em "Introdução ao n arcisismo". A angústia ligada aos desempenhos é o ind ício da pr e sença do olh ar mortífero que med e sem tré gua s o sujeito com o id eal. Que ideal? O de limpar o simbólico de todo e qualquer vestígio de gozo. "Eu fico sempre
o conceito ~e pulsã? de mor te o briga Freud a ge neralizar o Zwang ao que se repete no lOconsclente. Zwang é o sinal da pulsão de morte que f orça os significantes a se r epetirem no pen samento e por conseguinte no sintoma. Como diz Lacan no Semin ár io 11, "Z wa ng, a coação, que Freud definiu pela W ied erholun g, comanda o s próprios rodeios do processo primário". 26 Wied er holung szwang , obsessão, compulsão ou automatismo de r epetição, não é outr a coisa senão a insistência da cadeia significante correlativa à ex-sistência do sujeito. A obsessão é como The purlo ined letter, uma letra colocada de lado, uma carta não retirada (en s ou./fr ance ) mas que volta se mpre ao mesmo lugar, pois vem no lug ar do re al - daí s ua c aracterística de dejeto do simbólico: a letter , a fiter . A repetição no inconsciente é obsessiva - o funcionamento do pensamento exige que o signific ante se desloque, que ele "deixe seu lugar, nem q ue seja par a retomar a este circu larmente".27 A obsessão é a rticulada por Lacan ao que "produz go zo pela cifra signoque cede faz o bcecçã o'(escrit a que os significantes permitem ...". A obs essão com c) "ao gozo que decide de um a pr áticà'.28 Lacan, portanto, faz da obsessão a própria característic a do signo com o cifra de um gozo no inconsciente. A obsessão como sintoma é a maneira de gozar para um sujeito cuja dúvida e a falta de certeza impedem seu ato, que é assim sempre adiado para mais tarde (p rocrastinação). Daí a obsessão, como pensamento, se encontrar em oposiç ão ao ato, ond e o sujeito n ão pensa, tornando-o portanto impraticável. Para que uma pr ática se torne po ssível é preciso o ato, que na neurose é impedido p ela falta de d ecisão do sujeito, pois seu gozo está condensado no p en samento que o obseda. Eis por que é preciso que a obsessão faça cessão, ceda o gozo ao ato qu e será decisivo para uma pr ática. Em outr os termos, é preciso qu e o gozo passe do pensamento para o ato, invertendo assim o pr óprio m ovimento de formação da obsessão (o a to substituído pelo pensamento). O Zwang como sintoma permite cingir o trabalho de ciframento do inconsciente pelo deslocamento que o caracteriza (tanto a obsessão-sintoma quanto o inco nsciente). A " metonímia é justamente o que determina como operação de crédito (V er schiebung quer dizer: transporte, transferência,
me observando para avaliar meu desempenho" - dizia-me um outr o paciente. Aí entra em jog o a "voz da consciência", presentificando a D r ang da pu lsão i nvocante por m eio da qual o sujeito se faz escutar as auto-recriminações. A crítica é feroz e traz satisfação ao m asoquismo do sujeito. Ele é o esc ravo do desejo do Outro , cuja voz imperativa comparece nos mandamentos ri tualizados que condensam, simultaneamente, a lei e sua anulação, o gozo e sua imp os sibilidade. A obs essão é a via sintomática da satisfação pulsional da vo z d e um supereu que vê.
traspasse, depósito) o próprio mecanismo i nconsciente em que é no caixade-gozo, no entanto, que se a perta o botão".29 E Lacan acrescenta, no mesmo trecho, em seguida: "Fazer passar o gozo ao inconsciente, isto é, à contabilidade é, com efeito, um deslocamento d anado." O deslocamento do significante não se dá portanto sem o ciframento do gozo. Essa o peração evoca a pr ópria formação do si ntoma obsessivo, na base do qual se encontra o verter do real no simbólico, o depósito de gozo na rede de sig nificantes - o que leva o sujeito à co ntagem, à numeração dos lances dos da dos de
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gozo. o Zwang é a "ca rta forçada" que nos mos tra o po uco de liber dade do jogo de associação livre. A obsessão como sintoma pode advir em todos os t ipos clínicos da neurose - as o bsessões histéricas são também cifras de gozo. Mas o pe nsar é propriamente falando o que define o o bsessivo, que é, diz Lacan, "muito essencialmente alguém que pensa. Ele é pensa avaramente. Ele é pensa em circuito fechado. Ele é pensa para ele sozinho". 30 O obsessivo em seu pensamento faz um curto-circuito para anular o Outro d o desejo, e o que ele pensa se fe cha no circuito pulsional no qual ele mes mo é o objeto. Trata-se do gozo onanista como Freud o po ntuara. Enquanto o sujeito histérico é o inconsciente em exercício, o o bsessivo é o inc onsciente em cogitação; o Z wang do in consciente de um cisalha o co rpo e o do outro cisalha a alma.31 Se o histérico co m seu agir faz o Outro p ensar, é graças
O ~ujeito Ade:erá ir ~ara alé m da frustração que iss o pode acarretar e passar da ImpotenCla em dizer toda a sua verdade à sua impossibilidade estrutural. A operação da psicanálise vai do semi-dizer da verdade do si ntoma ao bem dizer o sintoma. O que não quer di zer qu e o sintoma desapareça, pois o sintoma tampouco se diz por inteiro. Se o sintoma no in í cio da análise é um diz er que ai nda não encontrou seu dito, ou melhor, um semi -dizer que ainda não enc ontrou seu dito, no fina l da an álise o sujeito chega a um bem dizer o sintoma, apesar de não totalmente. E o sintoma fica r eduzido, digamos assim, a um rea l bem dito. O que é um sintoma como um re a l bem dito? Será que não é um paradoxo falarmos de um real dito , se o rea l se caracteriza pelo impossível a ser dito? O bem dizer do sintoma é um dizer de verdade que toca o real, é um dizer so bre o núcleo irredutível do rea l do si ntoma. Eis a dimensão
ao obsessivo que sabemos o que pensar quer dizer: ele d á-a-ver o modo de funcionamento do pr óprio inconsciente.
ética do si ntoma, que a ps icanálise inaugura. Diferentemente da medicina e da psiquiatria, onde se te nta "abolir o sintoma a todo c usto, a psicanálise não promete a a bolição do sintoma, pois este é um signo do sujeito. Bem dize r o sintom a equivoca com abençoar o seu sintoma, que aponta para a conc iliação com o si ntoma. Trata-se de uma conciliação distinta do compromisso neurótico de rec alcar a verdade da castração do su jeito. A verdade, segundo Lacan, nós a r ecalcamos e com o real habituamo-nos.33 A conc iliação com o si ntoma no final d a análise implica, por um lado, em não recalcar a verdade do sinto ma, e sim bem dizê-Ia, e, por o utro lado, em se habi tuar ao seu real, reduzido aqui a um caroço ou núcleo ir redutível. E qua l é o ef eito dessa reduçã o? É um efeito sobre o mal-estar que o sintoma provocava. Bem dizer o sintoma é a condição para aquilo que Lacan propôs para se r eferir à relação do sujeito com seu sintoma no fina l de aná lise: savoir y jàir e , saber lidar com o sintoma.34 O bem dizer do s intoma a que leva u ma análise conduzida até s eu fin al é a condição de saber lid ar co m ele. A pa rtir daí pod emos introduzir a questão do estilo. A passagem do semi-dizer do sintoma ao bem di zer o sintoma, que
No início de uma análise, o s intoma é um di zer que ainda não encontrou seu dito. A passagem do dizer do sintoma a se u dito é o que constitui propriamente falando o processo analítico, que se alinha na ética do bem dizer. A ética da psicanálise é a é tica de bem dizer o sintoma. Para que o sintoma do sujeito se transforme, no início do processo analítico, num sintoma analític032 é pr eciso que ele seja considerado pelo sujeito como um parceiro de verdade, nos dois sentidos da expressão. Por um l ado, ele precisa considerar que o sintoma seja verdadeiro e não falso; por outro lado, é preciso q ue o sujeito considere seu sintoma dentro de uma p arceria com a verdade, isto é, que considere que o sintoma detenha algo de s ua verdade. Para que uma análise se inicie é necessário que o suj eito considere seu sintoma estrururado como a ve rdade, isto é, como um enigma em que algo es tá velado e que, ao mesmo tem po, desvela algo da verdade. O sintoma é um "velar iluminado", como diz Heidegger em relação à verdade. O sintoma é aletho s , ele vela e desv ela algo que o s ujeito considera como uma mensagem endereçada a ele fazendo parte de sua ver dade. O sintoma é um semi-dizer porque participa do enigma da verdade, ou seja, mesmo quando d ecifrado contém algo que continua velado ao s ujeito. Na análise, o s ujeito espera uma gra nde revelação de sua verdade mas, ao decifrar seus sintomas a verdade sobre seu ser não é totalmente desvelada.
