Volume 1, Número 1, Mai/Ago. 2013. YARON GAL WEIS
Filhos da Luz na Terra Santa: os Maçons Fundadores da Moderna Israel RAFHAEL GUIMARÃES
A Iniciação Maçônica: uma Análise de sua Mitologia por meio da Jornada do Herói JORGE EDUARDO DE LIMA SIQUEIRA
Processo Disciplinar Maçônico: Elementos Fundamentais de Validade KENNYO ISMAIL Maçonaria: Democracia e Meritocracia no Mundo Ocidental LUIZ FRANKLIN MATTOS Uma Luz na História: o Sendo e a Formação da COMAB (review review)) RUBENS CALDEIRA MONTEIRO
Fortalecendo os Laços que nos Unem news)) como Verdadeiros Irmãos (news EDUARDO CEZAR FERREIRA
A Ordem DeMolay na Rio+20 (report) FinP entrevista: Peter Diaz, Shriner
Associação ní
io
:
: o ã ç
YORK RIO or
c
: a zi l
oi e
p
o a
P
a
t R
A
Volume 1, Número 1, Mai/Ago. 2013.
Missão: Desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria e Fraternidades em geral, com foco em História e Ciências Sociais. Sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre pesquisadores de diferentes culturas, saberes e formação, acessando outros níveis de realidade e contribuindo para o enriquecimento de nosso conhecimento numa proposta transdiciplinar. Dados Catalográcos: Maio a Agosto de 2013. Volume 01. Número 01. Periodicidade: Quadrimestral Conselho Editorial Rubens Caldeira Monteiro (Editor(Editor -Chefe) José Roberto Ferreira Kennyo Ismail Luiz Franklin Maos Contato EditorEditor-Chefe: editor@np.com.br Suporte Técnico: suporte@np.com.br Portal: www.fraternitasinpraxis.com.br Contato geral: contato@np.com.br
Ilustração da Capa: Furniture of the Tabernacle—BibleRevival Tabernacle—BibleRevival (domínio público) Fonte: hp://masonicrenewal.drupalgardens.com/
Parceiros Instucionais: Associação YORK RIO Loja de Pesquisas Maçônicas “Rio de Janeiro” Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro
Aviso: Os argos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Revista Fraternitas in Praxis—FinP. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citados o autor e a fonte.
(Espaço desnado à catalogação)
2
Volume 1, Número 1, Mai/Ago. 2013.
Sumário Prefácio
5-7
Filhos da Luz na Terra Santa: os Maçons Fundadores da Moderna Israel YARON GAL WEIS
9-13
A Iniciação Maçônica: uma Análise de sua Mitologia por meio da Jornada do Herói RAFHAEL GUIMARÃES
15-22
Processo Disciplinar Maçônico: Elementos Fundamentais de Validade JORGE EDUARDO DE LIMA SIQUEIRA
23-31
Maçonaria: Democracia e Meritocracia no Mundo Ocidental KENNYO ISMAIL
33-39
Uma Luz na História: o Sendo e a Formação da COMAB (resenha) LUIZ FRANKLIN MATTOS
41-42
Fortalecendo os Laços que nos Unem como Verdadeiros Irmãos (nocia) RUBENS CALDEIRA MONTEIRO
43-44
A Ordem DeMolay na Rio20 (evento) EDUARDO CEZAR FERREIRA
45-48
FinP entrevista: PETER DIAZ, Shriner
49-53
3
4
Volume 1, Número 1, Mai/Ago. 2013.
Apresentação cia de publicações periódicas com um perl mais acadêmico-cienco. É neste contexto que nos inserimos.
Fundada por nove irmãos em 1884 e instalada em 12 de janeiro de 1886, a Loja Quatuor Corona é da como a primeira Loja de Pesquisas do mundo, e ainda em funcionamento. Sob o número disnvo de 2076 na Grande Loja Unida da Inglaterra – UGLE, seus membros fundadores veram por iniciava desenvolver estudos de história maçônica e pesquisa da Maçonaria baseados em evidências, e não em textos fantáscos como já naquela época exisam. Essa abordagem foi base para uma literatura maçônica mais autênca. Suas “Transacons” são publicadas anualmente, desde 1888, com o tulo de “ Ars Quatuor Coronatorum”, e guram hoje entre as mais respeitadas publicações maçônicas, tendo decisivamente contribuído para o desenvolvimento intelectual da Maçonaria, principalmente nos países de idioma inglês.
Buscando criar um laço de união entre estudiosos da Maçonaria, maçons e não maçons, acadêmicos e leigos, a FRATERNITAS IN PRAXIS apresenta-se como revista eletrônica com periodicidade quadrimestral, publicada pela Associação YORK RIO e pela Loja Maçônica de Pesquisas “Rio de Janeiro” nº 54 GOIRJ. Abrindo espaço para comparlhamento de trabalhos especializados no tema, com base nas prácas de publicação cienca seriada, visa divulgar trabalhos que de outra feita cariam restritas a apresentações em Lojas ou periódicos pouco acessíveis para todo buscador.
Atualmente, outras publicações se destacam no cenário mundial como voltadas para o estudo e a pesquisa maçônica: Philalethes (EUA, desde 1946), Points de Vue Iniaques (França, desde 1965), Phylaxis (EUA, desde 1980), Heredom (EUA, desde 2002), Revista de Estudios Históricos de la Masonería Lanoamericana y Caribeña - REHMLAC (Costa Rica, desde 2009) e Journal for Research into Freemasonry and Fraternalism - JRFF (UK, desde 2010). No Brasil existe já um sem número de publicações voltadas à divulgação de eventos e trabalhos maçônicos, entre as quais podemos citar: A Trolha (PR), Acácia (RS), Ao Zenyte (DF), Arte Real (MG), Astréa (RJ), Engenho & Arte (RJ), Na Sombra da Acácia (PA), O Pesquisador Maçônico (RJ), O Prumo (SC), O Vigilante (RS), União de Goiás (GO), Universo Maçônico (SP), além de diversos jornais e informavos de Lojas, Obediências simbólicas e altos corpos. Porém, ainda não devidamente explorado, existe uma carên-
O objevo da FRATERNITAS IN PRAXIS é desenvolver e promover estudos e pesquisas sobre Maçonaria e Fraternidades em geral, com foco em História e Ciências Sociais. Aceitando manuscritos em português e espanhol, sua dimensão internacional busca promover maior intercâmbio entre pesquisadores de diferentes culturas, saberes e formação, acessando outros níveis de realidade e contribuindo para o enriquecimento de nosso conhecimento numa proposta transdisciplinar. São diversos os formatos aceitos para publicação: Argo Original: argo teórico ou empírico que apresenta uma reexão e interpretação críca de algum fenômeno maçônico observado, sustentado por referências bibliográcas relevantes. Argo de Revisão: avaliação críca sistemazada da literatura, que apresente uma meta -análise
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 5 -7, Mai/Ago, 2013. 5
FinP - APRESENTAÇÃO ou o “estado da arte” de determinado assunto maçônico. Devem ser descritos os métodos e procedimentos adotados para a revisão e o texto deve ser baseado em revisão atualizada da literatura. Tratando -se de temas ainda sob invesgação, a revisão deve discur as tendências e linhas de invesgação em curso.
poderão apreciar um argo sobre a Maçonaria em Israel, de um diplomata do Estado de Israel em serviço no Brasil, Yaron Gal Weis. O argo, traduzido e comentado pelo nobre irmão Kennyo Ismail, advoga que “o Estado de Israel foi concebido e fundado por maçons e por pessoas ligadas a esses.” Bebendo de fontes judaicas, a Maçonaria mantém em suas lendas e mitos grande parte da tradição do Judaísmo, principalmente nos graus simbólicos, graus capitulares do Real Arco e graus inefáveis do Rito Escocês Ango e Aceito. Passando por comunidades ascécas como a dos “Filhos da Luz”, pelo Egito napoleônico até a 2ª Guerra Mundial, o autor, baseado exclusivamente na obra de Leon Zeldis, descreve o nascimento da Maçonaria Especulava regular em Israel.
Relato Críco de Evento: documento formal, especíco para informar resultados de eventos em execução ou concluídos, não apenas descrevendo o evento em si, mas também opinando sobre sua relevância e avanços. Resenha de Livro: consiste em análise críca de livros, teses, dissertações e monograas, publicadas no Brasil e no exterior sobre Maçonaria.
Entrevista: o foco nas questões ligadas aos Raael Guimarães aborda a jornada arqueconhecimentos e experiências maçônicas do entrevis- pica perpetrada pelo iniciando no Rito Escocês Ango tado, em nível essencialmente técnico. e Aceito pela óca do mito do herói, embasado nos Matéria nociosa: texto claro e objevo que estudos de Carl Jung e Joseph Campbell. Mito exclusitransmite informações recentes e contextualizadas, vo da mitologia maçônica a Lenda de Hiram Abbif foi muito bem retratada por Zé Rodrix no romance histósem a impressão de opinião pessoal do autor. rico “Johaben: Diário de um construtor do Templo”, Os argos são divididos nas seguintes seções: da sua “Trilogia do Templo” (448 p., Editora Record, 1. Simbologia e Filosoa; 2. História; 3. Sociologia, R$ 47,90). Este argo o conduzirá pelas fases dessa Antropologia e demais Ciências Sociais; e 4. Teologia. jornada do herói, passando das intempéries das paiNúmeros especiais voltados a tópicos relevantes ou xões até o vislumbre da Luz. atuais podem ser ocasionalmente publicados, inclusiEntendida como uma organização social, sob ve reimpressão de obras escassas e valiosas sobre a Maçonaria, bem como manuscritos inéditos e tradu- o ponto de vista civil, a Loja ou Obediência Maçônica deve buscar, em seu processo disciplinar, imputar aos ção de argos, mediante autorização. seus associados em desrespeito as suas normas, sanOs argos originais são avaliados inicialmente ções que não sejam contrárias às disposições conspelo editor-chefe para validação de adequação ao tucionais, de forma a garanr sua ecácia. O argo formato e submedos a revisores para avaliação anô- de Jorge Eduardo de Lima Siqueira traz relevantes nima (blind peer review). comentários sobre a validade dos processos discipliEsta revista oferece acesso livre imediato ao nares maçônicos, sobre o contraditório e a ampla deseu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibi- fesa, num ponto de vista práco, inclusive apresenlizar gratuitamente o conhecimento cienco ao pú- tando modelos de denúncia, ata de audiência e deblico proporciona maior democrazação mundial do poimento. conhecimento, adotando a Licença de Atribuição (BY) O argo de Kennyo Ismail apresenta a Maçodo Creave Commons (CC BY) em todos os trabalhos naria como precursora de prácas como a Democrapublicados, o que permite distribuição, e cópia, des- cia e a Meritocracia, observando as prácas seculares de que citada a fonte. de democracia direta e representava e de nomeaNeste primeiro número da revista os leitores ções realizadas por Lojas e Grandes Lojas, antes mesFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 5 -7, Mai/Ago, 2013. 6
FinP - APRESENTAÇÃO mo do surgimento das primeiras repúblicas moder- molay e Mestre Maçom Eduardo Ferreira apresenta nas. um relato críco da parcipação da Ordem DeMolay A formação da Confederação Maçônica do nesse evento internacional, evidenciando o protagonismo juvenil dessa organização patrocinada pela Brasil – COMAB, em 1973, representando a terceira Maçonaria. grande cisão do GOB, depois das de 1854 e de 1927, é o tema do livro “Uma Luz na História: o sendo e a Esperamos que os leitores possam aproveitar formação da COMAB”, de Octacílio Schüler Sobrinho, o conteúdo desse nosso número de lançamento da resenhado por Luiz Franklin Maos. O resenhista co- revista Fraternitas in Praxis – FinP, e aguardamos a meça alertando sobre as questões venladas durante colaboração de autores que queiram comparlhar o processo eleitoral para Grão-Mestre Geral e Grão- suas ideias, pesquisas e opiniões por meio de nossa Mestre Geral Adjunto do GOB, realizado em 9 de revista. março de 2013, no qual 734 Lojas não veram seus votos computados pelo Superior Tribunal Eleitoral Fraterna e Sinceramente, Maçônico. Há 40 anos, um processo eleitoral similar levou à dissidência e à formação da COMAB. A obra é fartamente documentada e tem grande valor pelo Rubens Caldeira Monteiro seu registro histórico. Editor-Chefe contato@np.com.br A entrevista da FinP desse número foi com o Dr. Peter Diaz, médico e Nobre Shriner. O Dr. Diaz teve sua infância em Cuba, de lá emigrando para a Espanha, onde se formou em Medicina, e depois para os Estados Unidos da América, para sua especialização. Foi na terra do Tio Sam que Diaz conheceu sua esposa, lha de maçom, tendo seu primeiro contato com a Maçonaria. Acabou apaixonando-se pelo trabalho lantrópico desenvolvido pelos Shriners. Hoje, o Dr. Peter Diaz é membro do Comitê Acreditador do Shriners Hospitals for Children e na entrevista à FinP fala de sua vida e dos propósitos dos Shriners. Rubens Caldeira Monteiro traz nocia sobre o reconhecimento de três Grandes Orientes Independentes pela Grande Loja do Distrito de Columbia (EUA), em novembro de 2012. O Grande Oriente do Rio Grande do Sul - GORGS, o Grande Oriente Paulista - GOP-SP e o Grande Oriente do Estado do Mato Grosso - GOEMT recebem no mês de maio de 2013 a visita do Grão-Mestre Teko Foly, da GLDC, com sede em Washington, para assinatura dos tratados. Realizada em junho de 2012, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento, conhecida Rio20 contou com a parcipação da Ordem DeMolay em seu evento paralelo, a Cúpula dos Povos na Rio20 por Jusça Social e Ambiental. O sênior DeFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 5 -7, Mai/Ago, 2013. 7
8
Recebido: 08/05/2013 Aprovado: 14/06/2013
FILHOS DA LUZ NA TERRA SANTA: OS MAÇONS FUNDADORES DA MODERNA ISRAEL Autor: Yaron Gal Weis¹ Tradução e Comentários: Kennyo Ismail² Resumo O presente argo, baseado no livro homônimo e de autoria do Ir. Leon Zeldis, apresenta um resumo da relação de Jerusalém, do atual Estado de Israel, dos judeus e israelenses com a Maçonaria Especulava, bem como um breve relato histórico do surgimento da Maçonaria Regular no Estado de Israel, além de apontar maçons que são personalidades históricas que desempenharam papel relevante na criação e formação do Estado de Israel. Palavras-chave: Israel; Judaísmo; Maçonaria.
Abstract This arcle, based on the book with the same name and by Bro. Leon Zeldis, summarizes the relaonship of Jerusalem, the modern State of Israel, Jews and Israelis with the Speculave Freemasonry, as well as a brief historical account of the emergence of Regular Freemasonry in the State of Israel, besides poinng Freemasons who are historical gures who played important role in the creaon and formaon of the State of Israel. Keywords: Israel, Judaism, Freemasonry.
