Felipe Moreira
Piano Blues Perspectiva Histórica O Blues é uma das chaves para compreender a improvisação no Jazz, Rock, Pop, entre outros estilos musicais, sendo também a base para diversos conceitos dos estilos swing e bebop. bebop. Além disso, é um estilo musical cujo sentimento está presente na escrita e na performance da maioria dos grandes artistas. Count Basie usou frases do Blues como base para vários arranjos no que se tornou conhecido como swing . Charlie Parker manteve uma forte ligação com o Blues no seu tocar, contribuindo em suas composições com extensões harmônicas nas formas básicas do Blues. Outros nomes como Bud Powell e Dizzy Gillespie também aumentaram a complexidade harmônica do Blues. Nas décadas déca das de 1950 e 1960, Miles Davis, John Coltrane e Bill Evans aplicaram conceitos modais no Blues. Coltrane também fundiu ritmos e escalas musicais de diferentes países com a forma e sentimento do Blues. Dentro do próprio idioma do Blues, Muddy Waters com um formato inovador usando a guitarra elétrica, o piano, a bateria, o baixo e a gaita, definiu um novo estilo chamado Blues Elétrico Urbano. Chuck Berry usou as formas do Blues como base para o Rock’n Roll. Jimi Hendrix inseriu o Blues num contexto sem precedentes com técnicas de guitarra, harmonias jazzísticas e um novo som palhetado, incluindo também o uso da guitarra sintetizada e de processadores de sinais (pedal de distorção) que se tornaram padrões desde então. Miles Davis nas décadas de 1970 1970 e 1980 continuou a usar o Blues como elemento marcante de sua música com bandas formadas por instrumentos elétricos. Um conhecimento profundo do Blues é essencial para tocar Jazz e muitos outros estilos musicais modernos.
Piano Blues no Estilo Boogie Na década de 1930, a febre musical do Boogie Woogie, um estilo rítmico intenso de blues tocado ao piano, ganhou proporção nacional nos EUA com Meade Lux Lewis, Pete Johnson e Albert Ammons. Consiste numa linha de baixos repetitiva de doze compassos na mão esquerda, com a mão direita desenhando precisas e inventivas melodias. Johnson e Ammons sempre se apresentavam em duo, algumas vezes causando a impressão de um único piano maciçamente sonoro. Ao mesmo tempo, Jimmy Yancey inovou com um estilo mais relaxado de piano blues baseado numa simples linha de baixo sincopada, incrível independência entre mãos esquerda e direita, dissonâncias audaciosas e cadências inesperadas no final de suas músicas. Yancey influenciou o estilo blues de Thelonious Monk, que usou alguns de seus recursos em outras músicas além do próprio Blues. Yancey foi também referência para Otis Spann, provavelmente o mais importante pianista de Blues pós-guerra.
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Meio-irmão de Muddy Waters e músico atuante, Spann integrou os ritmos mais flexíveis da guitarra elétrica e da harmônica na sua mão direita e usou variações rítmicas e harmônicas na mão esquerda valorizando os diferentes climas em cada seção ou trecho musical. Outra escola do piano blues surgiu em Nova Orleans em torno do lendário Professor Longhair, cujo verdadeiro nome era Roy Byrd, que desenvolveu uma síntese do Blues, da Rumba e outros ritmos caribenhos e acordes jazzísticos sofisticados. Ele foi influência para Allan Toussaint, Huey “Piano” Smith, Fats Domino, James Booker e Dr. John. Outros pianistas de Blues que também desenvolveram estilos singulares foram Roosevelt Sykes, Sunnyland Slim e Champion Jack Dupree. Embora existam diversas formas de Blues, de oito, doze, dezesseis compassos entre outras, a de doze compassos é disparada a mais utilizada, na qual analisaremos as progressões mais comuns no Blues. Veja abaixo exemplos de formas básicas de Blues de doze compassos:
Forma A
Forma B
Forma C
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Forma D
Linhas de Baixo no Blues e no Boogie Woogie Aplique estas linhas de baixo para cada forma de blues apresentada anteriormente e transponha para todos os tons. Comece devagar, usando um metrônomo ou bateria eletrônica como auxílio. Aos poucos, acelere o andamento e esteja sempre atento ao relaxamento do pulso e do braço. Pratique a mão esquerda sozinha até se sentir seguro quanto a forma e manter o pulso constante. Procure fazer as mudanças de acordes de forma suave, preparando-as primeiro mentalmente antes de tocá-las. Veja alguns exemplos:
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As duas linhas de baixo a seguir duram dois compassos e aplicam-se a forma A e D. Pode-se usar apenas o primeiro compasso quando houver mudança de acorde. Veja os exemplos:
A linha de baixo seguinte é para turnarounds, usados nos compassos 11 e 12 para voltar ao início da forma. Veja:
As próximas linhas de baixo são estilos de mão esquerda usadas por Jimmy Yancey. Observe:
Escala Pentatônica Blues Apesar de possuir seis notas, consideramos a escala Blues como uma escala pentatônica menor mais uma nota cromática. Veja um exemplo com a pentatônica blues de C:
A nota característica (blue note) é a quarta aumentada, de extrema importância ao lado da terça menor que cria um intervalo de nona aumentada no acorde, causando assim uma indefinição do modo (maior ou menor).