constitui o próprio processo analítico, implica num efeito na e nunciação do sujeito, constatado muitas vezes pelos pr óximos, que comentam:. "tem algo que mudou em v oc ê, eu não se i dir eito o que é, deve ser efe.lto de análise". Amigos, parentes, colegas notam uma mud ança verdadeira na maneira, no je ito de ser, de viv er, de fal ar, de escrever da pessoa. . Tr~ta-se de um efeito sobre o es tilo que a psicanálise d eve considerar e poder Justificar. Trata-se de um efeito na enunciação que corresponde a uma mudança operada na economia do go zo.
Essa mudança incide na relação entre significante e gozo, que é uma " fi Icante , "d' IZ Lacan, ", relação de causalidade. "O sIgnI e a cau sa d? go~o.." 35 Ele desdobrou essa c ausalidade a partir das qua tro c ausas anstoteltcas descritas no liv ro IIda Física . O exemplo que usa A ristóteles par a abordar as quatro causas é o do artista escultor que faz de um blo co de m ármore uma estátua. A causa material é aquilo de qu e a coisa é fei ta, ou sej a, é a própria matéria, no c aso o bl oco de má rmore. A causa eficiente é o agente, ou seja, o escultor que uti liza seus músculos e um ins trum~~to como a espátula para fazer a estátua, ou seja, ele atua so b~e a ma~e ~Ia com seus próprios movimentos, transformando-se num o bJet~ est~,t~co.. A,. causa formal é a idéia, o mod elo que o escultor tem d a estatua. E a IdeI a que
comando do significante nos remete ao co mando do su p ereu "goza!", desvelando a estr utura do significante, provocando o goz o e dando-nos a estrutura da propriedade de poder própria ao significante, poder de mando e po der hipnótico, já descrito no capítulo 11. significante como c ausa de gozo nos mostra que a linguagem traça as vias do gozo, promove seus caminhos, suas rua s e avenidas , seus compartimentos e comportas favorecendo umas, dificultando outras e impossibilitando ainda outras. O significante fabrica os cir cuitos de gozo par a o sujeito. Nesses circuitos situam-se tanto o si ntoma como a f ala própri a ao sujeito, pois ambo s são tecidos d e linguagem e de go zo. É nisso que a análise opera: nas v ias de go zo do significante, nessas vi as da economia libidinal pr.omovidas pelos significantes. Existem aí limites i ntransponíveis: nem t odos
está istóteles. A causa al não no corponadoalma age ntedo- artesão", como es t diz á a Ar causa eficiente - masform na idéia d~ está a gente. A causa final é aquilo em vi sta do que toda a ope ração é realtzada. A causa final é c hegar-se a um efeito de belo, ou seja, é para a tingir o B elo que a estát ua foi fei ta. A essência aristotélica (ou sia, a substância) é, segundo La can, da ordem do go zo para os seres falantes. Desdobrando o a xioma "o significante é a c au sa do gozo" de acordo com as qua tro causas de Aristóteles, segundo a indicação de Lacan, podemos d ecliná-Ia da seg uinte forma: como causa mater ial , o signifi cante é o material para abordar o gozo. Sem o significante não há gozo do corpo. O corpo gozante tem como material o significant e. Como causa e f icient e, o significante é o percurso que canaliza o gozo. É o caminho qu e o gozo efetua, que Lacan compara com o tra j eto da ab elha que transporta o pól en da fl o r-macho para a flor-fêmea. Isso ind ica que o significante é o escultor das vias de gozo , é ele que tr aça as ru as, os canais por m eio dos quais o corpo goza. Como causa f ormal , é o estreitamento, o aperto ao qu al o gozo é submetido. É o "modelo" do gozo que Lacan encontra na gramática. O significante
os compar alguns osim, ao serem d esatados alguns nóstimentos de signifpodem icação ser do abertos; sintoma. mas E como sintoma é do mçsmo tecido da linguagem, ao se desfazerem os nós de gozo do sintoma algumas comportas se abrem para o di zer, para o bem dizer. A passagem do s emi-dizer do sintoma a seu bem di zer se acompanha necessariamente de um a mudança na enunciação, na form a, no jei to d e lidar com a linguagem e isto tem incidência no estilo do sujeito: o estilo manifesto na fala, na esc rita e, por que não dizer, na vid a. Isso é fundamental para a psicanálise, para a transmissão da psicanálise, pois como di z Lacan, um ensino digno de Freud "só se produzirá pela via m ediante a qual a verdade mais oculta manifesta-se nas r evoluções da cultura. Essa via é a única formação que podemos transmitir àqueles que no s seguem; ela se chama: um estilo".36 A form ação analítica se dá p ela via do estilo: transmissão de ver dade qu e toca o rea l. Se o estilo é a v ia da manifestação da verdade, o si ntoma é out ra, porém em mom entos dif erentes de uma análise. O sintoma como verdade na análise entra num proc esso que comporta dois destinos. No final de uma análise o suj eito não ac redita no seu sintoma e não lhe dá mais crédito, pois ele foi r eduzido a um real irr edutível, e o sujeito considera que não tem mais
estreita, aperta o gozo na gramática. formal ilustr promovida pelo significante produz uma gramática d o gozAo , causa cuja melhor ação encontramos no ver bo . A gr amatizaçã o do gozo como causa formal n ão deixa de evocar a gramática pulsional promovida por Freud na M etapsic olo gia . Como causa final, o significante é freio do gozo, como "alto l á" ao gozo. A causa final do goz o não é o Belo nem qualquer outro ideal. O significante como causa final é a barreira ao goz o, um limite interno a ele. No entanto, a causa final do significante em relação ao gozo se encontra, nos indica Lacan, na "origem do vo cativo do com ando". O
nada odesintoma verdadepossa em seu Ele de nãosuadáverdade. mais c rédito à profoimessa que lhe sintoma. revelar algo E o nde parar dea questão da verdade? Ela se e ncontra na via do estilo, onde a ve rdade toca o real através do bem di zer. A enunciação é o modo de dizer de cada um, o modo de manejar os enunciados e as pr oposições, aquilo que vem a mais no enunciado por ond e circula o mais-de-gozar, esse s uplemento d o enunciado. A verdade enquanto t al, por s ua estrutura de semi-dizer, não se encontra toda no dito , participando da enunciação, não estando na proposição. O semi-dizer da verdade do s intoma passa, em uma análise, para os
?
enunciados que o sujeito decifra sobre o próprio sintoma, e nunciados verdadeiros que con stituem o bem di zer próprio à ética da psicanálise. No sintoma, segundo a concepção de Lacan no final do seu ensino, em 1977, não enc ontramos propriamente Ia verité , mas Ia varité, não a ve rdade mas a "varidade", equívoco que Lacan faz entre verdade e variedade.37 Isso nos indica a passagem do sintoma-verdade à va riedade do sintoma de cada um, à singularidade do seu sintoma Como podemos pensar a questão do estilo a partir do processo a nalítico? O sintoma-verdade comporta dois destinos: o estilo e o sintom a-signo. O estilo é da ordem da enunciação por onde circula a ve rdade e o s intoma reduzido a seu real é um signo do r eal. ~verdade sintoma- verdade
"--
( velada) no estilo iluminado (pelo real)
sintoma-signo: var i(e)dade do re al
A distinção entre o sintoma e o esti lo é fundamental para abordarmos a transmissão da psicanálise e a maneira pela qual o analista opera. Se todo analista passou po r u ma análise, cada um tem certamente um sintoma, já que o sintoma não a caba para ninguém. "O analista também se identifica com seu sintoma".38 Será q ue é com seu sintoma qu e ele opera c omo analista? Não. O analista não opera com seu sintoma, ele opera a partir de seu estilo, que é o estilo d e cada um, através do qual ele sustenta o desejo do analista, que é o op erador lógico de todo processo analítico. Saber lid ar com o seu sintoma para o a nalista ao c onduzir uma análise, corresponde a faze r calar o sintoma e operar com o desejo do analista.