¹ Yaron Gal Weis é cidadão israelense, funcionário do Ministério de Relações Internacionais do Estado de Israel em serviço no Brasil, e membro da Loja Maçônica “Flor de Lótus” n.38 - GLMDF. Apresentou este argo como exigência parcial do grau de Aprendiz Maçom. ² Kennyo Ismail teve a honra e o prazer de ser o padrinho maçônico do Ir. Yaron, tê -lo iniciado durante sua gestão como Venerável Mestre em uma Iniciação bilíngue, e auxiliá-lo com a tradução deste argo. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 9 -13, Mai/Ago, 2013. 9
WEIS, Yaron Gal. FILHOS DA LUZ NA TERRA SANTA: OS MAÇONS FUNDADORES DA MODERNA ISRAEL adores armam que Jesus de Nazaré tenha pertencido a essa comunidade, também conhecida como dos Este argo é baseado no livro "Filhos da Luz essênios. na Terra Santa", escrito pelo excelenssimo Irmão Em Jerusalém, pode-se ainda encontrar vesLeon Zeldis, Fellow da Philalethes Society , membro da gios da Maçonaria Operava relacionados a lendas Sociedade dos Frades Azuis, 33°, Past Soberano Granmaçônicas. O Muro das Lamentações, situado em Jede Comendador do Supremo Conselho do Rito Escocês para o Estado de Israel, Grão-Mestre Adjunto de rusalém, é na verdade a única relíquia que sobrou do Templo de Herodes³. Os registros ociais indicam que Honra da Grande Loja do Estado de Israel. durante escavações arqueológicas feitas em seu subO escritor deste argo não tem qualquer in- solo, um túnel foi encontrado. Os arqueólogos então tenção de discur o escopo completo do profundo e encontraram as pedras da fundação, que aparentesério trabalho histórico do ilustre Irmão Leon Zeldis. mente sustentavam a base das paredes do templo. Na verdade, opta-se aqui por seguir um argumento Elas nham sido esculpidas tão perfeitamente, que especíco que sugere que o Estado de Israel foi con- não se pode sequer enar uma faca com a lâmina cebido e fundado por maçons e por pessoas ligadas a mais na entre elas (p. 28). Isso pode ser uma evidênesses. cia da existência de pedreiros prossionais há mais de 2.000 anos. Os Judeus e a Maçonaria Operava Na opinião de vários historiadores, debaixo da Não é de surpreender que o povo judeu tenha sido de alguma forma, e alguns judeus ainda estão, bela Cúpula da Rocha, na Mesquita de Al -Aksa, situainterligados com a Maçonaria. Como é de conheci- se a pedra fundamental ou pedra santa do Templo de mento público, alegoricamente a Maçonaria conside- Herodes. De acordo com a Bíblia, a Arca da Aliança ra Israel, mais especicamente Jerusalém, como seu foi colocada à frente dela (p. 29-30). berço. Anal de contas, o Templo de Salomão tem A importância de Jerusalém para o Judaísmo uma importância signicava para a Maçonaria em pode ser demonstrado na seguinte anga crença jutodos os ritos maçônicos regulares (p. 7). daica: a) a Terra de Israel é o centro do mundo; b) Embora não há evidência histórica de que Jerusalém é o centro de Israel; c) o Templo é o centro qualquer po de organização dos maçons operavos de Jerusalém; d) O Dvir´ é o centro do Templo; e) A tenha exisdo até, pelo menos, a fundação do Reino Arca da Aliança é o centro do Dvir; (f) A pedra fundaLano de Jerusalém pelos cruzados no século 11 d.C. mental ou pedra santa está na frente da Arca da Ali(p. 8-9), algumas caracteríscas desse po de organi- ança (p. 30). zação podem ser encontradas na comunidade de Maçonaria Especulava no Oriente Médio Qumran, um grupo judaico messiânico que viveu nas Antes de começarmos a explorar a Maçonaria proximidades do Mar Morto (p. 8-9). Entre essas ca judaica, é de extrema importância nos situarmos no racteríscas, pode-se notar o termo pelo qual o grucontexto histórico para o desenvolvimento da Maçopo era conhecido, “Filhos da Luz”; o processo de admissão na comunidade, que correspondia a um lento naria no Oriente Médio. Em 1798, Napoleão Bonaprogresso dos recém-chegados, que eram supervisio- parte conquistou o Egito, seguindo para o Norte e nados e avaliados periodicamente; e o simbolismo conquistando também Gaza, Jaa e Ramallah. Muitos baseado em pilares e pedreiras (ibid.). Alguns histori- ociais e soldados do seu exército eram maçons. TalIntrodução
³ N.E.: Flavius Josephus (37 d.C. – ca. 100 d.C.), judeu e romano, registra que o Templo de Jerusalém foi totalmente reconstruído por Herodes, o Grande (ca. 73 a.C. - 4 a.C ou 1 d.C.). Ficou conhecido como Templo de Herodes ou Terceiro Templo de Jerusalém, após a construção por Salomão (ca. 957 a.C.) e a reconstrução após o caveiro na Babilônia (ca. 515 a.C.). ´ Dvir, que signica “o lugar mais sagrado”, mais conhecido como Sanctum Sanctorum. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 9 -13, Mai/Ago, 2013. 10
WEIS, Yaron Gal. FILHOS DA LUZ NA TERRA SANTA: OS MAÇONS FUNDADORES DA MODERNA ISRAEL vez daí a forte predominância da Maçonaria francesa o meu povo”. Ou seja, em outras palavras: “Liberte sobre a Maçonaria judaica em Israel durante o início os!” de sua formação (p. 32-33). Porém, somente a parr do Século 19 há eviUma das empreitadas mais intrigantes dos dências de avidades maçônicas na terra de Israel (p. ociais de Napoleão foi o estabelecimento de uma 14). No ano de 1860, a “ Alliance Israelite Universelle” loja em Alexandria com o nome de “Isis” (p. 33). Por foi fundada na França, com o objevo de incenvar a que razão esses ociais escolheriam especicamente educação judaica no Oriente. Um de seus fundadores esse nome para a Loja? Alguns cécos provavelmente foi eleito em 1869 como Soberano Grande Comendapodem sugerir que a razão foi, obviamente, a locali- dor do Supremo Conselho do Rito Escocês Ango e zação da Loja no Egito. Porém, um maçom bem ins- Aceito na França (p. 19). A “Aliança” teve um grande truído provavelmente levará em consideração que a impacto sobre a educação secular judaica e israelendeusa egípcia Isis simboliza conhecimento, a ordem se antes do estabelecimento do Estado de Israel, e temporal do sacerdócio e do corpo cumulavo de maior importância ainda após a sua criação. iniciados. Ela é personicada como o Templo, Ela é a Outra organização com uma extrema impormãe de todo o bem, a protetora do certo e a patrona tância para a formação de Israel foi o movimento de todo desenvolvimento. É relevante também men- “Hibbat Zion” (Amor de Sião), que foi fundado em cionar que Isis era a patrona das artes mágicas entre 1889 por intelectuais judeus russos, na cidade de os egípcios, enfazando que a magia deveria ser usa- Odessa (p. 20). O objevo principal desse movimento da exclusivamente para o propósito da redenção da era encorajar os judeus à imigração para Israel e estaalma humana. Enquanto Isis é idencada com o belecer assentamentos agrícolas e industriais com Templo, ela representa apenas um dos lados de um base em princípios democrácos e liberais (ibid.). Estriângulo mísco. Os outros dois lados são Osíris, sim- se movimento estabeleceu a Sociedade Secreta bolizando a aprendizagem dos ritos angos, e Hórus, “Bne'I Moshe” (Filhos de Moisés) a qual foi fortemensimbolizando os adeptos que “nasceram de novo”, te inspirada pela Maçonaria (p. 21). Um dos seus fora do útero da mãe Isis, que representa a escola de principais fundadores era Asher Ginzberg (“Ahad Ha mistérios ou a iniciação. Am”), que afetou profundamente a movação dos Alguém poderia perguntar por que o autor dá tanta atenção ao Egito e sua mitologia. A resposta encontra-se na conexão entre o Ango Egito, o povo de Israel e a Maçonaria judaica moderna. A Bíblia conta a história do povo de Israel, que serviu governantes egípcios como trabalho escravo. De acordo com as angas fontes, o povo de Israel trabalhou na construção das pirâmides. Considerando isso, os judeus foram angos maçons operavos prossionais (infelizmente não podemos acrescentar o termo “livres”, nesse caso). A parr daí, pode-se imaginar a atravidade da losoa maçônica aos judeus. Anal de contas, foi Moisés quem disse ao Faraó: “Deixa ir
judeus europeus a emigrar para Israel. Asher Ginzberg nha conexões com a Maçonaria: sua lha era casada com um maçom avo (ibid.). O chamado “Caso Dreyfus”⁵, que reeu em violência e anssemismo na Europa, levou ao surgimento do líder do movimento sionista, Theodor (Binyamin Zeev) Herzl (p. 24). Embora o próprio Herzl não fosse maçom, o seu pai era, e Herzl havia sido “adotado” em um ritual maçônico de adoção de lowtons⁶ , realizado nas dependências de uma organização chamada “Chevra Kadisha” (Sociedade Sagrada) em Budapeste (p. 25). O movimento sionista culmi-
⁵ Dreyfus foi um ocial do exército francês, de origem judaica, que, inocente, sofreu um processo judicial coberto de fraudes que levou a sua condenação. Para reduzir os efeitos públicos do erro judicial, iniciou -se uma campanha nacionalista e xenofóbica na França, a qual alcançou toda a Europa ainda no nal do século XIX. ⁶ Cerimônia pela qual uma Loja Maçônica assume o compromisso de apoiar e orientar na formação moral e intelectual do lho de um de seus membros, no caso de sua ausência. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 9 -13, Mai/Ago, 2013. 11
WEIS, Yaron Gal. FILHOS DA LUZ NA TERRA SANTA: OS MAÇONS FUNDADORES DA MODERNA ISRAEL nou em uma onda de imigração de judeus para Israel, e de uma de suas principais criações, a Organização Sionista Mundial – OSM, quando surgiram as instuições nacionais iniciais de Israel e seus primeiros líderes polícos. Seria interessante notar que, em 13 de maio de 1868, o Mui Venerável⁷ Irmão Robert Morris, Past Grão-Mestre da Grande Loja de Kentucky, dirigiu uma cerimônia fechada na caverna de Zedequias, popularmente conhecida como “Pedreiras do Rei Salomão”, numa profundidade abaixo das muralhas da cidade velha de Jerusalém. O Dr. Morris trabalhou incessantemente para erguer a primeira Loja Maçônica regular em Israel e, em 1873, ele nalmente conseguiu obter uma carta constuva da Grande Loja do Canadá, com sede em Ontário, para a “ Royal Solomon Mother Lodge” n º 293, para trabalhar “na cidade de Jerusalém ou locais adjacentes”. Esta foi a primeira Loja Maçônica regular em Israel. A maioria de seus membros fundadores eram colonos americanos que viviam em Jaa (p. 33-37). Como já assinalado neste argo, os maçons judeus nham desempenhado um papel importante na formação da educação judaica e israelense. Um deles foi o Irmão Karl Neer, que estabeleceu a “Mikve Israel”, a primeira escola a ensinar métodos de agricultura moderna em Israel (p. 46). Outro famoso educador judeu foi o também maçom David Yellin (1864-1941). O Irmão Yellin foi um dos primeiros professores de hebraico em Israel, e um dos fundadores da Biblioteca Nacional e do Comitê da Língua Hebraica (p. 69). Além disso, ele atuou como Vereador da cidade de Jerusalém e Vice -prefeito (ibid.). E por úlmo, mas não menos importante, é um agradável dever mencionar o Irmão David Yudilevich, que foi um dos fundadores da cidade de Zichron Yaakov, e que estabeleceu a escola “Haviv”, a primeira no mundo a ensinar apenas em língua hebraica. Ele tam-
bém atuou como Vereador, na cidade Rishon Le Tzion (p. 70-72). Outra anedota sobre as conexões históricas entre Jerusalém e a Maçonaria pode ser encontrada na história do Irmão e Sir Charles Warren. Em 1867, o General Charles Warren iniciou um período de escavação clandesna, que durou cerca de três anos. Uma de suas descobertas mais curiosas foi o “Salão Maçônico” sob as paredes do Monte do Templo ⁸, em Jerusalém. As paredes do “Salão Maçônico” foram construídas com pedras cortadas e contêm duas colunas quadradas com tulos esculpidos, aros e batentes (p. 42-43). Apesar de se esperar que os maçons não tratem de questões polícas e religiosas dentro de suas Lojas, nada impede que um maçom seja engajado policamente fora dela. Pelo contrário, um maçom deve ser, acima de tudo, livre para lutar por aquilo que acredita. Esse foi o caso de um dos mais importantes e inuente ideólogos sionistas, Irmão Vladimir (Ze'ev) Jabonsky (1880-1940). O Irmão Jabonsky foi o fundador do movimento revisionista na organização sionista, que mais tarde deu origem ao nascimento do pardo de extrema-direita sionista: o “Likud”. Menachem Begin e Benjamin Netanyahu são os dois Primeiros-ministros israelenses que surgiram a parr desse movimento (p. 143). Além disso, o Irmão Jabonsky também foi um escritor, poeta e tradutor (ibid.). A primeira Grande Loja Nacional em Israel foi constuída em 1933, mesmo antes da criação do Estado, e reuniu todas as Lojas que estavam trabalhando sob jurisdições egípcias ou francesas. As lojas de língua inglesa, no entanto, recusaram-se a aderir à nova Grande Loja e connuaram trabalhando separadamente. A falta de reconhecimento por parte da Grande Loja Unida da Inglaterra resultou em um quase completo isolamento internacional (p. 156-158).
⁷ Em todo o mundo os Grão -Mestres são chamados pelo termo de tratamento “Mui Venerável”. Já no Brasil, como sempre, modicações ocorreram. Uns são chamados de “Soberano”, outros de “Sereníssimo” e outros de “Eminente”. ⁸ Um dos locais mais sagrados de Jerusalém, do como sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. Os judeus consideram que se trata do sagrado Monte Moriá, onde foi construído o Templo de Salomão. Há um aviso para que os judeus não se aproximem, visto o risco de, sem saberem, invadirem o território do Sanctum Sanctorum, o qual, mesmo com o desaparecimento total do Templo, é do como restrito ao Sumo Sacerdote. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 9 -13, Mai/Ago, 2013. 12
WEIS, Yaron Gal. FILHOS DA LUZ NA TERRA SANTA: OS MAÇONS FUNDADORES DA MODERNA ISRAEL A 2ª Guerra Mundial teve um efeito tremendo e desastroso sobre a Maçonaria em todo o mundo e, especialmente, sobre os judeus maçons. Um caso especial, nesse contexto, é a história das cinco Lojas Maçônicas de língua alemã, fundadas em Israel em 1931 pelo Grão-Mestre da Grande Loja Simbólica da Alemanha, o Mui Venerável Irmão Oo Muelmann. Ele percebeu que a ascensão de Hitler na Alemanha poderia signicar o m da existência da Maçonaria em seu país. Então ele viajou para Israel e, com a ajuda de Irmãos alemães que emigraram para escapar das leis raciais nazistas, fundou Lojas nas três principais cidades: Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Logo depois, a Maçonaria foi realmente proibida na Alemanha, as Grandes Lojas alemãs fecharam suas portas, e muitos Irmãos maçons foram brutalmente assassinados nos campos de concentração. Lojas de língua alemã em Israel e Chile, por exemplo, manveram viva a chama da Maçonaria alemã durante aqueles anos terríveis e, após o m da guerra, foram cruciais no reestabelecimento da Maçonaria na Alemanha (p. 114-116).
serviu como Vereador da cidade de Haifa, Vice prefeito e, nalmente, Prefeito (ibid.). Além disso, o Irmão Levy assumiu, como já mencionado, como o primeiro Grão-Mestre da Grande Loja do Estado de Israel, em 20 de outubro de 1953 (p. 192-200). Comentários Finais
Em resumo, na verdade muitos maçons esveram envolvidos na criação do moderno Estado de Israel. O autor deste argo gostaria de sugerir ao leitor mais esclarecido que evite se confundir entre Sionismo e Maçonaria. Essas duas instuições losócas não são uma. São claramente diferentes, conjuntos separados de ideias e ideais. Deve-se ter em mente que, apesar do fato de muitos maçons terem parcipado de forma profunda e relevante na criação e formação da Israel moderna, eles zeram isso como indivíduos e de suas próprias iniciavas. Logicamente foram posivamente inuenciados pelo espírito humanista da Maçonaria, o qual preconiza princípios como de liberdade, igualdade, fraternidade e verdaApós a 2ª Guerra Mundial, houve a necessida- deira amizade entre as pessoas, independentemente de da (re)criação de uma Grande Loja em Israel, que de religião, raça, status social ou convicções polícas. fosse capaz de promover a unidade dentro da MaçoComo se pode facilmente observar, há uma naria israelense e conquistar reconhecimento inter- virtude fundamental que é incuda pela iniciação nacional. Esse ideal foi alcançado em 1953, no edi- maçônica em seus membros, que é auto aperfeiçoacio da YMCA⁹ em Jerusalém, quando, em uma ceri- mento. Todos e cada um dos heróis maçons judeus mônia impressionante, conduzida pelo Conde de El- começaram com a busca pelo aperfeiçoamento de si gin e Kincardine, na posição de Past Grão -Mestre da mesmos antes de tentarem melhorar o mundo exteGrande Loja da Escócia, a Grande Loja do Estado de rior em que viviam. Essa é provavelmente a chave Israel foi instalada e o Mui Venerável Irmão Shabetay que dá acesso ao maior segredo maçônico, a construLevy foi empossado como seu primeiro Grão -Mestre ção de um maçom sério e dedicado. (p. 189-200). Este autor opta por concluir este breve argo com um modelo humilde e reservado da Maçonaria Bibliograa israelense: Irmão Shabetay Levy. O Irmão Levy aju- ZELDIS-MANDEL, Leon. B’nai Or Be’Eretz HaKodesh, ( Sons of dou judeus, cristãos e muçulmanos perante as autori- Light in the Holy Land ). Israel: E. Narkis, 2009. dades otomanas 10 (p. 149). O Irmão Levy também ⁹ N.E.: YMCA, do inglês Young Men's Chrisan Associaon, Associação Cristã de Moços. 10
O Império Otomano foi um dos maiores e mais duradouros impérios da Era Vulgar, durando mais de 600 anos. Entre o nal do século XIX e início do XX, concentrou -se no território correspondente atualmente ao Egito, Oriente Médio e Turquia. Sua queda ocorreu em 1922. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 9 -13, Mai/Ago, 2013. 13
14
Recebido: 02/05/2013 Aprovado: 10/06/2013
A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA DO HERÓI Raael Guimarães¹ Resumo O presente argo visa realizar análise das diferentes etapas da iniciação maçônica no grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Ango e Aceito por meio da mitologia existente nos ciclos da jornada do herói, de forma a vericar a mitologia maçônica do primeiro grau com o conceito de monomito e compreender o ritual de iniciação do Rito Escocês como processo de evolução psicológica do iniciando. Palavras-chave: mitologia; iniciação; Maçonaria.
Abstract This arcle aims at analyzing the dierent stages of Masonic iniaon in the Entered Apprence degree of the Ancient and Accepted Scosh Rite through cycles of mythology exists in the hero's journey, in order to verify the mythology of the rst masonic degree with the concept of monomyth and understand the iniaon ritual of the Scosh Rite as a process of neophyte’s psychological evoluon. Keywords: mythology; iniaon; Freemasonry.
¹ Raael Guimarães é Mestre Maçom, membro da GLMEES, e Maçom do Real Arco, liado ao SGCMRAB. Além de pertencer a outras Ordens Iniciácas, ministra cursos e palestras sobre Cab ala, Astrologia e Tarô.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 15
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... Introdução Este estudo tem por objevo analisar as inuências arquepicas e, consequentemente, mitológicas sobre a iniciação maçônica no Rito Escocês Ango e Aceito, por intermédio da teoria conhecida por Jornada do Herói. Muitos talvez possam julgar os rituais maçônicos como obsoletos, sem sendo ou mesmo inúteis. Serão apontadas as evidências de que os rituais maçônicos e a mitologia que os estruturam têm forte efeito sobre o inconsciente de seus pracantes (JUNG, 2005). Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em alguma medida, representadas nas alegorias maçônicas (MAXENCE, 2010). Ao contrário da escola freudiana, que arma que os mitos estão profundamente enraizados dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura formal do inconsciente colevo. Torna-se assim uma diferença considerável para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congênita da mente e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia uma dimensão coleva inata e com autonomia energéca.
a iniciação maçônica sob a luz da jornada do herói. Compreende-se a validade e relevância de tal abordagem pelo fato da literatura maçônica publicada no Brasil privilegiar as interpretações ritualíscas que seguem um raciocínio estrito ao entendimento consciente de seus ensinamentos morais (ISMAIL, 2012), desconsiderando os efeitos psicológicos produzidos pela práca ritualísca (JUNG, 2005). Depois do trabalho de psicanalistas que tanto ulizaram da mitologia para embasar seus argumentos, como Sigmund Freud, Carl G. Jung, Wilhelm Stekel, Oo Rank, e muitos outros, os quais desenvolveram teorias substancialmente fundamentadas de interpretações de mitos, faz-se necessário explorar tais conhecimentos, empregando-os numa melhor compreensão dos rituais e, nalmente, da Maçonaria em si. Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e muitas dessas estão de alguma forma presentes nas alegorias maçônicas (MAXENCE, 2010), seja de forma direta ou indireta. Conquanto, neste estudo em parcular, serão discudas as semelhanças que há nos rituais maçônicos, em especial no de Iniciação do Rito Escocês Ango e Aceito, as demais mitologias do mundo. Nas palavras ad -referendum do erudito norte americano, Joseph Campbell (2007):
As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento cienco que o estudioso das Religiões e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, adotou para sustentar as similaridades existentes entre todas as religiões e mitologias da história. Tal conceito chamado anteriormente de “ Monomito”² por Jaymes Joyce, foi esmiuçado por Campbell, que mostrou todo o roteiro da manifestação arquepica do herói, que se encontra presente na sociedade como um arquépo do Inconsciente Colevo (JUNG, 2005; JUNG, 2011a).