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Normalmente, é usada sobre acordes menores e dominantes. Além do Blues, é também muito usada no Rock e Fusion em improvisos. Quando em acordes menores, podemos combinar a escala Blues com o Modo Dórico, disponibilizando assim mais notas para improvisos e solos, criando uma nova sonoridade. Utilizamos essa escala nas seguintes estruturas de acorde:
Pentatônica Blues de C
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Cm7 / Cm7(9) / Cm6
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C7 / C7(9) / C7(#9) / C7(#9/#11)
Veja alguns padrões de frases usando a pentatônica Blues de Dó:
Qualquer um dos fraseados acima pode ser alterado rítmica e melodicamente. Veja um exemplo:
Escala Blues Podemos formar a escala Blues adicionando a terça maior à escala pentatônica Blues. Veja a seguir a escala Blues de C:
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Por não haver distinção clássica entre as tonalidade maior ou menor nesta estrutura, a escala de Blues possui as terças maior e menor. Como a terça maior pode formar um intervalo de sétima maior com a fundamental do acorde de IV7 grau, normalmente evitamos esta nota sobre este acorde, ou seja, F7 em C Blues usamos a pentatônica Blues. Nos exemplos a seguir, a terça maior funciona como nota de passagem e pode ser usada sobre o acorde de IV7. Observe:
Veja alguns padrões de frases usando a escala Blues de Dó:
Observe agora alguns padrões de frases usando notas duplas com a escala Blues de Dó:
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Logo abaixo temos padrões que utilizam a sexta e a segunda como notas de passagem entre as notas do acorde:
Comece improvisando por pelo menos um chorus (12 compassos) usando uma idéia ou padrão apresentado e então empregue as técnicas abaixo para variar a frase: •
Transposição
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Mudança rítmica
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Mudança da posição da idéia no compasso
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Mudança de uma ou mais notas
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Uso da idéia como base de uma frase longa
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Uso do ritmo da idéia com notas diferentes
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Uso de fragmentos da idéia
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Repetição da idéia variando a dinâmica e a articulação
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O objetivo dessas técnicas é auxiliar no desenvolvimento de frases ou idéias melódicas fluentes e concisas, estruturadas melodicamente e diversificada com o auxílio das técnicas de variação. Porém, o mais importante é deixar fluir a sua imaginação.
Variação de Motivos ou Idéias A variação de motivos é uma técnica que pode ser aplicada em qualquer estilo, não só no Blues, sendo uma das melhores maneiras de se desenvolver solos sem a necessidade de usar diferentes escalas para cada harmonia. Idéias melódicas que contém notas foras da harmonia e teoricamente “evitadas” podem funcionar se os intervalos ou o ritmo da frase estiver relacionado com a idéia melódica inicial. Terças e Sextas são amplamente usadas, conforme mostram alguns exemplos a seguir:
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Podemos também adicionar notas cromáticas, sem valor rítmico, ornamentos:
Thelonius Monk foi mais adiante e tocava sextas com terça maior e menor juntas:
As músicas Misterioso e Blue Monk são exemplos de Blues baseados em sextas e terças:
Blues Turnarounds Os exemplos a seguir podem ser usados nos compassos 11 e 12 das formas A e B:
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Acordes Básicos no Blues No estilo Blues os acordes mais usados são dominantes com sétimas e dominantes com nonas. Os exemplos a seguir são algumas sugestões de harmonização para uma sonoridade básica do Blues. Essas estruturas de acordes são baseadas nas tétrades dominantes com fundamentais ou quintas omitidas quando estas notas estiverem no meio do voicing.