Se o sintoma para a ps icanálise é um significante, ele não deixa de ser também um signo, ou seja, uma cif ra de gozo. O real do sintoma como signo é o fogo da fumaça do sujeito - lá onde há sintoma há sujeito, um sujeito como resposta do real. O sintoma é definido por L acan nos anos 50 a pa rtir do simbó lico e, nos anos 70, a partir do real, como podemos ler na primeira lição de seu seminário de 1974-75, denominado R 51, onde ele afirma que é do rea l que se trata no sintoma. No prim eiro momento, o sintoma é a exp ressão da divisão subjetiva, como manifesto no ata que histérico, em que o sujeito é
o sedutor e o seduzido, e na dúvida obsessiva, em que o sujeito se vê a cuado entre dois signif icantes. No seg undo momento, em R5 I, o sintoma é definido como a articulação entre o gozo e o i nconsciente. E qual o seu exemplo? Uma mulher - uma mulher pode ser o sintoma para um ho mem. O sintoma é o que não cessa de se esc rever, daí ele ter função de l etra, isolado da cadeia significante, sa lientando menos seu caráter de significante que sua característica de ser escrita. O sintoma-letra é portanto o articulado r do inconsciente com o gozo, é aquilo que não cessando de se escrever supre o que não cess a de n ão se escrever, ou seja, a relação sex ual. Podemos usar e sses dois mom entos do ensino de Lacan para falar d o sintoma de entrada e do sintoma de saída da análise. O sintoma de e ntrada corresponde ao sintoma em sua dimensão subjetiva, de divisão do sujeito, mensagem a se r decifrada, enigma que embute um sentido a ser buscado. E o sintoma de sa ída c orrespondente ao real do sintoma, sintoma-signo, letra que fixa um gozo n o inconsciente, letra sem sentido que "tende a atingir o rea l" diz L acan. Em "La troisieme"38, Lacan retoma o tema do real tal como ele se apresenta para a psicanálise, propondo, como pontos de balizamento, três faces do rea l: 10) O real é o que rerorna sempre ao mesmo lugar; tese presente desde o in ício de seu ensino e à qual ele acrescenta que esse lugar é o lugar do semblante. 20) O real é definido a partir d a modalidade lógica do impossível, dentro do qual pod em ser distinguidos dois impossíveis: o imp ossível de r epresentar o real, pois não há nenhuma esperança de atingir o r eal pela rep resentação, e o impossível do universa l, na medida em que é impossível uni versalizar o real, pois o real e o universal se ex c luem Do real, por tanto, só o particular. Desses dois impossíveis res ulta um possível: é possível escrever a letra, S Isem se ntido, que tende a atingir o real particular do sujeito. 30) A terceira face do real, que dá o título à conferência, é o sintoma cujo "sentido", diz Lacan , "não é aquele com o qual o nu trimos para sua pro liferação ou extinção; o sentido do s i ntoma é o real, o real na m edida em que se co loca em cruz para impedir que as coisas funcionem, no sentido em q ue elas dão conta por si mesmas de maneira satisfatória - satisfatória p elo menos para o mes tre/senhor". Detenhamo-nos nessa definição. Lacan inicialmente define o sin toma como um impedimento. Por um lado, impedimento ao a ndamento satisfatório do sujeito - ele é a sua cr uz -, por outro lado, impedimento ao andamento satisfatório do discurso do mestre. O sintoma como singularidade do sujeito em sua vertente de real faz, portanto, objeção
ao discurso do mes tre. Isto imp lica di zer que é pela vertente real de seu sintoma que cad a suj eito afirma sua p articularidade indo de encontro ao discurso dominante ditado p elos imperativos dos mestres modernos, que se distribuem, hoje, no di scurso capitalista e no di scurso uni versitário comandado p ela ciência. O r eal é aqu ilo qu e no si ntoma resiste à interpretação, ou seja, o que não é do r eino do sentid o, como o qu e res ta do sin toma após o final da análise depois de ter-se esgo tado o campo da interpretação. Trat a-se, em suma, do gozo do sin toma. "Defino o sintoma, diz Lacan , pela maneira como cada um goz a do i nconsciente na medida em que o incon sciente o determina."39 O sintoma localiza o g ozo no inc onsciente. Essa definição do si ntoma a pa rtir do real do gozo pulsional vai ao enc ontro d o que diz Freud em "i nibição, sintoma e angústia". Ele é aquilo que o sujeito tem de mais particular na medid a em que faz a conjunção entre o gozo individual e especí fico do suje ito e as c adeias simbólicas constituídas pelos significantes do Outro, ou melhor, os s ignificantes que lh e couberam de sua alíngua. Daí uma mulher p oder oc upar esse lugar para um homem: uma mulher é si ntoma de um hom em na medida em que, com ela e por meio dela, ele, como sujeito, goza de seu inconsciente. Pois, para que ocupe esse lugar, ela terá sido escolhida tanto p elos seus traços significantes que enco ntram eco na memória inconsciente quanto pelo fato de que algo dela faz ressoar para ele das Ding, condição para qu e ela possa ser e levada à dignidade de objeto c ausa de desejo. A mulher -sintoma não exclui que e la seja par a esse mesmo homem a mulher-objeto. Mas a mulher-objeto não é n ecessariamente mulher-sintoma. A mulh er-objeto pode ser deixada cair; já da mulher-sintoma, como todo o sintoma, é mais difícil se desvencilhar. A mulher como sinto ma, deriva da concepção do sintoma como parceiro sexual. Trata-se de um p arceiro de gozo determinado pelo inconsciente, daí não se tratar de considerar esse s intoma, o s intoma pós-analítico, como algo a ser extirpado , atenuado ou at é m esmo curado. Tr ata-se de um sintoma a ser ass umido ou at é m esmo adquirido, no sentid o de adotado, co mo diz Lacan do homem que "adquire uma mulher" para lhe dar filhos, por exemplo. O sintoma adquirido ou adotado é aquele contra o qual o sujeito não luta mais para dele se desembaraçar, identificando-se co m ele, ou seja, identificando-o como seu, como sua maneira de goz ar. É distinto do sintoma como corpo estranho, sintoma parasita que incomoda e que leva o sujeito a buscar um analista para se livr ar dele. Lac an chega a indicar que no fin al da análise há uma identificação com o sintoma, com a ressa lva de que se deve tomar
distância em relação a ele. Podemos considerar essa "identificação" como uma "adoção". 40 . A a.nálise vai do sintoma- parasita ao si ntoma-adotado. O sintoma-paraSIta, seja e le histérico, fóbico ou obses sivo, é o si ntoma-mensagem que contém uma verdade a ser decifrada, memo rial histórico dos ditos do Outro escrito em suas cif ra de gozo , ou seja, é o si ntoma que desaparece numa análise c onduzida a se u termo. O si ntoma-adotado é o que res ta do deciframento mas q ue não deixa de ser sin tomático, na med ida em q ue faz objeção aos ideais e à fa ntasia, constituindo aquilo com o q ual o suje ito va i ter que lidar bem ou mal. Adotar o sintoma, sabendo que ele é par te de seu gozo e de seu inconsciente, é a condição para q ue o sujeito possa saber lidar com ele e tomar distância dele. É o que Laca n es perava do fina l de anàlise em relação ao sintoma. Mas o ana lista pode também ser um sint oma. O analist a-sintotp.a é aquele suposto gozar do inconsciente, ou m elhor, suposto gozar d e um saber sobre o inconsciente do ana lisante que este espera ver decifrado. O a nalista para o analisante, sendo um especialista em psicanálise, goza do in consciente como se diz gozar de boa saúde . O analista-sintoma é o analista parceiro tanto do go zo quanto do inconsciente. Do lado do inconsci ente, o analista-parceiro é su stentado não só pelo significante da transferência ou por seu n ome, mas t ambém pela articulação significante que se co loca em funcionamento com su a presença ou mesmo no t rajeto para seu consultório. A associação livre com eça já nos preparativos para a sessão, pois o ana lisante põe o sítio do inconsciente na poltrona do ana lista. Do l ado do goz o , o analista-parceiro representa o inominável, o indizível do obj eto d a fantasia que o real da tr ansferência faz aparecer como T ykhé - eutíquia ou distíquia. A constit uição do sintoma analítico, ou seja, a produção d o endereçamento sintomático ao analista escolhido, é contemporânea da constituição do sintoma-analista, ou melhor, do analista-sintoma. O analista-sintoma é aquele quer livr se e.desvencilhar daí sua con stante infração à regrdo a dequal ouroo analisante d a associação Associação, livre - que na verd ade é impossível seguir, pois é impossível dizer tud o pode inclusive transformar-se em sintoma. O "não co nsigo parar de pensar" da qu eixa do analisante demonstra o bastante que o sujeito goza do inconsciente. Isso f az parte do an alista-sintoma. Os próprios analistas tentaram regular esse sintoma, chamado analista, cujo poder conferido pela transferência pode ser ameaçador. A regulação pelo tempo f oi a maneira que a IPA encontrou para d elimitá-Io e impedir qu e o analista-sintoma,