A esperança que acalento é a de que um esclarecimento realizado em termos de comparação possa contribuir para a causa, talvez não tão perdida, das forças que atuam no mundo de hoje, em favor da unicação, não em nome de algum império políco ou eclesiásco, mas com o objevo de promover a mútua compreensão entre os seres humanos. Como nos dizem os Vedas: "A verdade é uma só, mas os sábios falam dela sob muitos nomes” (CAMPBELL, Herói de mil faces).
Dessa forma, o presente estudo se embasará nos trabalhos de Campbell e Jung, analisando e comparando ² O termo “Monomito” é de autoria de James Joyce, da obra “Finnegans Wake”. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 16
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... A Jornada Arquepica do Herói na Mitologia Maçô- lica e não literal (CAMPBELL, 2002; CAMPBELL, 2008). nica Conforme descreve Arthur E. Waite, em “A Jornada do herói X Iniciação Maçônica
New Encyclopedia of Freemasonry ”:
O intulado “Herói” na análise psicológica da sua manifestação, pode ser compreendido como um arquépo dentro da psique coleva (JUNG, 1978). Para reforçar tal teoria, Campbell indica sua representação nas mais conhecidas culturas e religiões ao redor da terra (CAMPBELL, 2007). Também poderemos encontrá-lo em ordens iniciácas como a Maçonaria. Conforme o autor, o herói é encontrado essencialmente nas histórias de Atum, do Ango Egito; de Marduk, dos Mistérios Sumerianos; de Apolo, Febo, Héracles, Dionísio e Orfeu, da Mitologia Greco Romana; de Krishna, da Religião Hinduísta; de Baldur, dos Mistérios Nórdicos; de Amaterasu, na religião Xintoísta; de Oxalá, Oxalufã, e Oxaguiã, das Religiões Afro-brasileiras; de Rei Arthur, Galahad e Persival, na história mitológica do Santo Graal; na verídica história de Jacques DeMolay, nos Cavaleiros Templários; em Chrisan Rosenkreuz, nas Núpcias Alquímicas da Tradição Rosa Cruz; em vários heróis cinematográcos, como Luke Skywalker, Indiana Jones, James Bond, Superman, Harry Poer, Frodo Bolseiro e Aragorn; além de Jesus o Cristo, da Religião Cristã (DEL DEBBIO, 2008). Em todas estas histórias, encontram se similaridades que podem ser compreendidas pelo conceito de Inconsciente Colevo. Por m, na Mitologia Maçônica tem-se a lenda de Hiram Abi, mito esse exclusivo da Maçonaria (STAVISH, 2011). Embora a Mitologia Maçônica ulize do contexto condo no Ango Testamento, pouco se tem no mito de conteúdo especicamente bíblico, haja visto que o enredo principal é composto por mitos elaborados. Malgrado, muitos são os maçons que insistem em fundamentar a maçonaria na bíblia, ou, pior ainda, fundamentar a história pela Maçonaria (ISMAIL, 2012). O maior exemplo de elaboração míca na Maçonaria é a de Hiram Abi, o protagonista da lenda do grau de Mestre Maçom. Não há, logicamente, registros históricos de tais eventos, e interpretá los no sendo literal é um erro crasso, pois mitos devem ser interpretados, como já dito, de forma simbó-
A lenda do mestre construtor é a grande alegoria maçônica. Sucede que essa história gurava baseia-se num personagem mencionado nas sagradas escrituras, mas o pano de fundo histórico é acidental e não essencial, assim o importante é a alegoria e não um ponto histórico qualquer que esteja por trás dela” (1921, p.366-267)
O Monomito Assim como a psique humana é dividida em três partes pela Psicologia Analíca, a Jornada do Herói também o é, podendo ser classicada como: a) separação ou parda; b) iniciação ou provas e vitórias; e c) o retorno (CAMPBELL, 2007). Esse ternário constui a base essencial do mito, bem como dos Rituais de Passagem (VAN GUENNEP, 2011). No que concerne a Iniciação Maçônica, essa pode perfeitamente ser enquadrada neste postulado, como o estudo demonstrará abaixo. A teoria da Jornada do Herói teve por base a ideia do Monomito difundida por James Joyce, vindo a ser aperfeiçoada por Campbell pela associação com o conceito freudiano de forças do Inconsciente, alcançando seu embasamento cienco com a psicologia analíca ou arquepica de Jung, que propõe o conceito psicológico de Arquépos e Inconsciente Colevo. A estruturação dos Ritos de Passagem pelo antropólogo Arnold Van Guennep possibilitou a análise das diferentes fases da aventura do herói, bem como as diversas manifestações do mesmo, nas sociedades tribais (VAN GUENNEP, 2011). Para tanto, será apresentada a constuição básica da Jornada do Herói, seus signicados psicológicos e antropológicos, que estão presentes em formas disfarçadas nos contos e mitos, além é claro, de exemplicar o contexto maçônico da mitologia, ideia central deste argo.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 17
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... Parda ou Separação: O chamado da aventura Eu o proponho, na devida forma, como um candidato apropriado para os mistérios da Maçonaria. Eu o recomendo, como digno de comparlhar privilégios da Fraternidade, e, em consequência de uma declaração de suas intenções, feita de forma voluntária e devidamente atestada, eu acredito que ele seguirá estritamente em conformidade com as regras da Ordem (Illustraons of Masonry , PRESTON, 1867, p.26)
outros interesses. A recusa à convocação acaba por aprisionar o herói mitológico, seja pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela ignorância. A recusa é uma negação à atude de renunciar àquilo que a pessoa considera interesse próprio, e tal recusa caracteriza se, essencialmente, pela idencação da persona³ com seu ego´ o que acarretaria no conceito psicológico de Inação (HALL; NORDBY, 2010).
Como exemplo, pode-se citar o caso da esposa de Ló, que se tornou uma estátua de sal por ter olhado para trás, desobedecendo assim a instrução recebida. A forte emoção que dominou Ló tornar -seA primeira tarefa do herói, no caso maçônico, ia uma “recusa do chamado”, pois poderia efevao candidato à iniciação, consiste em rerar-se da ce- mente ter rompido com a jornada. ⁵ na mundana, do mundo comum, e iniciar uma jornaA recusa do chamado na maioria das vezes é da pelas regiões causais da psique (templo maçôni- representada pelo medo em suas várias manifestaco), onde residem efevamente as diculdades, para ções. É dessa forma que, muitas vezes, ocorre a torná-las claras, conscientes e erradicá-las em favor “recusa do chamado” na jornada maçônica. Se por de si mesmo (CAMPBELL, 2008). Normalmente um algumas vezes o medo do desconhecido ou oculto problema se apresenta diante do herói a m de con- impede candidatos de iniciar, outras vezes a própria vocá-lo a cumprir sua missão, mas também poderá cultura de certas sociedades trata de cumprir esta ocorrer um fator incisivo para o crescimento do he- função. rói, como curiosidade, sonhos ou desejos. Deste modo, conforme o procedimento maçônico padrão (PRESTON, 1867), o candidato é geralmente convida- O auxílio sobrenatural do a iniciar na Sublime Ordem. O convite parte do Para aqueles que não recusam o chamado, o chamado no meio maçônico de padrinho, o qual gu- primeiro encontro da jornada do herói se dá com ra a função de arauto. E na aceitação do convite resi- uma gura protetora, que fornece ao candidato ajude o “chamado da aventura” (CAMPBELL, 2007), que, da para lhe proteger na jornada que estará prestes a em outras palavras, é um sinal enviado pelo inconsci- deparar-se. ente. As mitologias mais elevadas desenvolvem o papel na gura de uma espécie de guia ou de mestre. No mito grego esse guia é Hermes-Mercúrio, e no A recusa do chamado mito egípcio sua contraparte é Thoth. Nas tradições Sempre se tem, tanto na vida real como nos contos judaicas, Noé contou com uma pomba. Na mitologia mitológicos, o triste caso do chamado que não obtém cristã encontramos como guia o Espírito Santo resposta, havendo, pois, o desvio da atenção para ³ Em grego signica “máscara”. ´ Na visão de Jung, Ego é o nome dado à organização da mente consciente, constuindo -se de percepções conscientes, de recordações, pensamentos e senmentos. A menos que o Ego reconheça tais percepções elas não chegariam a nossa consciência. Tais reconhecimentos do Ego são estabelecidos pela função dominante de cada pessoa (sensibilidade, objevidade, etc.). Uma forte experiência pode forçar entrada pelo ego ocasionando graves consequências (traumas). O Ego passa a falsa ideia de que ele é, essencialmente, nossa inteira consciência, ou melhor, nossa Psique como um todo. (HALL; NORDBY, 2010) ⁵ Gênesis 19:26: “E a mulher de Ló olhou para trás e cou converda numa estátua de sal.” FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 18
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... (CAMPBELL, 2007). Na iniciação pelo Rito Escocês Ango e Aceito da Maçonaria, ca evidente a gura de auxílio na jornada na função do ocial chamado de Experto, que conduz o iniciando por caminhos escabrosos, porém, oferecendo-lhe a devida proteção: “Eu serei o vosso guia, tendes conança em mim, e nada receeis” . A função do Experto durante a iniciação é conduzir o candidato, que estando privado de certas faculdades, necessita inexoravelmente do amparo do guia.
leia. O herói é comumente jogado no desconhecido, dando a impressão de que morreu, ou, em alguns casos, é submedo a testes e provações, de forma que aprenda as regras deste novo mundo (CAMPBELL, 2007).
Como exemplo pode-se citar alguns contos, como do Chapeuzinho Vermelho, no qual ela é engolida pelo lobo. Da mesma forma, todo o panteão grego, exceto Zeus, foi engolido pelo pai Cronos. Já na Bíblia e no Alcorão encontramos Jonas, que é engolido por um peixe e passa três dias e três noites em suas entranhas, e acaba saindo de lá vivo. ⁶ Arnold A passagem pelo primeiro limiar Van Guennep (2011), salienta que a morte momentâTendo resisdo ao medo, muitas das vezes nea ou aparente é tema principal das iniciações tripersonicado como medo de morte, simbolizado no bais. Rito Escocês pela passagem pela câmara de reexões, Na jornada maçônica o iniciando é colocado à o herói segue em sua aventura até chegar ao conhe- prova por testes simbólicos, para que coloque a moscido na Jornada do Herói por “guardião do limi- tra sua coragem de forma a persisr na senda da virar" (CAMPBELL, 2008). Entende-se psicologicamente tude. Curioso que o ritual maçônico trata tais testes pelo limiar como a passagem do consciente para o de forma a simbolicamente tentar afastar o candidainconsciente, onde se adentra a um mundo de fanta- to de seu caminho, como, por exemplo, fazendo-o sias e imagens, semelhantes aos sonhos. Ou seja, um seguir por “caminhos escabrosos”. mundo míco. No âmbito mitológico, esse primeiro limiar é representado pela presença de um guardião e o mesmo está associado, variavelmente, a um posto que pode ser uma porta, ponte ou lago, simbolizando o limiar. Isto posto, na Iniciação pelo Rito Escocês a passagem pelo primeiro limiar ocorre no momento em que o candidato é levado à porta do templo e recebido pelo Guarda do Templo, também chamado em algumas versões de rituais de Cobridor Externo. Após sua passagem, ou seja, após ser franqueado seu ingresso, o candidato passa a vivenciar uma nova e única experiência, simbolicamente sobrenatural.
Provas e Vitórias: A Descida Tendo sido vitorioso nos primeiros testes e provas, ao cruzar por completo o limiar, o herói caminha por uma paisagem onírica povoada por formas curiosamente uidas e ambíguas, na qual deve sobreviver a uma sucessão de novas provas. O herói connua a ser auxiliado, de forma indireta, por Guias e Mestres. Porém, aos poucos ele percebe que existe um poder benigno, presente em toda parte, que o sustenta em sua passagem sobre -humana (CAMPBELL, 2008).
Um mito interessante sobre esse caminho de provas, e um dos mais angos da história, é o registro Provações e testes: O ventre da baleia sumeriano da descida ao mundo inferior pelos porA ideia de que a passagem pelo limiar é uma tais da metamorfose, pela deusa Inana. Tal mito era passagem para uma esfera de renascimento é simbo- ritualiscamente pracado na anguidade pelas lizada na imagem mundial do útero ou ventre da ba⁶ Jonas 1:17: “O Senhor fez que ali se encontrasse um grande peixe para engolir Jonas, e este esteve três dias e três noites no ventre do peixe.” FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 19
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... Prostutas Sagradas⁷ (VAN GUENNEP, 2011), que foi profanado e hoje é categorizado como striptease e conhecido como a “Dança dos Sete Véus” . Muitas mitologias retratam neste momento uma descida ao submundo, quando na verdade, tal descida retrata a descida aos domínios da psique (CAMPBELL, 2002). Essas novas provas, cada vez maiores em níveis, representam no processo iniciáco maçônico a passagem pelos quatro elementos, onde o iniciando vivencia e supera, simbolicamente, os elementos. No passado, relatos indicam que os iniciandos de fato se colocavam à prova, seja de um incêndio, a nado , ou tempestade (LEVI, 2012).
ouro e a prata, e, em outras palavras, o encontro do Cavaleiro com a Princesa, ou a descoberta do elixir da longa vida dos alquimistas (JUNG, 2012). A mulher representa, na linguagem pictórica da mitologia, a totalidade do que pode ser conhecido, e o herói é aquele que a compreende. Segundo Jung, havendo o equilíbrio total na psique, ange -se o si mesmo, ou seja, a totalidade do ser, torna -se consciente de todo o inconsciente (HALL; NORDBY, 2010). Na mitologia maçônica o iniciando, torna -se iniciado, havendo completado o processo que Jung chamou de processo de individuação (JUNG, 2012).
Sobre o encontro com a Deusa - m do primeiro ciProvação dicil ou traumáca: O encontro com a clo da Jornada Maçônica Deusa O casamento, união – o supracitado conheciA aventura úlma, quando todas as barreiras foram vencidas, aparecerá como a experiência mais profunda e traumáca do enredo mitológico. Normalmente é representado por uma morte efeva e momentânea, ou mesmo por um renascimento miraculoso (CAMPBELL, 2007). Em diversos ritos maçônicos e em diferentes graus encontramos encenações de todo o po para representar esta etapa, seja por mais provas iniciácas ou por demonstrações fúnebres, funestas e sombrias, de forma que, pela úlma vez, é dada a chance ao iniciando de desisr da senda da virtude, rendendo-se ao medo. . Sendo persistente, o iniciando compreende depois o sendo simbólico ou mesmo psicológico de suas provações e testes, e, no ápice da aventura, é apresentado diante da Deusa. Tal passagem costuma ser representada por um “Casamento Mísco”, conhecido nos mitos por hierosgamos⁸.
mento da Anima –, representa o domínio total da vida pelo herói. Na Mitologia Maçônica a mulher é o símbolo da Vida e o herói o seu conhecedor e mestre, ou, em outras palavras, a mulher é o templo e o herói seu sacerdote. Daí que muitas representações de templo em culturas angas são em forma de uma mulher grávida dando a luz (MURPHY, 2007), bem como de sempre se ter sacerdotes, e nunca sacerdosas. Assumindo o Templo Maçônico as caracteríscas e conceitos de Anima, conforme esclarecido, o iniciando, após ter superado todos os testes e provações do processo iniciáco da Maçonaria, recebe como prêmio da jornada o encontro com a Anima, que nada mais é do que, a “Luz da Maçonaria”, passando este a enxergar e conhecer o Templo Maçônico e comungar de sua Egrégora. Ele ganha também a sua completa liberdade, cando livre da corda e aprendendo a sair e entrar na Loja na devida forma maçônica.
Em termos psicológicos tal casamento representa a união-conhecimento com a Anima ou Animus, condos em contos da heroína. Esta união reO encontro ou união com a Anima também presenta o chamado “Casamento Alquímico” dos Al- pode ser chamado de “Encontro com a Verdade”, quimistas, e retrata uma união indissolúvel entre o pois a totalidade do ser e o completo conhecimento ⁷ O termo Prostuta possuía outro signicado diferente do que hoje é associado. Signicava “aquelas que se prostram”, em referência a Deusa a qual elas eram oferecidas e tornavam -se sacerdosas. ⁸ Signica “Casamento Sagrado" e se refere à cópula de um deus ou homem com uma deusa ou mulher. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 20
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... do inconsciente, além de libertar, proporciona ao he- sob a óca da Psicologia Junguiana, como um sonho rói um conhecimento novo e inexplicável. grupal, sintomáco dos impulsos arquepicos exisOs testes que o herói passou, preliminares de tentes no interior das camadas profundas da psique suas experiências e façanhas úlmas, simbolizaram as humana (JUNG, 1978). Já numa visão religiosa, a micrises de percepção por meio das quais sua consciên- tologia pode ser da como a revelação de Deus aos cia foi amplicada e capacitada a enfrentar. Com isso, seus lhos. ele aprendeu que ele e sua Deusa, ou ainda, Anima, são um só, pois se casaram-uniram. Por derradeiro, seu desno é tornar-se o Mestre, que, variando de uma cultura para outra, pode ser um lósofo, ancião, líder políco ou religioso, entre outros pos. Já no caso maçônico, um Mestre Maçom, representante de Hiram Abi.
Tanto a mitologia, como os seus símbolos, são metáforas reveladoras do desno do homem, e, nas diversas culturas são retratadas de diferentes formas (CAMPBELL, 2007). A ideia central da mitologia é de que a mesma funciona como uma ferramenta para promover e entender a evolução psicológica do individuo, sendo essa a função principal do mito Desmiscando a mitologia, percebemos que (CAMPBELL, 2008). o mistério do universo é retratado como Deus. Se paEm termos de interpretação psicológica da ra o religioso o innito é o Deus, para o ateu ou ag- mitologia, sempre vamos encontrar como chave esnósco, o innito é o Universo e suas innitas mani- sencial a questão “Inconsciente = Reino metasico”. festações. O ego torna-se a gura do herói, por isso Em outras palavras, “Porque eis que o reino de Deus quando se encontra com Deus-Deusa, ou seja, seu está dentro de vós” ⁹. Assim, a análise para toda quespróprio inconsciente, toma-se conhecimento de todo tão mitológica, é o estudo da psique humana. o universo ou innito. O Eu Inconsciente em algumas Em várias sociedades e cultos primivos, a passagens torna-se o velho sábio, que tudo sabe, e práca religiosa consisa em vivenciar a Mitologia de conhece as fraquezas e desejos reprimidos pelo o he- forma direta, pois o mito o estaria inuenciando de rói (JUNG, 2011). forma indireta no decorrer das cerimônias, por interDepois deste primeiro ciclo da Aventura do Herói – ou Jornada Maçônica – o herói ainda é levado a cumprir outros deveres no universo. Da mesma forma, o Maçom é instruído da existência de outros graus a serem galgados, onde se encontra a connuidade da Jornada Maçônica. Entretanto, dicilmente tem-se um nal para a mitologia como um todo, pois, conforme a própria dialéca aristotélica, em todo m acha-se um novo início (CAMPBELL, 2007). Tendo o nal de cada grau maçônico como um novo começo, pode-se compreender que, em outras palavras, tornar feliz a humanidade é um processo relavamente innito.
médio do inconsciente. Assim, o crescimento e nalidade da Mitologia acontece de forma parcular em cada um, como uma semente que aos poucos iria se germinando (JUNG, 2005). A tradição maçônica conserva esses costumes como forma de instrução aos seus membros, sendo, portanto, herdeira pedagógica dessas angas culturas (BLAVATSKY, 2009). E ao estudarmos a Maçonaria, seu ritual e simbologia, não podemos desconsiderar ou descartar esse viés, sob o risco de abrirmos mão do real objevo de nossos rituais. Referências Bibliográcas BLAVATSKY, HELENA P. O oculsmo práco e as origens do ritual na Igreja e na Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2009.