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Progressões no Bebop Blues Muitos músicos utilizam o ciclo das quartas ou quintas para enriquecer a progressão básica do blues, porém mantendo a forma de 12 compassos. Veja os exemplos com as progressões mais comuns. Experimente nos últimos dois compassos os diferentes turnarounds apresentados:
Forma A
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Forma B
Forma C – Blues for Alice – Charlie Parker
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Forma D – Now’s the Time – Charlie Parker
Cada uma das progressões apresentadas deve ser estudada de diversas formas e transposta para as demais tonalidades. Algumas características do piano no estilo Bebop Blues: •
Células de acordes na mão esquerda com uma linha melódica improvisada na mão direita
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Mão esquerda toca fundamentais com notas guias na mão direita
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Mão esquerda toca fundamentais com voicing de quatro notas na mão direita
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Mão esquerda em walking bass com acordes na mão direita, primeiro notas guias depois voicing de quatro notas
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Mão esquerda em walking bass com uma linha melódica improvisada na mão direita
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Acordes com as duas mãos no quarto tempo de cada compasso
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Acordes com as duas mãos em acompanhamento livre
Linhas de Walking Bass Basicamente, walking bass é um estilo muito utilizado em Jazz e Blues que consiste num baixo praticamente em semínimas acentuando os tempos fortes de cada compasso com notas do acorde e os tempos fracos com notas de passagem, sendo muito usado atingir o primeiro tempo por semitom ascendente ou descendente. Treine primeiro a mão esquerda sozinha, então junte com a mão direita. Toque os acordes nos tempos 1 e 3 inicialmente, depois toque sincopado, conforme mostra o exemplo a seguir:
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Pense nos acordes como uma seção de metais. Posteriormente, tente adicionar a sua concepção rítmica na mão direita enquanto a mão esquerda mantém firme a pulsação. O acorde de F#7(9) é apenas de passagem, não fazendo parte da harmonia padrão. Veja a seguir mais um exemplo de walking bass utilizando a Forma A:
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Podemos também adicionar ornamentos e outras divisões rítmicas. Observe a figura abaixo:
Se houver dificuldade em tocar 10ªs na mão esquerda, podemos usar o March Style,, passando para a mão direita a terça. O exemplo a seguir mostra as duas possibilidades neste estilo:
Outro estilo muito usado no piano blues é o Guitar Style, que consiste em acordes acentuando cada tempo na mão esquerda, sugerindo a pulsação rítmica de guitarristas como Freddie Greene da Orquestra de Count Basie.
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Experimente primeiro sem as appoggiaturas, tocando todos acordes um pouco staccato. Essa técnica de mão esquerda pode ser aplicada em muitos outros estilos além do blues. Veja o exemplo a seguir:
Podemos também utilizar o estilo Stride no blues. Veja dois exemplos com esta técnica:
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Outra técnica é usarmos 10ªs na mão esquerda. Mãos pequenas podem quebrar as 10ªs, tocando a fundamental primeiro ligando-a com as demais com o pedal, porém sem excessos. No exemplo a seguir, foram usados vários acordes cromáticos, que durante improvisos com a mão direita devem ser desconsiderados harmonicamente, seguindo a harmonia padrão.
Podemos também caminhar em 10ªs na mão esquerda, num estilo chamado Walking Tenths. Acordes cromáticos também estão presentes no próximo exemplo, além de acordes dominantes vizinhos e substituições por trítonos. As notas guias devem ser tocadas mais fortes que as do baixo. Repare que os acordes tem a fundamental antecipada na última semicolcheia de cada tempo.
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Após treinar a mão esquerda sozinho, improvise usando a harmonia descrita, desconsiderando os acordes de passagem. No Blues indicamos somente os acordes que fazem parte da forma padrão, não havendo análise para os acordes cromáticos e de passagem. A figura abaixo mostra um exemplo de acompanhamento com as duas mãos, tendo na esquerda acordes sem fundamental:
Células de acordes ( shell voicings) também podem ser utilizadas como base harmônica na mão esquerda apoiando melodias e solos na mão direita. Veja um exemplo com a música Blues for Alice de Charlie Parker:
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Observe agora a mesma música no estilo walking bass:
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Veja a mesma música utilizando agora acordes com 7ªs e 10ªs na mão esquerda:
E para finalizar, a mesma peça com acompanhamento nas duas mãos, sem fundamentais na mão esquerda:
Progressões no Blues Menor O Blues Menor utiliza a mesma forma básica de outras progressões do Bebop Blues, porém o I e IV graus são menores e o IIm7 é tocado como um IIm7(b5) normalmente. Veja algumas formas básicas de blues menor:
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Forma A
Forma B
Forma C
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Forma D
Forma E
Veja agora um exemplo de harmonização a duas mãos utilizando a Forma E. Primeiro, treine como mostra a figura, depois adicione sua própria concepção rítmica:
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Para finalizar, uma harmonização a duas mãos também utilizando a Forma A, porém bastante movimentado ritmicamente:
Procure ouvir gravações dos grandes artistas citados anteriormente, observando fraseados, acompanhamentos e estilos utilizados por estes mestres do Blues.
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