parceiro de gozo, passe ao a to abusando de seu lugar nessa parceria que implica a r ealidade sex ual, uma vez que o neurótico ama seu si ntoma como a si mesmo. A AMP tentou regular, e até mesmo combater, o poder sintomático do analista em sua particularidade com as chamadas "conversações", processos públicos de inspiração stalinista onde foram (e são) operados ex purgos regulares de elementos co nsiderados ameaçadores à o rdem do mes tre. O desejo do analista se opõe à idiossincrasia sintomática do analista, idiossincrasia conferida por seu sintoma que ele deve silenciar, colocar de lado, para se prestar a ser sintom a para seu analisante. Não é c om seu sintoma, ou melhor, com o que r estou d e seu sintoma, que o analista op era na análise, e sim com o estilo, como vimos. O a nalista é aquele que pode deixar de lado seu sintoma para se colocar a se rviço do de sejo de saber, o que é promovido pelo desejo do analista como o perador lógico d o tr atamento
O descrédito no sintoma-mensagem que a análise promove é cont emporâneo da assunção do s intoma-signo, Le sym ptô me-signe que, a partir do equívoco que a língua francesa permite, podemos chamar de Le symp tôme cygn e, o sintoma -cisne , que é o sintoma como signo do real. Seria uma b ela compensação dizer que a análise va i do sintoma-patinho feio ao sintoma-cisne e q ue o real de f eio vira bonito. Mas não é b em assim, pois o s intoma-signo é um cisne desacreditado reduzido a uma cifra de gozo. Q ue nada mais é senão pur o s inal d e vida de um ser f alante. O sintoma é menos um cisne do que um tu-yo u- you, uma l etra de gozo. O perc urso da análise, que vai do sintoma-mensagem ao sintoma-signo, se acompa nha do d escrédito no sintoma e da redução do gozo do s intoma, experimentado pelo sujeito como alívio. Lacan, em Rsr, utiliza o termo r esser rer para se r eferir ao trabalho da análise so bre o gozo, que pode ser
do gozo p elo discurso do analista.
melhor traduzido por "contrair", mas também por "encurtar", "c0II!primir" ou até mesmo "restringir" o go zo. Trata-se da redução desse "gozar do inconsciente", equ ivalente à r edução do sintoma, a s eu nú cleo im utável, o que se aco mpanha da deflação do crédito, uma vez que só se dá crédito àquilo de que se goza. É por i sso que os homens dão crédito às mulheres, mas não totalmente. Se o cré dito dado ao sintom a que ocorre na análise se acom panha da crença no sintoma, o sujeito pode interromper a aná lise para defender o goz o do s intoma. É o descrédito no sintoma promovido pela análise que permite ao sujeito não se fixar no di scurso do mestre, po is não acredita no SI de seu sintoma, em sua letra de goz o. Ele a con stata mas nela não ac redita. Identificar-se co m seu sintoma não é nec essariamente fazer de seu sintoma o mestre do discurso, a dominação do p oder da letra. O descrédito no sintoma é co rrespondente à possibilidade de circular com seu sintoma nos discursos. Lidar co m seu sintoma-signo no discurso histérico implica também necessariamente a co ntração de gozo do sintoma para qu e o sujeito utilize a divisão subjetiva como si ntoma em forma de semblante. Contração tanto mais necessária no que di z respeito ao discurso do a nalista, onde não se t rata de usar seu sintoma como semblante de age nte do discurso, e sim de se faze r de sintoma para o analisante. Isto impli ca poder deixar seu sintoma-cisne no lago de fora do di spositivo analítico para se pr estar ao se mblante de obj eto ca usa para o analisante. O analista não opera com seu sintoma. No discurso analítico, saber lidar com seu sintoma é poder não usá-Io, deixando o tu-y ou-you voar no azul de sua vida privada.
Lacan aponta em Rs r a diferença, que já evocamos, entre acreditar no sintoma, Le croi re, e dar crédito ao sintoma, y cro ire . Acreditar no sintoma é como acr editar em D eus: o suj eito acredita n ele como gar ante - garantia ou segu ro d e vida que ele paga para não lidar com a morte. Da mesma forma, o sujeito paga com o sintoma, ao a creditar nele, para não ter d e lidar com su a divisão. Qu em acredita em seu sintoma não procura o a nalista. Mas qu em não acr edita, e o questiona e ainda se deixa interrogar por ele, pode vir a procurar o analista, mas com a condição de dar crédito ao si ntoma, o que ocorre quando o sintoma faz e nigma e o s ujeito acredita que este possa lhe revelar al go de verdade. O sujeito dá cré dito à possibilidade de que o sintoma possa falar. A análise sustenta o crédito dado ao s intoma promovendo a sua decifração. Esse crédito vai até seu esgotamento, pois a análise, como diz Colette Soler, promove o descrédito do sintoma41 . Depois qu e o sujeito deu a volta toda de sua decifração e esgo tou seu sentido, aí s im a análise não sustenta mais seu cr édito. O qu e resta do sintoma no final da análise é correspondente ao para-além do sentido e ao f inal do crédito - é o real do sintoma. Pois ao real não é possível se dar crédito, pois o rea l é sem sentido.
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de u m sabiá Mas não pode medir seus encantos A ciência não pode calcular quantos cavalos d e fOrça Existem Nos encantos de um sabiá. Quem acumula muita i nfOrmação perd e o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam.
mais banal do discur so do capitalista, que promove um endividamento progres~ivo do indi~í~uo e .uma .alien.ação c rescente ao Outro do ap elo comercial que mu1tlphca ob)~tos Imagmários de dese jo, nada mais lógico do qu e .se ,~etectar novos smtomas e novos doentes: " os compradores compulsIvos . O Dr. Pet er Lunt , do Departamento de Psicologia da University College de Londres, estudio so deste novo sintoma, afirma que ele pode ser "a expressão de uma insatisfação como um tip o de experiência quase sexual". Se sua manife stação de gozo não passa desapercebida, nada impedirá que seus portadores sejam enquadrados pela DSM IV como TOe (Transtorno Compulsivo Obsessivo) para serem medicados com A ropax ou similares. Por outro lado, condicionada p elo di scurso da ciência, a medicina foraclui de seu âmbito a dimensão do sujeito por lidar com um r eal que não é o mesmo real da psicanálise. Enquanto para esta o real em jogo é, relativo à castração e à falta no Outro , o real par a a ciência é tudo aquilo que ainda não foi simbolizado por seu di scurso. O projeto da ciência de co lonizar todo o re al com seus significantes lhe confere um aspecto de loucura ao rejeitar de sua esfera qualquer subjetividade. Não há nada na pr ópria ciência, e podemos dizer, na pró pria m edicina, que possa deter seus avanços. Eis outro aspecto que imp ele à formação de Comitês de Ética na tentativa de frear ou pelo menos canalizar o projeto científico.