Conclusões a respeito de Mitologia e as razões deste estudo CAMPBELL, Joseph. Herói de mil faces. São Paulo: Editora PensaEm síntese, a mitologia pode ser entendida, mento, 2007. ⁹ Lucas 17:21. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 21
GUIMARÃES, Raael. A INICIAÇÃO MAÇÔNICA: UMA ANÁLISE DE SUA MITOLOGIA POR MEIO DA JORNADA... CAMPBELL, Joseph. Isto és Tu. São Paulo: Landy Editora, 2002. CAMPBELL, Joseph. Mito e Transformação. São Paulo: Ed. Ágora, 2008. DEL DEBBIO, Marcelo. Enciclopédia de Mitologia. São Paulo: Daemon Editora, 2008. HALL, Calvin S.; NORDBY, Vernon J. Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix, 2010. ISMAIL, Kennyo. Desmiscando a Maçonaria. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. JUNG, Carl Gustav. Interpretação psicológica do Dogma da Trindade. Rio de Janeiro: Vozes, 2011 a. JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005. JUNG, Carl Gustav. Os arquépos e o inconsciente colevo . Rio de Janeiro: Vozes, 2011b. JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Vozes, 1978. JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Rio de Janeiro: Vozes, 2012. JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Rio de Janeiro: Vozes, 2011c. JUNG, Carl Gustav. Símbolos e interpretação dos sonhos . Rio de Janeiro: Vozes, 2011d. LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia . 20ª Edição. São Paulo: Pensamento-Cultrix, 2012. MAXENCE, Jean-Luc. Jung é a aurora da Maçonaria. São Paulo: Madras, 2010. MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo: Pensamento, 2007. PRESTON, William. Illustraons of Masonry . New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co., 1867. STAVISH, Mark. As origens ocultas da Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2011. VAN GUENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2011. WAITE, A. E., A New Encyclopaedia of Freemasonry , 2 vols. Londres: William Rider and Son Limited, 1921.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 15 -22, Mai/Ago, 2013. 22
Recebido: 14/05/2013 Aprovado: 24/06/2013
PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE Jorge Eduardo de Lima Siqueira¹
Resumo Este trabalho trata da necessária observância de preceitos fundamentais à validade dos procedimentos administravos disciplinares maçônicos, cuja inobservância pode resultar na anulação, pelo Poder Judiciário, dos feitos e penalidades aplicadas, máxime pelo devido respeito aos princípios processuais mínimos previstos na Constuição Federal, decorrência lógica e jurídica do Estado Democráco de Direito. Palavras-chave: Processo disciplinar maçônico, preceitos fundamentais, validade .
Abstract This work deals with the necessary observance of precepts fundamental to the validity of administrave disciplinary Masonic whose failure could result in voiding, the Judiciary, the deeds and penales imposed, celling due respect to the minimum procedural principles contained in the Federal Constuon, and logical consequence legal democrac state. Keywords: Disciplinary proceedings Masonic, precepts fundamental, validity.
¹ Bacharel em Direito e Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Faculdade Vale do Criraré – FVC, professor universitário e advogado, é Mestre Instalado, Venerável da ARLS “Luzes da Ilha” n. 59 – GLMEES.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 23
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE Introdução
na vida codiana dos brasileiros, o diploma constucional entregou ao Poder Judiciário essa responsabilidade, outorgando-lhe a imperavidade de suas decisões sobre qualquer procedimento extrajudicial, principalmente quando desrespeitada ou não observada qualquer disposição constucional ou da legislação em vigor.
Por expressa disposição constucional a República Federava do Brasil tem como destacado fundamento a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988), preceito este que os constuintes originários buscaram garanr através de direitos individuais mínimos, dentre os quais os do contraditório e da ampla defePreconiza a Carta Magna, através de seu arsa, tanto para procedimentos judiciais, como para go 5°, inciso LV (BRASIL, 1988, p. 13), que aos acusaadministravos. dos em geral são assegurados o contraditório e a amA Maçonaria, distribuída por Obediências e pla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, Lojas Maçônicas, tem seus corpos constuídos na sejam os processos judiciais ou administravos. maioria das vezes sob a forma legal de associação. Deve restar claro primeiramente que se consiDiante da quebra de deveres morais, principiológicos ou administravos por um determinado irmão, os dera administravo todo processo que não esteja sob dirigentes maçons veem-se muitas vezes diante de o crivo do Poder Judiciário. Sendo as Lojas Maçônicas um cenário a que não estão habituados, devendo jul- pessoas jurídicas constuídas sob a forma de associagar o membro da Ordem Maçônica pelos atos supos- ção, os procedimentos disciplinares de seus membros tamente pracados. Mas isso não é tarefa tão sim- devem ser dos como administravos para os efeitos ples, pois os julgadores precisam ter, além de bom legais, ainda que a Obediência Maçônica envolvida senso e senmento de jusça, o conhecimento míni- tenha dentro de sua estrutura administrava órgão mo necessário a tal ato, especialmente pela existên- maçônico cuja denominação advém do termo “poder cia de elementos sem os quais poderão ver nulica- judiciário”, como é o caso do Grande Oriente do Brados pelo Poder Judiciário todos os atos pracados, sil, por exemplo (GOB, 2007, p. 09). lançando por terra todo o trabalho empenhado e, Além disso, é preciso que se compreenda o com consequência, a condenação e a pena que se campo de abrangência dos princípios constucionais tenha aplicado, o que pode levar a prejuízos não so- invocados, além de outros importantes aspectos que mente fraternais, mas também nanceiros e de ima- devem ser observados para um julgamento adminisgem à instuição. travo válido, pelo que se passa à análise em separaEste argo, portanto, objeva auxiliar os res- da de cada ponto. ponsáveis por conduzir tais processos administravos nessa tarefa, por meio da exposição de princípios e Contraditório e Ampla Defesa regras constucionais obrigatórios que, se atendidos, O estudo dos princípios do contraditório e da tornará remota a possibilidade de anulação do processo disciplinar, garanndo assim a ecácia da medi- ampla defesa parte da concepção primária de que o primeiro refere-se ao direito que o acusado tem de da. se defender de todo e qualquer ato processual pracado contra si, ou seja, “a todo ato produzido pela Princípios Processuais acusação, caberá igual direito da defesa de opor -se, Conforme destacado, a Constuição Federal de apresentar suas contrarrazões” (ALEXANDRINO, se realiza através do princípio da dignidade da pessoa 2011, p. 185). Já a ampla defesa vai além, garanndo humana, sendo um dos objevos do Estado brasileiro ao indivíduo a ulização de todos os meios legais e promover o bem geral de todos. Visando garanr que moralmente admidos, inclusive recurso à instância tais direitos escapem ao seu texto e se concrezem superior contra decisão originária que tenha sido proFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 24
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE ferida contra si.
práca se torna menos tortuosa e o caminho pode De toda sorte, o Prof. Marcelo Novelino ser trilhado com mais facilidade. Para melhor elucida(2011, p. 501) esclarece que tais direitos não abrem ção do procedimento, bom que se ulize o método ensejo ao abuso na ulização desses meios e, em da exemplicação. qualquer procedimento, poderá a autoridade conduTomando conhecimento o dirigente de uma tora negar a produção de provas que se mostrem Loja Maçônica que determinado irmão pracou coninúteis à elucidação dos fatos. Ensina o doutrinador duta proibida pela legislação interna, deverá proceque “não caracteriza uma violação a esta garana o der à abertura do procedimento disciplinar para apusimples indeferimento de uma diligência probatória ração da verdade. Antes de tudo deve se cercar de considerada desnecessária ou irrelevante”. que a conduta da como reprovável é realmente puAinda que no seio de associações não se pres- nível pela legislação que rege as Lojas de sua Obedite aos feitos administravos rigor legal tal qual se exi- ência Maçônica, caso contrário o procedimento será ge nos processos judiciais de natureza criminal, deve - inúl, pois mesmo que se processe regularmente não se recordar que, quanto maior a penalidade adminis- haverá medida puniva a ser aplicada. trava a ser aplicada, diante de fatos de igual proporção, mais cautela deverá ser adotada para aplicação da medida. Por essa razão determina o art. 57 do Código Civil que “a exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto” (BRASIL, 2002, p. 13). A justa causa será vericada diante da comprovação de que determinado associado transgrediu regras e/ou princípios da associação, ou mesmo porque pracou conduta proibida por seu estatuto ou outras normas internas que venha a ter. Como exemplos, pode-se tomar o Regulamento Geral da Grande Loja Maçônica do Estado do Espírito Santo - GLMEES (2009, p. 52), que determina a aplicação da pena de suspensão ao maçom que promove ou propicia a desarmonia entre os irmãos; ou o Código Penal Maçônico do Grande Oriente do Brasil, que considera “delito maçônico do 2° grau: *...+ IV – perturbar a regularidade dos trabalhos da Ocina ou de qualquer Corpo Maçônico, faltando com o respeito devido á Luzes² ou aos Irmãos” (1979, p. 26). Procedimento – Aspectos Prácos Conhecidas as regras essenciais expostas, a
Constatada a possibilidade, caberá ao ofendido redigir queixa ou representação, ou ainda encaminhar o relato a quem deva elaborar a denúncia que, normalmente é o Orador da Loja Maçônica, o qual exerce uma função similar ao do Ministério Público (GOB, 2012, Lei n. 132, p. 02, art. 3°; GLMEES, 2009, p. 49, art. 380). Dedicação especial deve ser dada à redação da queixa ou denúncia (vide modelo sugerido no Anexo I). Isto porque, seja qual for a legislação maçônica aplicável, a queixa ou denúncia deverá conter: qualicação do denunciado; exposição clara dos fatos puníveis, indicando as datas em que se deram, ainda que próximas; indicação das regras infringidas, citando o disposivo legal que proíbe ou prevê punição para o ato; pedido de aplicação da pena cabível, apontando o argo de lei correspondente; pedido de produção das provas com que se pretende comprovar as alegações, podendo ser testemunhal, documental e até pericial, desde que legímos. Aliás, importa mencionar que a imprescindibilidade da exposição cronológica e clara dos acontecimentos decorre do fato de que o acusado se defenderá do que está exposto na representação, garanndo assim a plenitude de sua defesa, pois não poderão embasar condenação futura a quaisquer fatos que tenham sido omidos ou que não possam ter sido confrontados
² Termo maçônico ulizado para se referir aos três principais ociais de uma Loja Maçônica: Venerável Mestre, Primeiro Vigilante e Segundo Vigilante. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 25
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE pela defesa. Redigida a denúncia ou representação a mesma deve ser entregue ao responsável para admissão e convocação da comissão julgadora³ para o processamento. O responsável pela condução do feito deverá proceder à nocação do acusado para que, caso queira, se defenda no prazo previsto na legislação, o que lhe permirá o exercício do contraditório e da ampla defesa. Neste ponto, é importante considerar que o princípio constucional permite que o acusado se defenda por si mesmo ou contrate advogado para tanto, não podendo ser imposta qualquer restrição ao exercício de sua defesa, tampouco impedido o pleno acesso do defensor aos autos do processo (STF, RE 201819 / RJ).
sugeridos no Anexo II). Na mesma sessão, produzidas as provas e oportunizada a úlma sustentação às partes´ – defesa e acusação – será iniciado o julgamento, no mesmo ato ou em momento disnto, nesse úlmo caso previamente agendado e com nocação dos envolvidos. A fase de julgamento também exige cautela, especialmente quando for possível a aplicação da pena de exclusão, pois, conforme visto anteriormente, o Código Civil exige justa causa para tanto. Em um primeiro momento cada julgador deverá se preocupar em expor detalhadamente cada uma das provas que o levaram à sua convicção puniva ou absolutória. Em seu voto deverá expor os movos de seu convencimento, apontando nos autos os documentos e/ou depoimentos que o levaram à conclusão acerca da ocorrência ou não das infrações processadas. Ato imediato terá de encaixar os fatos na norma, aplicando-lhe a pena correspondente. A tulo de exemplo, suponha-se que o acusado traiu juramento maçônico ao expor em entrevista televisiva o toque do grau de Mestre Maçom. Imagine -se também que o julgamento se passa em Loja jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil. Comprovado o ato, ao emir seu voto o julgador deverá expor que a conduta do acusado está prevista no art. 74 do Código Penal Maçônico como “delito do 4° grau” (1979, p. 31) e que, diante da abrangência da entrevista e das consequências negavas e avassaladoras na exposição pelo acusado de sigilo guardado pelos maçons por força de juramento, deverá ser aplicada a pena correspondente em seu grau máximo, qual seja: expulsão, na forma do art. 44 do mesmo Código (1979, p. 16).
Após apresentação da defesa ou término do prazo correspondente, passar-se-á à fase de provas, onde deverá ser permida, em equivalentes condições, sua produção tanto pelo acusador como pelo acusado, atendendo-se assim a plena defesa do acusado, com observância do primeiro e mais importante direito constucional. Importa reprisar que poderão ser negados os pedidos de prova que se mostrem inúteis à elucidação dos fatos em questão. Diculdade, no entanto, pode ser encontrada quando a prova for testemunhal, diante da necessidade de procedimento solene para oiva das testemunhas indicadas tanto pela defesa quanto pela acusação. Essa fase exige procuo estudo das regras relavas à instrução do procedimento conforme a Obediência Maçônica a que pertença a Loja. Em geral, os regulamentos maçônicos preveem a designação de uma audiência ou sessão (GOB, 2012, Lei n. 132, p. 05, art. 9°, §2°) para que sejam ouvidas as testemunhas, sempre em presença dos responsáveis pelo julgamento, do acusado O voto condenatório exemplicavo guarda e do acusador. Caso o julgamento se dê na mesma estrito respeito ao princípio da razoabilidade e prosessão, sugere-se a redação dos termos de depoi- porcionalidade da pena. Referido princípio deve normento independente da ata da sessão. (vide modelos tear todo e qualquer julgamento, devendo a punição
³ No Grande Oriente do Brasil forma -se uma “Comissão Processante” para julgamento (2012, Lei n. 132, p. 02, art. 3°). Outras Obediências adotam a formação de uma Comissão Permanente de Jusça (GLMEES, 2009, p. 49, art. 379). ´ Esta úlma sustentação é ulizada para defesa ou acusação já com base nas provas produzidas. Regulamentos em geral preveem tal direito, inclusive como corolário do contraditório e da ampla defesa (GOB, 2012, Lei n. 132, p. 05, art. 9°, §2°; GLMEES, 20 09, p. 50, art. 380, XVI). FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 26
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE se mostrar adequada à nalidade a que se desna a GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Constuição. Brasília, 2007. norma e necessária à manutenção da ordem, neste GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Lei n. 132. Brasília, 2012. caso interna corporis. NOVELINO, M. Direito Constucional . 5. ed. São Paulo: Metodo, Por m, lembrando o brocardo: “não se abatem pardais com balas de canhão”, deve -se ressaltar que a pena deve ser proporcional à gravidade da conduta. A punição maçônica não deve ser tão branda a ponto de promover o senmento de impunidade e a desordem entre os maçons, nem tão grave a ponto de disseminar o senmento de injusça. Deve, outrossim, ser equilibrada, resultado daqueles que se dizem justos, “entre o esquadro e o compasso”.
2011. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Jurisprudência. RE 201819 / RJ. Relatora Ministra Ellen Gracie. Brasília, 11 out. 2005. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2013. TARTUCE, F. Direito Civil 1 – Lei de Introdução e Parte Geral . 8ª Ed. São Paulo: Metodo, 2011.
Considerações Finais Diante dos apontamentos feitos, vê-se como essencial à validade dos procedimentos disciplinares maçônicos, especialmente quando possível a aplicação da pena de exclusão, a escorreita observância dos princípios constucionais do contraditório e da ampla defesa, além da demonstração da presença de justa causa para a medida puniva, através da reunião de fatos, provas, conduta ilícita prevista em legislação maçônica e punição razoável e proporcional à gravidade da conduta do acusado. Obedecidos estes preceitos, será remota a possibilidade de o condenado reverter judicialmente no “mundo profano” ⁵ a punição que lhe foi imputada, especialmente porque, no conjunto de posturas, foi atendida a garana constucional de respeito à sua dignidade em plenitude. Referências ALEXANDRINO, M., PAULO, V. Direito Constucional Descomplicado. 7. ed. São Paulo: Metodo, 2011. 183/185 p. BRASIL. Constuição Federal de 1988. Vademecum Compacto. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 13 p. GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Regulamento Geral . Vitória, 2009. GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Código Penal Maçônico. Brasília, 1979.
⁵ Termo ulizado para designar a vida e o codiano fora da Maçonaria. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 27
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE ANEXO I MODELO DENÚNCIA ILUSTRÍSSIMOS IRMÃOS DA COMISSÃO DE JUSTIÇA DA AUGUSTA E RESPEITÁVEL LOJA SIMBÓLICA ( nome disnvo da Loja) N° (número da Loja) DA JURISDIÇÃO DA (nome da Obediência Maçônica). AUTOR: ORADOR DA A.: R.: L.: S.: (nome disnvo da Loja) N° (número da Loja) IR.: ACUSADO: (nome do Irmão acusado) A A.: R.: L.: S.: (nome disnvo da Loja) N° (número da Loja) DA JURISDIÇÃO DA (nome da Obediência Maçônica) , por seu ORADOR em exercício para o mandato de ____/ ____, (nome completo do Orador) , (qualicação do Orador, como nacionalidade, estado civil, prossão, cadastro maçônico), domiciliado na (endereço completo do Orador) , e no uso de suas atribuições que lhe conferem a Constuição e demais Leis da (nome da Obediência Maçônica) , na forma do art. (citar o(s) argo(s) que tratam das atribuições do Orador) do (Regulamento Geral ou Código Penal ou de Processo Penal da Obediência), vem oferecer DENÚNCIA contra o Irmão (nome do Irmão acusado) , (qualicação do acusado: nacionalidade, estado civil, prossão, cadastro maçônico), domiciliado na (endereço completo do acusado) , pela práca da seguintes condutas que atentam contra os princípios maçônicos: I. Em Sessão Econômica do dia __/__/__, concedida a palavra pelo Venerável Mestre ao Ir.: FULANO DE TAL, o mesmo relatou que assisu a lmagem onde o Ir.: Acusado ensinava ao entrevistador o toque do grau de Mestre Maçom; II. Narrou ainda que a entrevista já está nos sites de transmissão online de vídeos (youtube e outros), além de ter sido veiculada a entrevista na TV estadual. Estampou até mesmo a capa do jornal deste Oriente; III. Acessando o site do youtube, bem como as páginas virtuais do jornal e TV mencionados constatei a veracidade dos fatos narrados em sessão, razão pela qual apresento anexo a esta peça um DVD onde consta a lmagem respecva, além dos impressos dos portais, onde também está ainda disponível acesso ao vídeo; IV. Por derradeiro, considerando que o Ir.: (nome completo do acusado) , pracou gravíssimo delito maçônico que se sujeita à pena de EXCLUSÃO, tem o dever esta oratória de denunciar o Ir.: para que, após devidamente comprovados os fatos acima, venham a sofrer a pena respecva. Isto porque o referido Irmão TRAIU JURAMENTO MAÇÔNICO (citar argo e legislação da Obediência) , bem como tem pracado atos no mundo profano que ATENTAM CONTRA A INTEGRIDADE DESTA OBEDIÊNCIA MAÇÔNICA E DA MAÇONARIA UNIVERSAL (citar argo referente a essa acusação). Ante o exposto, esta Oratória requer: FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 28
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE a) o recebimento e autuação desta denúncia instaurando-se o competente processo disciplinar; b) seja juntada aos autos cópia da ata da reunião do dia ___/___/_____, bem como os documentos e mídia que segue anexo; c) a NOTIFICAÇÃO do Denunciado para se defender no prazo de XX dias, indicando as provas que pretende produzir, bem para que compareça à Sessão de Julgamento a ser designada pela Respeitável Comissão de Jusça, oportunidade em que serão ouvidas testemunhas, tomado seu depoimento e apresentadas as úlmas alegações; d) a requisição das testemunhas arroladas a seguir; e) após os votos dos Irmãos membros dessa Comissão de Jusça, seja o Denunciado CONDENADO à pena de EXCLUSÃO pela práca das infrações capituladas no art. Xxxxxxx do (código, regulamento, lei), por ser esta a pena prevista no art. Xxxxxxx, da Lei xxxxx, nos termos dispostos. Nestes termos, Espera deferimento. Oriente de (nome da cidade), XX de (mês) de XXX.
FULANO DE TAL ORADOR ROL DE TESTEMUNHAS 1. Ir.:____________________________________________ 2. Ir.:____________________________________________ 3. Ir.:____________________________________________
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 29
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE
ANEXO II MODELOS - SESSÃO JULGAMENTO E TERMO DE DEPOIMENTO ATA DE AUDIÊNCIA Aos ___ dias do mês de ____de ____ da E.: V.:, às __h, na sede da A.: R.: L.: S.: ____________ n° ___, da jurisdição do(a) Grande ________________, neste Or.: de ______, Estado de ______, em Sessão de Instrução e Julgamento do Processo Disciplinar n. _____/____, convocada pela Comissão de Jusça constuída na forma do art. _____ da Lei n. ______ ( citar de qual regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________, pelo V.: M.: _____________, para o mandato de ____/_____, que recebeu denúncia escrita no dia ___________ do Orador, Ir.: FULANO DE TAL, feita na forma do art. ___________ da Lei n. ______ (citar de qual regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________, estando secretariada pelo Ir.: _______________ e presidida pelo Ir.: ___________________, presentes os demais membros da Comissão de Jusça, IIr.: ______________, ________________ e ______________, bem como os IIr.: Orador (autor da denúncia), além do Ir.: ________________, delator dos fatos narrados na denúncia, e IIr.: _____________, __________ e _____________, testemunhas arroladas e requisitadas, e, por m, presente / ausente o Ir.: denunciado ________________, passaram a tratar e deliberar o que se segue. Fica destacado desde já que as testemunhas arroladas compareceram ao ato, mas não parciparam das deliberações da Comissão, tendo sido ouvidas neste ato, conforme termos de depoimento anexos. Foi lida a denúncia e apresentados os documentos que constam nos autos aos presentes e, logo após, ouvido o acusado e as testemunhas (caso não tenha comparecido nem enviado defesa redija-se: “o Presidente decretou a revelia do Acusado considerando o que dispõe o art. ___ da Lei n. ____” ). Após as oivas, a palavra foi concedida por ____ minutos ao Ir.: Orador para sua alegações nais, tendo se manifestado nos seguintes termos: “considerando que, pelos documentos juntados aos autos e depoimentos prestados neste ato cou denivamente comprovado que o Acusado traiu juramento maçônico (art. xxxxxx, xxxx da Lei xxxxx), divulgando segredo da Ordem, consistente no toque de M.: M.: e que, com isso, também atentam contra a integridade desta Obediência Maçônica e da Maçonaria Universal (art. xxxxxx, xxxx da Lei xxxxx), deve ser a ele aplicada a pena de EXCLUSÃO, nos termos do art. _____ da Lei n. ______”. Ato imediato a palavra foi concedida ao Ir.: Acusado pelo mesmo tempo, tendo o mesmo se manifestado nos seguintes termos: “sou inocente, não me expulsem, peço minha absolvição”. Passou-se, em seguida, ao julgamento mediante proferimento de votos dos membros da Comissão de Jusça, que se manifestaram na seguinte ordem e nos seguintes termos (art. _____ da Lei n. ______): Ir.: ____________________: “Eu até gosto muito do Ir.: __________________, mas, infelizmente, cometeu _______________________________. Está tudo provado no processo (s. XX/ XX, XX/XX e XX/XX) e restou conrmado pelas testemunhas ouvidas neste ato. Assim sendo, voto pela EXPULSÃO do Ir.: _______________da Maçonaria, por aplicação dos arts. _______ da Lei n. ______ ( citar regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________.” Ir.: ______________________: “_________________________. Assim, considerando que estão provados todos os fatos trazidos pelo Ir.: Orador na denúncia de s. XX/XX, voto para que o Ir.: ____________________ seja excluído da Ordem Maçônica, denivamente, sendo isto o que determinam os arts. _______ da Lei n. ______ (regulamento, ConsFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 30
SIQUEIRA, J. E. L. PROCESSO DISCIPLINAR MAÇÔNICO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE VALIDADE tuição) do(a) Grande ____________. É como voto.”; Proferidos os votos o Presidente votou nos seguintes termos: “_________________________. Assim, considerando que estão provados todos os fatos trazidos pelo Ir.: Orador na denúncia de s. XX/XX, voto para que o Ir.: ____________________ seja excluído da Ordem Maçônica, denivamente, sendo isto o que determinam os arts. _______ da Lei n. ______ (regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________. É como voto.”. Em seguida anunciou o resultado do julgamento, tendo sido o Ir.: ______________________, por unanimidade CONDENADO à pena de EXCLUSÃO, consoante expressa disposição dos arts. ___ da Lei n. ______ ( regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________, cando o Ir.: Acusado nocado nesta data e, após transcorrido o prazo de ___ dias para recurso (art. _____ da Lei n. ______), havendo ou não recurso, sejam remedos os autos deste procedimento à instância superior para apreciação e publicação de editais. Nada mais havendo deu -se por encerrada a sessão, estando subscrita pelos presentes. (ASSINATURAS)
DEPOIMENTO Aos ___ dias do mês de ____de ____ da E.: V.:, às __h, na sede da A.: R.: L.: S.: ____________ n° ___, da jurisdição do(a) Grande ______________, neste Or.: de ______, Estado de _______, em Sessão de Instrução e Julgamento do Processo Disciplinar n. _____/____, convocada pela Comissão de Jusça constuída na forma do art. _____ da Lei n. ______ ( citar regulamento, Constuição) do (a) Grande ____________, pelo V.: M.: _____________, para o mandato de ____/_____, que recebeu denúncia escrita no dia ___________ do ORADOR em exercício, Ir.: FULANO DE TAL, feita na forma do art. ___________ da Lei n. ______ (regulamento, Constuição) do(a) Grande ____________, estando secretariada pelo Ir.: _____________ e presidida pelo Ir.: _________________, presentes os demais membros da Comissão de Jusça, IIr.: ____________, _____________ e ______________, bem como os IIr.: Orador (autor da denúncia), além do Ir.: ________________, delator dos fatos narrados na denúncia, e IIr.: _____________ e _____________, testemunhas arroladas e requisitadas, e, por m, presente / ausente o Ir.: denunciado, ________________, foi colhido o depoimento do Ir.: ______________ que, perguntado pelo Presidente respondeu nos seguintes termos: “___________________”. (ASSINATURAS)
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 23 -31, Mai/Ago, 2013. 31
32
Recebido: 17/05/2013 Aprovado: 17/06/2013
MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL Kennyo Ismail¹ Resumo O presente trabalho tem por objevo abordar a parcipação histórica da Maçonaria nos movimentos libertários, seja por vias instucionais ou por intermédio de seus membros, além de evidenciar sua vocação democráca e meritocráca, apresentando como esses dois princípios justos ocorrem na organização maçônica, em seus diferentes níveis, e que podem ter inspirado ou inuenciado os primeiros sistemas democrácos e meritocrácos implementados nas repúblicas pioneiras. Palavras-chave: Maçonaria; Democracia; Meritocracia.
Abstract This work aims to address the historic role of Freemasonry in the libertarian movement, either by instuonal channels or through its members, in addion to demonstrang their commitment to democracy and meritocracy, showing how these two principles occur in the Masonic organizaon, in their dierent levels, and that may have inspired or inuenced the rst democrac and meritocrac systems implemented in the pionners republics. Keywords: Freemasonry; Democracy; Meritocracy.
¹ Kennyo Ismail é bacharel em Administração pela UnB, Especialista em Gestão de Markeng pela ESAMC, e Mestrando em Administração pela EBAPE-FGV. Mestre Instalado, membro da GLMDF e atual Grande -Mestre Adjunto da Maçonaria Crípca do Brasil, é também membro da Philalethes Society e da The Masonic Society e autor do livro “Desmiscando a Maçonaria”, São Paulo: Editora Universo dos Livros, 2012. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 33
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL Introdução
rio compreender a estrutura maçônica.
A Maçonaria, anteriormente às democracias contemporâneas, já pracava uma forma de governança democráca, na qual o voto já era bem do indivíduo e não por propriedade ou localidade (JACOB, 1991; MOREL & SOUZA, 2008), o que reforça a teoria da Maçonaria como uma instuição emancipadora do indivíduo e uma das precursoras do ideal democráco.
A Maçonaria está presente nos cinco connentes por meio de quase 200 Grandes Lojas internacionalmente reconhecidas, consideradas independentes, autônomas e soberanas entre si (LIST..., 2012). É importante esclarecer que a instuição não possui um poder ou liderança mundial constuída, como explicado por Christopher Hodapp (2005):
Um dos vários exemplos que relacionam Maçonaria e democracia é a indiscuvel parcipação da Fraternidade na independência dos Estados Unidos (BULLOCK, 1996), da como a primeira e a maior nação democráca do mundo. Na Revolução Americana de 1776, conforme Morel e Souza (2008) atestam, “é inegável a militância maçônica de líderes como Benjamin Franklin, George Washington e La Fayee”. Essa militância maçônica também pode ser constatada pela declaração de independência americana na qual, conforme Gomes (2010), “dos 56 homens que assinaram a declaração de independência, cinquenta eram maçons”.
Uma coisa de suma importância para entender sobre a Maçonaria é que não há um único organismo mundial que rege a fraternidade. (...) Nenhum homem fala pela Maçonaria, e nunca falará. (...) Cada Estado dos Estados Unidos, cada província do Canadá, e quase todos os países do mundo tem uma Grande Loja - muitas vezes mais de uma. Cada Grande Loja tem regras e regulamentos que regem as Lojas dentro de sua jurisdição, e cada Grande Loja tem um Grão Mestre, que é essencialmente o presidente naquela jurisdição. Mas Grão Mestres não têm nenhum poder para fazer regras ou tomar decisões fora de suas fronteiras. Não existe nenhum grupo nacional ou internacional que controla ou dirige as Grandes Lojas (Freemasons for Dummies, HODAPP, 2005, p. 15).
Com base em tais passagens, torna-se plausível a proposição de que a Maçonaria, munida do mais profundo princípio de igualdade entre os homens, realmente colaborou, por intermédio da liderança libertadora de seus membros, para a implementação dos primeiros regimes Desse modo, os maçons se reúnem em Lojas, sendemocrácos. do que três ou mais Lojas de um mesmo Distrito, ProvínPorém, além da democracia, a era contemporâ- cia, Estado ou Nação formam um Grande Corpo Maçônico, nea, que a Maçonaria ajudou a inaugurar, trouxe outro comumente chamado de Grande Loja, mas que pode receimportante conceito, também presente nos ensinamentos ber outra denominação, como Grande Oriente. E como maçônicos, no qual o valor do indivíduo não é reexo de Hodapp (2005) bem observou, uma mesma região pode seu nome, bens ou berço, mas sim de suas atudes: a me- possuir mais de uma Grande Loja, seja por origens disnritocracia (LIPSON, 1977). Há evidências de um forte con- tas ou cisões históricas. Esse é o caso no Brasil, no qual ceito de meritocracia igualitária na Maçonaria Escocesa já pode haver até três organizações maçônicas regulares em nos primeiros anos do século XVII (SCHUCHARD, 2002). um mesmo Estado. Essa meritocracia, presente em todas as Lojas Maçônicas O organograma que se segue colabora para uma do século XVIII, contrastava com as sociedades engessadas melhor compreensão da estrutura administrava de uma pelas tradicionais hierarquias familiares, nas quais elas Loja Maçônica e sua relação com sua Grande Loja². Trataestavam inseridas, mas com as quais não estavam sasfei- se de um modelo simplicado, que apresenta de forma tas (BILLINGTON, 1980). resumida a estrutura maçônica, desconsiderando departamentos secundários, como tribunais maçônicos, grandes Estrutura da Organização Maçônica comissões, assessorias, delegacias e outros. Importante Sendo a Maçonaria uma das precursoras das práregistrar que, sendo cada Grande Loja autônoma, variacas de democracia e meritocracia herdadas pela Idade ções estruturais podem exisr. Porém, a estrutura da Loja Contemporânea, torna-se interessante observar a práca Maçônica em todas as organizações maçônicas é basicadesses conceitos em seu seio. Para tanto, faz-se necessámente a apresentada. ² Grande Loja, Grande Oriente ou qualquer outra denominação. Optou -se pelo termo Grande Loja por ser o mais ango e mais ulizado no meio maçônico, conforme se pode vericar no List of Lodges. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 34
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL
ja o L e d n ar G & s aj o L -
a m ar g o n a gr O : 1 a r u g i F
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 35
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL Em resumo, o organograma possibilita uma visão clara de um sistema que abrange tanto a democracia direta, para a escolha das lideranças, como a democracia representava, para a gestão do governo da Fraternidade. Esse sistema misto, com poucas variações, já era ulizado pelas primeiras Grandes Lojas há algumas décadas antes do surgimento das primeiras Repúblicas, as quais trataram de desenhar sistemas muito similares ao maçônico, mas tendo, em alguns casos, suas democracias representavas sido inuenciadas pelo sistema bicameral britânico.
Democracia Maçônica
Um mínimo de sete maçons compõe uma Loja Maçônica. Os membros elegem entre si seus três dirigentes: o Venerável Mestre, correspondente ao presidente da Loja; o 1º Vigilante, que corresponde a um 1º vice-presidente; e o 2º Vigilante, como um 2º vice presidente. Outros cargos podem também ser elevos numa Loja Maçônica, conforme legislação da Grande Loja e costumes do rito maçônico adotado, como o de Tesoureiro ou de Orador. Ao término de cada gestão, o Venerável Mestre que deixa o posto, então chamado de Ex-Venerável Mestre ou pelo termo em inglês de Past Master , passa a servir como Meritocracia Maçônica uma espécie de conselheiro do novo Venerável MesPode-se também observar no organograma tre. O Venerável Mestre então nomeia os demais apresentado que nas Lojas Maçônicas há, além dos membros para ocupar os cargos nominavos, com- cargos elevos, cargos de livre nomeação do Venerápondo assim o corpo de Ociais da Loja. vel Mestre. O mesmo ocorre também na estrutura Já uma Grande Loja é composta por um míni- das Grandes Lojas, com postos nomeados pelo Grão mo de três Lojas. Adotando um modelo de democraMestre. Porém, tal nomeação não costuma ocorrer cia direta, todos os membros das Lojas jurisdicionadas à Grande Loja votam na assembleia que elege sua de forma descriteriosa ou subjeva. No caso dos carDiretoria, composta principalmente pelo Grão - gos nominavos da Grande Loja, um uxograma do Mestre, Grão-Mestre Adjunto, Grande 1º Vigilante e processo de nomeações da GL da Nova Zelândia Grande 2º Vigilante. O Grão-Mestre Adjunto, gura (FREEMASONS..., 2012) ilustra e colabora para uma que não possui correspondente nas Lojas, representa melhor compreensão de como as nomeações podem a Grande Loja em eventos que o Grão-Mestre não possa comparecer e atua como Grão-Mestre em sua ocorrer no meio maçônico: ausência. Tal cargo pode receber atribuições secundárias, como administrar fundos de assistência e de lantropias, por exemplo. Todos aqueles que passaram pelo posto de Grão-Mestre também atuam como algo similar a conselheiros do atual Grão -Mestre. E o Grão-Mestre nomeia membros experientes das Lojas para ocuparem os cargos nominavos de Grandes Ociais. Os Veneráveis Mestres, 1º e 2º Vigilantes e, em algumas Grandes Lojas, o Past Master mais recente representam suas Lojas nas assembleias deliberavas da Grande Loja, apresentando, opinando e votando as mudanças de legislação, propostas, prestações de contas e demais conteúdos que constem nas pautas. Nesses casos, trata-se de uma forma de democracia representava. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 36
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL Figura 2: Fluxograma Nomeações - Grande Loja de Nova Zelândia.
e, em seguida, realizando entrevistas, quando necessário. O Grão-Mestre então realiza a nomeação daqueles membros recomendados pela comissão avaliadora, independente de suas preferências pessoais. Esse procedimento sugere a predominância de um senso de meritocracia na instuição, obviamente necessário para denir tulares de funções consideradas mais técnicas numa Ordem que prima pelo princípio de igualdade entre seus membros. Igualdade essa preservada não somente no modelo de escolha, mas principalmente na oportunidade ofertada às Lojas de apresentar suas indicações. Evidentemente que, quando do início das primeiras Grandes Lojas, a meritocracia presente na Maçonaria não era objeto de procedimentos formais como o apresentado. Até mesmo hoje muitas Grandes Lojas ainda não os têm. Porém, a práca da meritocracia no meio maçônico é atestada desde, por exemplo, os primeiros anos da primeira Grande Loja, quando John Desaguliers convida James Anderson para redigir as Constuições, considerando para isso as habilidades e experiência do mesmo (COIL & BROWN, 1961). Seria, inclusive, razoável supor que tal meritocracia é herança da Maçonaria Operava, quando delegar uma função a um maçom não competente para tal poderia acarretar em desabamento! Conclusões
O uxograma evidencia um procedimento claro para nomeações em que as organizações-base da instuição, as Lojas Maçônicas, realizam indicações de candidatos aos cargos nominavos, devendo apresentar currículos que jusquem tais submissões. Dessa forma, cargos relacionados a avidades jurídicas são preenchidos por maçons com formação e experiência na área, o mesmo ocorrendo em outras áreas internas, como de assistência social ou educação.