A medicina hoje aparece mais do qu e nunca como um produto da conjunção da ciênci a com o discur so capitalista. A corrida pela descoberta da vacin a da Aids, a medicalização crescente não mais apenas da doença, mas princi palmente da saúde, a fabricação de novas demandas endereçadas ao médico, a biologização dos ideais estéticos, a ho rmon ização de processos antes naturai s - tudo is so e muito m ais é impulsionado pela mão, não mais tão invi sível como queria Adam Smith, que regula um m ercado ferozmente competitivo. Essa "mão" dita hoje as linh as de pesquisa científica a serem seguidas, porqu e é ela quem as financ ia; essa "mão" escreve os currículos dos m édicos-cientistas fazendo-os aparecer como figuras do mestre moderno, quando, de fat o, estão a serviço do di scurso do capitalista, que constitui, como mostra Laca n em Televisão, o discurso dominante de nossa civilização, responsável port anto por seu mal-estar. 1 "Marx, disse Lacan, foi o prim eiro a ter a idéia do qu e é um sintom a".2 O sintoma, r elativo ao discur so ca pitalista, é a co nhecida jornada de trabalho,
Localizada antes nos s alões de b eleza, a c osmetologia parece invadir cada vez mais a medicina: não apen as a dermatologia, mas também a e ndocrinologia e a c irurgia. A medicina, co mandada pelos ideais estéticos p roduzidos pelas empresas do Imagin ário, cria, com sua oferta, novas demandas. Elas são feitas para a queles que pretendem furt ar-se ao c o nfronto com a f a lta
onde se revela queundo revelaMar umx, "a"par petite", cegà', que não ha ámais-valia, lei que barrsintoma e, pois, seg ece seruma par a"cupidez muitos fabricantes uma tentação grande demais para que possam resistir a ela". Esse gozo do sintoma social aplicado à medicina faz os m é dicos horrorizados se reunirem em Comit ês de Ética e a pelarem ao Legis lativo para que fabrique leis capa zes de refr ear "a paixão desordenada do capital". Um exemplo pitor esco disso é o desenvolvimento do que se c hama de "a psicologia do consumidor". Sendo a so ciedade de consumo a ex pressão
reparando alguma f alha anatômica de seu corpo. A resposta médica - ao incidir n o corpo com implant es, próteses, e nchimentos de silicone, inibidores do apetite, es timuladores da libid o, hormônios rejuvenescedores, ana bolizantes, virilizantes, feminizantes etc. - rec usa o apor te da ps icanálise, que demonstra que o corpo d o humano não se d esvincula do sujeito do inconsciente. É no corpo humano que o sim bólico toma corpo , pois o co rpo "ao se r levado a sé rio é, primeiramente, aquilo que pode trazer a marca pa ra ser colocado em uma seqüência de significantes".3
A medicalização da puberdade e da menopausa, por exemplo, insere, por um lado, o suj eito no discurso ca pitalista, transformando-o num consumidor de drogas e num objeto da indústria do climatério, e, por outr o lado, no discurso da ci ência, reduzindo-o a um corpo doente a ser tratado. A medicina, com seus medica mentos, cirurgia ou hormônio s, não detecta que toda demanda é demanda de complementação de ser do s ujeito, que é pura falta-a-ser. Faz crer assim , respondendo às demandas de juventude, de beleza e de corre ção sexual, que a complementação é possível. Não se trata para nó s de lamentar os malefícios do progresso da medicina , recusando seus benefícios terapêuticos. Seríamos, no mínimo, chamados de ingratos. Trata-se, antes, de seguir a ori entação de Lac an, em seu te xto "A ciência e a v er dade", e d e "reintroduzir o Nome-do-Pai na consideração científica".4 O que isto sign ifica em r elação à medicina cosmética? Significa
"Mu.it~s c ientis:as acreditam que a ter~pia ge nética se ja o quarto estágio da medICIna, depoIs da descoberta dos mIcroorganismos patogênicos, da anes tesia e da introdução das vacinas e dos antibiÓticos."5 O termo "clonagem" - derivado do grego kL ón , que significa broto _ é uma forma de r eprodução assexuada, cuja p rem iere feita a partir de embriões de mamíferos foi es trelada pela ovelha escocesa Dolly. Órfã de pai e mãe, brotada como cópia fiel, Dolly fez estremecer o Imaginário do planeta. E a realização do so nho ou pesadelo de fabricação in vitr o do homem ainda ficou mais próxima com a lembrança de que , já em 199 3, os cientistas norte-americanos da Universidade George Washington tinham feito a clonágem de embriões humanos, interrompida quando os clones ainda tinham
sustentar que o co rpo é o lugar privilegiado do princípio da castração para o sujeito que é bas teado no sim bólico pelo Nome-do-Pai. O princípio da castração faz objeção ao UM totalizador do Imag inário do co rpo que a me dicina cosmética coloca em oferta no mer cado do d esejo. Introduzir o Nome-do-Pai significa opor um NÃO aos imperativos da moda estética. A moda é comparada por Lacan ao leito d e Procusto, personagem da mitologia grega que, instalado no meio de uma estrada, submetia os viajantes ao seguinte suplício: fazia os pequenos se deitarem em u m leito grande e os grandes em um l eito p equeno. Os pequenos eram estirados até ficarem do tamanho do l eito e os grandes tinham su as perna s cortadas para caberem nesse leito. Eis a função da mod a para Lacan. A medicina cosmética é, na verdade, uma clínica feita no leito d e Procusto. O próprio sujeito do incons ciente, como sujeito d e desejo, denuncia o faz-de-conta desse simulacro cosmético da medicina. Foi publicada uma reportagem no jornal O Globo (5.4 .19 9 7) sobre os D r ag king s , mulheres virilizadas artificalmente através de hormônios que levam o semblante de bancar o homem às m áximas conseqüências. Entre esses novos senhor es, um caso bast ante freqüente chama a atenção. Trata-se de mulheres que se
poucas células. Dolly trouxe à cena pública o ideal da et ernização de ídolos p~pulares cujos clones se pe rpetuariam e se reproduziriam a ponto - p or que não? - de se chegar a c omprar um clone de uma Cath erine Deneuve aos 20 anos. Ao se pensar em quem seria não mais colunável, mas clonável, não se viu n as pesquisas de opinião a p roposta de se clonar pessoas anônimas, anódinas ou anô malas. E s im pessoas famosas, belas e inteligentes. Não se evocou a clonagem de um deficiente físico o u d e um limítrofe, mas só daqueles que po dem representar nossa bela raça humana. O qu e não está longe do ideal eugênico. A " clonagem humana", como diz Umb erto Eco, "nada mais seria do que te ntar novamente aquilo que os nazistas já tentaram: produzir através de há beis cruzamentos somente indivíduos altos, louros, saudáveis e fortes, para obter um exército de super-homens".6 A discussão sobre a clonagem co nfirma a pr evisão de Lac an r elativa à incidência social da medicina, "que não poderá evitar", diz ele, "nem o eugenismo nem a segregação política da anomalia".7 Por outro lado, a clonagem atiça a fantasia da reprodução de cópias idênticas, geminadas, trazendo a possibilidade de o indivíduo vir a encontrar
em homens r elacionamento Oscom homens, suas D r ag kin gs são, rtransfor elaçõesmam adquirindo assimpara seutertrem açoum"homossexual". portanto, fr uto da tra nsformação da histeria pela ciência médica a serviço dos semblantes: fingem com a plástica ter um p edaço de salmão quando na verdade continuam sendo o s a lmão por baixo do plástico. Utilizando o recurso da ci ência médica, a histérica co ntinua denunciando a impostura do mestre, como s empre foi sua função social. Sendo a histeria o próprio inconsciente em e xercício, sua manifestação sempre aponta para uma f alha no saber médico.