A Maçonaria é, sem sombra de dúvidas, um dos assuntos mais discudos e debados nas pesquisas históricas, desde sua origem até sua parcipação nos momentos históricos do mundo ocidental moderno e contemporâneo (WAITE, 1921; YATES, 1972; KIRBY, 2005). Porém, essa parcipação histórica, algumas vezes como protagonista e outras como coadjuvante, gera oposições daqueles que têm seus interesses pre judicados de alguma forma com tais ações, como, por exemplo, o nazismo, a Igreja e ditaduras (ROBERTS, 1969).
Compreender tais perseguições não é tarefa Ao receber os currículos, uma comissão avalia o dicil. Ao ter na Maçonaria uma defensora do princíperl dos candidatos, promovendo uma pré -seleção pio de igualdade entre os homens, independente de FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 37
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL raça, o confronto com as ideias nazistas ca nído. Quando se tem na Maçonaria uma escola de sanidade, e não de sandade, colocando indivíduos de diferentes credos lado a lado, chamando uns aos outros de irmãos, se compreende algumas das movações do Vacano. E sendo a Maçonaria, historicamente, palco de debates de ideias libertadoras e de problemas sociais para dignos cidadãos e líderes, vê-se o cenário temido por ditaduras de esquerda. Entretanto, a democracia e a meritocracia, essas duas prácas genuinamente maçônicas, não são realidade em todas as Obediências Maçônicas espalhadas pelo mundo, nem mesmo unanimidade entre as regulares. A começar pela Grande Loja Unida da Inglaterra, considerada por muitos como o paladino da moral e da regularidade maçônica, que experimentou a democracia apenas nos seus primeiros anos de existência, jogando-a fora, ou melhor, vendendo-a na primeira oportunidade que surgiu de receber em pagamento um punhado de status junto à família real inglesa. E não se faz necessário atravessar o oceano para ver de perto outros casos de “Monarquia Maçônica”, tendo aqui mesmo no Brasil alguns absurdos como, por exemplo, um Grão Mestre há mais de 40 anos no poder, ou Obediências cujas legislações permitem cargos de livre nomeação do Grão-Mestre terem direito a voto em assembleias deliberavas, o qual deveria ser restrito aos representantes eleitos das Lojas, manipulando dessa forma a democracia representava. Alguns estudos cumpriram com o objevo de apresentar as colaborações da Maçonaria nas importantes mudanças mundiais ocorridas no nal do século XVII e início do século XVIII, as quais inuenciaram diretamente os modelos de governos e sociedades no mundo de hoje (BARATA, 2006; ELLIOT & DANIELS, 2006; HARLAND-JACOBS, 1999; YORK, 1993). Entre tais colaborações, tem-se a defesa dos princípios de liberdade e igualdade, os quais, sem dúvida alguma, estão presentes nas prácas da democracia e da meritocracia. A proposta do presente estudo foi cooperar com o tema, apresentando uma breve análise interna de como essas duas prácas estão presentes no meio maçônico. Espera-se com isso incitar os leitores
à reexão e esmular outros estudos que colaborem com o tema. Referências Bibliográcas BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada e Independência do Brasil: 1790 -1822. Juiz de Fora/São Paulo: Ed. UFJF/Annablume/Fapesp, 2006. BILLINGTON, James H. Fire in the Minds of Men: Origins of the Revoluonary Faith. New York: Basic Books, 1980. BULLOCK, S. C. Revoluonary Brotherhood: Freemasonry and the Transformaon of the American Social Order , 1730–1840, Chapel Hill, 1996. COIL, Henry Wilson & BROWN, William Moseley. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Ed. Macoy, 1961. ELLIOTT, Paul; DANIELS, Stephen. The “school of true, useful and universal science”? Freemasonry, natural philosophy and scienc culture in eighteenth -century England. Science. The Brish Journal for the History of Science, Vol. 39, Issue 02, 2006. FREEMASONS New Zealand. Grand Secretary Newsleer Issue 2012/6. 07 de maio de 2012. In: hp://www.freemasons.co.nz/ cgi/dada/mail.cgi/archive/grandsecnews/ 20120507170459/ . Acesso em: 05 de Novembro de 2012. GOMES, Laurenno. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que nha tudo para dar errado . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. HARLAND-JACOBS, Jessica. “Hands Across the Sea”: The Masonic Network, Brish Imperialism, and North Atlanc World. Geographical Review, Vol. 89, Issue 2, p. 237–253, 1999. HODAPP, Christopher. Freemasons for Dummies. Hoboken, NJ: Wiley Publishing Inc., 2005. JACOB, M. C. Living the Enlightenment: Freemasonry and Polics in Eighteenth-Century Europe. New York: Oxford University Press, 1991. KIRBY, Dianne. Chrisanity and Freemasonry: The Compability Debate Within the Church of England. Journal of Religious History . Vol. 29, N. 1, 2005. LIPSON, Dorothy Ann. Freemasonry in Federalist Conneccut . Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1977. LIST of Lodges (2012). Ed. Pantagraph. Illinois, USA. MOREL, Marco & SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. O poder da maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. ROBERTS, John M. Freemasonry: Possibilies of a Neglected
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 38
ISMAIL, K. MAÇONARIA: DEMOCRACIA E MERITOCRACIA NO MUNDO OCIDENTAL Topic. The English Historical Review, Vol. 84, No. 331 (Apr., 1969), pp. 323-335. SCHUCHARD, Marsha Keith. Restoring the Temple of Vision: Cabalisc Freemasonry and Stuart Culture . Leiden: E. J. Brill, 2002. WAITE, Arthur Edward. A New Encyclopaedia of Freemasonry , 2 vols. London: William Rider and Son Limited, 1921 . YATES, Frances A., The Rosicrucian Enlightenment. London: Routledge & Kegan Paul, 1972. YORK, Neil L., Freemasons and the American Revoluon. Historian, Vol. 55, Issue 2, p. 315–330, 1993.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 33 -39, Mai/Ago, 2013. 39
40
Recebido: 18/05/2013 Aprovado: 07/06/2013
Resenha do Livro: SOBRINHO, Octacílio Schüler. Uma Luz na História: o sendo e a formação da COMAB . Florianópolis: Ed. O PRUMO, 1998; pp. 568. Ano eleitoral no Grande Oriente do Brasil. Dúvidas relacionadas ao processo eleitoral surgem aqui e ali. Não cabe aqui julgá-las procedentes ou não. Esses quesonamentos são, no mínimo, um alerta sobre o processo anquado, lento, não informazado e pouco transparente. Em outras palavras, um processo não condizente com as tecnologias que experimentamos neste século XXI. 2013.
Ano eleitoral no Grande Oriente do Brasil. O candidato da oposição, Irmão Athos Vieira de Andrade, recebeu 7.166 votos, enquanto o candidato da situação, Irmão Osmane Vieira de Resende, recebeu apenas 3.824 votos. Porém, durante o processo eleitoral foram anulados cerca de 70% dos votos, contando o candidato Athos Vieira de Andrade ao nal com apenas 1.107 votos, contra 2.129 votos de Osmane Resende, agora eleito. 1973.
Essa é a obra de Octacílio Schuber, “Luz na Maçonaria: a Formação e o Sendo da COMAB”. Ela é uma obra rara. Não naquele sendo de que é dicil de achar, mas no sendo de que é rica, ampla, detalhista e baseada em fontes primárias: em diversos atos, decretos, manifestos e bolens ociais do próprio GOB. Muitos desses documentos são transcritos na íntegra e, à medida que vamos lendo e analisando cada um deles, com a devida calma e isenção, não há como negar os fatos. Após a leitura da primeira parte do livro, idencamos as verdadeiras Lojas que devem e podem ser consideradas “primazes” do Brasil. Além disso, somos conduzidos com maestria a páginas fartamente documentadas, que contradizem as “alegadas”
três grandes cisões do GOB: 1854, 1927 e 1973. Trata -se de uma omissão histórica que é desvendada nesta obra ímpar, como o próprio autor declara: “ Armamos que, em 151 anos de história do GOB, 1822-1973, muitas defecções aconteceram, chegando a um total de 22”. Uma Luz na História tem como autor Octacílio Sobrinho, que, além de maçom, foi professor tular da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, sendo Mestre pela Georgetown University (Washington, DC), e foi Diretor do Centro de Educação da UDESC. Esse breve currículo evidencia a seriedade do autor no imenso trabalho de pesquisa ciencamente estruturada que foi realizado, complementado por entrevistas com inúmeros personagens que vivenciaram o momento da cisão de 1973. Não é uma obra emocional, rancorosa ou eivada de pinceladas de vingança (como algumas que vemos por aí), mas um trabalho cienco, tecnicamente embasado, chegando mesmo a ter trechos densos como, por exemplo, as peções aos Tribunais Maçônicos. O autor, com toda isenção de um homem das ciências, arma “Registre-se que esta publicação, analisando a cisão de 1973, seus erros, suas confusões e suas inconsequências, sirva de lição para o futuro e não para reacender a luta fraterna”. “Uma Luz na História: Formação e Sendo da COMAB” mostra a trajetória de uma candidatura, a do Irmão Athos Vieira de Andrade, que foi pactuada e construída em consenso entre os Grão -Mestres dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Pernambuco, em detrimento da candidatura do Irmão
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 41 -42, Mai/Ago, 2013. 41
MATTOS, Franklin Luiz de. UMA LUZ NA HISTÓRIA: O SENTIDO E A FORMAÇÃO DA COMAB (review) Osmane Resende, que contava apenas com o apoio Colégio de Grãos Mestres da Maçonaria Brasileira, do Grão-Mestre do Maranhão. E mesmo com a oposi- que mais tarde se transformaria na COMAB. ção contando com o apoio dos maiores Estados brasiPara encerrar, nada melhor do que um trecho leiros, a chapa da situação, por meio do “milagre” da dessa Proclamação, citada na página 277 do livro: anulação de votos, venceu! E com essa vitória eivada de factoides, expulsões, punições e perseguições, a Por estas razões, os signatários que represenruptura foi inevitável. E nesse processo de libertação, medidas extremas foram tomadas pelos governantes da situação. Em certos momentos de leitura nos lembramos da tão cruel e temida inquisição: expulsões, perdas de direitos, julgamentos sem defesa e contraditório (e tudo isso documentado), fechamento de Lojas ou destuições de administrações inteiras. Athos Vieira teve anulado 5.190 de seus votos. As atas indicam que, realmente, não havia qualquer fundamento legal para tanto. Tratou -se apenas revanchismo e perseguição. E tudo isso é narrado pelo autor com extrema neutralidade acadêmica, mesmo frente à tão descabida situação.
tam mais de dois terços das Lojas e maçons brasileiros, em obediência aos princípios maiores da Ordem, conclamam os Irmãos para que se congreguem em torno dos respecvos Orientes Estaduais e das autêncas lideranças regionais, objevando o fortalecimento dessas unidades para que, de sua AUTONOMIA e INDEPENDÊNCIA, possam, como Potências Simbólicas e Soberanas, com dignidade e alvez, exercer as prerrogavas e os direitos maçônicos que lhes são inerentes, tanto no seio da Ordem como no relacionamento com as autoridades e órgãos constuídos de nossa Pátria.
Os irmãos da COMAB devem senr-se orgulhosos dessa história, pois o movimento de 1973 não “Nunca antes na história desse país” tantos foi nebuloso e nem malfadado, senão extremamente atos de um Grão-Mestre Geral foram expedidos: per- claro, transparente, inequívoco, inteligível, com objedão de dívidas, reconversão de dívidas, autorizações vos certos e denidos. Já outros... de iniciações sem pagamento de placets, quebras de interscios. Parecia uma versão maçônica do Luiz Franklin Maos “mensalão”, que abalou as estruturas de poder do VM da Loja “Acácia de York” nº 52 - GOIRJ nosso país recentemente. MRA, MEM, KT, 26º do REAA – SC33REAARFB É neste contexto de intrigas palacianas e conspirações mundanas que surge o imenso senmento de revolta contra o que vulgarmente chamaríamos de “furto maçônico”. Em vários Estados, maçons condecorados, elogiados e citados como exemplo de dedicação à Ordem Maçônica perderam seus direitos maçônicos da noite para o dia. Sobre esse assunto, o livro apresenta a relação sequencial de todos os atos que cometem tantas injusças. Um excelente registro histórico.
Grande Secretário de Planejamento Estratégico - GOIRJ
Uma innidade de fatos e acontecimentos antecedentes estão narrados e fartamente documentados, conduzindo o leitor até a Proclamação assinada pelos Grão-Mestres, no Hotel Ambassador, Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1973, que consolidaria o FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 41 -42, Mai/Ago, 2013. 42
Recebido: 29/05/2013 Aprovado: 19/06/2013
Nocia: FORTALECENDO OS LAÇOS QUE NOS UNEM COMO VERDADEIROS IRMÃOS Os Grandes Orientes Independentes vem há algum tempo conquistando o devido reconhecimento internacional, inicialmente junto à CMI – Confederação da Maçonaria Interamericana, e agora junto à Grande Loja do Distrito de Columbia (GLDC). Em maio e junho deste ano seu Mui Venerável Grão -Mestre, Irmão Teko Foly, visitou o Brasil e assinou tratados de reconhecimento com o Grande Oriente do Rio Grande do Sul (GORGS), Grande Oriente Paulista (GOP -SP) e Grande Oriente do Estado do Mato Grosso (GOEMT).
Catarina (GOSC), Paraná (GOP-PR) e São Paulo (GOPSP). Criada a parr de uma conferência maçônica lano-americana em 1947, a CMI agrupa atualmente 74 Obediências maçônicas de toda a América Lana, além de França, Espanha e Portugal, assumindo assim um papel ainda polêmico de Confederação Maçônica Internacional. Este ingresso dos Grandes Orientes Independentes é um dos frutos colhidos da cooperação entre os entes que compõem as três Obediências regulares: os Grandes Orientes Estaduais federados ao Grande Oriente do Brasil, as Grandes Lojas confederadas à CMSB e os Grandes Orientes Independentes confederados à COMAB. Essa união é mais nída nos Estados do Rio Grande do Sul (GOB -RS, GLMERGS e GORGS), de São Paulo (GOB-SP, GLESP e GOP-SP) e de Minas Gerais (GOB-MG, GLMMG e GOMG).
Surgida em 1973 como o Colégio de GrãoMestres da Maçonaria Brasileira, dez potências desfederadas do Grande Oriente do Brasil se confederaram, propugnando pela unicação da Maçonaria Brasileira. Em 1991, os Grandes Orientes, mantendo sua autonomia, independência e soberania, congregam se no que cou conhecida como Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, a qual conta hoje com 21 Essa coexistência de três Obediências nas Grandes Orientes Independentes. principais Unidades Federavas do país à primeira Mais de trinta anos depois, em dezembro de vista pode parecer um tanto quanto incomum para a 2007, quatro desses Grandes Orientes Independentes realidade estadunidense, onde teoricamente existe foram aceitos como parcipantes da Confederação somente uma Grande Loja por Estado e mais uma no Maçônica Interamericana - CMI, contando para isso distrito federal de Columbia, onde ca a capital Wacom o apoio do então Sereníssimo Grão -Mestre da shington. Porém, deve-se registrar a presença das GLMERGS, Irmão Rui Silvio Straglioo, na época exer- Grandes Lojas Prince Hall, as quais mantêm bom relacendo a vice-presidência da 5ª Zona da CMI, e ainda cionamento com as Grandes Lojas originais nos princom aquiescência do então Soberano Grão-Mestre cipais Estados norte-americanos, similar ao que ocorGeral do GOB, Irmão Laelso Rodrigues. Reunida em re aqui no Brasil. Assembleia na cidade de Buenos Aires, Argenna, em Sediada em Washington, D.C., nos Estados dezembro de 2008, a CMI aceita por unanimidade a Unidos, a Grande Loja do Distrito de Columbia admissão, liação e integração dos Grandes Orientes (hp://www.dcgrandlodge.org) foi fundada em 1811, Independentes do Rio Grande do Sul (GORGS), Santa tendo hoje 40 Lojas e cerca de 4.500 membros, apreFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 43 -44, Mai/Ago, 2013. 43
MONTEIRO, Rubens Caldeira. FORTALECENDO OS LAÇOS QUE NOS UNEM COMO VERDADEIROS IRMÃOS sentando assim uma média de 116 obreiros por Loja. Tal média parece gigantesca para o modelo maçônico brasileiro, porém é a realidade da Maçonaria dos EUA.
çônicas aliadas, como Societas Rosicruciana, Shriners; entre tantas outras organizações que compõem a família maçônica e que ainda podem se desenvolver em nossas terras, um país com grande potencial de Em novembro do ano passado a GLDC, em sua expansão da Arte Real. O reexo desse trabalho árduo dos maçons 202ª reunião anual, aprovou a recomendação do Comitê de Reconhecimento e Relações Fraternais de dos Grandes Orientes Independentes para o engranoutorgar seu reconhecimento ao GORGS, GOEMT e decimento da Maçonaria Regular está surgindo na GOP-SP. Nesses meses de maio e junho de 2013 o forma do tão esperado reconhecimento internacioMui Venerável Irmão Teko A. Foly, Grão-Mestre da nal, o qual parte justamente da capital do maior país Grande Loja do Distrito de Columbia, esteve em Por- maçônico do mundo: os Estados Unidos. Evidenteto Alegre, São Paulo e Cuiabá para rmar esses trata- mente que pressões de alguns adeptos da Maçonaria dos. O Grão-Mestre estava acompanhado de seu as- feudalista no Brasil estão e serão feitas para frear essessor, Irmão Don Holliday, e dos nobres irmãos dos se reconhecimento. Caberá às nossas lideranças não Shriners Internaonal , o braço lantrópico da Maço- se sujeitarem a essas pressões, honrando assim os naria, reconhecido pela ONU como mais importante esforços daqueles que, há 40 anos, defenderam a nossa autonomia e independência. endade desse gênero no mundo. A Anga Ordem Árabe de Nobres do Santuário Mísco ( Ancient Arabic Order of the Nobles of the Mysc Shrine - A.A.O.N.M.S.), mais conhecida simplesmente por Shriners, é uma fraternidade formada por aproximadamente 300 mil membros e voltada à diversão e à caridade, tendo por foco a saúde de crianças de famílias desfavorecidas. Fundada em 1872, possui hoje 195 templos espalhados pelos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, México, Filipinas, Porto Rico e Panamá e oferece atendimento gratuito para crianças de até 18 anos em seus 22 hospitais próprios, especializados em ortopedia, queimadura, lesões da coluna vertebral e lábio leporino/fenda palana. Desnando cerca de US$ 589 milhões para atendimento hospitalar e US$ 30 milhões em pesquisa no ano de 2012, os Hospitais Shriners para Crianças provê atendimento a mais de 120 mil crianças por ano.
Rubens Caldeira Monteiro VM Loja de Pesquisas “Rio de Janeiro” nº 54 Grande Secretário de Relações Exteriores - GOIRJ Geólogo, Doutor em Geociências e Meio Ambiente
Consolidando sua parcipação no cenário nacional e internacional, os membros da COMAB têm parcipado avamente e colaborado para o desenvolvimento de diversas organizações além da Loja Simbólica (Blue Lodge ou Cra Masonry ), tais como ordens juvenis (DeMolay, Arco-Íris, Filhas de Jó); altos graus de corpos reconhecidos internacionalmente, como Real Arco, Maçonaria Crípca e Ordens de Cavalaria e o Rito Escocês Ango e Aceito; e ordens maFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 43 -44, Mai/Ago, 2013. 44
Recebido: 24/05/2013 Aprovado: 19/06/2013
Relato de Evento: A ORDEM DeMOLAY NA RIO+20 taduais, escolhem um tema anual para que todas as organizações aliadas à Ordem DeMolay brasileira se A Ordem DeMolay é uma instuição internaci- empenhem durante suas avidades de mobilização onal patrocinada pela Maçonaria, que tem por obje- social. vo o desenvolvimento do caráter de jovens homens Considerando que um dos princípios écos da para que, ao angirem os 21 anos de idade, eles possam contribuir com a comunidade em que estão inse- Ordem DeMolay é a formação de lideranças, a Orridos. A Ordem DeMolay proporciona um ambiente dem DeMolay brasileira aproveitou duas oportunidafraternal, seguro e sadio, composto por garotos do des disntas de expor, de forma organizada, seus valores como grupo social, disseminando sua postura sexo masculino, entre 12 e 20 anos. Todo processo de aprendizagem baseia-se na práca de ações vo- em defesa de valores humanos para a sociedade Essa luntárias, lantrópicas e na transmissão de técnicas exposição tomou forma concreta durante a II Confede liderança, oratória, resolução de conitos, gestão rência Nacional da Juventude, e foi concluída na Cúorganizacional, além de estudos losócos baseados pula dos Povos da Rio20. em sete virtudes básicas de um DeMolay, que são: Amor Filial, Reverência pelas Coisas Sagradas, Corte- Conferência Nacional da Juventude sia, Companheirismo, Fidelidade, Pureza e PatriosA II Conferência Nacional de Juventude ocormo. reu no período de 1º de junho a 12 de dezembro de A Ordem DeMolay recebe o suporte da Or- 2011, passando por etapas municipais, estaduais e dem Maçônica, muito embora a admissão na Ordem nacionais. O evento teve por objevo possibilitar que DeMolay não garanta a admissão na Maçonaria. Pre- a juventude brasileira deliberasse acerca dos sente em diversos países, mais de um milhão de jo- “direitos da juventude, as polícas e programas priovens já passaram pela Ordem DeMolay. Somente no ritários para garan -los, além de apontar mecanisBrasil, o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para mos de parcipação, assegurando o envolvimento do a República Federava do Brasil - SCODRFB declara maior número possível de jovens brasileiros, respeique existem mais de 30 mil membros avos. tando sua pluralidade e incluindo as comunidades No período de julho de 2011 a julho de 2012 a tradicionais” .² Ordem DeMolay esteve ocialmente engajada no teTendo em vista o tema do Ano DeMolay, ma “Conscienzação Políca: a força da ideia cole- “Consciência Políca: A força de uma ideia coleva”, va”. Esse tema foi escolhido segundo o projeto anual o Capítulo “Perfeita União” nº 115 da Ordem DeMochamado “Ano DeMolay”. Desde 2005, os membros lay, em conjunto com o Gabinete Nacional da Ordem da Ordem DeMolay, por meio de suas lideranças es- DeMolay, organizou o Projeto “DeMolay & JuventuIntrodução
² JUVENTUDE.GOV.BR. 2ª Conferência Nacional de Juventude. Disponível em: . Acessado em: 22 de Junho 2013. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 45 -48, Mai/Ago, 2013. 45
FERREIRA, E. C. C. X. A ORDEM DeMOLAY NA RIO20 de20”, a m de contribuir com os valores e virtudes DeMolay para a formulação de polícas públicas de Meio Ambiente juventude na II Conferência Nacional de Juventude. 1. Em defesa das orestas, não à aprovação do novo A parcipação no projeto se deu nos moldes código orestal; da Resolução 003/2011 da Comissão Organizadora Nacional Sobre as Conferências Livres, que, dentre 2. Substuição do modelo energéco baseado no petróleo por energia e tecnologias limpas e não outras providências, considera como válidas a elabopoluentes; ração de conferências livres virtualmente e suas respecvas contribuições. Com este propósito, foi criado 3. Desenvolvimento de programas de agroecologia, em agosto de 2011 o fórum virtual no qual os textos ampliação do controle de agrotóxicos e do desbase da II Conferência Nacional de Juventude foram no nal de embalagens; discudos. No dia 22 de setembro de 2011, por meio 4. Redução da desnação nal de resíduos sólidos; da plataforma de Educação à Distância da Universidade DeMolay, foi realizada a Conferência Livre que, ao 5. Manifestamo-nos contrários a construção de novas usinas nucleares e a favor da redução gradacabo de um mês, contou com a representação de 131 va das existentes, além de amplo debate sobre o Capítulos DeMolays, espalhados por 119 municípios adequado armazenamento de resíduos nucleares; de mais de 20 Estados mais o Distrito Federal. As ideias aprovadas nessa conferência³, e nas 6. Ampliação da ulização de energia solar e eólica no Brasil; quais a juventude deve se apoiar, são: Educação
7. Reorestamento com essências orestais navas e nas margens e nascentes dos rios;
8. Programa de moradia popular com esgotamento 1. Melhoria da remuneração dos prossionais de sanitário e tratamento adequado; educação, com imediata incorporação de gra9. Cumprimento da legislação vigente e agilidade cações ao salário; em processos de punição e recuperação; 2. Desnação de 10% do PIB para a educação com a 10. Programa de educação para a sustentabilidade desvinculação das Receitas da União (DRU); com parcipação comunitária; 3. Universalizar o acesso ao ensino público em todos 11. Proteção da biodiversidade, do patrimônio genéos níveis da pré-escola até a universidade; co de nossas espécies e da soberania nacional, 4. Qualicar os prossionais de educação, com inampliando ou consolidando as unidades de concenvo a pós-graduação; servação. 5. Facilitar o ensino prossional e tecnológico, respeitando-se as diferenças regionais e a experiênDireito à Parcipação cia comunitária; 6. Garanr acesso e a universalização para os jovens 1. Imediata implementação do projeto de lei “Ficha Limpa” para as próximas eleições; de todas as regiões do país as novas mídias e a informação eletrônica, por meio da liberação dos 2. Aprovação do Projeto de Lei 253/06 do Senador recursos do Fundo de Universalização dos ServiCristovam Buarque, que torna crimes hediondos ços de Telecomunicações (FUST). o peculato, a inserção de dados falsos em sistema ³ GABINETE NACIONAL DA ORDEM DEMOLAY PARA A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Relatório da 1° Conferência Livre DeMolay & Juventude20. 2011. Disponível em: . Acessado em: 23 de Junho 2013. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 45 -48, Mai/Ago, 2013. 46
FERREIRA, E. C. C. X. A ORDEM DeMOLAY NA RIO20 de informações, a modicação ou alteração não mos”, reconhecida pelos 188 representantes de paíautorizada de sistema de informações, a corrup- ses presentes na conferência. ´ ção passiva e a corrupção ava; Paralelo à Rio20 ocorreu, no Aterro do Fla3. Implementação da Comissão da Verdade para mengo, a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Jusça Soapuração da história da Ditadura Militar e dos cial e Ambiental ⁵, durante os dias 15 a 23 de Junho de 2012. A Cúpula dos Povos foi organizada pela socipresos polícos; edade civil organizada e por movimentos sociais de 4. Aumento do percentual de vagas nos pardos e diversos países, que consideraram a pauta principal coligações para 35% de jovens a todos os cargos para a Rio20, a economia verde, como insuciente elevos; para lidar com a crise ambiental. A Cúpula dos Povos foi dividida em três eixos. O primeiro eixo discuu o 5. Acesso a educação e garana de universalização poder de inuência das grandes corporações e da dos serviços de saúde para os jovens da cidade e iniciava privada nas negociações da Rio20. O Terrido campo; tório do Futuro, segundo eixo, foi o espaço em que 6. Consolidação e efeva estruturação dos conse- comunidades e endades puderam apresentar e trolhos de juventude em todas as esferas adminis- car soluções viáveis para a crise ambiental. O terceiro travas; eixo foi um espaço criado para que endades e movi7. Assegurar a liberdade de expressão e manifesta- mentos sociais pudessem integrar agendas e campação arsca, políca e cultural da Juventude, in- nhas a m de impulsionar suas lutas sociais após a Rio20. Na Cúpula dos Povos houve 21 mil inscrições, cluindo o direito à diversidade sexual; sendo 15 mil representantes de organizações da Soci8. Criminalizar todo po de discriminação ou pre- edade Civil. conceito de gênero, etnia, e violência domésca; Após o sucesso na mobilização e elaboração 9. Ampliar e garanr acesso público às discussões a de contribuições dos valores DeMolay para II Conferespeito do aborto e das células tronco. rência Nacional de Juventude, o projeto DeMolay & Juventude20 organizou-se para debater essas propostas na Cúpula dos Povos. Ainda ulizando o fórum Rio+20 e Cúpula dos Povos virtual como base para constante reavaliação e conEntre os dias 20 e 22 de junho de 2012 ocor- tribuição da juventude DeMolay para desenvolvimenreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Uni- to ecologicamente sustentável e socialmente justo, o das para o Desenvolvimento, a Rio20, a m de avali- projeto chegou, nos meses anteriores à Rio20 e à ar os resultados da Conferência Rio 92 e traçar novas Cúpula dos Povos, a envolver 500 lideranças da judiretrizes para o desenvolvimento sustentável do ventude DeMolay, representando 26 Estados, 193 mundo. A Conferência reuniu representantes dos Es- Municípios brasileiros e 400 Capítulos; tados-membros da ONU, que tentaram encontrar um Além da discussão através do fórum virtual, o modo de conciliar o desenvolvimento econômico, humano e a preservação do meio-ambiente, além de projeto Juventude20 conseguiu uma tenda na Cúpureconhecer responsabilidades entre os países para a la dos Povos. O espaço cedido pela organização do promoção do desenvolvimento sustentável. A confe- evento encaixou-se nas avidades autogesonadas rência teve como resolução “O Futuro que Quere- de arculação e aconteceu às 16h30min na tenda ´ ONU. ONU Brasil na Rio20. Rio20 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: . Acessado em: 23 de Junho 2013. ⁵ CÚPULA DOS POVOS. Cúpula dos Povos na Rio20 por Jusça Social e Ambiental. Disponível em: < hp://cupuladospovos.org.br/ >. Acessado em: 23 de Junho 2013. FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 45 -48, Mai/Ago, 2013. 47
FERREIRA, E. C. C. X. A ORDEM DeMOLAY NA RIO20 Manuel Congo no dia 15 de Junho de 2012. Lá foi apresentado como os valores DeMolay contribuíram para realização de avidades desenvolvidas ao longo do Ano DeMolay e qual o papel dos DeMolays, como membros da Sociedade Civil, na construção de um futuro mais sustentável e socialmente justo para diversas pessoas que parcipavam da Cúpula dos Povos.
tendência a esse papel de liderança car restrito à organização DeMolay. Assim sendo, esse projeto pode ser considerado um pequeno esforço no sendo de esmular a reexão da Juventude DeMolay acerca de seu papel enquanto juventude responsável pela constuição de um mundo mais justo. Demonstrando que os valores DeMolays são compaveis com instâncias de decisão além da sua própria organização. Embora a parcipação nesses eventos tenham do sucesso quanto a mobilização e discussão, acredito que Comentários Finais ainda representa um passo mido em relação a conHá um discurso recorrente na Maçonaria que, tribuição que os DeMolays podem oferecer. principalmente nesses tempos de agitação popular, torna a circular. Baseado na concepção de que a Maçonaria é uma instuição progressista e composta de Eduardo Cezar C. X. Ferreira PMC Capítulo “Perfeita União” da Ordem DeMolay homens idôneos, considera-se esta instuição como Mestre Maçom Loja “Francisco Cândido Xavier” nº 55 capaz de guiar a humanidade em crise para a sua reGrande Secretário Adj. de Assuntos Paramaçônicos - GOIRJ denção. Dessa forma rememora-se os tempos “áureos” em que a Maçonaria era capaz de inuenciar de forma direta os rumos dos países e das grandes mudanças sociais ou polícas. Esse discurso ecoa também nas reuniões DeMolays e não é de se admirar que, por vezes, ele possa ser acolhido por setores dessa organização. Entretanto o que mais frustra os entusiastas desse discurso é o fato de que o mundo não é mais o mesmo. A organização DeMolay, inspirada na losoa maçônica, tem como missão contribuir para formação do caráter dos jovens. Os jovens que uma vez absorveram e desenvolveram os preceitos da ordem seriam capazes de auxiliar a comunidade que estão inseridos, contribuindo signicavamente no desenvolvimento da mesma. Como se pode notar, nessa concepção o único meio de mudança que a organização DeMolay pode oferecer a comunidade da qual faz parte é aquela realizada em seus membros e não através de comando de instuições polícas. Os jovens DeMolays, na nossa visão, devem sim estar envolvidos em diversas instâncias de parcipação políca. Porém quando presentes nelas devem agir não como redentores, mas sim como cidadãos. É nesse escopo que se desenvolveu o projeto DeMolays & Juventude20. Considera-se que há uma FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 45 -48, Mai/Ago, 2013. 48
Recebido: 03/06/2013 Aprovado: 10/06/2013
FinP entrevista: PETER DIAZ Entrevista realizada no dia 01 de Junho de 2013 com Peter Diaz, cubano radicado nos Estados Unidos, médico ginecologista e obstetra há 33 anos, professor de medicina, membro do Board of Trustees do Shriners Internaonal. Dr. Diaz é membro da Loja Mokanna nº 329 da Grande Loja de Orlando e, desde 2002, é um Nobre Shriner. É professor de cirurgia laparoscópica e tem ensinado esse procedimento nos Estados Unidos, América Central e América do Sul. eu casei com minha esposa, seu pai explicou -me soFinP - Você poderia contar um pouco de sua história? De como se interessou pela Medicina, pela Maçonaria bre a Maçonaria e eu quis me tornar um maçom. E eu me tornei um maçom há 20 anos. Ele era também um e pelo Shriner? Shriner e eu me envolvi com Shriners logo após eu Peter Diaz - Eu queria ser médico desde criança. me tornar maçom. Quando terminei o Ensino Médio, eu ve a oportunidade de estudar em uma das melhores escolas de FinP - Antes do ano 2000? medicina do mundo, na Universidade de Sanago de Peter Diaz - Sim. Antes de 2000. Compostela, onde meus avós viviam. Eu nha 17 FinP Então na época você era um Grau 32? anos de idade quando fui para lá e aos 23 anos eu já era um médico. Quando me graduei na Espanha, vol- Peter Diaz - Sim. Eu sou um Grau 32. E eu amo a fratei para os Estados Unidos para fazer minha Especiali- ternidade e a amizade no Shriners. Eu gosto muito zação. Eu praco a medicina na Flórida, em Orlando , disso. Eu fui presidente de um clube de carros anfaz 42 anos. Eu trato de crianças, já foram mais de 9 gos. Uma vez por semana nós nos reuníamos e planemil crianças tratadas. Gasto boa parte do meu tempo jávamos viagens para os nais de semana. E esse foi com crianças. A outra parte de meu tempo me dedico o meu envolvimento com o Shriners por 7 ou 8 anos. a laparoscopia. Eu aprendi cedo a práca e a tenho Até que um dos membros do Board do Shriners Internaonal , Irmão Gary, disse a mim: "Peter, eu tenho ensinado nos Estados Unidos. um problema. Há uma vaga aberta no Board . Já tem FinP - A práca foi desenvolvida na Flórida? três ou quatro irmãos brigando pela vaga. Mas você é Peter Diaz - Não. Desenvolvida na Alemanha. Eu fui um médico e nós não temos um médico no Board . para a Alemanha e ve a oportunidade de aprendê -la Nós administramos 22 hospitais sem um médico. Encom seu criador. Hoje a práca é ulizada nos mais tão você tem boas chances de ser eleito para a vaga." diferentes pos de cirurgias, tendo muitas e diferen- Então eu disse: "Ok. Eu farei o meu melhor." E ele me tes aplicações. E tem a vantagem de não haver perda perguntou: "Quanto tempo você tem para se dedicar de sangue, sem riscos de infecção, a cicatrização é aos hospitais?" Eu disse: "Dois dias por mês". Ele resmuito mais rápida, a dor é muito menor e a recupera- pondeu: "Dois dias? Não é tão ruim." E agora, eu co ção de modo geral é rápida. . na minha casa dois dias por mês. Eu fui enganado! (risos). De qualquer forma, eu fui eleito um membro Com respeito à Maçonaria, eu me casei com uma mulher americana, de Balmore. Seu nome é Victoria. E do Imperial Board em Denver, Colorado, dois anos seu pai era um maçom. Eu cresci no conceito da famí- atrás. Isso porque sou médico, estou envolvido muito lia e eu não sabia o que era Maçonaria, mas quando profundamente nas avidades de todos os Hospitais Shriners. E esses hospitais têm realidades muito difeFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 49 -53, Mai/Ago, 2013. 49
FinP ENTREVISTA: PETER DIAZ rentes. O que todos têm em comum é que, quando uma criança chega para nós, por exemplo, uma que perdeu uma perna, nós cuidamos dessa criança até ela completar 18 anos de idade. Nós garanmos todos os cuidados médicos; as próteses, que vão mudando com seu crescimento; se a criança quer jogar basquete, é uma prótese própria pra isso. Nós somos tão envolvidos com nossos pacientes que eles retornam para, por exemplo, se casarem em nosso hospital. Eles têm o Shriners como parte de suas vidas. Isso é sobre cuidar. Nós cuidamos de tudo. Nós temos denstas nos hospitais. Nós temos professores, pois algumas crianças vêm para car no hospital por um mês ou mais e não queremos que eles percam a escola. Enm, fazemos um monte de coisas diferentes dos demais hospitais. FinP - Em sua opinião, qual a importância dos Hospitais Shriners para a sociedade? Peter Diaz - Nós apenas nos envolvemos quando parte da sociedade não está recebendo os devidos cuidados. Em 1922 nós abrimos nosso primeiro hospital, na Louisiana. Um grupo de Shriners se reuniu para combater uma epidemia de pólio que ocorreu nos EUA. Muitas crianças não recebiam socorro. Então os Shriners se juntaram para abrir o primeiro hospital para crianças. Foi assim que Shriners Hospital começou, tratando de crianças com poliomielite. Mas pólio não é mais um problema. Então nós nos envolvemos em outras especialidades, como má formação óssea, musculares, paralisia, lábio leporino etc. Em 1960, houve uma grande crise de queimaduras nos EUA e ninguém cuidava das crianças. Em 1960, uma criança com 40% do corpo queimado morria. Nos anos 80, com 70% de queimaduras. Hoje, com 90% do corpo queimado há 50% de chance de sobrevivência. Foi um grande avanço nas pesquisas sobre tratamento de queimaduras. Nós temos 4 Hospitais especializados em queimadura nos EUA. Nós fazemos a maioria das cirurgias de queimadura dos EUA. Nós treinamos a maioria dos cirurgiões de queimaduras dos EUA por conta da nossa excelência.