um sidamconstituição esmo no outro que Lacan h á setenta já mostr ara ser a base do eu- no oestádio do e spelho. Hoje, anos o es tádio da clonagem é uma reatualização da miragem do e u que se pr ojeta das almas gê meas aos corpos donados. "Nas elucubrações fantásticas sobre a clonagem", como diz ainda Umberto Eco, "há uma forma de d eterminismo materialista ingênua, segundo a qual o d estino de um a pessoa é definido unicamente por seu patrimônio g enético." Introduzir aq ui o Nome-do-Pai é reafirmar o materialismo dos significantes que determinam o sujeito atrelando-o ao desejo do Outro. O clone
humano é uma ficção científica que f oraclui a dialética do desejo, degradando o Nome-do-Pai ao reduzi-lo a um patrimônio de DNA. Através da transgenética - transferência de material genético - é possível se criar ser es mistos, como um anim al transgênico que é produzido a partir de um embriã o em cuj a car ga genética foi incorporada uma seqüência de DNA de ou tra célula. Pode ser assim feito um porc o com algum órgão humano que sirva mais tarde p ara transplante. Assim, teremos bancos de órgãos vivos. Se isso é possível, a ciência já tem condição de criar efetivamente animais que até ent ão só p ovoaram nosso Imaginário. Em quan to tempo veremos Pégasos e Unicórnios, Sereias e Centauros na Disneylândia da ciência? Ou um mus eu d e horrores, onde o lugar de honra seria ocupa do por aquele rato com or elha humana cuja foto escandalizou a todos h á não muito tempo. Enquanto isto n ão apar ece, podemos dizer com Lacan que a "questão é sa ber se, devi do à igno r ância de como esse corpo é s ustentado pelo sujeito da ciê ncia, vai-se chegar n o Direito a se desmembrar esse corpo em função de trocà'. Questão que nos é co locada efetivamente aqui n o Brasil pela lei de doação compulsória de órgãos post mort em e sobr e o mercado pirata de ó rgãos em vida. "Tudo tem um limite! Tráfego de órgão s, não!" - diz a pe rsonagem, que impede o pior , no filme C entral do Bras il. Com a psicanálise apr endemos que o órgão é significantizado, pois o corpo enquanto tal é tomado pelo corpo simbólico, não send o portanto objeto de troca a ser mercantilizado ou posto à disposição do Out ro social. O transplante de um órgão nã o equivale à troca de uma bobina , pois imp lica um grande trabalho subjetivo e uma r eordenação da imagem corporal.
O banco de espe rma, a inseminação artificial e a fecundação in vitro , a barriga de aluguel e o con gelamento de embriões que podem permanecer vivos du rante 50 anos - tudo i sso é hoje uma realidade que a ciência p õe à disposição do consumidor. Entre o desejo sex ual e a r eprodução humana há algo que se chama vagamente de vida, que Freud nomeou como Eros.' deus do desejo para os gregos, pulsão de vida para os modernos. E propriamente o Eros feminino que faz na subjetividade essa ligação, pois ele vai do Pe nisneid, da inveja/desejo de pênis, ao desejo de filho. Nada é evidente no percur so que vai do desejo de filho à sua realização, como n os mostram os percalços desse desejo em análises de mulheres. É nesse hiato que se interpõem as ciências da vida, da b iologia à medicina, para responder ao enigma da insati sfação do d esejo feminino.
A, resposta é basea~a na d esvinculação da reprodução do ato sexua l. Se ~s metodos contracepnvos ~ortam esse vínculo para f azer valer o sex ual, llb;rando Eros ~a re pro duçao, por Outro lado a ciê ncia, a partir de s e u metodo concepnvo, promove a fec undação com a exc lusão de Eros. A distinção entre o N .ome-d?-~ai e ~ p~i i magi,nário que introduz a psicanálise mostra que .0 desejO f emllll~o nao e s .eparavel da lei simbólica e que não se pode preJulgar a concepçao sem paI ou a pr odução independente, pois não h á mulher igual a outra.
Ao lado da de pressão, há outra doença que v em sen do considerada pela mídia como a doença da atualidade. "Na base da competição sem lei, ameaças de desemprego e lucrodeste a todo custo, selvageria do s istema econômico f ez do estresse a doença fim de séc aulo."8 E, para novas formas do si ntoma, novas tecnologias são in ventadas e avalizadas pelo mestre moder no da me dicina, que com seus diplomas e títulos garante a "seriedade" do neg ócio. Mas hoj e em dia , o Mestre médico não tem pudor de se manifestar como agente do di scurso capitalista. "Todo sofrimento cria um merca do" - diz o neurologista dono das academias de ginástica Fisilabor e do We llness Cente r. E o dono da clínica M ed-Rio Stress acrecenta: "Investi R$ 1 milhão e es pero ter retorno em tr ês ano s." Apoiado nos progressos da n eurologia, faz-se, no W ellness Center, o cliente passar os primeiros 2 0 minutos numa po ltrona japonesa que massageia a coluna enquanto ouve música suave e vê imagens da natureza. A meia hora seguinte, ainda com músi c a, ele rec ebe de olhos fechados os lampejos produzidos por óculos elétricos cuja freqüência das luzes faze m o cérebro relaxar, como nos explica o doutor . Mas ainda há uma outr a opção para os mais estressados: uma cá psula de isolamento sensorial apelidada de "Kinder Ovo gigante." O médico Eric Al bert, fundador do In stituto Francês da Ansiedade e do Estresse, denuncia o trabalho como a maior causa do estresse, rev elando 9 que mais de 50%"é de seus clientes são assalariados. etivamente, disse P. Naveau, no corpo do trab alhador que Marx,Efhá muito, já como havia lido o gozo do mestre p ara detectar o sintoma social como uma manifestação de um estudo patológico do funcionamento do corpo social".1O Se antes a medicina do tr abalho podia s er considerada uma aliada do trabalhador para barrar o gozo do Mestre, hoje a medicina do estresse parece estar a se rviço do capitalista, ao tratar o rebotalho do seu discurso com máquinas de reciclagem para que voltem à ativa, mas sem excessos. Daí o t ratamento deste novo doente: o workahoLi c.
o saber sobr e o gozo, que a psicanálise com sua contribuição traz para a comunidade científica, se contrapõe à concepcão higiênica descrita pelo Dr. Eric Albert , que declarou: "Do ponto de vista fi siológico é c laro qu e o sexo acalma por causa da circulação de substâncias endógenas que o ato sexual provoca." Reintroduzir aqui o Nome-do-Pai é r eafirmar que o sexo caminha pelas suas impossibilidades e, q ue o corpo n ão é só f eito par a goza r. Ele está preso ao registro simbólico das palavras e ali enado à imagem do semelhante. O gozo próprio ao corpo se s itua fora d ele, em um obje to pulsional que toma corpo episodicamente em qualquer objeto do mun do empírico. A angústia, como excesso de gozo que retom a sobre o sujeito, denota a pr esença desse objeto que o r emete à sua própria c astração. E para esta não há remédio, só desejo. Não é possível medicalizar a angústia, que é, seg undo Freud, sempre angústia de cas tração. E n ão é receitando sexo que ela vai desaparecer. Se a r eceita vira imperativo, a angústia aumenta. O parâmetro mais importante para os a deptos da medicina do estresse é, de acordo ainda com Dr. Albert, a auto-estima, significante-choque de outro subproduto dessa medicina-psicanalítica: a neurolingüística. Esta, que confessa tomar p or base a imagem da ni formática com o paradigma do humano, considera, segundo Lair Ribeiro, que tudo o qu e somos e que acreditamos es tá codificado, programado, formatado no cérebro de cada um. O computad or é o modelo para a lógica do p ensamento. Mas essa banalização faz do homem uma máquina neuronal de onde o desejo e o inconsciente estão excluídos. E tudo é canalizado para a auto-sugestão, a auto-imagem, a auto-estima, mostrando que essa "neurolingüística" é nada mais nada menos do que um subproduto, um refugo d a cultura do narcisismo que promove a inflação do imaginário. A psicanálise recebe os r ebotalhos do discurso da c iência lá onde desponta o sintoma-verdade na falha do saber médico. É o que sempre acontece quando a medicina reduz a um organismo o sujeito - este se manifestará então no sintoma mostrando o furo no saber. A psic análise poderá ser a saída dos impasses da medicina acossada entre o discurso da ciência (cuja estrutura é, para Lacan, quase idêntica ao discurso da histérica) e o discurso do capitalista, modalidade moderna do discurso do m estre. A medicina é o sintoma dessa conjunção. Do lado da ciê ncia, a medicina-histérica faz d e seus médicos impotentes produtores de um saber que lhes esca pa. Do lado do capitalismo, a medicina-mestre impõe se us enxames de significantes-mestres e f abrica objetos de goz o par a engordar o futuro de uma ilusão que se espatifará quando do próximo encontro com o real. Os rebotalhos do discurso médico constituem para o analista novas formas do s intoma, que, ao serem observ adas de perto, sã o tão velhas quanto as r oupas do rei quando ele está nu .
1. Descartes. " Méditation seconde", in Oeuvres c ompletes. Paris: Pléiade, p.277. 2. Ibid., p.297. 3. J. Lacan. O Seminário, livro 11, Os quatro conceitosfUndamentais da p sicanálise. Rio de J aneiro: Jorge Za har, 1979, p.39. 4. J . Lacan. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Za har, 1998, p.260 . 5. S. Freud. A inte rpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: lmago, 1972 (ESB, vol.IV) , p.354.
1. Antes, é pr eciso fazer a observação de que as o bras de Freud foram publicadas no Brasil, pela lmag o Editora, a partir da Standard Edition inglesa, já traduzi da do alemão. Como se vê, é uma tradução da tr adução. A versão inglesa utiliza muitos termos em l atim, bastante con testados depois, porque os co nceitos ptopostos po r Freud são formados por palavras comuns do alemão. Assim, "Pulsão", palavra mais ou me nos banal da lín gua alemã, transforma-se em "instinto" na edição brasileira. 2. Outra tradução improcedente é a tradução de Verdrangung, que deveria ter sido traduzido por "recalque" e não por "repressão", palavra que tem o se ntido de algo que vem de fo ra, po r exemplo a re pressão policial. O reca lque é um mecanismo interno descrito por Freud como inerente ao sujeito. Chamado inicialmente de "censura", ele faz com que determinadas cena s, lembranças e desejos articulados a determinadas representações não apareçam no consciente. Foi a confusão entre recalque e re pressão, expressamente utilizada e teor izada por Reich, que gerou todo o mov imento fr eudo-marxista e se us equívocos entre a lei social e o rec alque, provocando um dos grandes desvios da psicanálise (do reichismo à bioenergética). 3. Para empr egar um termo usado por Lacan, o p sicótico foraclui, fazendo como se nunca tivesse existido. "Foraclusão" é a versão brasileira de um termo utilizado por Lacan (jórclusion), que vem do âmbito jurídico, significando que quando termina o prazo de recurso de um ptocesso, este é prescrito ou, usando Outro termo do âmbito jurídico, ele é precluído. Esse mecanismo que c hamamos de "foraclusão" é algo que, por não t er fun cionado em seu prazo de validade, não te m mais validade alguma. E é isso que o psicótico faz no âmbito da d iferença dos sexos e da castração. Cf meu Teoria e clínica da psicose. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 4. F. de Sa ussure. "A natureza do signo lingüística", in Curso de lingüística geral. São Paulo: Culrrix, 1976, p.130, 7a ed.
1. Cf. J. Lacan. "A in stância da letra no in conscieme ou A ra zão desde F reud" (1957), in Escritos, op. cit., e S eminário da identificação (1%1-2), inédito. 2. Em "O seminário sobre A carta roubada" e seus anexos (in Escritos), Lacan coloca num gr afo o resultado d e um jogo de par ou ímp ar feito ao a caso, mostrando que esse grafo é oriemado com vias p ossíveis e outras impossíveis. Nesse seminário, ele tr ata das vias de gozo promovidas p elo significame, sobre as quais falaremos no capítulo "As vertemes do sintoma". 3. J.L . Austin. Quand dir e, c'est faire. Paris: Se uil, 1970. 4. O qu e melhor pode ilustrar esse materna é o umbigo do sonho . Cf. capítulo seguime. 5. J. Lacan. "Radiophonie", SciLicet, 2/3. Paris: Seuil, 1970, p.n. 6. J. La can. Escritos, o p. cit., p.234. 7. MaL (mal) e mâLe (macho) são o mesmo significame, cujo signific ado varia conforme sua opo sição seja em r elação ao s ignificame bien (bem ou ao femeLLe (fêmea), além da grafia, obviameme.
18. Ibid ., p.134. 19. Cf. A. Quiner. Extravios do desejo: d epressão e meúmcoLia. Rio de Janeiro: Co ntra Capa, 1999. 20. E SB, voUV, p.249. 21. Carta a Fli ess nO 108 d e 9.6.1899, in La naissance de Ia psychanalyse. Paris: PUF, 1974, p.251. 22. ES B, vol.V, p.589. 23. Ibid., p .597. 24. lbid., p.614. 25. ESB, voUv, p.233. 26. E SB, vol.v, p.589. 27. lbid., p.619 . 28. Ibid., p .639. 29. "Em conseqü ência do apar ecimemo arrasado dos pr oc essos sec undários, o âmago de nosso ser, que consisre em impuls os inconsciemes impregnados de desejo, permanece inacessível à compreensão e à inibição do pré-conscieme" (ESB, vol.V, p.642).
1. F rase traduzida classicameme por "O sonho é uma realização de d ese jo". Emretanto, segundo o contexto, c omo veremos, e la admite outras traduções e imerpretações. 2. Prefácio à terceira edição inglesa ( 1931) de A interpretação dos sonhos. 3. ES B, vol.V, p.619. 4. ESB, voU, p.339. 5. Cf . J. Lacan. O Seminário, livro 7, A ética da psicanáLise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p.64 e se gs. 6. ESB, voU, p.450. 7. J. Lacan. O Seminário, livro 7, o p. cir., p.68. 8. ESB, vo U, p.460. 9. Texto que fa zia parte de s ua corr espondência pessoal com Fliess e publicada postumameme. Esse caráter epistolar e privado talvez tenha sido o que permitiu a Fr eud evocar aí que o verdadeiro dese jo que motivou o so nho de lrma foi um d esejo sex ual o que será generalizado para todos os so nhos e cons tituirá, ao longo de A inte rpretação dos sonhos, uma das teses principais. 10. J. Laca n. "Ouverture de Ia Sec tion Clinique" (1976), Ornicar?, 9. Paris, 1997. 11. Cf. o livro de François Regnault, Dieu est i nconscient, onde ele desenvolve es sa fórmula de Lacan, que se encontra no Seminário, livro 11, Os quatro conceitosf undamentais
30. Ibid., p .616. 31. Ibid., p.589. 32. Ibid., p.652. 33. ESB, voUv , p.332. 34. E SB, vol.v, p.362. 35. E SB, voUv, p.324. 36. I bid., p.328. 37. E SB, vol.v, p.600-1. 38. Ibid., p.611. 39. As represemações-mera não estão aqui tr aduzidas como tal, mas como "idéias intencionais". 40. Embora saibamos que nã o h á significame algum qu e possa nomear o desejo enquamo tal. 41. J. Lacan. Escritos, op. cit., p.629. 42. ESB, vol.v, p. 633. 43. S. Freud. Traumdeutung. Hambur go: Fischer, 1983. 44. ESB, vo l.v, p.603. 45. Ibid., p.636. 46. Ibid., p.637. 47. Cf. A. Quiner. O mais-de-oLhar. Rio de Janeiro: Jorge Za llar (no prelo). 48. ESB, vol.v, p.598. 49. J. Lacan. Escritos, op. cit., p.632.
da psicaná Lise, op. cit., p.60. 12. ESB, vo UV, p.139. 13. Ibid., p.142. 14. Ibid., p.l06. 15. J. Lacan. "Conférence à Geneve sur le symptôme" (4.10.1975), Le B Loc-Notes d e Ia Psychanalyse, 5. Pa ris, 1985, p.12. 16. ESB, vo UV, p.144. 17. Quando se dorm e, afinal, quem dorme? Não é o sujeito, pois enquanto sujeito de desejo ele aí está em fun ção. O eu , e nquanto função da co nsciência, é q uem dorm e e, quando de sperta, rende a adormecer o sujeito dese janre.