ners inventaram. Deixe-me dizer uma coisa sobre bancos de pele que é importante sobre nossa cultura, a cultura lano-americana. Os anglo-saxões não têm problema em doar partes dos seus corpos quando eles morrem. Ter no testamento que seu corpo será doado para a ciência não é um problema. Isso é muito comum. Pele é muito preciosa para nossos pacientes queimados. E a única forma de termos peles é por meio de doadores. Na América Lana isso é um grande problema, porque na América Lana o povo não quer que mexam em sua pele mesmo depois da morte. Isso é preocupante, pois se você tem uma catástrofe, um grande incêndio, pessoas poderão morrer por você não ver peles o bastante para atendê -las. Isso aconteceu no México, quando houve um grande incêndio em uma escola há 10 anos. Nós perdemos em torno de 100 crianças. Os hospitais do México não estavam preparados para queimaduras de crianças, então nós colocamos as crianças em nossos Hospitais Shriners para queimados nos EUA. Depois disso, eles criaram bancos de peles no México. Hoje parecem ser 16. Infelizmente, parece que às vezes é necessário ocorrer um grande evento para que as coisas mudem. FinP - Qual a responsabilidade do Board of Trustees no Shriners? Peter Diaz - Nós temos dois Boards no Shriners, cada um com 11 membros. O Board da Fraternidade trata das relações maçônicas e dos assuntos da Ordem Shriners. Já o nosso Board of Trustees é responsável pelos 22 Hospitais e os cuidados médicos que eles realizam, o que signica invesr 500 milhões de dólares por ano, que são necessários para fazer nossos hospitais funcionarem sempre no maior nível de excelência. Para isso nós controlamos de perto tudo que ocorre nos 22 hospitais. Essa é a nossa responsabilidade, do Board of Trustees. FinP - Qual é a principal fonte de renda dos Shriners para a manutenção dos hospitais?
Peter Diaz - Nós recebemos recursos dos Templos. Nós temos 205 Templos nos EUA. Além do auxílio adFinP – E vocês têm banco de pele? vindo dos Templos, nós temos circos, fazemos shows, Peter Diaz - Nós inventamos o banco de pele. Os Shri- que também geram recursos para os hospitais. TamFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 49 -53, Mai/Ago, 2013. 50
FinP ENTREVISTA: PETER DIAZ bém recebemos doações. E nós temos um departamento que investe esses recursos de forma a mulplicá-los. Temos postos de gasolina, cassinos, supermercados, hotéis e restaurantes. Nós temos vários departamentos que trabalham juntos para fazer tudo funcionar. Com isso, nós temos atualmente algo em torno de 9,3 bilhões de dólares, sendo aproximadamente 7,9 bilhões invesdos no mercado nanceiro. O importante é que nós invesmos as doações nos hospitais. Os Shriners não mexem no montante principal porque entendemos que é um legado deixado por aqueles Shriners que vieram antes de nós, por muitos e muitos anos atrás. FinP - Peter, você sabe que as referências hoje mudam muito rápido. O que é referência hoje não costuma ser amanhã. Como os Hospitais Shriners se mantêm referências por tantos anos? Peter Diaz - Nós cuidamos de nossos hospitais. Nossos membros não precisam saber cuidar de crianças, mas precisam estar perto dos hospitais o tempo todo. Ajudar a cuidar dos hospitais. Ocorreram muitas crises nas úlmas décadas. Nós nunca fechamos um hospital. Nós nunca cogitamos a possibilidade de fechar um hospital. Nós criamos hospitais, mas não voltamos atrás. Além disso, nossos hospitais funcionam sobre um tripé: tratamento, pesquisa e ensino. Temos um legado de invesmento em pesquisa. Ensinamos nossos médicos, enfermeiras, técnicos e mantemos convênios com universidades de forma que seus estudantes de medicina frequentem nossos hospitais. Nossos hospitais não tratam de tudo e sim de nossas especialidades e apenas para crianças. Isso nos torna muito bons no que fazemos. Por isso médicos nos procuram para aprender conosco, para saber o que fazemos, como fazemos.
trabalham juntos todos os dias para garanr que o hospital funcione efevamente. FinP - Peter, além dos hospitais nos EUA, nós temos um hospital no México, outro no Canadá, o que signi ca que lidamos com diferentes culturas, diferentes leis, diferentes realidades. Como isso impacta os hos pitais? O hospital mexicano, por exemplo, tem diferentes conceitos do que os americanos? Peter Diaz - Nossos hospitais trabalham de forma igual. Nós somos a única organização médica em todo o mundo cujo sistema trabalha em três línguas: espanhol, inglês e francês. Todos os computadores dos hospitais dos três países estão conectados à nossa sede, num banco de dados único de todos os pacientes e atendimentos. É claro que alguns traços locais podem impactar, mas nós temos em mente que temos um modelo que funciona e que isso não pode mudar. Assim, as pessoas que quiserem trabalhar conosco se adequam ao nosso modo, pois nós não mudamos por elas. FinP - Você já fez muitas cirurgias no Brasil, então você sabe um pouco como é a realidade da saúde pública brasileira. Em sua opinião, como os Clubes Shriners brasileiros podem agir em suas regiões de forma a atender a causa Shriner?
Peter Diaz - Acho que o melhor que vocês no Brasil têm a fazer é se organizarem e trabalharem com todos os clubes juntos. É uma coisa que vocês têm que aprender a fazer. Depois disso feito, vocês têm que começar a trabalhar em projetos de pequena escala. Comecem fazendo clínicas para depois querer um hospital. Encontrem primeiro voluntários que dese jam ajudar crianças e então façam funcionar uma Clínica Shriner. A parr daí, vocês crescem. Não se pode colocar o carro na frente dos bois. É muito dicil queFinP - E como fazer tudo isso funcionar, tantos hospi- rer pular isso. Não posso dizer que é impossível, mas tais em diferentes lugares? Como administrar tudo o certo é que se você inicia com passos pequenos, isso? você é capaz de fazer um trabalho melhor. Peter Diaz - Cada hospital tem três principais indivíFinP - Peter, nos EUA você tem leis que incenvam a duos: o administrador, que é a pessoa responsável doação. Lá os tributos sobre o espólio são altos, enpelo hospital; o chefe dos médicos, que é o responsá- tão é preferível doar. Já no Brasil é o oposto, nossas vel por todos os médicos; e o diretor da enfermagem, leis pracamente punem o doador com impostos. Coque dirige todas as enfermarias. Esses três líderes FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 49 -53, Mai/Ago, 2013. 51
FinP ENTREVISTA: PETER DIAZ mo você acha que devemos lidar com essa diferença? tura. Então ele se colocou contra os Shriners no ArPeter Diaz - É exatamente a mesma situação que te- kansas, dizendo aos membros da Grande Loja do Arkansas que eles não podem ser Shriners. Isso vai conmos na Cidade do México. Lá não temos doadores. A tra o princípio maçônico da Liberdade. Nosso Potenintenção é realizar uma campanha de doação no México porque acho que muitos mexicanos querem do- tado do ano passado o procurou para resolver a situar, mas não sabem como fazer legalmente isso da ação, mas não conseguiu. Este ano, nosso Potentado melhor forma possível. Então nós temos um me de esteve duas vezes frente a frente com ele e também advogados dos EUA trabalhando com advogados me- não conseguiu. Então estamos numa situação dicil xicanos procurando uma solução para o problema. E porque os Shriners do Arkansas estão sofrendo com isso. Eles estão numa situação dicil. Tivemos um creio que conseguirão até o nal deste ano. problema similar na Grande Loja da Carolina do Sul, FinP - Os Hospitais Shriners investem muitos recursos mas foi resolvido quando houve a mudança de Grão em pesquisa e desenvolvimento. Que po de retorno Mestre. Mas na maioria dos Estados, as Grandes Lose obtém desses invesmentos? jas sabem que invesr nos Shriners é invesr em seu Peter Diaz - Nós invesmos todos os anos algo perto próprio crescimento, pois muitos homens ingressade 30 milhões de dólares em pesquisa. Isso não é ram na Maçonaria por conta do Shriners. muita coisa. Nós poderíamos estar invesndo mais. FinP - Úlma pergunta: Nos anos 60 a Maçonaria nos Mas essa é a realidade do que estamos fazendo hoje. EUA era enorme, contando com mais de 4 milhões de Pesquisadores dos Hospitais Shriners e de fora de membros. Hoje há algo em torno de 1,3 milhão de nossos hospitais uma vez por ano apresentam proje- membros. Os Shriners aparentemente também sentos ao Shriners. Nós temos um departamento de pes- ram essa mudança, tanto que mudou os requisitos quisa que acompanha o desenvolvimento das pesqui- para ingresso no Shriners. Antes você precisava ser sas. E nós temos um PhD que dirige a estrutura de um Grau 32 do Rito Escocês ou um Cavaleiro Templápesquisa. Os projetos são avaliados e patrocinamos rio do Rito de York para ser Shriner. Agora você apeos melhores projetos conforme suas necessidades. nas precisa ser Mestre Maçom para ser um Shriner. O Há projetos de 500 mil dólares por ano, outros de Shriners Internaonal está preocupado com o futuro 100 mil dólares e por aí vai. Os projetos podem ser da instuição, visto a redução da Maçonaria? apresentados por qualquer um, mas devem estar relacionados com as áreas de especialização trabalha- Peter Diaz - Claro que estamos senndo o impacto e estamos preocupados. Nós já vemos mais de 1 midas por nossos hospitais. . lhão de membros e agora temos menos de 300 mil. O FinP - Recentemente algumas Grandes Lojas norte- problema maior que vemos é que Shriners está ligaamericanas apresentaram posturas contra Shriners. do a pessoas velhas e elas estão morrendo. PrecisaO que Shriners Internaonal está fazendo quanto a mos renovar os Templos. Nós temos que mudar isso. isso? Shriners pretende mudar suas diretrizes? A liderança dos Templos é formada geralmente por Peter Diaz - Apenas relembrando que sou um admi- maçons velhos. Então os jovens entram no Templo e nistrador de hospitais, não sou membro do Board da dizem: "Isso aqui não é pra mim. Só tem velho." Isso Fraternidade. Eu administro os recursos, mas acho precisa mudar. Nós precisamos envolver os jovens, que posso dizer o que está havendo. A Grande Loja trazê-los para os Templos. Ainda há a questão do sedo Arkansas tem um Grão-Mestre que não gosta dos cresmo envolvendo a Maçonaria. Muitas pessoas Shriners. Shriners é diversão e caridade, mas ele não não sabem o que fazemos. Se soubessem, se juntarigosta de nossa diversão! (risos). Mas os Shriners não am a nós. Mas não temos boas relações públicas e dizem o que seus membros devem fazer, a Ordem dá nem fazemos propaganda do que fazemos. Talvez liberdade aos membros e isso faz parte de nossa cul- seja a hora de mudar, mostrando o trabalho dos Shriners na televisão, fazendo campanhas em nível nacioFinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 49 -53, Mai/Ago, 2013. 52
FinP ENTREVISTA: PETER DIAZ nal. Nós já conseguimos mudar a visão de muitas pessoas acerca da Maçonaria nos úlmos anos, mas é algo muito dicil de se fazer. FinP - Peter, muito obrigado pelo seu tempo. Peter Diaz - Foi um prazer.
FinP | Rio de Janeiro, Vol. 1, n.1, p. 49 -53, Mai/Ago, 2013. 53
54
Diretrizes para Autores A submissão de trabalhos deverá ser feita através da página da revista. Formato: Os originais deverão ser apresentados no seguinte formato: - Arquivo de texto: Microso Word, - Tabelas: coladas como gravura “jpg” ou ulizando a ferramenta detabelas do Word, - Grácos e guras: acrescentadas ao arquivo word como “jpg”, com mínimode 200 dpi, - Página tamanho A4, margem esquerda e superior de 3c m, direita einferior de 2cm, espaço entre linhas “simples”; - fonte: Calibri;- texto principal: tamanho 11; - citação superior a 3 linhas do original: tamanho 9; - notas de m: tamanho 9, separado do texto por linha de 5 cm; - parágrafo: 1,25 cm da margem; - alinhamento: juscação inteira; - bibliograa: no nal do documento, formato conforme ABNT. Obs.: Permite-se, com a nalidade de facilitar aleitura, a nota de m. Mas é vedado o uso de nota de rodapé. Referências Bibliográcas e/ouBibliograa, Citações, Notas de Fim: A Revista FRATERNITAS IN PRAXIS adota como critério orientador para elaboração das referências bibliográcas dos argos nela publicados asseguintes formas: - NBR-6023:2002 - Referências bibliográcas; - NBR-10520:2002 – Citações; - NBR-6022:2003 - Argo em publicação periódica cienca. O não respeito as NBR's no que se refere à apresentação do argo acarretará na sua imediata devolução para correção por parte do(s) autor(es). Exceção será feita aos autores não brasileiros que não residem no país, cujos textos serão adequados às normas da ABNT acima citadas. Apresentação dos textos Estabelece-se, ainda, uma padronização para a apresentação de textos, que deverá seguir o seguinte critério quanto à sua forma: Título: centrado, todo em maiúsculas, negrito, fonte Calibri,tamanho 1 4. Subtulo: Em linha imediatamente abaixo do tulo, todo em minúsculas, negrito, fonte Calibri, tamanho 13. Resumo: em português, juscação inteira, máximo de 100 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulado. Em parágrafo único. O tulo “Resumo” deverá ser em negrito, fonte Calibri, tamanho 12, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada. Palavras-chave: em português, à esquerda, juscação inteira, até 4 palavras, fonte Calibri, tamanho 11, não tabulada. O tulo “Palavras-chave” deverá ser em fonte Calibri, tamanho 12, negrito, somente primeira letra em maiúscula, não tabulada. Logo abaixo, Resumo em inglês, no mesmo formato do resumo em português. O tulo “Abstract” terá o mesmo formato do tulo “Resumo”. Palavras-chave em inglês seguindo o mesmo formato das em português. O tulo “Keywords” terá o mesmo formato do tulo “Palavras-Chave”. Em seguida, Resumo em espanhol, no mesmo formato do resumo em português.O tulo “Resumen” terá o mesmo formato do tulo “Resumo”. Palavras-chave em espanhol seguindo o mesmo formato das em português. O tulo “Palabras clave” terá o mesmo formato do tulo “Palavras-Chave”. Resumos e Palavras-Chave não serão exigidos de resenhas, relatos de eventos, entrevistas e nocias. Texto principal do argo/ensaio/resenha: juscação inteira, parágrafo com tabulação de 1,25 cm, espaço entre linhas simples. Chamadas dos blocos: sem numerar, somente inicialmaiúscula, Calibri, 12 pontos, negrito. Páginas enumeradas: no canto inferior direito. Notas: notas apenas de m, fonte Calibri, tamanho10, separadas do texto por linha de 5 cm. Citações: as citações bibliográcas no corpo do texto devem seguir o espulado pela NBR 10520:2002. Ao elaborar as Referências Bibliográcas, adotar o critério do itálico para o tulo da obra. Não usar sublinhado. Não usar negrito. Tamanho do argo: seguindo os parâmetros anteriormente mencionados, um argo deve se enquadrar em no mínimo 02 e nomáximo 15 páginas, já incluindo as notas de m e/ou bibliograa. Importante: o arquivo submedo não deve conter o nome ou qualquer forma de idencação do(s) autor(es). Nem no corpo do argo, nem nas propriedades do arquivo. Para remover os dados pessoais das propriedades do arquivo, clique com o botão direito sobre o arquivo, vá em “propriedades” e, na aba “Detalhes”, clique em “Remover propriedades e informações pessoais”. 55
56