50. p.341. 51. ESB, ESB, voUv, vol.V, p.461. 52. Ibid., p.620.
1. A dem anda minúscula (d).
nos maternas de Lacan é notada em maiúscula (D) e o desejo em
2. O rermo "demanda", em francês, e srá muiro mais pre sente na f ala corrente , pois significa ranto "pedir" quanro "perguntar". Temos o "pr ivilégio", em nossa língua, de ess e rermo não ser rão usual, o q ue nos permire mais faci lmente elevá-Io à co ndição de conceiro . Na rradução brasileira do Seminário 11, de La c an, demande foi rraduzido, senão sempre, pelo menos a lgumas v ezes po r "pedido". Nos Escritos, foi preferido o rermo "demanda". 3. J. Lacan. Escritos, o p. cir., p.697. 4. Ibid., p.828. 5. Ibid., p.629. 6. Ibid., p.620. 7. G.W.F. Hegel. Fenomenologia dei espíritu. México: Fo ndo de Culrura Ec onómica, 1966, p.113. 8. "É so mente quando ele se formula, se no meia diante do o urro, que o desej o , seja ele qual for, é re conhecido no sentido pleno do re rmo. Não se rrara de sar isfação do desejo ... mas, exa ramente, do reconhecimento do desejo". In J. Lacan. O S eminário, livro 1, Os escritos técnicos de Freud. Rio d e Janeiro: Jorge Zahar, 1979, p.212-3. 9. J. Lacan, Escritos, o p. cir ., p.529.
3. M. Fo ucault. O nascimento da cl ínica. Rio de Janeiro: Forense Universirária, 1977, p.101-2. 4. Termo i nventado por ~a can a p artir da pala.vra grega Alétheia (verdade) para d esignar os obJer os produzidos pela ClenCla como v erdadeiros (O Seminário, livro 17, O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992). 5. M. Heidegger. "Alérheia", in Essais et conf érences. Paris: Gallimar d, 1958, p.3l3. 6. J. Lacan. Escritos, op. cir., p.282. 7. M. Heidegger. "So bre a essê ncia da verdade", in Conferências e escritos filos6ficos. São Pau lo: Ab ril Culrural, col. Os Pensadores, 1983, p .131-45. 8. J. Lacan. O Seminário, livro 17, o p. cir., p.68. 9. M. Heidegger. "Alérheia", op. cir., p.328. 10. M. Heidegger. "Logos", in Essais et conf érences. P aris: Gallimard, 1958, p.267. 11 . J. Lacan. Escritos, op. cir ., p.167. 12. Ibid., pAIO . 13. Ibid., p.367. 14. Ibid. p.28.
10. ESB, vol.XII, p.214. 11. Cf. A. Quiner. "Capiral e li bido", in As 4 + 1 condições de análise. Rio de Jan eiro: Jorge Za har, 1991. 12. Cf. J. Lacan. Seminário da identificação, lição X III, inédiro. 13. No d isposir ivo do passe, o ana lisante (o passante) re!ara e le mesmo como se d eu essa passagem a d ois "passadores", os quais r elararão, cada um por sua vez, o q ue esc urarem para um grupo peq ueno de a nalisras (que fazem fu nção de júri). E i sso r erorna ao ana lisante sob forma de nomeação de AE (Ana !isra da Escola), em caso de verificação do de sejo do analisra; no ca so negar ivo, o júr i pode se enconrr ar com o passante para dar suas ra zões da não nomeação. 14. Em "Discurso à Escola Freudiana de P ar is", rexro que passaremos a com entar, Lacan nos dá a lgumas indicações fundame ntais sobr e o dese jo do analisra. Ele f oi p ronunciado dois meses após a "Proposição". In Scilicet, 2/3. Paris, Seu il, 1987. 15. J. Laca n. Escritos, o p. cir ., p.794. 16. J. Lacan. "Proposição d e 9 de ourubro de 1967 sobre o A n alisra da Escola", Documentos para uma E scola (circulação interna). R io de Janeiro: Ler ra Freudiana, 1987, p.37. 17. J. Lacan. O Seminário, livro 11, op. CiL, p.260. 18. Ibid., p .258. 19. Ibid., p.260. 20. J. Lacan. "Nore iralienne", Archives de Ps ychanalyse. Paris: Eolia, 1 991.
15. Ib id., p.367. 16. Ib id., p.892. 17. Ibid., pA70. 18. ''Afirmo que o sinroma pode ser o parcei ro sex ual ... , ou seja, o sinroma nesse sentido é o que se con hece, e ar é mesmo o que melhor se con hece", in Seminário "I.:insu que sair d e l'une bévue s'aile à mourre" lição de 18.11.1976, Ornicar?, 12/13, p.6. 19. Cf. J. Lacan. "Inrrodução à edição a lemã de um primeiro volume dos Escritos (Walrer Verlag)", Falo, nO 2. Salvador: Faror, 1988, pI 20. ESB, vol.XVIII, p.33. 21. ESB, vo U, p.307. 22. "O complexo d e Édipo é como ra l um sinroma, in Seminário "Joyce le sinthome", lição d e 18.11.1975, Ornicar?, nO 6, p.9; e "Defino o sinroma p ela maneira como cada um goza d o inconsciente na me dida em q u e o incons ciente o der ermina", in S eminário "RSI" , lição d e 18.2.1975, Ornicar?, nO 4, p. 106. 23. ESB, vol.X, p.246. 24. ESB, vol.XX, p.138. 25. Cf. o relarório de S. C orr er, G. Clasrres er. aI., "Dema nde, désir, j ouissance dans Ia névrose o bsessionn elle", in Hystérie et obsession. Par is: Fondarion du Champ Freudien, 1986. 26. J . Lacan. O Seminário, livro11, op. cir., p.57. 27. J. La can. Escritos, op. cir., p.33. 28. J. La can. "... Ou pire ", Scilicet, 5. Paris, Seuil, 19 75, p.10. 29. J. Lacan. "Radiophonie", Scilicet, 2/3. Paris: Seuil, 1970, p.71-2. 30. J. Lacan. "Conférence à Géneve sur le symprôme", Le Eloc-Notes de la Psychanalyse, 5, 1985. 31. J. Lacan. Televisão. Rio d e Janeiro, Jorge Za har, 1993, p.19. 32. Cf. A. Quin er. "A fun ção das entrevisras preliminares", in A s 4 + 1 condições de análise, op. cir. 33. J. Lacan. Escritos, o p. cir., p.525. 34. J. Lacan. "I.:insu que sair de I'une bévue s'a ile à mourre", Ornicar?, 17, lição de 18.11.1976, inédiro. 35. J. Lacan. O Sem inário, livro 20, Mais, ai nda. Rio d e Jan eiro, Jorge Zahar, 1982, p.36.
1. J. Lacan. Escritos, op. c ir., p.70. 2. Se r udo é esrruru ra, para a p sicanálise, nem rudo é linguagem, pois no silêncio do simbólico, consr iruído por significanres, reina a pulsão de morre, que é ir represenrável. O conceiro de gozo em Lacan cor responde ao p ara-além da f unç ão da fa la e do campo d a linguagem. Esse go zo é represenrado na fa nrasia pelo objero a, que é pane da esrrurura psíquica (apesar de não ser um elemenro da esrrurura signiflcanre).
36. J. 37. J. 19.4.1977, 38. J . 39. J . 40. J. 18.11.1976,
Lacan. Escritos, op. cit., p.460. Lacan. ''L'insu que sa it de l'une p.14. Lacan. "Ouverture de Ia S ection Lacan. "RSI", Ornicar?, 4, lição Lacan. ''L'insu de l'une bévue p.6.
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